Por: Geraldo Maia do Nascimento
Quem vê
hoje Mossoró agitada e violenta, não imagina como ela era no passado. Uma
calma, bucólica e tranquila cidade onde o povo conversava nas calçadas, em
rodas de amigos, vez por outra degustando um quente e saboroso cafezinho
servido pelos anfitriões. Como registrou Raul Fernandes, “tesouravam a vida
alheia, engrossavam mexericos, alardeavam boatos e criticavam políticos, horas
a fio”. Vamos fazer uma viagem ao passado, vamos rever Mossoró nos primeiros
anos do século XX, através das reminiscências de dois grandes da cultura local
que foram os escritores Raul Fernandes e José Octávio. Vamos lembrar a Mossoró
que eles conheceram.
Naquela
época, o comércio já era movimentado, mas as mercadorias eram transportadas em
carro de boi ou em lombos de muares, levando tudo o que o sertão comprava em mercadorias
mais variadas e trazendo algodão, as peles e demais produtos regionais dos
sertões cearenses e paraibanos.
Existiam
grandes lojas comerciais, como: Casa Mota, Cavalcante Irmãos, Delfino Freire,
Francisco Marcelino, a casa bancária S. Gurgel, Monte Primo, Camilo Figueiredo,
a grande firma exportadora M. F. do Monte, além de dezenas de outros
comerciantes que enchiam as então ruas do Comércio, Praça 6 de Janeiro, rua
Gurgel e suas transversais.
Possuía
o maior parque salineiro do País. Três firmas descaroçavam e prensavam algodão.
Era centro comprador de peles, algodão e cera-de-carnaúba. Exportava pelo Porto
de Areia Branca.
Circulavam
jornais como “O Comércio de Mossoró”, onde o Cel. Bento Praxedes, Dr. Felipe
Guerra e outros vultos proeminentes da terra publicavam as suas matérias. O
jornal “O Mossoroense” já se destacava nas suas lutas políticas e se constituía
numa verdadeira escola de jornalismo. Em suas páginas, os grandes da terra
deixaram seus escritos. No campo artístico, existiam duas bandas de música que
animavam os principais eventos da cidade, o Club Dramático, o Instituto 2 de
julho (Clube Literário), o Democrático Club, escolas de piano, violino e música
de banda. O folclore mantinha presente fatos distanciados que impressionavam a
região. A canção Corujinha evocava o lendário e romântico cangaceiro Jesuíno
Brilhante, dos idos de 1876. A música mais conhecida era a melodia Vassourinha,
com letra adaptada à campanha política contra a oligarquia dos Maranhão. Havia
poetas e literatos como Antônio Gomes, Vasconcelos, Tércio Rosado, maestros
como Alpiniano e Canuto. Na arquitetura existia o grande artista do estuque, do
cinzel e da pintura, o famoso Francisco Paulino, cujas obras de arquitetura
desafiam os tempos como a Estátua da Liberdade de Mossoró, o Monumento da Independência,
e os frontispícios de algumas igrejas e prédios.
O
casario apresentava delicioso tom de colonial, nas palavras de Raul Fernandes.
Haviam bicas imitando bocas de onça e jacaré que pendiam das cornijas. Jorravam
águas pluviais nas calçadas, onde a meninada se banhava em larga recreação,
gazeando aulas. Aos primeiros sinais de inverno, a população regozijava-se. Com
certeza, haveria fartura próxima. Em compensação durante os longos períodos de
seca, a cidade enchia-se de flagelados.
A
energia elétrica alimentava várias indústrias nascentes. Em 1926 já havia uma
agência do Banco do Brasil, que era o único estabelecimento de crédito da
região.
Já
no início dos anos 20, a cidade era ligada ao litoral por estrada de ferro que
se estendia ao povoado de São Sebastião, atual município de Governador Dix-sept
Rosado, na direção Oeste, percorrendo quarenta e dois quilômetros. Estradas e
rodagens convergiam de vários recantos, sulcadas por caminhões que, aos poucos,
substituíam as bestas de carga. Uma delas internava-se, cortando essa faixa,
até os confins do Sertão da Paraíba.
Outros
tempos aqueles. Mossoró é uma das cidades que mais cresce no Brasil. O sal, o
petróleo e a fruticultura irrigada são os sustentáculos de sua economia.
Segundo pesquisas da Fundação Getúlio Vargas e revista “Você S/A”, Mossoró está
entre as 100 melhores cidades para trabalhar. Em 2004, por exemplo, a cidade
saltou da 80ª colocação para a 20ª, superando Natal e Fortaleza. Mas é uma
cidade que cultua sua história através de seus museus e dos grandes espetáculos
encenados anualmente. E assim, passado e presente convivem em harmonia nessa
cidade protegida por Santa Luzia, a Virgem da Eterna Claridade Visual.
Geraldo
Maia do Nascimento
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