*Rangel Alves da Costa
Não me arrependo de ter conhecido a menina que depois se tornou minha namorada. Acaso oito meses voltassem no tempo, jamais queria estar noutro lugar senão naquele do inusitado primeiro encontro.
Não me arrependo de amar e tanto amar a mulher que se fez minha namorada. Eu precisava desse amor, eu precisava amar assim. E nela encontrei um sorriso grandioso e belo bem dentro do coração.
Não me arrependo de nada junto a ela, dentro dela, em tudo nela. Nela encontro carinho, afeto, afago, amor. E não há que se arrepender de ter encontrado aquela que o destino já havia, desde muito, me reservado.
Não me arrependo, pois, que o destino me tivesse levado até onde ela estava, colocando-me perante ela e mostrado a mulher que eu não demoraria a amar. Coisa mais estranha. Não conheço, nunca troquei uma só palavra, e de repente o despertar do amor.
Não me arrependo de tê-la avistado ao longe e mesmo distante achado tão bela. Também não me arrependo de ter caminhado até onde estava e, ao seu lado, calmamente esperar que prestasse atenção à minha presença.
Não me arrependo de ter gostado dela desde aquele momento, mesmo sem qualquer aproximação, mesmo sem qualquer diálogo, mesmo sem a esperança do sorriso. Ora, já não podíamos fugir de nós mesmos: o destino quis, o destino assim fez!
Não me arrependo de naquela noite ainda eu haver retornado sem qualquer esperança. Coitado de mim, sem saber que o destino já havia feito sua parte com precisão. Mas como tudo tinha de acontecer, então simplesmente começou a acontecer.
Não me arrependo de não acreditar que jamais conseguiria ter aquela moça tão linda como minha namorada. Com quase o dobro de sua idade, achava-me mesmo em devaneios ou com maluquices por um amor impossível de se tornar realidade.
Não me arrependo de ter esperado como esperei. Mesmo que mil mulheres me rodeassem, mesmo que eu fosse em busca de mais mil mulheres, certamente que seriam desejos e buscas em vão. Eu a ela já estávamos prometidos. Ora, o destino, o destino.
Não me arrependo de nada depois disso. Qual o arrependimento por ter encontrado a mulher que desejei em sonhos, que quis como poeta sonhador, que chegou ao meu lado como promessa de amor maior? Ao invés de arrependimento, a gratidão em seu nome.
E por que digo que não me arrependo, como se tudo acontecido entre nós não merece sequer uma só menção de arrependimento? Digo que não me arrependo por que também tenho a consciência de que nem tudo esteve sempre em paz entre nós.
Brigamos, discutimos, nos afastamos, terminamos, nos arrependemos, voltamos, para tudo novamente acontecer com suas idas e vindas. Mas qual perfeição num amor tão humano? Nada é perfeito e não somos perfeitos. Isso não nos foge à compreensão.
Por isso que não me arrependo de absolutamente nada ao lado dela. Pelo contrário, grato sou e sempre serei por beijar sua boca tão cativante, por abraçar o seu corpo tão macio e tão feminino, por revelar segredos que nem nossos ouvidos conseguem ouvir.
E quando o meu olhar encontra o seu olhar, e quando meus braços procuram os seus, e quando em dois nos tornamos um, então o poeta que sou se transforma em jardineiro. E colhendo flor sobre flor, vejo-me saciado pelo aroma da felicidade.
Por isso o amor. E mesmo que nossos passos um dia sigam por diferentes caminhos, ainda assim a amarei. Não o amor que terei perdido. Mas o amor que jamais esquecerei por ter em você encontrado.
Quem? Mylla.
Escritor
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