Embora tido como um dos primeiros cangaceiros, José Gomes, o Cabeleira, era
apenas um bandido cruel e sanguinário, que entrou na vida do crime influenciado
pelo seu pai, o não menos perverso Joaquim Gomes, um homem mal e cruel que cedo
ensinou o filho a arte violenta de matar e sangrar as pessoas indefesas, apenas
por puro prazer. Juntamente com seu pai e um negro de nome Teodósio, Cabeleira
aterrorizou toda a zona da mata pernambucana desde Vitória de Santo Antão até o
centro do Recife, em meados de 1775.
Cabeleira
foi um herói do mal. À revelia de sua mãe, a Joana, conheceu a trilha do crime
através do pai, que cedo o ensinou a usar o clavinote, deixando um rastro de
morte e destruição por onde passava.
Cabeleira
não escolhia suas vítimas. Era um herói sem causa social, e não tinha para si
um código de ética e de conduta. Matava por matar e roubava por roubar. José
Gomes foi aprisionado num canavial em Paudalho, zona da mata de Recife, e
levado à forca no Forte das Cinco Pontas em 1776. Das estórias de Cabeleira, só
contadas pelo romancista Franklin Távora, ficam os versos que imortalizou a
figura desse cangaceiro na alma do nordestino:
“Fecha a
porta, gente Cabeleira aí vem, Matando mulheres, Meninos também....” “Minha mãe
me deu Contas pra rezar Meu pai me deu faca Para eu matar” “Meu pai me pediu Por
sua benção Que eu não fosse mole Fosse valentão.”
Fonte: facebook, página do pesquisador Guilherme Machado
O TEMIDO CABELEIRA
Publicado em 2006
Ele era tão temido em Pernambuco no século XVIII que costumavam assustar as
crianças daquela época dizendo: se não obedecer, Cabeleira vem te pegar!
José Gomes, o Cabeleira, pode ser menos famoso que Lampião, mas viveu antes que
o amante de Maria Bonita e é considerado um dos primeiros cangaceiros de que se
tem notícia. Filho de mameluco, ele matava e roubava de todos, não perdoava nem
a igreja, forte e temido na época. Sua história foi contada em livro por
Franklin Távora, um escritor regionalista, crítico ferrenho de José de Alencar,
autor de "Iracema", "O guarani" e "Senhora".
Inspirados pelo livro "O Cabeleira", de Távora, Hiroshi e Leandro
Assis, dois novatos no gênero dos quadrinhos, decidiram escrever um roteiro
inspirado no personagem. A HQ contará com a arte de um veterano que andava
sumido da área, Allan Alex, e será publicada no início do ano que vem pela nova
editora Desiderata. Ex-MOSH! e atual responsável pela publicação de quadrinhos
da editora, Lobo diz que o álbum terá 96 páginas no formato de 21 x 28 e
adianta outros projetos:
- O lançamento de nossa série de quadrinhos deve acontecer no início do ano que
vem. "O Cabeleira", que o Allan Alex está desenhando a partir de um
roteiro de Leandro Assis e Hiroshi, é uma puta história de aventura de época,
tá ficando linda. Outros lançamentos são "Copacabana", um roteiro meu
desenhado pelo Odyr, que conta a história de uma puta que trabalha na Av.
Atlântica e uma coleção de quadrinhos sobre escritores, possivelmente Julio
Cortázar e Vinicius de Moraes.
Formado em engenharia, Hiroshi conta como entrou no projeto de "O
Cabeleira" com o parceiro, o publicitário Leandro Assis:
- Soube da história através do Leandro, que me mostrou o livro do Franklin
Távora. Embarquei imediatamente na idéia de escrever um roteiro. O livro é
baseado num cordel sobre o Cabeleira (imagem à direita), um personagem real que
aterrorizou Pernambuco no final do séc XVIII. Ele foi um precursor do cangaço.
A palavra “cangaceiro”, aliás, nem aparece no livro. Enquanto todo mundo dá destaque
para Lampião e Maria Bonita, vimos no Cabeleira uma história original, pois ele
foi o primeiro.
Já Assis diz que descobriu o cangaceiro em outro livro:
- Descobri sobre o Cabeleira no livro “Guerreiros do Sol”, do historiador
Frederico Pernambucano de Mello. O Cabeleira foi uma espécie de predecessor dos
cangaceiros, um bandoleiro que aterrorizou Pernambuco no século XVIII e teve
seus feitos imortalizados em cordel. Em 1876 Franklin Távora contou a história
do bandido no romance "O Cabeleira", no qual nosso roteiro é baseado.
Hiroshi parece ter gostado da ideia de fazer HQs, pois tem planos para novos
quadrinhos com Leandro Assis:
- Nossa idéia é continuar nessa linha de personagens que não são muito
conhecidos, mas que marcaram a história do Brasil.
O outro roteirista, Assis, concorda:
- Temos algumas idéias e estamos decidindo qual vamos desenvolver primeiro. Mas
certamente será alguma história de época, baseada em fatos reais, com muita
ação e alguma violência.
Conhecido pelas HQs do personagem Nonô Jacaré (imagem acima) que desenhava nos
anos 90 para a extinta revista Porrada ao lado do roteirista Patati, o bom
ilustrador Allan Alex andava sumido do ramo já há algum tempo até que o editor
Lobo, da Desiderata, o encontrou e o trouxe de volta às HQs. "O segredo da
Jurema", "Sangue bom", "Zumbi dos Palmares",
"Brasileiros", gibis de terror e até parcerias com Solano Lopes estão
no currículo de Alex, que desde a morte da esposa, há dez anos, vive na região
da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, uma área, segundo ele, rica em tipos
humanos:
- Vejo muita coisa na Central do Brasil, percebo certas nuances. Foi aqui onde
comecei a notar com mais atenção o ser humano, pois aqui tem de tudo. Daí
procuro compreender o Cabeleira. Ninguém nasce mau. É preciso entender a
complexidade e esquecer o conceito absolutista de bom e mau, existem
meios-termos. O ser humano é muito mais rico do que isso. O Cabeleira não
respeitava nem o medo que tinham da religião, roubava tudo. Nem o exército
português roubava da igreja. Queríamos mostrar, com esta HQ, a complexidade do
ser humano - explica Allan Alex, um ilustrador articulado que em matéria de
religião diz já ter experimentado de tudo: catolicismo, candomblé, umbanda,
seitas evangélicas etc.
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