Corpo de Monsenhor Assis sendo velado
A igreja católica potiguar está em luto pelo Monsenhor Francisco de Assis Pereira, 76 anos. O religioso faleceu na manhã de ontem, dia 13, vítima de câncer de garganta. Desde o início do ano, o padre era submetido ao tratamento e estava internado desde a última segunda-feira, no Hospital São Lucas. A missa de corpo presente será celebrada a partir das 8h, pelo arcebispo Dom Matias Patrício de Macedo, na Catedral Metropolitana de Natal, onde o corpo é velado desde a tarde de ontem. São esperados para a cerimônia, cerca de 25 sacerdotes do Rio Grande do Norte e estados vizinhos para concelebrar a missa. Outras duas missas foram celebradas às 16h30 e às 19h de ontem.
Natural de Santa Cruz, na região Agreste potiguar, Monsenhor Assis, que era capelão da Igreja de São Judas Tadeu, no Tirol, ficou conhecido por defender a causa da beatificação dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. O sacerdote, eleito postulador romano da Santa Sé junto às Congregação das Causas dos Santos, foi responsável por investigar e reunir documentos históricos e defender a argumentação perante o então papa João Paulo II que comprovou a autenticidade da fé durante o massacre.
"Ele foi o braço forte do processo de beatificação dos mártires de Cunhaú e Uruaçu", disse o arcebispo Dom Matias Patrício de Macedo. O arcebispo lamentou a partida do religioso e ressaltou ainda a grande contribuição deixada enquanto professor e diretor de estudos do Seminário São Pedro. "Foi uma vida dedicada a formação intelectual e espiritual dos nossos padres", acrescentou.
A governadora Rosalba Ciarlini prestou os últimos respeitos ao sacerdote. "É com profundo pesar que nos despedimos de uma personalidade que tanto fez pela Igreja Católica. O Rio Grande do Norte perde um grande sacerdote e uma figura humana de extrema bondade", lamentou a governadora.
O capelão de reserva da Polícia Militar, padre Tarcísio Pereira de Carvalho, 73 anos, e irmão do religioso enfatizou ter o Monsenhor Assis dedicado parte da vida para "mostrar a autenticidade dos nossos santos nordestinos. Era voltado para a causa regional, como postulador".
Padre Tarcísio lembra que a vocação do irmão para a vida religiosa iniciou desde a infância. "Aos oito anos, depois que papai faleceu, ele foi para o monastério em Garanhuns, Congregação dos Dominicanos. Uma vida entregue ao trabalho para Deus", disse.
Dois anos depois, o segundo de oito filhos retornaria a Natal e entraria para o Seminário São Pedro, onde viveu maior parte da vida.
Ordenado sacerdote em 13 de abril de 1958, Monsenhor Assis estudou em Roma, onde fez doutorado em Filosofia e em Teologia. Ade volta a Natal, atuou junto as paróquias de Nossa Senhora Aparecida, em Neópolis, da Sagrada Família, nas Rocas, e de São João Batista, em Lagoa Seca.
Paralelo ao trabalho como postulador, Monsenhor Assis atuava na construção do Arquivo da Arquidiocese de Natal. Considerado um intelectual e pesquisador incansável, escreveu e acumulou vasto acervo sobre estudos eclesiais, tendo publicado apenas dois livros, um sobre a história os Protomártires do Brasil e outro sobre o Beato Mateus Moreira, patrono dos Ministros da Eucaristia. Também foi professor da UFRN, do Departamento de Filosofia.
"Era um intelectual, homem reservado, mais conhecido pelo dom da escrita, do que da oratória", disse a sobrinha, a irmã Vilma Lúcia de Oliveira, que assumirá as atribuições junto ao Arquivo Eclesial. "A Igreja perde um arquivo", lamentou a sobrinha irmã Vilma Lúcia de Oliveira, sucessora
Três processos de beatificação estão em andamento
Nos últimos anos, o Monsenhor Francisco de Assis Pereira se dedicava de três processos de beatificação - o de Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira (Olinda - PE), Padre José Antônio de Maria Ibiapina (Guarabira-PB) e de reabilitação histórico-eclesial do padre Cícero Romão Batista, do Juazeiro (CE). Esse último buscava reverter a excomunhão do padre Cícero. (*)
Os processos se encontram no Vaticano, para ser submetido à análise da Congregação das Causas dos Santos. De acordo com o chanceler da Cúria Júlio Cezar, o postulador era responsável por reunir documentos que atestassem a integridade e vida dos religiosos investigados.
Desde 2002, levantava a história de vida e santidade do padre João Maria Cavalcanti de Brito, o "padre João Maria", e do Cônego Luiz Gonzaga do Monte, o "cônego Monte", à pedido do arcebispo Dom Heitor de Araújo Sales. De acordo com o chanceler da cúria padre Júlio César, nesses se trata ainda de investigações ainda junto às paroquias, não tendo ainda previsão de quando serão, sobretudo agora, concluídos para apreciação da Santa Sé.
O padre Júlio Cezar frisa ainda ser cedo para falar em substitutos aos processos de beatificação e canonização dos santos do nordeste. Entretanto, assegura que o processo dos 30 mártires de Cunhaú e Uruaçu terá prosseguimento, com observância a todas exigências e cautelas que rodeiam tal investigação antes da proclamação como santos.
"Ele foi o maior propulsor da devoção aos mártires no nosso Estado. Uma pessoa firme e decidida, capaz de se comover diante da necessidade do outro e ajudar", lembrou o chanceler da Cúria.
Foto: Adair Dantas
Nota do editor do Blog do Juazeiro
Tudo que diz respeito a história do Padre Cícero é muito polêmica e o Jornal pode estar equivocado na afirmação que ele teria sido excomungado. A pena teria vindo de Roma, é verdade, contudo, segundo relatos, a partir de documentos catalogados por Lira Neto no livro Poder, Fé e Guerra no Sertão, não aplicada.
Dom Quintino, na época Bispo de Crato, vendo o estado debilitado de saúde do Padre Cícero e, segundo algumas interpretações, receoso de que a informação agravasse o estado do religioso podendo lhe levar a morte e uma reação do Dr. Floro Bartolomeu e do próprio povo, enviou o documento de volta a Roma, prevalecendo apenas à suspensão das ordens sacerdotais, ou seja, não podendo mais realizar sacramentos, o que já era um absurdo, diga-se de passagem.
Fico com a contextualização histórica do Lira Neto, baseada em documentos da própria Diocese de Crato, cedidos por Dom Fernando.
O professor Jose Carlos dos Santos, Secretário de Turismo e Romaria de Juazeiro, me disse que o Monsenhor Assis, era um religioso vocacionado e profundo conhecedor da história. Certamente realizou um bom trabalho buscando a reabilitação das ordens sacerdotais do Padre Cícero, considerado santo popular no nordeste brasileiro.
Beto Fernandes
Editor
Extraído do "blog do Juazeiro"