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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Os 70 anos da morte de Lampião - Alcino Alves Costa

Juliana Pereira Ischiara e Alcindo Alves da Costa
 Senhor Alcindo Alves, não usei nehuma palavra minha no seu artigo, apenas fiz uma ilustração com fotos.

                No alvorecer daquela quinta-feira, do dia 28 de julho de 1938, naquele socavão ressequido e árido do Riacho do Angico, então jurisdição do território de Porto da Folha, e hoje após o desmembramento de suas terras em 23 de novembro de 1953, pertencendo ao município de Poço Redondo, foi morto pelas armas do tenente João Bezerra da Silva e sua volante, um dos maiores personagens da história nordestina e brasileira, o famoso Virgulino Ferreira da Silva, celebrizado com o nome fantástico de Lampião, ainda a sua amada companheira Maria Bonita e mais nove de seus parceiros de desdita.
               Lá se vão 70 anos daquele fabuloso acontecimento. Num Brasil que se carrega a cultura de não se preservar a História causa admiração à chama viva e ardente que teimosamente não para de arder no sentimento do povo brasileiro que entra ano e sai ano e a saga do rei dos cangaceiros é pesquisada, esmiuçada e continua a ser escrita e comentada em verso e prosa por todo Brasil e além fronteira. 
               É deveras motivo de admiração à magia desse caipira das barrancas do Riacho São Domingos, nas terras da antiga Vila Bela, hoje Serra Talhada, que com uma força portentosa continua a dominar e enfeitiçar todos os segmentos sociais e culturais de nossa nação.  
               O seu poder de persuasão chega às raias do inacreditável. O seu domínio sobre seus semelhantes foi e é imenso e envolvente. E assim, Lampião coloca sobre os que procuram enfadonhamente pesquisá-lo um campo recheado de intransitáveis e misteriosos labirintos que deixa todos zanzando pra lá e pra cá sem alcançar a verdade do que aconteceu em Angico. 

              
Aqui onde LAMPIÃO, MARIA Bonita e mais nove integrantes de seu bando foram executados e decapitados.

                Em meu livro “Lampião além da versão”, no subtítulo “Mentiras e mistérios de Angico”, eu discorro sobre o medonho mistério que o titã da Passagem das Pedras espalhou naquela grota do riacho, e ainda, as descomunais mentiras que as mais diversas testemunhas – coiteiro, soldado, cangaceiro – fizeram chegar até as páginas dos incalculáveis livros que tem como finalidade registrar a epopéia cangaceira e em especial a chacina de Angico. 
               Os exemplos são muitos. Jaques Cerqueira, subeditor do Viver do Jornal Diário de Pernambuco, é o autor de um artigo intitulado “A outra morte de Lampião”, que saiu no jornal Página Certa, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, afirmando com convicção de que Lampião não morreu em Angico, e sim em setembro de 1981. No livro “Lampião e Zé Saturnino – 16 anos de luta”, de autoria de José Alves Sobrinho, que era sobrinho em segundo grau de José Saturnino, o inimigo número 1 de Lampião, este respeitável senhor atesta com convicção que Lampião não morreu em Angico, e sim aos 83 anos de idade, na fazenda Ouro Preto, em Tocantinópolis, Goiás. 
               José Alves ainda afirma: “O Capitão Virgulino tinha o olho esquerdo com pálpebra arriada, e não o olho direito fechado como o da cabeça decepada pela Polícia e mostrada no Museu”.
              Quase sempre, é certo, aparecem livros que se enveredam pelas versões e mistérios que estão fincados na Grota de Angico. Existe um boato de que ainda neste ano de 2008 serão lançados dois livros que com fundamentos poderosos desejam provar que Lampião não morreu em Angico. 

[Cangaço+071.jpg]

                Tenho certeza absoluta de que tudo que se registrou sobre o cerco e o combate de Angico não passa de uma grotesca e quase que ingênua mentira. Aliás, as mais variadas mentiras que não se deve dar por elas nenhum crédito. Todavia, mesmo acreditando que tudo pode ter acontecido naquele histórico riacho, jamais eu me arriscaria em afirmar que Lampião não morreu naquele célebre combate com as “forças” alagoanas. No entanto, o que é deveras muito estranho é a maioria dos historiadores e estudiosos do cangaço não querer nem ouvir falar no que possa ter acontecido de real e verdadeiro em Angico e que venha contrariar a versão oficial mesmo que ela comprovadamente tenha sido edificada em cima de depoimentos absolutamente mentirosos.
             Todos sabem, e isto não é nenhuma novidade, que os testemunhos dos que participaram de corpo presente, inclusive João Bezerra, do dia final de Lampião, são absurdamente falsos e mentirosos. 
 

               Não consigo compreender qual a razão de muitos ainda continuar a dar crédito aos depoimentos que estão registrados sobre o dia final de Lampião e do cangaço quando os mesmos não oferecem nenhuma sustentação que se possa alcançar a mais simples fundamentação. 
              Lampião morreu em Angico? Acredito que sim. Mas, me pergunto: por que os estudiosos, os historiadores, os pesquisadores, enfim a sociedade brasileira, não aceita sob hipótese alguma desfazer as terríveis mentiras que foram plantadas naquele pedacinho histórico de sertão?  
               E se Lampião não morreu em Angico, como é que fica a história?

              Não me surpreende o comportamento de muitos estudiosos do cangaço quando eles apresentam versões que atestam não ter Lampião sido morto em Angico. Não desdenho e nem fico fazendo chacota das mais diversas afirmações nesse sentido saídas de pessoas de gabarito, responsabilidade e respeito, mas que, dominados pela incomparável inteligência e habilidade de Lampião se vêem reféns de sua misteriosa estratégia que tem envolvido por todos os anos de sua vida e morte aqueles que nunca se cansaram de rastejá-lo. 

Morre Clóvis Ciarline - pai da governadora Rosalba

Informação do blog da ASPRA PM/RN

A governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini é a que está de blusa de cor rósea.
No aniversário dos seus 87 anos, Clóvis Ciarlini rodeado do mimos dos filhos Rosângela, Rosalba, George, Rosina e Ruth - Foto Heitor Gregório
                   O médico cardiologista Cleanto Rego disse que foi morte súbita. Clóvis Ciarlini sofria de insuficiência cardíaca. O velório começa ao meio-dia no Morada da Paz de Emaús. A missa de corpo presente será às 17h, seguida do sepultamento.
                  Morreu há uma hora o pai da governadora Rosalba Ciarlini, Clóvis Ciarlini, 87 anos.
                  Ele acordou bem, tomou café, mas quando voltou para o quarto caiu. Suspeita-se de ataque cardíaco.
                 O corpo ainda está em casa, no bairro de Lagoa Nova, Natal. A governadora acompanha tudo.
                 Não se sabe ainda o horário do velório e do sepultamento, mas será no cemitério Morada da Paz em Emaús.
                Em 21 de novembro, Clóvis Ciarlini completou 87 anos e festejou em família – filhos, genros, noras, netos, bisnetos…
                O seu sonho era ver a filha assumir o comando do Rio Grande do Norte. Parece que só aguardava o momento tão esperado, a contar que após a morte da sua esposa e companheira de todas as horas Concecita ele se entregou a uma enorme tristeza.
               Sonho realizado, foi para o descanso eterno.
 
              Fonte:tribunadonorte

Eliseu Ventania - Por: José Mendes Pereira

               O rei das canções, Elizeu Ventania.
              A vida de um nordestino, viajante, trabalhador e sofredor, indignado com as injustiças do mundo, sensível e cheio de recordações: tudo isso era a alma das canções feitas por Elizeu Ventania, cantador e violeiro que há dez anos via sua vida interrompida por problemas de saúde, morrendo aos 74 anos de idade.
             Muitos jovens mossoroenses talvez só conheçam o Elizeu Ventania pelo fato deste denominar um dos mais importantes espaços da cultura a Estação das Artes e não sabem sua trajetória de vida e principalmente, a sua importância para a cultura popular no Nordeste.
             Já para quem teve o privilégio de conhecer Elizeu Ventania, por diversos motivos seu nome não poderá ser esquecido. "Falar em Elizeu Ventania é falar do cancioneiro, do rei das canções, de um expoente da cantoria e que fez um enorme sucesso", conta o cantador Aldaci de França que se diz um dos artistas influenciados pela trajetória de Elizeu Ventania.
              Aldaci hoje está a frente de dois programas de rádio - 'Cantoria Nordestina' na 99.1 FM e 'Nossos versos de repente' na Universitária FM 103.1 - onde as músicas de Elizeu Ventania são tocadas mantendo vivo o trabalho deixado pelo cancioneiro.
              Lembra que Elizeu fez dupla com João Liberalino considerada uma das melhores já vista e com quem gravou LP na década de 70. "Já naquela época eles tinham uma grande audiência em rádios AM como Difusora, Rural, Tapuyo", recorda França.
              O poeta e cordelista Antônio Francisco diz que não tinha proximidade com  Elizeu, mas o conhecia das canções que saiam nas rádios. "Me deparava com ele em certas ocasiões, mas eu conheci Elizeu Ventania através do rádio. Ele tinha o seu espaço no coração do povo simples, mesmo na época que o rock estava em tudo quanto era canto, porque Elizeu era povo", reforça Antônio Francisco.
             A trajetória de Elizeu também é recordada pelo poeta e jornalista Crispiniano Neto de quem foi amigo próximo e acompanhou de perto as dificuldades de Elizeu nos seus últimos anos. Segundo Crispiniano, o talento de Elizeu alcançou grande projeção. Nos últimos anos acompanhou sua luta para voltar a enxergar quando foram realizadas campanhas em veículos de comunicação, jornais e rádios e a tristeza que lhe trouxe o diagnóstico de que não teria remédio. Também foi um dos muitos amigos a estar presente no velório quando foi tocada uma das canções que o próprio Elizeu fez falando sobre a morte "A caminho da Eternidade".
             No entanto, uma das coisas que Crispiniano recorda foi a homenagem prestada a Elizeu quando decidiu dar o seu nome à Estação das Artes. "Lembro que muita gente da elite mossoroense torceu o nariz por ter denominado um logradouro tão importante com o nome de um cantador. A estátua não foi  afixada por mais de dois anos, até que a gente começou a fazer umas notinhas exigindo que a estátua fosse exibida", recorda Crispiniano Neto. Cancioneiro Elizeu Elias da Silva, o Elizeu Ventania, nasceu em 20 de julho de 1924 no Sítio Jacu, município de Martins.
             Desde criança se identificou com a música e aos 18 anos percebendo sua vocação, decidiu fazer da cantoria o seu ganha-pão, influenciado por outros violeiros. De início, pensou em se chamar Elizeu Serrania para homenagear a cidade de Martins, mas descobriu que já havia artista com o mesmo nome e então, optou por Ventania.
             Aos 18 anos seguiu para Fortaleza onde, com a convivência com outros violeiros se aprimorou na arte da cantoria e iniciou sua trajetória artística. Durante anos, viveu apenas das canções, do repente e da viola, viajou todo o Nordeste, Norte e Sul do País fazendo cantorias e com outros cantadores, entre eles João Liberalino com quem formou uma das mais famosas duplas de toda a região. Juntos eles foram para o rádio com o programa Rimas e Violeiros, sucesso por mais de vinte anos e companheiro com quem gravou o LP O Nascimento de Jesus em 1972.
             Mas este não foi o primeiro LP. Elizeu fez ainda o LP 'Canções de Amor', em 1971, e o terceiro e último disco 'Chorando ao Pé da Cruz', em 1979, sendo este último pela Continental vendendo 40 mil cópias.Apesar de ser analfabeto, isso nunca o atrapalhou. Ele costumava declamar os seus versos até decorá-los. Depois com o uso de um gravador, as letras eram transcritas por amigos e familiares.
             Com os anos, seu trabalho foi ficando mais difícil. Aos 60 anos ficou cego vitimado pela catarata irremediável diante da falta de condições de pagar um caro tratamento. Nos seus últimos anos de vida, Elizeu era figura urbana, conhecido por sua banca ao lado do mercado público central, onde cantava as músicas e vendia fitas cassete com as gravações. Ele calculava ter vendido mais de 100 mil fitas cassetes.    
              Pouco tempo depois, nos últimos dois anos de vida, Elizeu Ventania já não estava mais gravando e vivia da ajuda financeira dos filhos. Nessa época o cancioneiro já não vivia mais com a mulher legítima, Francisca Limeira Sales, há mais de quinze anos. Toda a doença foi acompanhada de perto por sua companheira Benedita Neuma Sena, com quem conviveu maritalmente os últimos vinte anos de vida.
             O cancioneiro teve ao todo oito filhos. Em 19 de outubro de 1998 ele faleceu após uma parada cardiovascular no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), oriundo de um enfisema pulmonar e depois de quinze dias de internação na UTI. Deixou mais de 200 composições inéditas e uma trajetória a ser recordada pelos cantadores de toda a região.
            Nos jornais o pesquisador Geraldo Maia possui em seu acervo vários recortes de jornais de Mossoró e de Natal sobre a vida de Elizeu Ventania. Em muitas delas é o próprio Elizeu quem conta sua trajetória, a vida sofrida, a luta pela sobrevivência com a venda de suas canções. Em uma de suas últimas entrevistas concedidas para o jornal O Mossoroense, em setembro de 1998, Elizeu falou da influência que outros violeiros tiveram para sua decisão pela cantoria."O que me impulsionou foi o chamado de outros violeiros, como João Liberalino, Adonias Ferreira, entre outros. Aos 18 anos eu fui para Fortaleza, no Ceará, e lá me fiz com os violeiros. Anos depois tive como parceiros João Liberalino, Adonias Ferreira, Raimundo Mourão, Bentivi Neto, Patativa, Chico Traíra e muitos outros", relatou à época.
             Nesta mesma entrevista, Elizeu falava da música que mais gostava entre as muitas que fez, a "Serenata na Montanha", queixava-se da falta de valor que a cantoria vinha tendo e de dificuldades financeiras e de saúde que ele enfrentava depois que ficou cego por causa da catarata irremediável, e da impossibilidade de cantar.
             Em outra entrevista, desta vez na Gazeta do Oeste, em 16 de outubro de 1992,  Elizeu Ventania se dizia saudoso da cantoria do passado, de quando ainda não havia televisão e o rádio levava as canções dos violeiros para entreter e encantar o povo, tempo em que a verdadeira música popular ainda não estava relegada a um segundo plano. "Naquele tempo até cantoria era novidade e só tinha o rádio pra divertir o povo", afirmou.
             Documentário
             Uma parte dessa história de vida foi transformada em um vídeo curto de 19 minutos e 48 segundos com o título "Elizeu Ventania, o rei das canções". O vídeo foi produzido por alunos do curso de Comunicação Social, da Uern, juntamente com equipe técnica sob orientação docente, reunindo relatos de amigos, familiares e admiradores do trabalho de Elizeu Ventania, falando de sua importância para a cultura popular nordestina e brasileira. O vídeo agora será uma das atrações do 18o Festival de Cinema de Natal concorrendo dentro da 8o Festival do Vídeo Potiguar, nos dias 21 e 22 de novembro, às 18h, na Capitania das Artes em Natal.
            Becodalama - Clotilde Tavares

Serenata nas montanhas
Eliseu Ventania

Eu sonhei quando dormi,
No mesmo sonho eu ouví
Uma voz dizendo vá
Enfrentar a verde mata
Fazer uma serenata
Na montanha do pará.


Eu entrei de mato adentro
Quando cheguei la no centro
Afinei meu violão
Como estava em terra estranha
Pedi licença a montanha
E cantei uma canção.


Quando eu estava cantando
Ví um indio vir chegando
E começou a me falar:
Atenda o morubixaba
Me acompanhe até a taba
Que pajé mandou chamar.


Eu parei meu instrumento
E ali naquele momento
De viver perdi a fé
Com o violão de lado
Nesta hora fui levado
A presença do pajé.


O pajé falou comigo
Foi dizendo meu amigo,
Cante ai uma canção
Eu cantei ele alegrou-se
Uma india apaixonou-se
Me ofertou seu coração.


Eu mirei sua beleza
Foi esta maior surpreza
Que no mundo pude ter
Por que nunca vi tão bela,
Uma india igual aquela
Nunca mais eu hei de ver.


Alí naquele momento
A pedi em casamento
E o pajé não fez questão
Eu casei-me lá na mata
Houve uma serenata
De viola e de canção.


Quando a festa terminou-se
Todo mundo retirou-se
E eu dali sai também
Com a india pela flora
Porém nesta mesma hora
Acordei não ví ninguém.