Hoje às 20
horas no canal Aderbal Nogueira Cangaço no YouTube um bate papo com João Souto.
João vai falar sobre seus pais e responder as perguntas dos amigos.
... escrita pelo nosso amigo Poeta Guilherme Machado pesquisador/Historiador e que tem como assunto principal as biografias de alguns dos homens de confiança do rei dos cangaceiros, além de outros assuntos.
Um livro que deve estar presente no acervo de quem estuda e se interessa pelo estudo do fenômeno cangaço.
Para adquirir basta entrar em contato com o Poeta Guilherme Machado através do WhatsApp ( 71) 9 9248 - 4502.
Único irmão da ex-cangaceira Dadà ainda vivo. Manoel Ribeiro da Silva Filho de Vicente Ribeiro da Silva e de dona Maria Santa da Conceição. Seu Manoel nasceu na Baixa do Ribeiro, distrito do município de Macururé - Bahia, no dia 19 de Maio de 1909, assim como todos seus outros irmãos.
Conhecido como Mané Gaipó, ainda
reside no povoado Caraíbas próximo ao Brejo dos Burgos no Raso da Catarina.
Mané ainda seguiu a vida de Cangaceiro como sua irmã Dada e outros irmãos a
exemplo de João Pedro Ribeiro vulgo Avião.
Hoje seu Manoel está com 111 anos
muito debilitado das marcas do tempo e ficou deficiente visual.
Entrevista feita pelo pesquisador
e historiador Sandro Leite Cavalcante, em 2018.
Lee como é conhecido é morador da
cidade de Paulo Afonso - Bahia.
Cacau, Manoel
Severo e Jairo Luiz, em manhã de Cariri Cangaço
Durante estes
muitos anos que venho acompanhando de perto a saga de homens e mulheres que
enveredaram para o Cangaço ,sejam como cangaceiros, volantes ou coiteiros,
cheguei a ouvir muitos relatos que me impressionaram; no entanto alguns
marcaram para sempre e continuaram assim por toda minha vida. Dentre os relatos
que mais deixaram-me "curioso" foi o das mulheres que participaram
do Cangaço e em especial os que tive oportunidade de ouvir de duas mulheres
cangaceiras: Adília e Sila.
Quando
perguntadas sobre seus companheiros a resposta praticamente era a mesma para as
duas que viveram situações parecidas; o amor não existia e sim a
admiração, o respeito e até mesmo a necessidade de sobrevivência. O grande
poeta da minha geração, Renato Russo, em um das suas músicas diz: "O
amor é bom, não quer o mal /Não sente inveja ou se envaidece/amor é o fogo que
arde sem se ver/ É ferida que dói e não se sente/ É um contentamento
descontente/ É dor que desatina sem doer." E o que vimos nessas
mulheres foi muita mágoa, muito rancor e raiva, no entanto vemos admiração ,
respeito e medo; perguntamos então a nós mesmo: Isso é AMOR ?
Adília em
entrevista, disse que havia prometido seguir Canário para onde ele fosse e Sila
afirmou que NUNCA havia beijado Zé Sereno e não sentia nada por ele. Talvez, no
modo de pensar delas isso seja amor , mas o amor verdadeiro mata, trai,
maltrata e deixa lembranças ruins para o resto da vida ? Creio que
não ! As mulheres no Cangaço foram verdadeiras heroínas que souberam como
ninguém sofrer, amar e principalmente abdicarem da família, dos amigos e de um
futuro simples mas tranquilo.Mas essa renuncia foi por amor ? Ou
simplesmente por conveniência ou por medo ? Não podemos afirmar que todos
casais do Cangaço não sentiram amor e não viveram esse amor, mas a história nos
mostra que nem sempre o amor em sua forma plena esteve presente no Cangaço,
portanto o amor no Cangaço pode ter acontecido mas precedido de muito rancor e
mágoa e isso não é AMOR.
Jairo Luiz Oliveira, turismólogo
Idealizador da Rota do Cangaço Xingó
Conselheiro Cariri Cangaço
Bosco André e Manoel Severo ladeando Joca Coelho, pai do autor deste artigo e neto do lendário Joca do Brejão.
No século XVIII, ainda em sua primeira metade, entre os primeiros colonizadores do Cariri, inscreve-se um alagoano de nome José Paes Landim. Foi ele o fundador do Engenho de Santa Teresa, encravado em terras na ribeira do rio Salamanca, entre Missão Velha e Barbalha. De seu casamento com Geralda Rabelo Duarte origina-se a numerosa prole designada de Terésios pelo historiador Joao Brigido. O antigo Engenho de Santa Teresa contempla várias propriedades rurais, todas historicamente orientadas para a cultura de cana de açúcar e fabricacão de rapadura. São lugares ainda hoje facilmente visitados , bastando sair da rodovia que liga Missao Velha à Barbalha, e pegar à direita estrada carrossal que se inicia no sitio Carnaúba em direção à Barbalha. Passando-se pela vila de Santa Teresa, margeando um verde vale, adiante alcançamos o Brejão. Neste território viveu no inicio do século XX o coronel João Raimundo de Macedo, conhecido como Joca do Brejão.
Filho de D. Jacinta Maria de Jesus, a D. Iaiá, com Raimundo Antônio de Macedo (Mundoca). De seu primeiro casamento, D. Iaiá teve como segundo filho o legendário coronel Antônio Joaquim de Santana (coronel Santana), que morava distante dali, ou seja, na Serra do Mato, nas bordas da chapada do Araripe. Com a idade avançada, o coronel Santana voltou ao vale-matriz dos Terésios, onde veio a falecer em casa ainda hoje existente, e que pode ser facilmente avistada transitando-se por aquela mesma rodovia caririense.
"Estrada das Pedras"- foto da estrada da Passagem de Pedras, uma das propriedades nas cercanias da Santa Teresa, tendo-se ao fundo a Chapada do Araripe.
Por sua posição geográfica privilegiada, espécie de paraíso entre o Cariri e o sertão, e pelas conhecidas características pessoais do coronel Santana, a Serra do Mato se constituiu em local de visita assídua de Lampião. Aliás, as incursões do bandoleiro no Cariri costumavam ser nas escarpas da chapada e no lado oriental da região, saindo de Porteiras, Brejo Santo, passando por Milagres, Missão Velha, pelos lados da Cachoeira, e as bandas da Aurora. É possível, portanto, que o líder maior do cangaço jamais tivesse passado pelo Brejão do coronel Joca, um vale mais densamente povoado, na vizinhança de Barbalha e da movimentada Juazeiro.
Com a tomada de Missão Velha por seu irmão em 1901, o coronel Joca vislumbrou assumir o comando político de Barbalha e assim o fez em 1906, desbancando o coronel Neco Ribeiro, sobrinho de Pinto Madeira, em uma disputa que durou oito horas. Relatos dos mais antigos apontam o coronel Joca como homem de notável postura moral. Assim, ainda que mais jovem do que o coronel Santana, e possuidor do mesmo espirito tenaz, conta-se que em muitas situações atuou como orientador do irmão, procurando regulá-lo em seus excessos. O coronel Joca foi um dos signatári os do “pacto dos coronéis” em 1911, embora não tenha comparecido pessoalmente, enviando como representante seu filho José Raimundo de Macedo. Ocorrida em Juazeiro, sob os auspícios do Padre Cícero Romão Batista, essa reuniao, como assinalado por Joaryvar Macedo, em seu “Império do Bacamarte”, foi utópica na medida em que previa um conjunto de posturas e ações incompatíveis com o espirito político da época. É tanto que logo após sua realização, o coronel Joca veio a se confrontar com o próprio juiz que selou o pacto desta reunião, por este ter assumido posições que se chocavam com a estrutura de poder em Barbalha.
Pedras - foto do canavial da Santa Teresa
Em que pese a conturbada época, de inicio do século XX, quando o mandonismo e a forca imperavam, emanaram dos Teresios personalidades no mundo das letras e da cultura, como o destacado filho do coronel Santana, o desembargador Juvêncio Santana, que veio a ser afilhado e mentor do Padre Cicero, assim como deputado e secretário do Interior e Justica do Ceará. Criterioso e equilibrado, certa vez o jurista foi em Fortaleza instado a explicar a atuação de seu pai como coiteiro de cangaceiros. Argumentou que a um proprietário rural restavam somente duas op ções para evitar receber um bando em sua casa: ou abria fogo contra os cangaceiros, o que não era recomendável, visto ser atividade de risco, gerando grande desassossego para a familia, ou o governo colocaria uma tropa oficial na porteira de cada fazenda, o que seria impraticável. Outro destacada personalidade originária dos Teresios foi o professor Antônio Martins Filho, reitor e fundador da Universidade Federal do Ceará. Apesar de ter sido oficialmente registrado como nascido no Crato, o reitor teve como local de nascimento exatamente a Santa Teresa. Em seu livro "Memórias - menoridade (Imprensa Universitária-1995)", registrou sua infancia no Cariri e a ligacao de seus pais com o coronel Joca: "o mundo em que anteriormente vivíamos, podia ser muito limitado, mas era limpo e, principalmente cordial. De fato, conhecíamos somente o sitio Santa Tereza, o Brejão do seu Joca e a cida de de Barbalha, em que todos eram conhecidos e amigos". O bisavô de Martins Filho chamava-se João Antonio de Jesus, conhecido como o Major Janjoca, dono da maior parte do sítio Santa Teresa.
Rio Salamanca em sua passagem pelo Brejão
A extensa distribuição dos Terésios no Cariri e o senso de pertencimento a um mesmo tronco ancestral, conferiram ao clã uma notável articulação afetiva, traduzida tanto na sucessão de casamentos entre parentes, quanto no apoio mútuo e incondicional em situações e conflitos em que algum membro esteve envolvido. Cite-se o caso em que a matriarca Marica Macedo de Aurora, quando de seu conflito em 1908 com o chefe político daquele município, Totonho Leite, retirou-se com a família para Missão Velha em busca de apoio dos coronéis Joca e Santana. O primeiro marido de Dona Marica, Cazuza Ma cedo, era irmão do pai do coronel Joca e padrasto do coronel Santana, Raimundo Antônio de Macedo (Mundoca) e também irmão da sogra do coronel Santana. Ocorre que quando de seu percurso, fazendo pernoite no sitio Taveira, entre Aurora e Milagres, Dona Marica acabou sendo vitima do cerco dessa propriedade pelas forcas governistas, que combatiam os Santos e Paulinos, desafetos de Totonho Leite e que estavam ali abrigados sob proteção do coronel Domingos Furtado. Como resultado do chamado "fogo do Taveira", morreram várias pessoas, incluindo o filho mais novo de Dona Marica. Exaltados com a ocorrência cruel contra sua parente, o coronel Joca e o coronel Santana juntaram-se ao coronel Domingos Furtado de Milagres e o major Zé Inácio do Barro, e neste município reuniram seiscentos homens, prontos para aniquilarem Aurora, caso o presidente Nogueira Acioli nao retirasse de imediato as forças que ali permaneciam. As forças foram retiradas, mas mesmo assim Aurora veio a ser invadida sob o comando do major Zé Inácio, sucedendo-se o domínio da cidade pelo coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido do Pavão) e a liderança feminina de Marica Macedo, que veio a falecer em 1924.
Percebe-se quão movimentado e contraditório foi o contexto histórico em que viveram os Terésios no início do século passado. Os acontecimentos dessa época tiveram influência profunda na geopolítica da região.
João Macêdo – Médico Professor da UFC - Universidade Federal do Ceará
Muitas vezes usamos certas expressões, mas não temos ideia do que elas significam.
São ditados ou termos populares que através dos anos permaneceram sempre iguais, significando exemplos morais, filosóficos e religiosos.
Tanto os provérbios quanto os ditados populares constituem uma parte importante de cada cultura.
Historiadores e escritores sempre tentaram descobrir a origem dessa riqueza cultural, mas essa tarefa nunca foi nada fácil.
O grande escritor Luís da Câmara Cascudo já dizia que: “os ditados populares sempre estiveram presentes ao longo de toda a História da humanidade”. No Brasil isso não é nenhuma novidade. Muitas vezes ocorrem expressões tão estranhas e sem sentido, mas que são muito importantes para a nossa cultura popular.
Veja aqui algumas dessas expressões ou ditados populares:
Bicho-de-sete-cabeças
Tem origem na mitologia grega, mais precisamente na lenda da Hidra de Lerna, monstro de sete cabeças que, ao serem cortadas, renasciam. Matar este animal foi uma das doze proezas realizadas por Hércules. A expressão ficou popularmente conhecida, no entanto, por representar a atitude exagerada de alguém que, diante de uma dificuldade, coloca limites à realização da tarefa, até mesmo por falta de disposição para enfrentá-la.
Com o rei na barriga
A expressão provém do tempo da monarquia em que as rainhas, quando grávidas do soberano, passavam a ser tratadas com deferência especial, pois iriam aumentar a prole real e, por vezes, dar herdeiros ao trono, mesmo quando bastardos. Em nossos dias refere-se a uma pessoa que dá muita importância a si mesma.
Ver (ou adivinhar) passarinho verde (MAS PODE SER AZUL, AMARELO, VERMELHO, ROXO E POR AÍ VAI!)
Significa estar apaixonado. O passarinho em questão é uma espécie de periquito verde. Conta uma lenda que alguns românticos rapazes do século passado adestravam o bichinho para que ele levasse no bico uma carta de amor para a namorada. Assim, o casal de apaixonados tinha grandes chances de burlar a vigilância de um paizão ranzinza.
Com a corda toda
Antigamente, os brinquedos que possuíam movimento eram acionados torcendo um mecanismo em forma de mola ou um elástico, que ao ser distendido, fazia o brinquedo se mexer. Ambos os mecanismos eram chamados de “corda”. Logo, quando se dava “corda” totalmente num brinquedo, ele movia-se de forma mais agitada e frenética. Daí a origem da expressão.
Favas contadas
De acordo com Câmara Cascudo, antigamente, votavam-se com as favas brancas e pretas, significando sim ou não. Cada votante colocava o voto, ou seja, a fava, na urna. Depois vinha a apuração pela contagem dos grãos, sendo que quem tivesse o maior número de favas brancas estaria eleito. Atualmente, significa coisa certa, negócio seguro.
Fazer ouvidos de mercador
Orlando Neves, autor do Dicionário das Origens das Frases Feitas, diz que a palavra mercador é uma corruptela de marcador, nome que se dava ao carrasco que marcava os ladrões com ferro em brasa, indiferente aos seus gritos de dor. No caso, fazer ouvidos de mercador é uma alusão a atitude desse algoz, sempre surdo às súplicas de suas vítimas.
Tapar o sol com a peneira
Peneira é um instrumento circular de madeira com o fundo em trama de metal, seda ou crina, por onde passa a farinha ou outra substância moída. Qualquer tentativa de tapar o sol com a peneira é inglória, uma vez que o objecto é permeável à luz. A expressão teria nascido dessa constatação, significando atualmente um esforço mal sucedido para ocultar uma asneira ou negar uma evidência.
O pomo da discórdia
A lendária Guerra de Tróia começou numa festa dos deuses do Olimpo: Éris, a deusa da Discórdia, que naturalmente não tinha sido convidada, resolveu acabar com a alegria reinante e lançou por sobre o muro uma linda maçã, toda de ouro, com a inscrição “à mais bela”.
Como as três deusas mais poderosas: Hera, Afrodite e Atena disputavam o troféu, Zeus passou a espinhosa função de julgar para Páris, filho do rei de Tróia O príncipe concedeu o título a Afrodite em troca do amor de Helena, casada com o rei de Esparta.
A rainha fugiu com Páris para Tróia, os gregos marcharam contra os troianos e a famosa maçã passou a ser conhecida como “o pomo da discórdia” – que hoje indica qualquer coisa que leve as pessoas a brigar entre si.
Afogar o ganso
No passado, os chineses costumavam satisfazer as suas necessidades sexuais com gansos. Pouco antes de ejacularem, os homens afundavam a cabeça da ave na água, para poderem sentir os espasmos anais da vítima. Daí a origem da expressão, que se refere a um homem que está precisando fazer sexo.
Ave de mau agouro
Diz-se de pessoa portadora de más notícias ou que, com a sua presença, anuncia desgraças. O conhecimento do futuro é uma das preocupações inerentes ao ser humano. Quase tudo servia para, de maneiras diversas, se tentar obter esse conhecimento. As aves eram um dos recursos que se utilizava. Na antiga Roma, a predição dos bons ou maus acontecimentos (Avis spicium, em Latim) era feita através da leitura do voo ou canto das aves. Os pássaros mais usado para isso eram a águia, a coruja, o corvo e a gralha. Ainda hoje perdura, popularmente, a conotação funesta com qualquer destas aves.
Santa do pau oco
Expressão que se refere à pessoa que se faz de boazinha, mas não é. Nos século XVIII e XIX os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por dentro. O santo era “recheado” com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.
Mais vale um pássaro na mão que dois voando
Significa que é melhor ter pouco que ambicionar muito e perder tudo. É tradição de antigos caçadores. Eles achavam melhor apanhar logo a ave que tinham atingido de raspão, antes que ela fugisse, do que tentar atirar nas que estavam voando e errar o alvo.
Apressado come cru
Quando não existia o forno microondas, era preciso muito tempo para a comida ficar pronta, ou então comê-la crua. Nessa época, a culinária japonesa ainda não estava na moda e comida crua era vista com maus olhos. Assim, a expressão passou a ser usada para significar afobamento, precipitação.
Chorar as pitangas
Pitangas são deliciosas frutinhas cultivadas e apreciadas em todo o país, especialmente nas regiões norte e nordeste do país. A palavra deriva de pyrang, que, em tupi-guarani, significa vermelho. Sendo assim, a provável relação da fruta com lágrimas, vem do fato de os olhos ficarem vermelhos, parecendo duas pitangas, quando se chora muito.
Farinha do mesmo saco
“Homines sunt ejusdem farinae” esta frase em latim (homens da mesma farinha) é a origem dessa expressão, utilizada para generalizar um comportamento reprovável. Como a farinha boa é posta em sacos diferentes da farinha ruim, faz-se essa comparação para insinuar que os bons andam com os bons enquanto os maus preferem os maus.
Aquela que matou o guarda
Tratava-se de uma mulher que trabalhava para Dom João VI e se chamava Canjebrina, que, como informam os dicionários, significa pinga, cachaça. Ela teria matado um dos principais guardas da corte do Rei. O fato não foi provado. Mas está no livro “Inconfidências da Real Família no Brasil”, de Alberto Campos de Moraes.
Sangria desatada
Diz-se de qualquer coisa que requer uma solução ou realização imediata. Esta expressão teve origem nas guerras, onde se verificava a necessidade de cuidados especiais com os soldados feridos. É que, se por qualquer motivo, se desprendesse a atadura posta sobre as feridas, o soldado morreria, por perder muito sangue.
Colocar panos quentes
Significa favorecer ou acobertar coisa errada feita por outro. Em termos terapêuticos, colocar panos quentes é uma receita, embora paliativa, prescrita pela medicina popular desde tempos remotos. Recomenda-se sobretudo nos estados febris, pois a temperatura muito elevada pode levar a convulsões e a problemas daí decorrentes. Nesses casos, compressas de panos encharcados com água quente são um santo remédio. A sudorese resultante faz baixar a febre.
Cor de burro quando foge
A frase original era “Corra do burro quando ele foge”. Tem sentido porque, o burro enraivecido, é muito perigoso. A tradição oral foi modificando a frase e “corra” acabou virando “cor”.
Pagar o pato
A expressão deriva de um antigo jogo praticado em Portugal. Amarrava-se um pato a um poste e o jogador (em um cavalo) deveria passar rapidamente e arrancá-lo de uma só vez do poste. Quem perdia era que pagava pelo animal sacrificado. Sendo assim, passou-se a empregar a expressão para representar situações onde se paga por algo sem ter qualquer benefício em troca.
De pequenino é que se torce o pepino
Os agricultores que cultivam os pepinos precisam de dar a melhor forma a estas plantas. Retiram uns “olhinhos” para que os pepinos se desenvolvam. Se não for feita esta pequena poda, os pepinos não crescem da melhor maneira porque criam uma rama sem valor e adquirem um gosto desagradável. Assim como é necessário dar a melhor forma aos pepinos, também é preciso moldar o caráter das crianças o mais cedo possível.
Salvo pelo gongo
O ditado tem origem na Inglaterra. Lá, antigamente, não havia espaço para enterrar todos os mortos. Então, os caixões eram abertos, os ossos tirados e encaminhados para o ossuário e o túmulo era utilizado para outro infeliz. Só que, às vezes, ao abrir os caixões, os coveiros percebiam que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo (catalepsia – muito comum na época).
Assim, surgiu a idéia de, ao fechar os caixões, amarrar uma tira no pulso do defunto, tira essa que passava por um buraco no caixão e ficava amarrada num sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento do braço faria o sino tocar. Desse modo, ele seria salvo pelo gongo. Atualmente, a expressão significa escapar de se meter numa encrenca por uma fração de segundos.
Elefante branco
A expressão vem de um costume do antigo reino de Sião, situado na atual Tailândia, que consistia no gesto do rei de dar um elefante branco aos cortesões que caíam em desgraça. Sendo um animal sagrado, não podia ser posto a trabalhar. Como presente do próprio rei, não podia ser vendido. Matá-lo, então, nem pensar. Não podendo também ser recusado, restava ao infeliz agraciado alimentá-lo, acomodá-lo e criá-lo com luxo, sem nada obter de todos esses cuidados e despesas. Daí o ditado significar algo que se tem ou que se construiu, mas que não serva para nada.
Comer com os olhos
Soberanos da África Ocidental não consentiam testemunhas às suas refeições. Comiam sozinhos. Na Roma Antiga, uma cerimônia religiosa fúnebre consistia num banquete oferecido aos deuses em que ninguém tocava na comida. Apenas olhavam, “comendo com os olhos”. A propósito, o pesquisador Câmara Cascudo diz que certos olhares absorvem a substância vital dos alimentos. Hoje o ditado significa apreciar de longe, sem tocar.
Amigo da onça
Segundo estudiosos da língua portuguesa, este termo surgiu a partir de uma história curiosa. Conta-se que um caçador mentiroso, ao ser surpreendido, sem armas, por uma onça, deu um grito tão forte que o animal fugiu apavorado. Como quem o ouvia não acreditou, dizendo que , se assim fosse, ele teria sido devorado, o caçador, indignado, perguntou se, afinal, o interlpcutor era seu amigo ou amigo da onça. Atualmente, o ditado significa amigo falso, hipócrita.
Estar com a corda no pescoço
O enforcamento foi, e ainda é em alguns países, um meio de aplicação da pena de morte. A metáfora nasceu de anistias ou comutações de pena chegadas à última hora, quando o condenado já estava prestes a ser executado e o carrasco já lhe tinha posto a corda no pescoço, situação que, de fato, é um sufoco. Hoje, o ditado significa estar ameaçado, sob pressão ou com problemas financeiros.
Como sardinha em lata
A palavra sardinha vem do latim sardina. Designa o peixe abundante na Sardenha, conhecida região da Itália. É um alimento apreciado e nutritivo, de sabor bem peculiar. As sardinhas, quando enlatadas em óleo ou em outro molho, vêm coladas umas às outras. Por analogia, usa-se a expressão popular sardinha em lata para designar a superlotação de veículos de transporte público.
O pior cego é o que não quer ver
Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D’Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel.
Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos.
O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver. Atualmente, o ditado se refere a a alguém que se nega a admitir um fato verdadeiro.
Andar à toa
Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar. Uma mulher à toa, por exemplo, é aquela que é comandada pelos outros. Jorge Ferreira de Vasconcelos já escrevia, em 1619: Cuidou de levar à toa sua dama. Hoje, o ditado significa andar sem destino, despreocupado, passando o tempo.
Casa de Mãe Joana
Este dito popular tem origem na Itália. Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em Avignon, onde estava refugiada, e mandou escrever nos estatutos: “Que tenha uma porta por onde todos entrarão”.
O lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em Portugal. Ao vir para o Brasil a expressão virou “Casa da Mãe Joana”. A outra expressão envolvendo Mãe Joana, um tanto chula, tem a mesma origem, naturalmente.
Onde judas perdeu as botas
Como todos sabem, depois de trair Jesus e receber 30 dinheiros, Judas caiu em depressão e culpa, vindo a se suicidar enforcando-se numa árvore.
Acontece que ele se matou sem as botas. E os 30 dinheiros não foram encontrados com ele. Logo os soldados partiram em busca as botas de Judas, onde, provavelmente, estaria o dinheiro.
A história é omissa daí pra frente. Nunca saberemos se acharam ou não as botas e o dinheiro. Mas a expressão atravessou vinte séculos. Atualmente, o ditado significa lugar distante, inacessível.
Quem não tem cão caça com gato
Se você não pode fazer algo de uma maneira, se vira e faz de outra. Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, se adulterou. Inicialmente se dizia “quem não tem cão caça como gato”, ou seja, se esgueirando, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.
De pá virada
Um sujeito da pá virada pode tanto ser um aventureiro corajoso como um vadio.
A origem da palavra é em relação ao instrumento, a pá. Quando ela está virada para baixo, é inútil não serve para nada. Hoje em dia, “pá virada” tem outro sentido. Refere-se a uma pessoa de maus instintos e criadora de casos ou a um aventureiro.
Deixar de Nhenhenhém
Conversa interminável em tom de lamúria, irritante, monótona. Resmungo, rezinga.
Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.
Estar de paquete
Situação das mulheres quando estão menstruadas. Paquete, já nos ensina o Aurélio, é um das denominações de navio. A partir de 1810, chegava um paquete mensalmente, no mesmo dia, no Rio de Janeiro. E a bandeira vermelha da Inglaterra tremulava. Daí logo se vulgarizou a expressão sobre o ciclo menstrual das mulheres. Foi até escrita uma “Convenção Sobre o Estabelecimento dos Paquetes”, referindo-se, é claro, aos navios mensais.
Pensando na morte da bezerra
Estar distante, pensativo, alheio a tudo.
Esta é bíblica. Como vocês sabem, o bezerro era adorado pelos hebreus e sacrificados para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor, que tinha grande carinho pelo animal, se opôs. Em vão. A bezerra foi oferecida aos céus e o garoto passou o resto da vida sentado do lado do altar “pensando na morte da bezerra”. Consta que meses depois veio a falecer.
Não entender patavina
Não saber nada sobre determinado assunto. Nada mesmo.
Tito Lívio, natural de Patavium (hoje Pádova, na Itália), usava um latim horroroso, originário de sua região. Nem todos entendiam. Daí surgiu o Patavinismo, que originariamente significava não entender Tito Lívio, não entender patavina.
Jurar de pés junto
A expressão surgiu das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado para confessar seus crimes.
Testa de ferro
O Duque Emanuele Filiberto di Savoia, conhecido como Testa di Ferro, foi rei de Chipre e Jerusalém. Mas tinha somente o título e nenhum poder verdadeiro. Daí a expressão ser atribuída a alguém que aparece como responsável por um por um negócio ou empresa sem que o seja efetivamente.
Erro crasso
Na Roma antiga havia o Triunvirato: o poder dos generais era dividido por três pessoas. No primeiro destes Triunviratos, tínhamos: Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos. Confiante na vitória, resolveu abandonar todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar. Ainda por cima, escolheu um caminho estreito e de pouca visibilidade. Os Partos, mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos, sendo o general que liderava as tropas um dos primeiros a cair. Desde então, sempre que alguém tem tudo para acertar, mas comete um erro estúpido, dizemos tratar-se de um “erro crasso“.
Lágrimas de crocodilo
O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele chora enquanto devora a vítima. Daí a expressão significar choro fingido.
Fila indiana
Tem origem na forma de caminhar dos índios americanos, que, desse modo, encobriam as pegadas dos que iam na frente.
Passar a mão pela cabeça
Significa perdoar, e vem do costume judaico de abençoar cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela face, enquanto se pronuncia a bênção.
Gatos pingados
Esta expressão remonta a uma tortura procedente do Japão que consistia em pingar óleo fervente em cima de pessoas ou animais, especialmente gatos.
Existem várias narrativas ambientais na Ásia que mostram pessoas com os pés mergulhados num caldeirão de óleo quente. Como o suplício tinha uma assistência reduzida, tal era a crueldade, a expressão “gatos pingados” passou a significar pequena assistência sem entusiasmo ou curiosidade para qualquer evento.
Queimar as pestanas
Antes do aparecimento da eletricidade, recorria-se a uma lamparina ou uma vela para iluminação. A luz era fraca e, por isso, era necessário colocá-las muito perto do texto quando se pretendia ler o que podia dar num momento de descuido queimar as pestanas. Por essa razão, aplica-se àqueles que estudam muito.
Sem papas na língua
Significa ser franco, dizer o que sabe, sem rodeios. A expressão vem da frase castelhana “no tener pepitas em la lengua”. Pepitas, diminutivo de papas, são partículas que surgem na língua de algumas galinhas, é uma espécie de tumor que lhes obstrui o cacarejo. Quando não há pepitas (papas), a língua fica livre.
A toque de caixa
A caixa é o corpo oco do tambor que foi levado para a a Europa pelos árabes. Como os exercícios militares eram acompanhados pelo som de tambores, dizia-se que os soldados marchavam a toque de caixa. Atualmente, refere-se a uma tarefa que se tem de fazer rapidamente, eventualmente a mando de alguém ou mesmo à força.
Maria vai com as outras
Dona Maria I, mãe de D. João VI (avó de D. Pedro I e bisavó de D. Pedro II), enlouqueceu de um dia para o outro . Declarada incapaz de governar, foi afastada do trono. Passou a viver recolhida e só era vista quando saía para caminhar a pé, escoltada por numerosas damas de companhia. Quando o povo via a rainha levada pelas damas nesse cortejo, costumava comentar: “Lá vai D. Maria com as outras”. Atualmente aplica-se a expressão a uma pessoa que não tem opinião e se deixa convencer com a maior facilidade.
Fonte: CASCUDO, Luís da Câmara. Locuções Tradicionais no Brasil. São Paulo, Editora Global/2008.