Por: João Tavares Calixto Jr
Neste ano de
2013 anota-se a passagem do centenário de morte de uma das figuras mais
atuantes da historiografia aurorense, e por que não dizer, do cenário
coronelístico nordestino. Antônio Leite Teixeira Netto, o Coronel Totonho
Leite, ou ainda, Coronel Totonho do Monte Alegre, como era mais lembrado.
Tornou-se amplamente, por enroupar-se com as características inerentes ao
coronel de baraço e cutelo, famigerado. Entendido por besta, as vezes bestial,
serviu de referência por muito tempo ao mundo pretensioso do coronelismo, onde
sua figura era temida ou venerada e sua palavra era lei
Assumiu pela
primeira vez o posto de Subdelegado de Polícia do pequeno Distrito da Venda da
Vila das Lavras, à época, a principal autoridade policial do lugarejo, aos 12
de junho de 1883, tendo sido exonerado aos 5 de novembro de 1884, sendo
substituído por Ernesto Teixeira Rabello.
Foi nomeado pelo Governador Benjamim Liberto Barroso ao cargo de Intendente
Municipal da Vila d'Aurora após a exoneração de João Francisco Leite, ocorrida
em 1º de março de 1891. Permaneceu por dois anos a frente do Conselho de
Intendência Municipal da Vila d'Aurora, entidade ao qual participou como membro
fundador, juntamente a João Francisco Leite, Antônio Francisco Carneiro
Monteiro, Firmino Bezerra de Medeiros e José Antônio de Carvalho, em 1890,
co-elaborando a primeira Lei Orgânica do Município no mesmo ano de 1890.
Joaryvar
Macedo, autor de "Império do Bacamarte"
Toma posse
novamente em 11 de junho de 1907 ao cargo de Intendente, nomeado pelo
Presidente do Estado no dia 5 do mesmo mês e ano. Por ter apeado do poder o seu
sobrinho e também coletor em Aurora, Antônio Leite de Oliveira, discorreram
sobre ele, como resultado de vingança e perseguições políticas, um dos mais
tétricos causos desta página penumbrosa da história de Aurora e do Nordeste
brasileiro, que à época, declinava-se ao amargo dissabor das questões
resolvidas ao relampejante pestanejar das lâminas do punhal e da estampida e
fumacenta alçada do bacamarte. Sobre o desfecho da deposição, acrescentamos o
que disserta Joaryvar Macêdo em Império do Bacamarte (Fortaleza,
1990, p. 96):
“Abrindo campanha contra o sobrinho, o chefe de Aurora passou a convocar grupos
familiares, aliás, de modo geral, muito entrelaçados ali, no sentido de
aderirem a ele, em seu desiderato. Os que se recusaram a compartilhar do
conluio, pela circunstância de serem amigos, correligionários ou ligados por
laços de parentesco a Antônio Leite de Oliveira, acabariam vítimas de acerbas
perseguições. Entre estas, estavam os Paulinos, que foram espancados sob o
comando de um elemento do coronel Totonho, de nome José Gonçalves Pescoço.
Posteriormente, revidariam a agressão. Por isso, houve um ataque ao sítio
Pavão, de propriedade do coronel Cândido Ribeiro Campos, vulgo Cândido do
Pavão, tio dos sobreditos Paulinos, aos quais o cacique aurorense pretendia
capturar. O coronel Domingos Furtado veio, então, em auxílio do coronel
Cândido, que transferiu os sobrinhos para o Taveira, como já se sabe, nos
limites de Aurora com Milagres. Lá, o chefe local, o mencionado coronel
Domingos Furtado, os garantiria”.
Estando protegidos no Taveira os Paulinos, enviou o coronel Totonho ao
Governador do Ceará, Nogueira Acióli, pedido de força, que fosse suficiente
para prendê-los no lugar. Da mesma forma, o chefe de Milagres coronel Domingos
Furtado, não mediu esforços para providenciar-lhes a defesa. Outro, este,
motivo cabal para desenvolver-se o famoso cerco ao sítio, conhecido por fogo do
Taveira. Neste ambiente político tumultuado de Aurora, à época, foram
vitimados, à semelhança dos Paulinos, os Macêdos do Tipi. Ainda sem forte
inserção na virulenta cloaca da politicalha do município, a família mentoreada
por Marica Macêdo (nesta época já casada em segundas núpcias com Antônio Abel
de Araújo), sofreu também represália por parte do citado coronel Antônio Leite
Teixeira Neto. Eram muito estreitos, entretanto, os laços de familiaridade
entre os citados. Referimo-nos que a esposa do coronel Totonho (Ana Isabel de
Macêdo ou Naninha) era sobrinha do primeiro esposo de Marica Macêdo
(Cazuzinha), e deste casal, viu-se uma filha (Joana da Soledade Landim),
matrimoniar-se com Vicente Leite de Macêdo, filho do predito coronel Totonho
(CALIXTO JÚNIOR, J. T. Venda Grande d'Aurora. Fortaleza, 2012, p. 113-115).
Quando o coronel Totonho ameaçou retirar do poder Antônio Leite de Oliveira,
por intermédio do filho Vicente Macêdo, cunhado dos filhos de Maricav Macedo,
conseguiu a adesão deste, que, entretanto, recuaram a pedido dela. Com efeito,
ela os obrigou a não tomarem parte na questão, porquanto o supracitado Antônio
Leite de Oliveira fora dos maiores amigos do seu primeiro marido e, ademais,
José Francisco de Sales Landim, irmão dela, era casado com Joana Leite de
Oliveira, irmã do mesmo Antônio Leite de Oliveira. Foi desta forma que Marica
Macêdo com sua gente passou a figurar no rol dos desafetos do coronel Totonho
do Monte Alegre.
Pesquisadores
Sousa Neto e Bosco André na Fazenda do Major José Inácio, em Barro
Não se
permite, entretanto, discorrer sobre este personagem marcante do coronelismo do
Nordeste, sem que sejam citados dois dos mais contundentes episódios de Aurora,
escritos com sangue: O ataque ao Sítio Taveira, de 16 para 17 de dezembro de
1908, e o massacre da Vila d'Aurora em 23 de dezembro de 1908, fatos estes dos
mais bárbaros e representativos da historiografia do coronelismo regional desse
período inicial do século passado. Sobre o primeiro evento, deu-se por
inimizade aos membros da família Santos que atuavam desregradamente na área do
Coxá, local de residência de muitos familiares e correligionários do Coronel do
Monte Alegre. Por coincidência, escondia-se Marica Macedo com sua família no
sítio Taveira, quando de viagem ao Cariri, sob ameaça de ataque ao seu sítio
Tipi, pelo mesmo Coronel Totonho. No ataque, cai tombado Cazuzinha, que a época
vivia com 17 anos. Ao chegar ao destino, reduto dos coronéis entrelaçados
em forte parentesco com Marica, encontraram um clima de revolta, totalmente
inconveniente ao Coronel Totonho e demais aurorenses envolvidos
no massacre. A chegada sofrida da família constituiu em motivação
fortíssima para a vingança violenta que ocorreria em 1908, no dia 23 de
dezembro, onde cerca de 600 cangaceiros, comandados pelo Coronel José
Inácio do Barro, fizeram sucumbir a pequena Vila d'Aurora após seis horas de
intenso tiroteio. Casas foram incendiadas, assim como o comércio e fazendas,
chegando a se ver estupros em moças de família, guardando-se o pior tratamento
para as pessoas ligadas ao coronel Totonho Leite.
Os aurorenses que permaneceram na vila sofreram inomináveis violências por
parte dos vândalos. O coronel Totonho fugiu para o Crato, donde foi ter ao
oeste paraibano. Ali, refugiou-se no antigo São João do Rio do Peixe, à sombra
do padre Joaquim Cirilo de Sá, mais conhecido por padre Sá, vigário da
localidade e político de prestígio no Estado da Paraíba.
Não se demorou muito o Coronel Totonho no vizinho Estado da Paraíba. Em notícia
do periódico caririense O Rebate (p. 2), de 25 de julho de 1909, apontam-se
os nomes dos cidadãos Antônio Leite Teixeira Netto, Joaquim Vasques e Francisco
Róseo, todos residentes na Vila de Aurora, como sendo os celerados convidados
pelo Cel. Antõnio Luiz, do Crato, para tomarem a ombros a incumbência de
acabamento e de destruição, fornecendo-lhes instruções, conforme o pensamento
geral, para arrancarem acintosamente os marcos da demarcação do Coxá, requerida
pelo Padre Cícero. Tendo conhecimento do episódio a Justiça local, mandou-se às
pressas postarem-se quatrocentos homens aos pés dos aludidos marcos,
guardando-as dos malfeitores, que pouco resistiram, sendo afinal batidos
por aquela força, fugindo todos em debandada para o Crato, em cujas ruas
alojaram-se. Não caíram mesmo assim os marcos, continuando de pé.
Dona
Fideralina
Aos 13 de
julho de 1910, em depoimento realizado ao Juiz Alfredo de Oliveira, em Lavras,
afirma Joaquim Vasques Landim, o famigerado Quinco Vasques (o bravo
caririense), terem sido alguns aurorenses, os mandantes da tentativa de
deposição ao coronel Gustavo Augusto Lima, de Lavras, um dos mais importantes
régulos do período coronelístico nordestino, filho da matrona Fideralina
Augusto Lima. Ocorreu este cerco aos 6 de abril de 1910, com a invasão de cerca
de 300 cangaceiros a fim de atear-lhe do poder lavrense. Do auto de
perguntas, informa o réu terem sido Manoel Gonçalves Ferreira, Antônio Leite
Teixeira Neto e Davi Saburá, os aurorenses mandantes do assalto ao coronel
Gustavo Augusto de Lavras: “Antônio Leite concorreu com um conto de réis em
dinheiro que lhe foi entregue por Joaquim Torquato, Manoel Gonçalves Ferreira
concorreu com duas cargas de balas de rifles, entregues pelo mesmo Joaquim
Torquato e Davi Saburá concorreu com um conto de réis em dinheiro, também
entregue por Joaquim Torquato”. Indagado, ainda, Quinco Vasques, sobre a
interferência de outros suspeitos no ataque ao coronel Gustavo, acrescenta nos
laudos do interrogatório, o que segue: “(...) além desses mandantes o
influenciaram mais para este ataque, Joaquim Torquato, José Torquato, Simplício
Torquato, os filhos de Antônio Leite, Isaías e João, assim como quase todos os
deportados de Aurora (...)”.
Sobre o objetivo do ataque, informou: “era depor o coronel Gustavo e tomarem
depois conta da cidade, a fim de melhor ser facilitada a retomada de Aurora, da
qual seria novamente chefe, Antônio Leite (...)”.Veio a falecer em 1913, no dia
10 de dezembro, na Vila d'Aurora, vítima de complicações cardíacas e já em
idade avançada. Operando de forma ativa no truculento litígio do poder em
Aurora, foi ainda, além de Intendente Municipal e Subdelegado de Polícia,
Vereador e Juiz Substituto.
João Tavares Calixto Junior
Fonte:http://lavrasce.blogspot.com.br/2013/01/centenario-de-falecimento-de-antonio.html
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