Por: Rostand Medeiros
Quando eu era
garotinho nunca me esqueci do deslumbramento que fiquei ao escutar da
minha avó paterna, a seridoense Benícia Jacob de Medeiros, o seu relato de como
ela ficou maravilhada diante da passagem do Cometa Halley no ano de 1910.
Ela morava em
São João do Sabugi, não tinha nem dez anos de idade, mas falou como a cauda do
cometa iluminava todo o céu noturno, proporcionando um espetáculo inigualável.
Disse-me fascinada de como ela, junto com seus pais e irmãs ficavam admirando
aquela maravilha celeste.
Nota
publicada na terceira página do jornal natalense ‘A República”, 13 de abril de
1910 – Coleção do autor
São João do
Sabugi nesta época era então uma pequena vila sem energia elétrica, onde as
noites de lua nova eram verdadeiramente iluminadas pelos astros celestes.
Lembro-me de
como eu comentava com a minha avó de que poderíamos rever o Cometa Halley em
1986, pois este astro possui a magnifica capacidade de retornar ao centro do
nosso Sistema Solar a cada 76 anos.
O Cometa ISON fotografado entre 10 e 11 de abril de 2013
pelo Hubble Space Telescope
Antes de 1986
chegar a minha avó se juntou aos astros e o cometa descoberto pelo inglês
Edmond Halley passou apagado e deixando desta vez um rastro de decepção entre
os habitantes do planetinha azul do Sistema Solar.
Só pude ver um
cometa novamente em 1997, quando o famoso Hale-Bopp passou por aqui. Quem me
chamou a atenção para este astro foi o amigo Joaquim Das Virgens Neto, um quase
físico e hoje geólogo do DNPM no Piauí. Fui apresentado ao cometa na cidade de
Parazinho, quando lá estávamos junto com o pessoal do Projeto Trilhas
Potiguares. Em algumas áreas do mundo o Hale-Bopp ocupou metade do céu com as
suas duas caudas, mas por aqui era demasiado débil para ser observado sem
recorrer ao auxílio de um instrumento óptico. Em resumo, ver eu vi, mas
Hale-Bopp não chamou a minha atenção!
Mas dizem que
agora em 2013 a coisa vai ser diferente!
Astrônomos da
Universidade de Maryland em College Park (UMCP) e no Observatório Lowell
utilizaram o satélite da NASA denominado “Swift” para verificar um cometa
classificado como C/2012 S1 (ISON) e deduziram que ele pode se tornar um dos
mais deslumbrantes a aparecer nos céus do nosso planeta em décadas
O cometa foi
descoberto em 21 de setembro de 2012 pelos astrônomos russos Vitali Nevski e
Artyom Novichonok usando um telescópio da International Scientific Optical
Network- ISON (daí o nome), localizado perto Kislovodsk, na Rússia. Os russos
avistaram o astro através de imagens registadas com um
telescópio refletor de 40 centímetros. Imediatamente, outros
observadores também o registaram. Os cientistas estimam que o núcleo possua
cerca de cinco quilômetros de diâmetro, um tamanho típico de um cometa.
Em janeiro de 2013, quando o cometa foi visualizado por telescópios a
604.000 mil quilômetros da Terra, seu potencial de provocar a curiosidade do
habitantes deste planeta era quase nula. Neste período ISON estava na magnitude
15,7 na escala de brilho astronômico, ou cerca de 5000 vezes mais fraco que o
limite da visão humana.
Mas segundo
Dennis Bodewits, o principal astrônomo da UMCP, disse que “O Cometa ISON tem o
potencial para ser um dos cometas mais brilhantes dos últimos 50 anos, o que
nos dá uma rara oportunidade de observar suas mudanças em grande detalhe e por
um longo período”, disse.
Órbita
do Cometa ISON próximo ao nosso Sol – Fonte – NASA
Muitas vezes
descrito como “bolas de neve sujas”, os cometas emitem gás e poeira sempre que
se aventuram perto o suficiente do nosso Sol, o material então gelado
transforma-se de sólido para gasoso, em um processo chamado sublimação. Jatos
liberam a poeira a uma grande distância do núcleo do cometa, criando a cauda, que
reflete a luz solar e cria o espetáculo. Mas isso depende de vários fatores.
Os astrônomos acreditam
que este cometa está fazendo sua primeira viagem através do Sistema Solar
interno. Antes de iniciar sua longa queda em direção ao Sol, o cometa residia na
nuvem de cometas de Oort, uma área que se estende desde os confins do nosso
sistema planetário até cerca de um terço da distância da estrela mais próxima
do Sol, onde talvez existam cerca de um trilhão de corpos gelados.
Se
este cometa for visualizado como está nesta projeção, será um grande espetáculo
– Fonte – http://waitingforison.wordpress.com
Para os
cientista pouco importa o fato de grande parte da população terráquea conseguir
se deslumbrar com o espetáculo visível de um grande cometa no céu. Para eles o
ISON vai dar um show de todo jeito. Milhares de instrumentos óticos vão voltar
suas lentes para este vagabundo do espaço e eles vão conseguir muitas
informações sobre os cometas.
Até fora da
terra este vagabundo do espaço vai ser extensamente observado. A primeira de
várias oportunidades vai ocorrer no dia 1 de outubro próximo, quando o cometa
passar próximo a Marte. A espaçonave ESA da NASA, que está próximo ao conhecido
Planeta Vermelho, vai virar seus instrumentos para o ISON. Além desta nave, o
pessoal da NASA comenta que os robôs Mars Explorer e Curiosity, ambos em solo
marciano, irão também virar suas lentes para observar este cometa.
Em 28 de
novembro o ISON fará uma passagem em torno do Sol. Calculasse que ele vai se
aproximar a no máximo 1,2 milhão de quilômetros do Astro Rei e seu material
gelado vai furiosamente sublimar e liberar torrentes de poeira sob o forte
calor do sol. Nesta hora todos os satélites de monitoramento do Sol vão se voltar
para o ISON.
É nessa época
que os cientistas acreditam que o cometa pode se tornar brilhante o suficiente
para os simples terráqueos o visualizarem. Mas eles cautelosamente afirmam que
isso pode ser uma conclusão precipitada. Como não é mais do que uma bola
gigantesca de rocha e gelo, este cometa corre igualmente o risco de começar a
desintegrar-se.
Se conseguir
se safar deste caloroso encontro estelar, ISON vai se mover em direção a Terra.
Sua maior aproximação será no dia 26 de dezembro, quando estará a mais de
64.000 mil km, ou cerca de 167 vezes mais distante do que a lua. Mesmo
atrasado, se ficar visível, será um ótimo presente de Natal.
Se ISON será o
“cometa do século”, ou uma nova frustração celeste, só o tempo dirá.
Mas se ele
marcar sua presença de forma estupenda e maravilhosa, tal como fizeram meus
antepassados a mais de 100 anos lá no Seridó, vou levar a minha filha para ver
este espetáculo celeste e sei que será algo que ela nunca esquecerá.
Texto
realizado a partir de dados coletados em:
http://www.nasa.gov/asteroid
e http://waitingforison.wordpress.com
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Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço: Rostand Medeiros