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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

CANGAÇO NO PIAUÍ


 Mais um livro do escritor e fundador da SBEC -  (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) Paulo Gastão.


Entre em contato com o autor através deste e-mail: paulomgastao@hotmail.com

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BALANÇO VERMELHO PARA O BRASIL

Por Alfredo Bonessi

Após o golpe de esquerda do PMDB, de fachada, em cima do governo do PT, retirando Dilma e tomando as rédeas do Brasil, as esquerdas se ajuntam, agora, contra o país e contra o povo brasileiro.

Se um cego escutar os noticiários ele compreenderá perfeitamente o que falo ninguém precisa ver nada.

FHC vem para a alta cúpula política do Brasil, onde era detestado, odiado, sopra nos ouvidos de Temer que há um movimento de direita preocupante no Brasil: mentira dele. O que ocorre é uma tênue luz ao final de um túnel de brasilidade, em meio a  uma bruma suja, negra, nojenta, doentia e infecciosa criadas pelas esquerdas, no qual ele é um dos responsáveis pela lama suja que sufoca a democracia, a liberdade e o bem estar de todos nós e que deixa o Brasil mergulhado nesse poço da imoralidade e do atraso social.

A desculpa das esquerdas, por longos anos, era a ditadura cujo período foi de 1964 a 1985 e depois era uma suposta elite que era responsável por toda a desgraça do Brasil. Mentira. O que eles queriam era derrubar paredes de civismo para se instalarem no poder e roubar do Brasil aquilo que ele tinha de melhor: as riquezas naturais, a alegria de viver, a liberdade de ir e vir, a livre iniciativa o comercio e a industria produtiva e lucrativa, que rendia os bilhões que as esquerdas acabaram roubando do trabalhador brasileiro.

Faltou vergonha e caráter para essas esquerdas. Faltou visão, previsão para o futuro. Transformaram o Brasil em um chiqueiro e viveram dentro dele e ainda obrigaram a sociedade brasileira a ir junto.

O Brasil, hoje, está separado por cor da pele, por pobres e ricos, por quem é de esquerda contra o restante, do outro lado do quintal, sem direito a sentar na mesma mesa: ricos são as esquerdas endinheirada  com o roubo que fizeram dos pobres trabalhadores comunista não gosta de pobre, de religião, de liberdade, de progresso.

Tenho razão ?

Claro que tenho.

Enquanto o governo tenta barrar a gastança que ele mesmo faz, quer continuar gastando, mas quer que o povão pague a conta.

O governo vem para cima de quem trabalha, mas não retira das mamas dos cofres públicos os ministérios  que estão abarrotados de cargos comissionados, indicados pelos políticos: é preciso ter moral e dizer não a isso. Se houver carências de servidores, abra o concurso publico é a medida legal. Se Temer abriu novos ministérios é porque ele recebeu algo em troca.

Os Estados que viviam na corrupção, agora enfrentam uma nova realidade: a falta de recursos para gerir a máquina publica. Assim sendo, é preciso reunir os governadores e cobrar providencias de gestão com transparência, por sua vez, com os prefeitos: quem não aderir a nova ordem moral que sofra as conseqüências sem prejuízos da população. A população precisa de escolas, de transportes, de saúde, de segurança. Para que isso aconteça é preciso por na cadeia os falsos bandidos que depredam lojas, saqueiam bancos, destroem as escolas, invade as fazendas, atacam o comercio: todos os infratores são pertencentes a partidos políticos e são orientados pela alta cúpula desses partidos. Bandido mesmo, não se reúne em grupos para depredar ônibus, saquear lojas, incendiar prédios e queimar os campos. Bandido sabe que isso não gera dinheiro e  não satisfaz a sua megalomania de retirar algo de alguém.

O problema policial do Brasil vem desde a era do descobrimento. Mesmo em países adiantados como os EUA existem policiais corruptos. Só que lá o policial tem a perder se for pego em acordo com os bandidos. Mas aqui não. A vida do policial é um inferno e sem o bandido o policial não sobrevive. Vai para a cadeia o bandido da primeira vez, aquele que deu bobeira e não soube fazer a coisa direito, atrapalhou o negocio de outro bandido, dono da área e por aí vai. No mais, policia e bandidos se conhecem, se ajudam, trocam informações, e graças aos bandidos que os policiais descobrem os autores dos delitos. Para moralizar a policia é preciso dar oportunidades a todos os policiais, remunerando bem  os bons policiais, promovendo-os, proporcionando a eles as condições essenciais de viverem com dignidade, como moradia, saúde,  auxilio escola, financiamentos com juros baixos para adquirirem seus bens. E aqueles que forem corruptos rua. Daí  sim eles irão parar com a corrupção e irão trabalhar com vontade e desempenharão as atividades com prazer.

É preciso que o Presidente da República sente a mesa com os governadores, cobre medidas importantes na área policial e destine verbas para isso, com controle, porque senão os governadores irão desviar esses recursos para assuntos particulares deles e dos políticos, como sempre fizeram.

Então, cabe ao Presidente da Republica apertar os Governadores e Prefeitos e cobrar e por os fiscais do governo em cima disso e se for o caso, acionar ao Ministério  Publico para que tome as providencias a respeito e não enviar as Forças Armadas para conter movimentos políticos  de esquerda, que estão atacando as lojas e o comercio. Se o governador desses locais tivesse moral e caráter daria o toque de recolher nas capitais e pronto. E banderneiro preso, pagaria pelo que fez, tanto em dinheiro por uma fiança bem alta,  como ficando preso pela desordem.

Estamos assim: pessoas são mortas e a sociedade tem isso como natural. Escolas sem merenda, sem alunos, sem professores: isso é natural. Turistas internos e externos são atacados nas estradas, nos hotéis, nas praias: isso é natural. Policiais são mortos: isso é natural. Veículos andam nas estradas em altíssima velocidade: isso é natural, mas o cidadão que anda a 62 km por hora é multado e a multa chega na casa dele.

Isso tudo agrada a quem ? a quem quis isso os partidos de esquerda. Essa é a tal democracia, direitos humanos e bla bla bla bla bla bla.

Como brasileiro desejo ver o meu país grande, próspero, protegido. Quero ver homens e mulheres em segurança, saindo a hora e que desejarem e retornando para seus lares quando quiserem. Crianças alegres e felizes brincando estudando e se alimentando bem e em segurança. Lojas e os comércios funcionando bem, atendendo bem e pagando seus impostos na forma da lei.

E todos nós sendo tratados com justiça e não coagidos pela injustiça. Todos cumprindo com seus deveres para com a sociedade e compromissados com o dia de amanhã.

E esses  economistas de araque que pensam que vendendo calcinhas na 25 de março o Brasil vai bem economicamente, tratem de estudar mais, economizar mais, incentivar mais quem realmente trabalha, e sejam honestos nos cargos e toda vez que um político propor uma falcatrua denuncie ele a justiça.

No mais, tenho certeza que,  se essa gangue política conseguir abafar esse crime hediondo que fizeram com o Brasil, essa roubalheira, o povão irá incendiar o congresso e o palácio do planalto - é a única saída para que se comesse a trabalhar para o futuro do Brasil, pois até o momento, não vejo e não prevejo  futuro nenhum. Deus nos deu a água,   o fogo e a terra  como meios de purificação. Para bandidos políticos somente o fogo  depurará todos os males criados por eles. 

Queime  Tudo !

Alfredo Bonessi  

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaquiano José Romero de Araújo Cardoso 

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VOCÊ ACREDITA EM DEUS?

*Rangel Alves da Costa

Você acredita em Deus? Não precisa responder agora. Aquele que acredita sequer precisa responder. Mas de qualquer forma, crer em Deus, na sua existência, na sua força e no seu poder, poderá ser comprovado a cada instante a cada passo. Aliás, no passo certo se tem a presença de Deus, no passo em falso clama-se pela presença de Deus.
E você, acredita em Deus?

Ninguém é obrigado a ter crença, religião ou seguir qualquer tipo de credo. Ninguém é obrigado a orar, a seguir os ensinamentos sagrados, a frequentar templos ou confessionários. Ninguém é obrigado acender velas perante altares nem participar de ritos eucarísticos. Ninguém é obrigado acreditar em Deus.

Mas você acredita em Deus?

Seu coração pode ser pedra, seus sentimentos de ferro, sua palavra de diamante, mas nada tão endurecido que não se curve até a certeza da existência de Deus. Mesmo que jure que não, mesmo que desdenhe da fé, mesmo que pregue o ateísmo, ainda assim você terá Deus como verdade no seu coração. Ora, você não vive sem Deus.

Então, você acredita em Deus?

A quem você procura quando a angústia recai sobre seu espírito? A quem você roga quando necessita resolver um problema urgente? A quem você implora quando sua vida corre perigo ou quando tudo já não parece como solução? A quem você se lança em promessas quando a sua aparente força já não consegue resolver os problemas que se acumulam?

Então, você acredita em Deus?

Mesmo não acreditando, você acredita em Deus. Por que seu olhar maravilhado ante as mais belas coisas da vida? De repente, você se indaga o porquê da perfeição na natureza, na paisagem encantadora, na revoada de passarinhos, na flor que surge entre a secura da terra, nos espaços e nas nuvens que passam como Salmos ao olhar. E então você novamente se indaga: quem a tudo criou com tamanha beleza e perfeição?


Então, você acredita em Deus?

Mesmo o Deus do acaso, ou aquele Deus somente lembrando por você em determinadas situações, ainda assim é aquele Deus de sua crença. Mesmo que só mencione o seu nome quando se vê diante do abismo ou quando o inesperado surge para atormentar, outro nome você não busca senão o de Deus. Diante do medo, da aflição, do tormento, somente o nome de Deus é lembrado.

Então, você acredita em Deus?

Tristes noites de sofrimentos e solidão, quando nem o remédio nem a bebida conseguem aplacar as dores da alma, e de repente se lembra daquilo que o padre falou: converse com Deus e logo retomará seu conforto! No entorpecimento do ser e na escuridão dos sentidos, de repente os olhos avistam uma imagem que mantém serenidade mesmo sangrando em cima da cruz e tendo à cabeça uma coroa de espinhos.

Então, você acredita em Deus?

Não são somente as velhas beatas, os crentes, os devotos e os religiosos que procuram seu Deus. Deus está presente naquele que nunca foi à igreja. Deus está presente naquele que nunca foi batizado nem jamais se confessou. Deus está presente naquele que nunca leu uma linha sequer da Bíblia ou saiba o que seja um Salmo ou um Evangelho. Deus está presente mesmo naquele que não crê na existência de Deus. Mas por quê? Simplesmente por que Deus é silenciosa e ocultamente chamado, sempre.

Então, você acredita em Deus?

Deus é por você chamado, invocado, desejado, a todo instante da vida. Na esperança, Deus para torná-la realidade. No objetivo de vida, Deus para dar forças e proteger os seus passos. Na certeza da conquista, uma fé nascida de e em Deus. E quando lhe vem a mente a certeza que sozinho não conseguirá vencer as adversidades do mundo, então a quem chama como auxílio e segurança? Deus, sempre Deus.

Então, você acredita em Deus?

O ateu é daquelas pessoas que mais acreditam em Deus. Não há verdade maior. Todo o seu esforço de negação, toda a sua luta para dizer que Deus não existe, é precisamente a confirmação de sua existência. Ao negar a existência de Deus, mas ao mesmo tempo não encontrar respostas para tamanho poder de criação, então o ateu se curva ante sua descrença para confirmar a crença em Deus.

Então, você acredita em Deus?

Eu nada seria sem a sua presença em mim. Não é um Deus de igreja nem de qualquer religião. O meu Deus está agora sentado no templo do meu coração. O meu Deus está agora me abrindo a porta e dizendo vá. O meu Deus logo é avistado ao longe e em todo lugar, e sempre antecede a mim onde eu deva chegar. E chego sempre bem por que não fui sozinho. E nem sozinho jamais estarei.
E você, acredita em Deus?

Escritor
Membro da Academia de Letras de Aracaju
blograngel-sertao.blogspot.com

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VIRGOLINO, UM LÍDER NATO NA SUA “PEQUENA GUERRA”


Guerrilha vinda do idioma espanhol: Guerrilha, "pequena guerra", é um tipo de guerra na qual o principal estratagema é a ocultação daqueles que dela participam e a extrema mobilidade dos combatentes, ou seja, a rapidez, em todos os seus movimentos, é a chave do sucesso dessa forma de lutar.

Soldados, que por alguma razão se rebelam, ou mesmo se unem a revolucionários, e fazem esse tipo de ‘guerra’ são denominados, chamados, de guerrilheiros, há entre os estudiosos de que a denominação não seja compatível com civis, paisanas, e, dentre estes, ainda os denominam de ‘irregulares’.

Só que soldados rebelados, já tiverem instruções. Aqueles que passam a fazerem parte delas, das guerrilhas, aderem ou são adicionados, tem um determinado tempo para aprenderem como tudo funciona, assim está escrito na história.


Imaginem um ‘cabra’, nascido no interior do Estado de Pernambuco, na região do Sertão, mais precisamente no Pajeú das Flores, nunca ter frequentado escola militar nem ter participado de revolução. Ou seja, não tivera, de maneira alguma, ensinamentos sobre emboscar, atacar, retirada, deixar várias pistas falsas, marca local definido para reencontro após as ações nos vários lugares que atuaram. É de pensar no porquê desse caboclo, ainda descendente dos caboclos da Serra do Umã, ter tanto, não se sabe de onde, conhecimentos em guerra de movimentos, além do seu comando direto, reto e obedecido.

No sítio chamado Passagem das Pedras, município de Vila Bela, hoje, Serra Talhada, PE, em meados de 1897, nasce o terceiro filho do casal de camponeses José Ferreira e Maria Lopes. Tendo dois irmãos mais velhos, o lógico seria que algum dentre esses, ou mesmo o primogênito, fosse quem comandasse as ações dos três, mesmo em criança. Porém, desde a época da escola em que frequentavam que o terceiro filho do casal, Virgolino Ferreira, demonstra dom natural de estratégia em combate e comando.


(...) Revelava espírito de liderança nas perigosas brincadeiras a que se entregavam fora da vista dos pais e do mestre, quando dividia os garotos em grupos antagônicos para arremedos de combate usando como armas pedras ou caroços verdes de mamona disparados por estilingues: um grupo representava “o bando de Cassimiro Honório”, o outro “o bando de José de Souza” e assim por diante. Ao grito de Fogo!”, em geral dado por Virgulino, os garotos iniciavam violenta “batalha” (...).” (“O CANTO DO ACAUÃ – Das memórias do Cel. Manoel de Souza Ferraz” – FERRAZ, Marilourdes.(Marilourdes Ferraz). 1ª Edição Revisada e Atualizada. Recife, PE. 2012).

Essa narração acima fora feita a pesquisadora/historiadora citada por um filho daqueles que fora colega de sala de aula dos Ferreira, Luís Soriano que é filho do Professor Domingos Soriano Lopes Ferraz.

Já o inesquecível João Gomes de Lira, em seu “LAMPIÃO – Memórias de um Soldado de Volante”, 1ª Edição, Recife, PE, 1990, cita-nos que Virgolino Ferreira, contando com 9 anos de idade, e seus irmão mais velhos, Antônio e Livino, 12 e 11 anos respectivamente, tinha um aprendizado maior e mais rápido do que os dois, ou mesmo dos restantes dos colegas.


“(...) Dos filhos do agricultor José Ferreira, era Virgulino o mais desenvolvido, apresentando visível sinal de inteligência que, apesar do pouco período de assistência escolar, ainda assim, aprendeu a “ler e escrever uma carta” (...).” (Lira)

Hoje, procuramos estudar esses detalhes para ficarmos, ou tentarmos ficar, mais inteirados de como ascenderam tantas manobras guerrilheiras usadas por Lampião em sua ‘guerra particular’ contra as Forças dos sete Estados da Região Nordeste, por onde estendeu seu “condado” de sangue.

Os irmãos Ferreira já estão em terras alagoanas, junto com os Porcinos e, lá, fazem o escarcéu de maldades e deixam um rastro de sangue e dor por onde passaram. A Força alagoana bota pegado neles, tanto que os Porcinos arribam para terras baianas. Os Ferreira retornam ao Estado natal, pedem e são aceitos por um chefe de bando de cangaceiros. Entram no bando de Sinhô Pereira, Sebastião Pereira da Silva.

Desde o início, ou sequência, dessa vida de bandoleiro, Virgolino destaca-se para usar antes de tudo, a inteligência, antes mesmo da valentia. Não há necessidade de ser um valente morto, dá-nos a entende os relatos dos historiadores sobre suas ‘estripulias’ como jovem cangaceiro.

Antônio Ferreira - o cangaceiro "Esperança", irmão mais velho de Virgolino.

“(...) Podemos dizer que, só de fins de junho até oito de agosto de 1922, foi que os Ferreira tomaram parte ativa em todas as lutas do chefe Sebastião Pereira. Foi na chefia do mesmo que Virgulino Ferreira, por sua bravura e saliência, logo se celebrizou. Em todos os combates demonstrava verdadeira e perfeita táticas de guerrilhas (...).” (Lira)

Ao entrarem de vez no cangaço, quando os Ferreira aderem ao bando de Sinhô Pereira, pelos fatos que estão fixados nas linhas, caibros e ripas no teto do tempo, a história nos mostra o destaque do jovem Virgolino em combate. Não só neles, mas, principalmente, no planejamento anterior a esses, assim como no rápido pensar durante a luta para sair d’uma situação de risco iminente de morte.

Sinhô Pereira, como todo cangaceiro, bandoleiro, fora – da – Lei é alvo de várias perseguições pelas volantes. Após os Ferreira estarem em seu bando, nas várias lutas que ocorreram em solo pernambucano, depois em terras cearenses, e, ainda depois, nos vários confrontos novamente em terras do Leão do Norte, tome Virgolino chamar atenção do chefe, dos companheiros e dos catingueiros que no sertão moravam.


Estando, certo dia, Sinhô Pereira e cabroeira, quase uma dúzia de homens, em terras de um coiteiro, Sr. Arsênio, no município de Belmonte, PE, o chefe resolve falar com ele, aproveitando para tomar um café, enquanto botavam a ‘conversa’ em dia na casa do mesmo. Conversa vai, conversa vem, quando de repente notam que estão cercados por vários soldados.

Virgolino Ferreira - já como "Lampeão" e chefiando o bando que 'herdara' do chefe Sinhô Pereira.

Era uma volante pernambucana comandada pelo Capitão Cardim e pelo tenente Bigode. Palavrões daqui, respostas dacolá, o tempo se fecha e o tiroteio tem início. A coisa começa a engrossar para os que dentro da casa estavam já que essa era de taipa e as balas dos fuzis dos militares acertando as paredes começando a derrubar parte do barro destas. A cabroeira se joga no piso da casa, pra evitar serem atingidos, pois as balas começavam a furar a parede externa, penetrar e furar as internas transpassando e indo sem rumo de mundo a fora. Sebastião se achega a Virgolino e diz que se não resolverem furar o cerco, vão todos para a ‘cidade de pés juntos’, morrerem. O jovem Ferreira concorda, porém, pede um tempo ao chefe para fazer uma averiguação. Começa a ir até os quatro cantos da casa e demorando um tempinho em cada canto, retorna para junto do chefe e diz que, se tiverem que sair, tem que ser por determinada porta. Vendo a interrogação no rosto de todos, explica que é lá, naquela parede que está o menor número de atacantes, pois a vibração do impacto das balas nela é bem menor do que nas paredes restantes. Todos concordam. Aprontam-se e fazem finca pé, furando o cerco, todos saem, não havendo baixa fatal alguma, conseguem embrenharem-se na caatinga, sua maior aliada.

“(...) Furaram o cerco pela porta que Lampião determinou. Todo o grupo saiu em paz. Deu Lampião mais um passo à frente na vida do cangaço (...).” (Lira)

Seu sexto sentido também estava sempre alerta. Conhecedor de muito dos animais, domésticos e silvestres, o jovem, em fuga, sempre procurava usar do sentido deles para perceber, antecipadamente, alguma reação diferente dos mesmos. Em determinado recanto da mata, depois de horas de uma dura caminhada sob o sol abrasador do sertão, Sinhô Pereira, dando sinais de cansaço, resolveu mandar arriar a tralha para descarem um pouco. 


Três irmãos de sangue e um de criação - Virgolino Ferreira, Antônio Ferreira, Livino Ferreira e Antônio do Gelo.

Quando o fogo estava sendo preparado para fazerem alguma comida ou mesmo um café, alguns animais, burros, chegam em grande movimentação e aparentam estarem assustados com alguma coisa bem próximo ao acampamento. Notando o comportamento estranho dos animais, Lampião vai até o chefe e lhe diz que, se tiverem de aprontarem algo, que o fizessem rápido, pois tudo indicava que tinha ‘macaco’ por perto. Antes de fazerem uma ‘boquinha’, levaram foi balas vindas de dentro da mata, tendo o grupo que recomeçar uma nova fuga apressadamente. No entanto, estando todos preparados pelo aviso de Virgolino, não sofrem baixas e seguem por entre os tabuleiros do Pajeú das Flores, seguindo em sua vereda de sangue.


Depois de várias ações como essa, e devido ser acometido por uma doença nas articulações, Sinhô Pereira quase não mais participava das missões. E, segundo escritores, até mesmo quando participava, consultava o jovem, para que ele desce seu parecer e, com certeza, como deveria agir caso aparece-se o inimigo. Até o dia em que, tendo que abandonar aquela vida desgraçada, o chefe Pereira passa o comando de seu bando para ele, Virgolino Ferreira, o Lampião.

Juntando-se a tudo isso, tinha o dom de liderança. Liderar não é tão fácil como imaginam alguns. Ser comandado é fácil, basta seguir as ordens. Porém, essas têm que ser, antes de dadas, serem estudadas, planejadas minuciosamente. A maior façanha cometida por Lampião como chefe ficou na história como a “Batalha da Serra Grande”, onde, ele, antecipando o ataque militar, ordena que se construa na encosta e topo da serra trincheiras com pedras. Depois do campo da batalha, campo esse preparado para aquilo, Lampião dando sequência a seu plano, começa a deixar uma enorme e clara pista, ‘trilha’ essa para que fosse seguida. E é o que ocorre. Em novembro de 1926, a PMPE sofre sua maior derrota até os dias de hoje.

Primeiro bando que Lampião comandou - esse era o bando de Sinhô Pereira.

Em termos de possuir braço forte pra liderar, vemos claramente que não é só ser valente e destemido para tanto, quando Lampião é baleado no fogo da Fazenda Tigre. Estando gravemente ferido, Lampião é transportado em uma rede pelos seus homens. No caminho da fazendo Caraíbas, onde pretendia ficar para se restabelecer, local escolhido pelo próprio, em certo momento, escutando a cabroeira exaltada, vendo a hora dar-se um “desmantelo” entre eles, Virgolino passa o comando para seu irmão mais velho, Antônio Ferreira, o cangaceiro “Esperança”. Mesmo sendo irmão do chefe mor dos cangaceiros, a cabroeira conhecendo a valentia daquele homem que nunca sorriu, não o atende quando o mesmo dá uma ordem direta. Repetidas são as ordens e, como da primeira vez, ninguém as cumpri.

“(...) Mesmo com a interferência de Antônio, os bandidos continuaram a discussão e Lampião o chama novamente e fala:

- Antônio, não faça isso não; acabe com essa enronha aí, rapaz. Deixe esses meninos, acabe com essa discussão que pode dar uma coisa ruim (...).” (“As Cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta” – SÁ, Marcos Antônio de. (Marcos De Carmelita Carmelita). e FERRAZ, Cristiano Luiz Feitosa. (Cristiano Ferraz). 1ª Edição. Floresta, PE. 2016).

Vemos nessa passagem como não basta ser valente para ter liderança. Tem que saber liderar. Na sequência, os ‘cabras’ que estavam discutindo terminam por dividirem os outros e bagunça fica feia. Lampião volta a chamar seu irmão e lhe dizer do perigo que correm com aquela confusão. Antônio, sem ter nenhum tino para liderar, faz é exatamente o contrário que deveria um líder fazer. Ele manda que dividam o bando, quem for por um que fique ao lado dele e a mesma coisa com os outros. Ainda refere que devam resolver na bala aquela questão. Vejam mesmo, se os comandados seguem a ordem do cangaceiro “Esperança”, irai ocorrer uma carnificina ali mesmo, entre eles.

“(...)Com a segunda advertência dada por Lampião, Antônio Ferreira ficou irritado, tirou o chapéu e disse:

- tem uma coisa, quem for por esse, passe praqui, e quem for por esse outro, passe pra li, pra gente decidir logo aqui na bala, pra ver quem é mais macho (...).” (Sá e Ferraz)

Bando de Lampião em terras cearenses


Notamos que mesmo tendo convivido com o irmão tanto tempo na guerra criada por eles, Antônio nada aprendeu sobre comandar um grupo de homens dispostos a tudo. Se fazem o que ele disse, o bando se acabaria ali mesmo. O “Rei dos Cangaceiros” mesmo muito fraco, devido a perda de sangue, nota o descontrole do irmão, não tendo pulso nem para acabar com um bate-boca entre seus cabras. Sabia ele que quando sua hora chegasse, morresse, o cangaço estaria findado. Isso ele cita ao amigo que o ajudou a chegar à fazenda escolhida para tratar do ferimento. O que realmente vem a acontecer, só que em julho de 1938, onze ou doze anos depois... já nas quebradas do sertão sergipano.

Lampião tem inúmeras táticas colocadas em prática, em seus quase vinte anos de cangaço. Necessitávamos de um livro, exclusivo, só para relatá-las. Vemos, através das entrelinhas dos escritos pelos pesquisadores, o quão era ativo e pratico nesse exercício. De deixar, muitas vezes, o inimigo onde ele havia planejado, dividindo seu bando em vanguarda, flancos e retaguarda. E ele não lutou contra oito ou dez comandantes de volantes, pelo contrário, foram muitos, mas, muito mais além desses números.

Voltamos a referir que não fazemos apologia a criminosos, nem tão pouco ao crime. Estudamos isso sim, com afinco, o estratagema colocado em prática por um ex - vaqueiro, ex almocreve, que teve a infelicidade, igual a tantos, de fazer parte do cangaço.

Após a morte de Lampião, em 28 de julho de 1938, o cangaço que já vinha aos tombos, pois as Forças em vez de atacarem diretamente Lampião, mudam de tática, *tática essa ensinada pelo ex chefe cangaceiro Antônio Silvino, ainda na segunda metade da década dos anos 1920, quando preso na Casa de Detenção do Recife, PE, a Eurico de Souza Leão, chefe de Segurança do Estado e ao chefe de gabinete de Estácio Coimbra, Gilberto Freire, para irem direto nos seus fornecedores e protetores, sem eles, sabia o “Rifle de Ouro”, chefe nenhum conseguia permanecer muito tempo ativo. Juntando-se a isso a ordem vinda do Palácio do Catete, do arrocho determinado pelo Presidente Vargas, os chefes dos subgrupos que estavam vivos, tais como Corisco, Labareda, Zé Sereno e outros, não conseguem sustentar a ‘peteca’. Não sabendo ‘administrar’, comandar, como Virgolino ‘administrou’, uns foram mortos, outros presos e, não havendo outra saída, uma boa parte se entrega as autoridades.

*“Sertão Sangrento: Luta e Resistência” SOUZA, Jovenildo Pinheiro de.
Benjamin Abrahão

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BRIGA DOS FERREIRAS NOS TEMPOS DE TROPEIROS

Por Charles Bezerra Cabral
Foto da antiga Rio Branco, atual cidade de Arcoverde Pernambuco, década de 1920, Vendo-se os almocreves que desempenharam importante papel para o desenvolvimento de (Rio Branco) atual Arcoverde.

Contenda entre os Ferreira e os Bezerras de São José de Princesa

Segundo depoimentos do saudoso JOAQUIM BEZERRA LEITE (Joaquim de Santo Bezerra), *10/05/1910 - +05/12/2005, pegos pelo autor desse blog, seu neto, o mesmo contava que os Bezerras e os Ferreiras, Virgolino Ferreira da Silva (Lampião) e seus irmãos, eram almocreves tangendo tropas de burros nas mesmas rotas comerciais no início do século 20. Viajavam com frequência para as cidades de Campina Grande na Paraíba, Rio Branco, hoje Arcoverde em Pernambuco, Araripina no Pernambuco, Juazeiro no Ceará, entre outras cidades desses mesmos estados. 

Numa dessas viagens entre 1915 e 1918, ele não sabia precisar o ano, num acampamento de estrada para tropeiros que existiam as margens das estradas dessas rotas, houve uma contenda entre os Bezerras, ANTONIO BEZERRA LEITE o Patriarca e seus filhos com os Ferreiras, VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA (Lampião) e seus irmãos. No calor da contenda um dos irmãos de Virgolino ameaçou puxar da cintura uma pistola semiautomática da época de fabricação americana que davam o nome de "FN". 

Entretanto, os Bezerras não se amedrontaram e da mesma forma os filhos do Patriarca ANTONIO BEZERRA LEITE, e seus funcionários que também andavam armados com pistolas semelhantes, também foram aos cabos das suas respectivas pistolas. Mas com a interveniência do Patriarca ANTONIO BEZERRA LEITE e de VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA, os ânimos foram acalmados e a contenda que poderia ter tido um final sangrento, teve um final ameno. Algum tempo depois, VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA por razões que todos conhecem entrou para o cangaço em 1918, e os Bezerras por essa razão, sempre que sabiam que Lampião se encontrava numa determinada rota, evitavam viajar naquela direção, a fim de não dar de encontro com aquele que havia se tornado o terror do nordeste.

Anos mais tarde, no final da década de 20, numa determinada festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição em 08 de dezembro, ao final da tarde com os festejos acontecendo em frente da igreja de São José, o velho Patriarca ANTONIO BEZERRA se encontrava na sua residência no alto dos Bezerras. Quando de repente chegaram Lampião e doze homens fortemente armados, na sua porta. Não tendo nada mais a dizer ou fazer, o velho Patriarca os cumprimentou e os convidou a entrar na sua casa. 

Lampião entrou sozinho e deixou os cabras no terreiro em frente a casa. Dentro de casa e acomodados, o velho Patriarca temeroso, indagou a Lampião o motivo da sua visita e ainda, se o fosse acertar aquela contenda de então que ocorrera no acampamento de almocreve, ele nada podia fazer, a não ser dizer a ele que os seus filhos se encontravam nos festejos em frente da igreja, e se o seu intento fosse esse, poderia descer aos festejos e ali concretizar o que ele havia ido fazer ali. Pois o velho Patriarca achava que Lampião havia ido a São José para matar os seus filhos. 

Lampião imediatamente tratou de desfazer essa ideia na cabeça do velho Patriarca, e finalizou que aquilo que havia acontecido tinha ficado no passado, e que o motivo da sua estada ali, era para fazer uma visita a um velho amigo das estradas empoeiradas. Assim sendo, naquele dia acabou o temor do velho Patriarca e seus filhos em relação a VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA, vulgo "Lampião"

Por: Charles Bezerra Cabral
francisco.charles@ipa.br
87-9921.1000
Do blog: Charles Cabral
2ª Fonte: Facebook
Página: José João Souza
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste
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RUÍNAS DA CASA DE ANTONIO CAIXEIRO

Ruínas da casa de Antonio Ferreira de Carvalho (Antonio Cacheiro) e Dona Balbina Mendonça de Carvalho (D. Branca) pais do ex-governador de Sergipe.

Antonio Caixeiro pai do governador Eronildes de Carvalho era dos mais importantes coiteiros de Lampião. 

Foto do acervo do pesquisador do cangaço Kiko Monteiro 
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O governador chegou a tirar fotografias do capitão. Esse, por sinal, não era incomodado pelas forças policiais sergipanas.

Eronides Ferreira de Carvalho

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UM PEQUENO RESUMO DO CANGAÇO DESDE OS PRIMÓRDIOS ATÉ LAMPIÃO E CORISCO...!!!

Por Guilherme Machado historiador/pesquisador

O primeiro dos grandes bandos independentes foi o de Antônio Silvino (1875), pernambucano que, desde jovem, na última década do século XIX, se dedicara ao cangaço a serviço da família Aires. A partir de 1906, afastou-se das lutas políticas e dos conflitos entre famílias, passando a lutar pela dominação armada de áreas do sertão. Atuou em Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, espancando, assassinando, cobrando tributos e saqueando. Ferido em 1914, durante combate, foi preso e condenado a trinta anos de prisão em Recife, sendo indultado em 1937.

Virgulino Ferreira, o Lampião, o mais famoso de todos os cangaceiros, assumiu a chefia de seu bando em 1922. Por causa da organização e disciplina que impunha seus cabras, raramente era derrotado, além do fato de aparecer perante a população sertaneja como um instrumento de justiça social, procurando, dessa forma, justificar seus crimes, que atingiam pobres e ricos indistintamente. Morreu em combate em 1938. Outros cangaceiros famosos foram Jesuíno Brilhante (1844-1879), cearense, morto em luta com a polícia; Lucas da Feira, baiano, enforcado em 1849; José Gomes Cabeleira, pernambucano, e Zé do Vale, piauiense, igualmente enforcados nas últimas décadas do século XIX.

Os três tipos de cangaço muitas vezes coexistiram. O defensivo e o político ocorreram por todo o país e sobrevivem, a bem dizer, até os dias atuais. O independente, porém, tem localização certa no tempo, pois surgindo em fins do século XIX, praticamente desapareceu em 1939, com a morte de Corisco, o Diabo Louro, o mais famoso chefe de bando depois de Lampião.

A extinção desse fenômeno social foi conseqüência sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abriam para as massas nordestinas com a migração para o Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores. Mais de dez anos antes da morte de Corisco já os nordestinos começavam a migrar para as fazendas paulistas de café, em longas viagens a pé; de 1930 em diante, a industrialização no Sul, a abertura de novas frentes agrícolas, como a do norte do Paraná, e a interrupção da imigração estrangeira tornaram mais intensa a demanda de braços do Nordeste, trazendo, como conseqüência, uma intensa migração para o Rio de Janeiro e São Paulo.

Extensa é a bibliografia sobre o cangaço, de estudos sociológicos à reportagem documental. Na literatura, destacam-se o romance O Cabeleira (1876) de Franklin Távora, e as obras de José Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Guimarães Rosa, este último autor de Grande sertão, veredas, considerado o maior romance já escrito sobre os cangaceiros. No cinema, sobressaíram O cangaceiro (1953) de Lima Barreto e Deus e o diabo na terra do sol (1964) de Gláuber Rocha.

Fonte: facebook
Grupo: O Cangaço
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LAMPIÃO ERA MUITO VALENTE, MAS ERA ANTES DE TUDO INTELIGENTE!

Por Paulo George


Lampião e seu bando seguindo para atacar Mossoró, chegando na Vila de Boa Esperança, Sabino o braço direito de Lampião, saqueava a loja e a residência de Augusto Nunes de Aquino. Sabino se preparava para levar a mulher do comerciante, Dona Rosina Novaes, como refém. No momento de ser colocada em um cavalo e seguir com a turba encourada, Dona Rosina desabafou com o perigoso Sabino, comentando detalhes de sua procedência e a origem do seu nome de família, disse que se fosse na terra dela, em Floresta do navio em Pernambuco, isso não aconteceria. Sabino, ao escutar o relato da mulher, chamou o chefe na mesma hora.

Lampião descobriu, naquele longínquo lugarejo potiguar, estar diante de uma parenta de Elias e Emiliano Novaes, da cidade de Floresta, na época conhecida como Floresta do Navio, na mesma região do Pajeú. Emiliano Novaes era comerciante, membro de uma proeminente família, tido como amigo e coiteiro de Lampião.

Para muitos habitantes da região a situação na vila de Boa Esperança durante a invasão do bando, só não foi mais grave devido a Dona Rosina Novaes. Pelo fato dela possuir laços familiares com pessoas que Lampião respeitava e temia em Pernambuco, fez com que o ímpeto destrutivo do chefe em relação ao lugar fosse claramente abrandado.

Lampião era muito valente, mas era antes de tudo inteligente. Evidentemente, ele percebeu que, quando retornasse para Pernambuco trazendo consigo a responsabilidade por algo negativo, ocorrido a Dona Rosina Novaes, a temida e glorificada capacidade vingativa da família Novaes, se faria sentir contra ele e seu bando. O melhor era deixar aquela mulher em paz.

Diante da nova situação, o chefe refreou os ímpetos violentos, tanto dele, quanto do seu bando. Lampião chega ao ponto de se desculpar com Dona Rosina pelo ocorrido. Alegava desconhecer ser o lugar habitado por uma legítima representante do temido clã dos Novaes. Desfeito o “mal-entendido”, para Lampião o clima ficou mais tranquilo e ele chega a solicitar que Dona Rosina prepare algo para eles jantarem.

Mais adiante, tranquilamente sentado na mesa, mais para se justificar diante dos seus atos e do seu bando, o cangaceiro comenta “o porquê de estar nesta vida” – Comenta aos presentes estar naquela vida bandida como fruto das perseguições que sofria, destilou seu ódio contra a polícia e outras razões.

Diante da esperada respeitabilidade que Lampião passou a demonstrar por Dona Rosina e seu marido Augusto Nunes de Aquino, este último assume o papel de protetor dos habitantes de Boa Esperança.


Por volta das sete e meia da noite, o chefe prepara seu bando e seguem viagem.

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EM BUSCA DE LAMPIÃO!

Por Antônio Correia Sobrinho

Toda vez que boto os pés em Nossa Senhora da Glória, cidade do sertão sergipano, lembro que ela foi visitada por Lampião e asseclas em 1929, e fico a imaginar, em cima do que nos conta a história, como isso se deu.

Estou de novo na antiga Borda da Mata, e agora lembrei da matéria que há dois anos aqui publiquei, sobre a entrada de Lampião nesta, à época, minúscula localidade do sertão sergipano, hoje cidade progressista e porta de entrada do nosso sertão.

Leiam o texto até o fim, para saberem de dona Nair, a senhora que me disse que viu Lampião; ela que já se aproxima de um século de vida.

EM BUSCA DE LAMPIÃO


Demorar um pouco mais na sertaneja e progressista cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória, antiga Borda da Mata, onde estou nestes dias, a trabalho, foi a disponibilidade de tempo que eu precisava para ir a lugares que Lampião e seus asseclas Luiz Pedro, Volta Seca, Quinta Feira, Ezequiel (Ponto Fino), Virgínio (Moderno), Corisco, Arvoredo, Ângelo Roque (Labareda), Mariano, Delicado e Zé Fortaleza (Fortaleza II), no dia 20 de abril de 1929, nesta cidade estiveram em razia.

Fui ao local da feira, onde Lampião e os seus amigos cangaceiros fizeram-se presentes, até assistiram à morte de um bode, ali mesmo, na feira; feira onde ele, quieto, tranquilo e bem-humorado, deu esmolas, agradou a crianças, conversou com pessoas. Tirei foto onde funcionava o salão de Zé Besouro, onde Lampião fez a barba. Também da Intendência, hoje a Prefeitura, cujo gestor João Francisco de Souza (Joãozinho), também comerciante de tecidos, tratou Lampião muito bem e atendeu a todas às suas reivindicações: bom dinheiro, lauto almoço e animais de montaria. E a Cadeia, segundo consta, xadrez sujo e fedido, onde ficaram presos enquanto Lampião agia, sem antes entregarem as armas, o sargento Alfredo e os soldados Osório, João e Zé Rodrigues.

Nada, porém, foi mais interessante do que o encontro que eu tive com a senhora Nair Aragão Feitosa, de 95 anos, viúva do ex-escrivão Pedro Alves Feitosa, ofício que ela também exerceu; dona Nair que foi uma das centenas de pessoas que naquele dia, estiveram a mercê do mais temível bandoleiro das terras sertanejas.

Embora convalescendo de uma cirurgia ortopédica, mas lúcida como poucos na sua idade, dona Nair me disse coisas a respeito desta presença de Lampião, confirmando o que disseram os pesquisadores. Informações que, considerando a sua pouquíssima idade em 1929, ela, em boa parte, deve ter obtido de terceiros, no correr dos seus anos.

Porém, o que eu mais queria dela, era saber se ela realmente viu Lampião.

Quando lhe fiz a pergunta, ela respondeu imediatamente, sem pestanejar, que sim.

Disse dona Nair que naquela manhã estava em casa, uma edificação situada na praça da feira, e ouviu quando o seu pai bradou: “Lampião entrou, Lampião entrou!” Portas e janelas foram fechadas, e de uma fresta na janela, a uns 20 metros de distância, ela com alguns da família viram claramente quatro cangaceiros, juntos, em pé, parados, segurando o fuzil fora de posição, na vertical, cano pra cima, coronha no chão. Tinham chapéus grandes na cabeça, que brilhavam muito, reluziam, contou ela.

Num momento, seu pai lhe disse: “Lampião é aquele mais alto, o de óculos”.

Ela voltou a dizer, também com gestos de mãos, sem eu perguntar: Os chapéus deles brilhavam muito...

Perguntei se seu pai teve medo. Ela disse que não.

Nossa conversa durou pouco, não quis cansá-la, em razão de sua idade e de seu estado de saúde, mas o suficiente para, atento às suas palavras, ao tom de sua voz e, principalmente, ao seu olhar que parecia vivenciar aquele inesquecível instante, aquele misto de medo, apreensão, curiosidade e expectativa, eu saí transbordante de satisfação. Agora eu posso dizer que estive com alguém que, muito provavelmente, viu Lampião, o rei do cangaço, este que fez dona Nair recordar e contar essa história durante toda a sua vida.

Nossa Senhora da Glória/SE, 22/01/2015.

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