Brasil, Rio Grande Do
Norte, Mossoró
Massilan
conhecia as terras potiguares e estava cansado da vida no cangaço. Queria logo
ficar rico e se aposentar, por isso escolheu uma cidade maior, como sua última
grande tacada. Convidou Sabino e seu bando para se unirem a ele no planejamento
e invasão à Mossoró. Uma cidade grande, porém com uma pequena força policial e
quase nenhum apoio do Governo Estadual. Mesmo assim eles sabiam que seria
difícil, por isso convenceram Lampião a entrar no plano. Lampião não conhecia
muito bem as terras deste estado, mas estava ao lado de dois grandes
conhecedores e seu orgulho falou mais alto, não poderia ficar fora dessa.
Lampião
novinho, no bando do cangaceiro Sinhó Pereira, em foto do memorial da Praça da
Resistência, em Mossoró - RN
Reuniram os
bandos e fecharam os detalhes da estratégia de invasão da cidade. Começaram a
marcha por Apodi, primeira cidade a ser invadida e pilhada. Varreram todos os
lugarejos no caminho, trazendo consigo prisioneiros coronéis e proprietários de
fazendas na região. Um deles, Coronel Gurgel, ficou uma longa temporada em
poder dos cangaceiros. Conta em seu diário que tinha longas conversas sobre
política com Lampião e foi sempre tratado com respeito. A pedido de Lampião,
antes da invasão, Gurgel escreveu o primeiro bilhete de guerra para o Prefeito
Rodolpho Fernandes, propondo uma trégua. Dizia que o bando era numeroso, com
mais de 150 homens armados até os dentes, indicando ser uma boa opção pagar o
valor de 400 contos de réis e com a promessa de que Lampião nunca mais andaria
por aquelas bandas. A saber, o valor inicialmente pensado pelo Capitão eram 500
contos de réis, mas o habilidoso coronel o convenceu a diminuir o montante. Ao
final do bilhete ele ainda pedia que o Prefeito lembrasse ao seu sobrinho, gerente
do Banco do Brasil de Mossoró, que enviasse os 21 contos de réis para o
pagamento do resgate “deste pobre velho desvalido”.
A resposta que receberam do prefeito não foi nada animadora, diziam que não
tinham conhecimento do paradeiro do gerente do banco e muito menos dispunham do
valor em questão, que viesse o bando que o enfrentariam como pudessem! Lampião
ficou abestalhado com a resposta que havia recebido e escreveu um bilhete de
próprio punho (foto). Sem retorno decidiu começar a marcha.
Segundo
e derradeiro bilhete de Lampião para o prefeito de Mossoró, tentando extorquir
os cofres da cidade, em memorial da Praça da Resistência, em Mossoró - RN
Os boatos
sobre a invasão de Mossoró começaram meses antes e desde então o prefeito
começou a articulação política para conseguir reforços do Estado para a cidade,
assim como armamentos e munições. A população estava em pânico e Rodolpho então
mentiu sobre os fatos para manter a população tranquila até o último momento.
No dia da invasão de Apodi a prefeitura avisou a comunidade que aqueles que
pudessem deveriam deixar a cidade e solicitava homens aguerridos como
voluntários para se unir à força policial em defesa da cidade. Muitos não
acreditaram, pois já havia tempo que a boataria estava correndo e ficaram em
suas casas. Houve ainda um clássico de futebol entre os dois times mossoroenses
e um baile de comemoração do vencedor na noite do dia 12 de julho de 1927,
noite anterior ao ataque.
Lendo
sobre Lampião, no memorial da Praça da Resistência, em Mossoró - RN
Um conselho de
segurança havia se formado pelos homens mais influentes e poderosos da cidade.
Durante os meses de planejamento viram que não poderiam contar com a ajuda do
governo estadual e federal, portanto fizeram um investimento conjunto (uma
vaquinha) e compraram 21 contos de réis em armamentos, estratégia proposta pelo
gerente do banco (sim o mesmo que não mandou o resgate ao tio).
Um tenente do exército que havia passado por Apodi, liderou a resistência. Mais armas chegaram de última hora do governo, barricadas foram armadas nos pontos mais estratégicos da cidade, para proteger os prédios públicos. Foram voluntários 200 homens, metade deles com armas de fogo e a outra metade com armas brancas. Nas torres das igrejas e telhado da prefeitura estavam atiradores de elite, até o padre estava empenhado, passando mensagens de fé e força em cada uma das trincheiras armadas. Todos com gana e sede transbordando para defender a sua cidade e famílias que haviam ficado.
Sabóia, diretor dos telégrafos, havia se voluntariado para ficar no posto até o último momento. Quando o dentista que estava na torre da igreja avistou o primeiro homem adentrar a cidade, deu o sinal combinado, badalou o sino desesperadamente. A cidade esvaziou, todos se abarrotaram em caminhões e carros e saíram da cidade, ainda sobrando alguns perdidos em busca de parentes ou algum lugar para se esconder. Sabóia avisou sobre a invasão e correu. Quando houve o retorno “alo, quem fala?”, receberam resposta: “aqui quem fala é o Lampião”.
A estratégia de defesa da cidade foi tão bem armada que o bando não teve chance alguma. Um dos atiradores de elite acertou em cheio o cangaceiro Colchete e na sequencia feriu Jararaca. Lampião tentou mudar a estratégia, entrando pelo cemitério, porém de nada adiantou, o bando já tinha baixas e viu que estava totalmente em desvantagem, teve de bater em retirada.
Um tenente do exército que havia passado por Apodi, liderou a resistência. Mais armas chegaram de última hora do governo, barricadas foram armadas nos pontos mais estratégicos da cidade, para proteger os prédios públicos. Foram voluntários 200 homens, metade deles com armas de fogo e a outra metade com armas brancas. Nas torres das igrejas e telhado da prefeitura estavam atiradores de elite, até o padre estava empenhado, passando mensagens de fé e força em cada uma das trincheiras armadas. Todos com gana e sede transbordando para defender a sua cidade e famílias que haviam ficado.
Sabóia, diretor dos telégrafos, havia se voluntariado para ficar no posto até o último momento. Quando o dentista que estava na torre da igreja avistou o primeiro homem adentrar a cidade, deu o sinal combinado, badalou o sino desesperadamente. A cidade esvaziou, todos se abarrotaram em caminhões e carros e saíram da cidade, ainda sobrando alguns perdidos em busca de parentes ou algum lugar para se esconder. Sabóia avisou sobre a invasão e correu. Quando houve o retorno “alo, quem fala?”, receberam resposta: “aqui quem fala é o Lampião”.
A estratégia de defesa da cidade foi tão bem armada que o bando não teve chance alguma. Um dos atiradores de elite acertou em cheio o cangaceiro Colchete e na sequencia feriu Jararaca. Lampião tentou mudar a estratégia, entrando pelo cemitério, porém de nada adiantou, o bando já tinha baixas e viu que estava totalmente em desvantagem, teve de bater em retirada.
Maria
Bonita, no memorial da Praça da Resistência, em Mossoró - RN
Não durou mais
de uma hora toda a batalha. Jararaca foi preso, Colchete morreu e foi usado
como troféu durante dias em frente à Igreja de Santa Luzia. Embora seja um ato
um tanto quanto desrespeitoso com o defunto, o deixaram lá, pois ainda temiam
que Lampião voltasse para vingá-lo. As trincheiras continuaram armadas,
enquanto Lampião e seus cangaceiros se afastavam da cidade tentando ainda
receber o resgate pelos seus prisioneiros. Um deles pagou resgate e foi
liberado, contam que Lampião ainda lhe deu um dinheiro para que pudesse voltar
para casa. Depois de dias andando pela caatinga, sem conseguir os outros
resgates, sem dinheiro, comida escassa, tratando ainda de seus comparsas
feridos, o capitão acabou liberando os raptados que restaram, dentre eles ainda
o Coronel Gurgel. (sobrinho desabusado!)
Mossoró saiu vitoriosa e guarda até hoje a memória da resistência neste lindo memorial que visitamos hoje. Lá nos alimentamos de coragem e bravura, aprendemos toda esta história e muito mais do que o nosso poder de síntese (leia-se falta de memória) poderia expressar aqui. Fica o principal aprendizado do orgulhoso rei do cangaço, “não se deve invadir cidades com mais de uma torre.”
Mossoró saiu vitoriosa e guarda até hoje a memória da resistência neste lindo memorial que visitamos hoje. Lá nos alimentamos de coragem e bravura, aprendemos toda esta história e muito mais do que o nosso poder de síntese (leia-se falta de memória) poderia expressar aqui. Fica o principal aprendizado do orgulhoso rei do cangaço, “não se deve invadir cidades com mais de uma torre.”
http://www.1000dias.com/ana/mossoro-contra-lampiao/