Amanhecer na
Grota Angico, em 28 de julho de 1938. Na linha avançada da Volante de tenente
João Bezerra, está o aspirante Ferreira. “Ocupada a posição, a um sinal do
aspirante, Pedro de Cândido se aproxima da borda do penhasco e recua de
repente, branco como papel: avistara Lampião logo abaixo, em frente de uma
pedra pontuda”; (pág. 260) O até então, “ Rei do Cangaço está a menos de oito
metros de distância, em pé, inteiramente equipado, salvo pelo chapéu e pela
cartucheira de ombro”, narra Frederico Pernambucano de Melo, em seu livro
“Apagando Lampião”.
E segue
narrando em detalhes: o coiteiro Pedro de Cândido “olha para Santo; por meio de
gestos e de movimentos de boca, Santo confirma a identificação para o aspirante
(Ferreira) que, em resposta, “olha para Santo e molega o dedo indicador na
direção de Pedro”. Era a senha para que este também fosse eliminado, algo que
não aconteceu.
Em cima da
grota o aspirante Ferreira “eleva a Bergman à posição de tiro e, fosse por
ceder a evidência de serem as metralhadoras armas contraindicadas par o tiro de
pontaria, fosse por sentir o peso, desiste e faz gesto para Santo”, famoso na
tropa como franco-atirador, e o autoriza a fazer uso do fuzil conhecido por
Mauser alemão, modelo 1908, calibre sete milímetros, cano extralongo, balas
novíssimas, de 1932, contou Sandes.
Lá embaixo,
Lampião leva à boca sua caneca com café, e é nesse exato o instante do disparo
fatal, de cima para baixo. O ex-amigo, ex-coiteiro, ex-cangaceiro apelidado por
Maria Bonita, de Galeguinho, e agora soldado de volante, Sebastião Vieira Sande
– o soldado Santo, assiste à “queda desconjuntada do corpo; queda de quem cai
para não levantar mais”.
Esta versão de
quem matou matou Lampião merece crédito, mesmo vindo à tona muitas décadas
depois, em contraponto às que surgiram no calor dos acontecimentos. Um dado
importante: ali, no momento do ataque, a menos de oito metros de distância de
Virgulino Ferreira da Silva, apenas dois homens o conheciam bem: o coiteiro
Pedro de Cândido e o soldado Santo, que após o tiro fatal em Lampião, se
desamarra de Cândido, e mesmo tendo recebido ordens do aspirante Ferreira para
matar o coiteiro ali mesmo, o mandou correr.
-“Corre,
condenado”, soprou Sandes ao ouvido do coiteiro.
“Imediatamente
depois dos tiros, houve um pequeno intervalo, e os cabras que estavam perto de
lampião foram acossados por fortes rejadas que partiam quase da mesma direção,
vindas por cima de uma elevação. Logo caíram, mortalmente feridos,
Quinta-Feira, Merulhão, Colchete, Maria Bonita e Marcela.”
Mas os
admiradores do cangaço, podem ficar com outra versão dos acontecimentos – a do
sargento Honorato – Noratinho.
Ao Jornal
Diário de Pernambuco de 2 de agosto de 1938, Noratinho deu a sua versão numa
narrativa elaborada. Disse Noratinho:
“Vi Lampião se
erguer, apresentando na face a expressão de um enorme pavor. Levei o fuzil ao
rosto. Mirei bem. A mulher do bandoleiro, nesse instante, estendeu os braços
pedindo clemência. Fiz fogo e o chefe dos cangaceiros baqueou. Acompanhei sua
queda com dois tiros”.
Lembrando aos
conhecedores de armas deste grupo, que Noratinho portava de arma de repetição e
não automática.
Fonte:
“Apagando Lampião”, de Frederico Pernambucano de Melo.
Foto 1.
Sebastião Vieira Sandes (em depoimento a Frederico)
2. Lampião e
Maria Bonita, foto de Benjamim Abraão (Abba Filmes) 3. Pedro de Cândido. 4.
João Bezerra(sentado à E; Ferreira (em pé à D)
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