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sábado, 21 de março de 2015

Uma raridade! Uma Polêmica!


Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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“O GLOBO” – 02/11/1997 - O LEGADO DO CABRA QUE DESAFIOU VIRGULINO

Por Aziz Filho

"ELE APARECE NA FITA SOPRANDO VELINHAS E FALA DURANTE UM HORA. A FITA SERÁ DOADA AO MUSEU DA IMAGEM E DO SOM, DO RIO DE JANEIRO"

ESTRELA DALVA (MG) – Aos 14 anos ele foi preso e aos 21 condenado a 145 anos de prisão por suas maldades. Cabra-macho transformado no inofensivo Antônio dos Santos após passar 20 anos na cadeia e ser indultado por Getúlio Vargas, Volta Seca morreu em 2 de fevereiro deste ano na pacata Estrela Dalva, onde morava desde 1982. O cangaceiro, que escapou da fúria de Lampião, a quem desafiou, da polícia e da seca, foi derrubado pelo cigarro aos 78 anos. Morreu pobre, de enfisema pulmonar, dez meses após gravar seu único depoimento, ao qual O GLOBO teve acesso com exclusividade.

“Se o senhor me der um tapa, eu atiro, disse ele a Lampião”.

A gravação, em vídeo, foi feita por um amigo de Volta Seca, o comerciante José Ribeiro Farace, da cidade vizinha de Leopoldina, onde o cangaceiro comemorou seu último aniversário. Ele aparece na fita soprando velinhas e fala durante uma hora. A fita será doada ao Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro.

Nem mesmo à mulher, Isaura dos Santos – que ele conheceu em 1971, quando já trabalhava na Rede Ferroviária Federal, no bairro carioca de Santa Cruz – Volta Seca contou os detalhes sobre o cangaço que revela: assassinatos de policiais e do estuprador de sua irmã. Ela diz que Antônio defendia as memórias de Lampião e de Maria Bonita, para os quais mandava rezar missa todo ano.

Antônio revela na fita o atrevimento que quase fez com que ele fosse morto por Lampião. Num dia de 1931, no sertão da Bahia, Lampião mandou que um integrante do bando fosse procurar um burro na caatinga. O cangaceiro, meia hora depois, voltou dizendo que não encontrara o animal. Lampião repassou a tarefa ao então adolescente Volta Seca. Quando viu o burro trazido pelo garoto, Lampião chamou de sem-vergonha o outro que não cumprira a missão, dando-lhe um tapa no rosto.

- Eu disse: “Fulano, quer dizer que você toma um tapa desse na cara e não larga fogo num desgraçado desse?” E isso logo foi parar no ouvido de Lampião. Ele mandou me chamar, eu fui lá. Ele me perguntou: “Quer dizer que você disse que se eu te desse um tapa na cara você atirava?” Eu disse: “Atirava não, eu atiro. Se o senhor me der um tapa, eu atiro. As balas que o senhor tem eu tenho também” – conta Volta Seca, cuja cabeça de adolescente só não virou decoração de cactos devido aos apelos de Maria Bonita, que anos depois inspiraria Volta Seca a compor, na prisão, a música “Acorda Maria Bonita”.

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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A LENDA DE LAMPIÃO E MARIA BONITA CONTINUA

Por Fabíola Ortiz

Antropólogos ainda não conhecem ao certo as técnicas utilizadas na mumificação do casal ou onde estão as cabeças do rei e da rainha do cangaço

"Se, para muitos, Lampião foi um bandido sanguinário, para muitos outros foi um herói e continua a ser uma fascinante e lendária figura.” É desta forma que o rei do cangaço é descrito em reportagem publicada na revista O Cruzeiro, em 6 de junho de 1959, intitulada Justiça para Lampião. O fascínio que despertam a história do cangaço e a imagem das cabeças decepadas dos cangaceiros expostas segue intacto 75 anos após a morte de Lampião e Maria Bonita, em 28 de julho de 1938.

Em uma emboscada na madrugada daquele dia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra o bando de 35 cangaceiros na grota do Angico, na margem do rio São Francisco, no município de Piranhas. Após um rápido combate, Lampião e Maria tiveram suas cabeças decepadas e, posteriormente, exibidas nas escadarias da prefeitura local, ao lado de outras de componentes do seu grupo. Depois, por 30 anos, as cabeças foram expostas no museu do Instituto Nina Rodrigues, em Salvador. Por lá passaram também as cabeças dos cangaceiros Corisco, Azulão, Zabelê e Canjica.

A preservação das cabeças embalsamadas de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Bonita ainda gera questionamentos e discussões entre legistas, antropólogos e historiadores. Antropólogos do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, querem agora desvendar em que condições as cabeças foram manuseadas e embalsamadas.

O então professor da Faculdade de Medicina e diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues na década de 50, Estácio de Lima, confirmou na ocasião da matéria de O Cruzeiro que as cabeças haviam sido conservadas pelo método egípcio de mumificação. Elas representam “documentos inestimáveis” de uma época da criminalidade brasileira, comentou.

“As informações que existem é que foram usadas técnicas egípcias. É exatamente isso que queremos descobrir. Por que usar como parâmetro a técnica egípcia? Provavelmente não foi usada a técnica completa, inclusive porque ela não é conhecida detalhadamente”, contou à História Viva a antropóloga biológica Cláudia Carvalho, diretora do Museu Nacional no Rio.

Sabe-se que o processo de mumificação no antigo Egito envolvia uso de resinas, essências aromáticas, limpeza com água do Nilo, retirada do cérebro pelo nariz, dos fluidos corporais e uma cobertura de sal por um longo período.

“Acho muito difícil que tenham sido seguidas essas técnicas. As cabeças foram aparentemente salgadas num lugar e levadas para outro. A temperatura e a umidade controladas não eram uma possibilidade naquela época. Não dá para saber se o resultado da técnica foi bom ou não”, admitiu Cláudia, ao duvidar que as sofisticadas técnicas milenares tenham sido utilizada no Nordeste na década de 1930.

(...)

Continue lendo essa reportagem na História Viva 120

http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_lenda_de_lampiao_e_maria_bonita_continua.html

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“O GLOBO” – 27/11/1976 - ANTÔNIO AMAURY


Ele não nasceu no Nordeste. Mas sabe tudo sobre Lampião e o cangaço. Ele sabe tudo da vida de Lampião e dos cangaceiros. Tem 80 horas gravadas sobre o assunto, um livro publicado, um segundo esperando por uma editora e mais dois em preparação. Aos 42 anos de idade, está quase abandonando a odontologia para se dedicar somente às pesquisas e, se chegar aos Cr$ 800 mil, fará isso sem sombras de dúvidas.

Há pouco mais de dois meses, a vida do dentista Antônio Amaury Corrêa de Araújo se transformou. Num belo sábado ele deixou a tranquilidade de um fim de semana junto com a mulher e os três filhos em sua casa no bairro Jardim Paulistano (SP), pegou um avião e veio se trancar no apartamento de um hotel no Rio de Janeiro esperando o dia seguinte para participar do programa “8 ou 800”. Hoje, faltando apenas três semanas para chegar aos Cr$ 800 mil, o consultório em São Paulo está quase fechado, junto com os 40 diplomas de pós-graduação. Se antes Lampião e o cangaço eram um hobby em sua vida, hoje passaram a ser o assunto mais importante.

- Antes eu trabalhava no consultório de segunda a sábado, agora trabalho só segunda e sábado e, mesmo assim, com dificuldades. Se eu levava 30 minutos para fazer um trabalho, agora levo duas horas. Os clientes estão muito mais interessados em saber histórias de Lampião do que tratar dos dentes.

Foi quase por acaso que aos 16 anos de idade caiu nas mãos de Amaury um folheto sobre Corisco.

- Trazia a notícia da morte de Corisco e de mais quatro pessoas. Passei a procurar mais informações em jornais e revistas e aguçou a minha curiosidade ver que as notícias se conflitavam. Com isso despertou também o meu interesse e, num estilo Sherlock Holmes, passei a procurar saber qual era a verdade.

Em 1959, Antônio Amaury saiu de Araraquara e foi para São Paulo, aumentando assim as possibilidades de se dedicar ao assunto.

- Fui ser dentista da Companhia de Gás, e dizem que 95% dos nordestinos que vão trabalhar em São Paulo, vão pra lá. Foi o mesmo que jogar sapo n’água. Comecei a conversar com quem havia vivido o problema e gravando tudo.

Aos poucos, a casa de Amaury foi se transformando num república de ex-cangaceiros.

- A Dadá, mulher de Corisco, ficou lá em casa seis meses. O irmão e a filha de Lampião também ficaram 20 dias.

Para não ficar fora do assunto, a família passou a ajudá-lo nas pesquisas e a acompanhá-lo nas viagens pelo interior. Foi assim que nasceu o primeiro livro e ainda inédito “Minha vida com Corisco”, depoimento que a viúva do ex-cangaceiro lhe deu com exclusividade. O segundo livro, “Assim morreu Lampião”, foi lançado e editado por conta própria em agosto de 1975 e foi baseado nele que a Blimp Filmes produziu o documentário “O último dia de Lampião”, apresentado no programa “Globo Repórter”. Amaury colaborou também na produção do documentário: “As mulheres no Cangaço” e do filme “Corisco, o diabo loiro”, feito pela Cinedistri.

- Se não aparecer nenhuma editora lanço por conta própria o livro sobre Corisco, pois foi uma promessa que fiz a Dadá que está com 66 anos de idade. Já planejei o terceiro e o quarto livro, mas acontece que a história sobre o cangaço ainda está para ser contada e não vai ser eu quem vai contá-la.

No programa, para cada pergunta ele tem duas respostas. Uma correspondente a um dos 9 livros que entregou para a produção do programa e outra retirada de seus 26 anos de estudos sobre o assunto. Amaury é capaz de gaguejar quando se pergunta a idade ou a data do nascimento de seus filhos, mas, sobre o cangaço suas respostas são exatas e sabe todas as datas sem precisar pensar duas vezes.

- Existem pessoas que fazem uma ideia errada sobre mim, pois sempre digo que conheço os cangaceiros. Acontece que pra cada cangaceiro conheço dez policiais que os perseguiram.

Dona Renée, os filhos Junior, 13 anos, Carlos Elídio, 12, e Sérgia de 11 anos, que tem esse nome em homenagem à viúva de Corisco, acompanham de São Paulo as apresentações do pai no programa. Eles estão tranquilos, pois sabem que se depender dos conhecimentos de Amaury sobre o cangaço, os Cr$ 800 mil já estão ganhos.

- Aos sábados, eu chego ao Rio e vou para o claustro. Ainda não fui a lugar nenhum e aproveito para estudar. Durante a semana em São Paulo me tranco no consultório, desligo o telefone para poder ter sossego. Lá em casa, toda hora chega gente querendo conversar e contar histórias sobre o cangaço. No primeiro dia do programa eu me lembrei do Zé Baiano, um ex-cangaceiro, que quando lhe perguntaram se não tinha medo de brigar respondeu: “Antes do tiroteio me corre um friozinho pela espinha, depois quando esquenta ninguém me segura.” Eu também fiquei assim.

Caso ganhe os Cr$ 800 mil, Amaury ainda não sabe o que vai fazer.

- Andam dizendo que vou construir uma estátua, outros dizem que vou dividir com os cangaceiros, mas nem mesmo minha mulher sabe o que vou fazer. Não quero me preocupar com o dinheiro enquanto não tenho.

Já me acostumei a ser pobre e não é isso que vai mudar a minha vida.

Como as possibilidades da vitória são muitas, o mais provável é que ele coloque o dinheiro para render juros e se dedique somente a pesquisas.

- Há 11 anos pesquiso sobre um movimento que aconteceu em 1938 na Bahia e em Pernambuco chamado Pau de Colher. É muito mais difícil que o cangaço pois ninguém quer reconhecer que participou dele. Já trouxe gente desse grupo para ficar em minha casa e minha intenção é escrever um livro sobre esse assunto.

Livros, recortes, um objeto onde Lampião guardava cigarros e dinheiro, muitas histórias, povoam a casa de Amaury em São Paulo. Muitos cangaceiros já foram ajudados por ele, apesar de não gostar de contar esses fatos. Da odontologia, profissão que exerce há 20 anos, aos poucos está se afastando. Quem sabe conseguindo os 800 mil se afaste totalmente para se dedicar às pesquisas, a maior paixão na sua vida.

Fonte: facebook

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