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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ANTÔNIO SILVINO E O CRENTE

por Salomão L. Ginsburg

Depois de uma discussão que havia se alongado por três anos, através da imprensa diária, com as forças organizadas do sacerdócio católico em Pernambuco; depois que todos os esforços haviam sido feitos para expulsar-me do Brasil, especialmente do campo de Pernambuco, onde o Senhor nos abençoava, um monge reacionário italiano, chamado Celestino, resolveu eliminar-me por assassinato.

No norte do estado de Pernambuco havia um bando de cangaceiros à solta, cometendo todo tipo de atrocidades. Seu chefe era um dos homens mais destemidos que já apareceu no Brasil: seu nome, Antônio Silvino. Um grande número de crimes era atribuído a esse bando, e o governo havia oferecido a soma de US$10.000 – 40.000 mil réis – pela sua captura, vivo ou morto. Era muito difícil, no entanto, capturar esse homem. Ele tinha o desconcertante dom de atirar e acertar em cheio, normalmente matando aquele que havia ousado atacá-lo. Ele era também generoso com os pobres e dividia com eles grande parte do espólio que tirava dos ricos ou até mesmo do governo.

A primeira coisa que me passou pela cabeça é que ele devia estar caçando.

Foi a esse homem que o monge italiano recorreu. Ele apelou para a sua credulidade e superstição, e obteve de Silvino o consentimento de me matar pela soma de 250 mil réis (cerca de duzentos e cinqüenta dólares). Eles descobriram o dia exato em que eu deveria chegar ao vilarejo de Moganga e deixaram o homem preparado para me atacar de surpresa.

Deixei a cidade de Nazaré cerca de duas da manhã. Eu levava um companheiro comigo, o irmão Amaro, um convertido nativo que foi como meu guia. Perto das cinco da manhã vi um homem baixo e franzino, mas de aparência rija, em pé num campo próximo à estrada pela qual eu tinha de passar. Em suas mãos ele trazia uma espingarda de cano duplo, e uma longa faixa de cartuchos atravessava o seu peito. A primeira coisa que me passou pela cabeça é que ele devia estar caçando e, como é meu costume, parei o cavalo e cumprimentei o homem, desejando um bom dia e perguntando se ele havia saído para caçar. Ele não se dignou a responder, então perguntei se já tinha pegado alguma coisa naquela manhã, mas ele permaneceu calado. Assim, dando com as esporas no meu cavalo, eu estava prestes a seguir meu companheiro, que já havia seguido adiante, quando um negro pulou de uma árvore bem diante do meu cavalo, e tive que me esforçar para manter o controle das rédeas. O homem atrás de mim gritou-lhe alguma coisa que não pude compreender, mas ficou claro que o negro sim, porque saltou de imediato para fora do caminho e deixou-me prosseguir a viagem.

Logo em seguida passei por outro vilarejo, chamado Sapé, e ali encontrei Cocada, um encorpado homem branco cuja face pintada de vermelho o denunciava como membro daquele célebre bando de foras-da-lei. Esse sujeito estava sentado no chão recebendo presentes ou ofertas que lhe traziam os habitantes do lugar. Ele nem mesmo olhou para ver quem estava passando. Às oito cheguei ao vilarejo de Moganga, onde deveria passar o dia, pregando e ensinando.

Tão logo cheguei, no entanto, pude ver a surpresa estampada no cada rosto de cada um que encontrava. O líder político do lugar, em cuja casa eu deveria ficar durante minha estada na cidade, recebeu-me com alegria incontida e abraçou-me repetidamente enquanto perguntava o tempo todo: “O senhor viu o Antônio Silvino?” Respondi que não conhecia esse homem pessoalmente, por isso não podia dizer com certeza se havia me encontrado com ele ou não. Falei, no entanto, sobre os que havia encontrado no caminho, e ele informou-me que o primeiro, segurando a espingarda de cano duplo, era a pessoa em questão.

O líder político contou em seguida que tinha sido informado que esse mercenário havia recebido dinheiro para providenciar que eu fosse removido da terra dos vivos. Tão logo havia ganho conhecimento disso ele havia estado tentando entrar em contato comigo, mas como eu já havia deixado o lugar onde eles haviam esperado me encontrar, o homem havia chegado ao ponto em que não soubera mais o fazer, a não ser entregar nas mãos da Providência, como ele mesmo colocou (o homem não era crente).

Vieram lhe dizer, para sua consternação, que era Antônio Silvino e queria falar com o Sr. Salomão.

Tive um dia muito atarefado. Regozijando-me por ter escapado das mãos do mercenário, passei um dia glorioso entre os crentes. Nossa reunião pública começou às 7 da noite e durou até quase meia-noite. Tivemos cântico de hinos, pregação, oração e testemunho, bem como a aceitação de candidatos a batismo. Cansado e quase exaurido, porque não tinha dormido na noite anterior, pedi ao irmão nativo que tocasse a reunião e fui para um quartinho que ficava logo atrás da sala da frente da casa do líder político . Eu estava pronto para espalhar-me na minha rede quando ouviu-se uma batida na porta da frente. A exigência era que a porta fosse aberta imediatamente. O dono da casa foi ver quem estava perturbando a hora da meia-noite quando vieram lhe dizer, para sua consternação, que era Antônio Silvino e queria falar com o Sr. Salomão.

Você pode imaginar como meu coração reagiu quando percebi que aqueles eram provavelmente meus últimos momentos. Eu havia me congratulado por ter escapado do bandido e agora aqui estava ele, na própria casa do líder político e defronte a onde ficava a delegacia de polícia. Caí de joelhos pedindo ao Senhor apenas uma coisa, a força necessária para dar um bom testemunho. O Senhor me deu o dom de não temer coisa alguma ou quem quer que seja, mas deu-me também um espírito muito sensível. Não suporto ver sangue, e toda minha coragem se esvai quando vejo alguém sofrendo. A única coisa de que eu tinha medo era demonstrar medo caso ele resolvesse me torturar, e era para isso que estava pedindo forças. Louvado seja o seu nome, ele não falhou comigo.

“Sabe porque vim até aqui?”

“Sei. Pagaram ao senhor para me matar.”

Tão logo ele sentou vieram me chamar, e eu disse a eles que iria num momento. Entrando na sala da frente, um aposento grande e espaçoso, vi o cangaceiro sentado no sofá, a cabeça baixa. O líder político estava pálido e tremendo, enquanto sua esposa e sua filha, duas mulheres esguias, apertavam nervosamente as mãos e choravam como se seus corações fossem se despedaçar.

Caminhando até o homem, senti meu coração fortalecido e disse:

– O senhor desejava me ver; o que posso fazer pelo senhor?

– O senhor sabe quem eu sou? – ele perguntou depois de um intervalo.

– Sim, é o capitão Antônio Silvino – respondi.

– Sabe porque vim até aqui? – ele perguntou.

– Sei. Pagaram ao senhor para me matar.

– É verdade – respondeu ele.

Ali em pé diante do cangaceiro levantei mais uma oração silenciosa a meu pai do céu, pedindo que me ajudasse e tomasse conta de minha esposa e filhos. Alguns momentos se passaram sem que o homem fizesse qualquer movimento.

– Então – eu disse, – porque você não faz de uma vez o que veio fazer?

Ele, no entanto, não se moveu. Depois de alguns momentos de silêncio percebi que ele estava chorando, lágrimas escorrendo pela sua face.

– Não – ele disse, finalmente. – Não vou matar o senhor. Eu queria mesmo é matar a pessoa que me pediu pra lhe matar. Não vou matar um homem como o senhor. Hoje de manhã enquanto eu lhe esperava perto da vila de Sapé, o senhor parou o seu cavalo e falou comigo de um jeito tão gentil e bondoso que fui pego de supresa. Tinham me dito que o senhor era um sujeito perigoso, que suas doutrinas e ensinamentos eram uma maldição para o povo e para o país, e que matar o senhor seria uma benção pra muita gente. Mas o senhor falou comigo com tanta bondade que decidi descobrir mais sobre o senhor. Eu estava presente enquanto o senhor pregava e ensinava e rezava e cantava e posso lhe dizer que não vou matar de jeito nenhum um homem que está fazendo uma obra tão caridosa.

“Não vou matar um homem como o senhor.”

Passamos aquela noite juntos e ele me contou a história da sua vida, uma das mais tristes que já tive oportunidade de ouvir. Ele não era um criminoso comum. Nascido numa família muito rica e omartocática, Antônio Silvino era ele mesmo dono de uma grande e valiosa extensão de terra na Paraíba. Mas, por causa de querelas políticas, seu pai, irmãos, tios e primos haviam sido exterminados. Para escapar ao mesmo destino, ele havia decidido tornar-se cangaceiro e destruir não apenas seus inimigos políticos mas todos que ousassem se colocar no seu caminho. Até aquela ocasião ele havia assassinado sessenta e seis pessoas.

Conversamos e oramos juntos até o amanhecer. Depois desse encontro aquele cangaceiro tornou-se um ardente defensor da nossa causa naquela região. Ele não permitia qualquer perseguição contra o evangelho e contra os pregadores. Não tenho dúvidas que minha vida foi salva inúmeras vezes da destruição nas mãos de cangaceiros por causa das ordens estritas recebidas desse homem.

Algum tempo depois fui ao Tenente-Governador e ofereci-me para tirar esse cangaceiro do estado e dar a ele uma chance de regeneração, com a condição de que nem ele nem eu fossemos molestados. Sua excelência, embora um grande admirador do trabalho que estávamos fazendo, não via como conceder o que eu estava pedindo.

Logo depois que deixei Pernambuco, Antônio Silvino foi capturado. Ele foi trazido ferido para a capital do estado, onde foi julgado e condenado ao cárcere. Na prisão o seu prazer era ler a Bíblia e contar às pessoas que iam visitá-lo, bem como aos seus companheiros de prisão, o que o Senhor havia feito por ele. Silvino era encontrado constantemente orando e com a Bíblia nas mãos. O editor de certo jornal vespertino foi visitá-lo e voltou devidamente enojado:

“Tudo que se consegue arrancar de Antônio Silvino”, escreveu ele, “é sobre os batistas e a Bíblia”.

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ERA UMA VEZ UMA GOVERNANTE MÁ

*Rangel Alves da Costa

Era uma vez uma governante tão má, mas tão má, que a madrasta da Branca de Neve seria um anjinho perto dela e todas as bruxas malvadas dos contos de fada seriam verdadeiras doçuras se a ela comparadas.

Era uma vez uma governante que reinava num reino tão corrupto, mas tão corrupto, que o reinado mais lamacento que pudesse existir parecia um poço de honradez perante o dela. E o pior é que ela jurava ser a mais honesta, a mais ilibada, a mais perfeita das criaturas.

Era uma vez uma governante que reinava num reino tão submisso, tão escravizado e sofrido pelas suas perseguições, pelo seu abandono e sua incoerência nas palavras e nas ações, que nem o Reino da Rataria perdia para aquele do atraso e da ruína.

A governante era tão má, tão sórdida e arrogante, que os serviçais, mesmo reconhecendo o barril de pólvora em que viviam, quando todo o feitiço de repente poderia virar contra a feiticeira, temiam dizer qualquer coisa que enfurecesse a prepotente. Todos temiam pelas suas cabeças.

Tão ruim era essa governante que sua feição rude, sempre áspera e aterradora, parecia petrificada. Negava-se sempre a sorrir, jamais mostrou um gesto de bondade aos seus súditos, tratava com desprezo a todos aqueles que lhes deviam submissão. Mas também a todos do reino, fossem da burguesia ou desempregado.

Dizem que a governante má possuía um espelho, barbudo e levado a gostar de tomar pinga e falar besteira, onde procurava aconselhamento antes de tomar qualquer decisão. Um dia, quando perguntou ao espelho se ela tinha vida longa no seu reinado, ele respondeu: Tão longa quanto a minha. E a minha...

A governante má enfureceu-se ante tais palavras, pegou uma daquelas pedras que jogava no povo e fez menção em arremessá-la perante o seu confessor e protetor. Então o espelho falou: Tanto faz que atire ou não. Todos já estamos estilhaçados e não vai demorar muito para que a botina do povo e da justiça pise sobre nós.

A governante má chorou três dias e três noites depois disso. E por isso aparecia em público com olheiras, com olhar ainda mais malévolo, mas na boca as palavras de sempre: Nada temo porque sou a melhor, a mais honesta, a mais íntegra entre todas as governantas. Nada temo porque daqui não saio, daqui ninguém me tira...


Não sabia a má governante que o seu destino já estava sendo traçado desde muito. Um dia, o Conselho do Povo se reuniu às escondidas para deliberar se desejavam continuar naquela situação de penúria, corrupção e sofrimento, ou se pretendiam lançar à sorte nas mãos de qualquer outro governante.

Após a votação, foi decidido que daquele momento em diante ninguém mais obedeceria às ordens da arrogante. E mais: que ela, sendo expulsa do palácio real, outro destino não teria senão o da Selva do Esquecimento, onde prazerosamente seria lançada.

Então, antes que o povo invadisse o palácio, a governante má se avistou mais uma vez com o seu quebradiço e amedrontado espelho, para ouvir: Já arrumou seus panos de bunda então trate logo de ir embora. Eu também já me vou, pois sei que a qualquer momento chegam aqui para derrubar a parede onde me sustento.

E assim a agora ex-governante má tomou o rumo da Selva do Esquecimento. Nenhum bajulador quis acompanhá-la na desdita de pagar o preço por toda a maldade feita contra o reino e contra o povo. Então, na moradia do esquecimento, como não tinha a quem maltratar, encontrou um meio de tirar o sossego e escravizar tudo o que houvesse ao redor.

Disse que era dona de tudo e quem mandava era ela, por isso começou a ser arrogante contra os animais da selva como fazia com os súditos e submissos do seu antigo reino. Então apareceu uma malandra e sórdida jararaca, que foi logo reconhecida, e falou baixinho: Cuidado. Você não manda mais em nada e de agora em diante é tudo diferente. E tem bicho grande querendo lhe pegar.

Escritor
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FOTOS TIRADAS POR OCASIÃO DO I FÓRUM PERMANENTE SOBRE HISTORIOGRAFIA DA ORIGEM E POVOAMENTO DE MOSSORÓ

Por Benedito Vasconcelos Mendes

Fotos tiradas por ocasião do I Fórum Permanente sobre Historiografia da Origem e Povoamento de Mossoró, onde tomei parte como Debatedor. Evento promovido pela ASCRIM-Associação dos Escritores Mossoroenses e realizado hoje pela manhã (01-9-2016), no Auditório da Biblioteca Municipal de Mossoró.




Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes

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O CANGAÇO E AS HERANÇAS MALDITAS

Por Analucia Gomes

O monopólio da terra e o trabalho servil, heranças das capitanias hereditárias, sempre mantiveram o empobrecimento da população e impediram o desenvolvimento do Nordeste, apesar do empenho de Joaquim Nabuco e da abolição da escravatura. As pessoas continuaram sendo relegadas à condição de objetos, cujo maior dever era servir aos donos de terras. 

Enquanto o capitalismo avançava nos grandes centros urbanos, no meio rural persistia o atraso da grande propriedade: a presença do latifúndio semifeudal, elemento dominador que, da monarquia à república, se mantinha intocável em seus privilégios. Os problemas das famílias abastadas eram resolvidos entre si, sem a intervenção do poder do Estado, mas com a substantiva ajuda de seus fiéis subordinados: policiais, delegados, juízes e políticos. 

No final do século XIX, os engenhos foram tragados pelas usinas, porém as relações pré-capitalistas de produção se conservaram: os trabalhadores rurais se tornaram praticamente servos. 


E o dono da terra - o chamado "coronel" – representava o legítimo árbitro social, mandando em todos (do padre à força policial), com o apoio integral da máquina do Estado. Contrariar o coronel, portanto, seria algo a que ninguém se atreveria. 


É importante registrar também a presença dos jagunços, ou capangas dos "coronéis", aqueles assalariados que trabalhavam como vaqueiros, agricultores ou mesmo assassinos, defendendo com unhas e dentes os interesses do patrão, de sua família e de sua propriedade. No meio dessa realidade surgiu o Cangaço. (João Cândido da Silva Neto).

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ZÉ DE JULIÃO - MUITO ALÉM DO CANGAÇO

Por Rangel Alves da Costa

Tenho recebido muitos pedidos para novamente exibir o documentário ZÉ DE JULIÃO - MUITO ALÉM DO CANGAÇO. Com efeito, pessoas que foram entrevistadas no documentário, como Tonho França, sequer puderam assistir. 

Outros, após ficarem sabendo da qualidade e da veracidade no trabalho de Hermano Penna, logo mostraram interesse em se aprofundar na história desse símbolo poço-redondense de luta e persistência. 

A família do ex-cangaceiro e político também ficou maravilhada e agradecida. Por isso mesmo estou pensando em novamente exibi-lo, num sábado à noite, na Praça Eudócia, naquele espaço conhecido como “redondo”. 

Nem precisaria de telão, mas tão somente uma televisão grande com um equipamento de dvd. E cada um levaria seu assento da própria residência. Quanto à pipoca, certamente algum morador da praça chegará com uma bacia cheia. 

Então, aguardem!

Rangel Alves da Costa

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ESTÁCIO DE LIMA

Por Geraldo Júnior

O então professor da Faculdade de Medicina e diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues na década de 1950, Estácio de Lima, confirmou que as cabeças dos cangaceiros haviam sido conservadas pelo método egípcio de mumificação.

Acrescentou: “Elas representam “documentos inestimáveis” de uma época da criminalidade brasileira”.

Fonte: Revista “O Cruzeiro” de 06 de junho de 1959. (Título: Justiça para Lampião).

Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo)

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A “REVISTA JÁ” DO JORNAL DIÁRIO POPULAR (SÃO PAULO/SP)

Por Geraldo Júnior

A “Revista Já” do Jornal Diário Popular (São Paulo/SP) em sua edição de número 40 de 10 de agosto de 1997, trouxe a ex cangaceira Sila (Ilda Ribeiro de Sousa) em sua foto de capa e com o título ... “Cabras da Peste”.

A matéria fala sobre a saga dos antigos cangaceiros que abandonaram a região Nordeste para reconstruir suas vidas na cidade de São Paulo/SP.
Na ocasião, Sila aproveitou para disparar:

“Hoje, São Paulo tem mais bandidos do que o Sertão naquela época”.

Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo do Cangaço)

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LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


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PANCADA E MARIA JOVINA


Bahia, Jovina filha de agricultores namorava com Lino de Souza. Ele, mesmo sendo pacato resolveu entrar no Cangaço e pouco tempo depois, já era chefe de um subgrupo de Lampião. Sentindo-se importante, foi buscar a namorada no ano de 1936. Lino recebeu o apelido de Pancada (não se sabe o motivo) e sua jovem companheira passou a chamar-se de Maria de Pancada.

Era comunicativa e de personalidade forte, mas a sua característica principal era a libertinagem, na linguagem do bando. Tida como a mais fogosa do bando, traiu Pancada várias vezes com os companheiros do bando e numa das ocasiões, Corisco, quis matá-la, pois esse tipo de comportamento não era permitido no Código de Honra Cangaceiro. Dizem que o seu companheiro vivia mal-humorado…

Entretanto, o apetite sexual de Jovina falava mais alto. Após a morte de Lampião, ela se entregou à polícia e voltou para a família. Escapou da morte várias vezes. Um caso raro no Cangaço. Aqui, ela está junto de Pancada.

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O CHAPÉU DE LAMPIÃO


O chapéu de Lampião trazia diversas moedas e medalhas de ouro dentre outros adornos. 

Os motivos e as estrelas dos chapéus dos cangaceiros variavam muito e isso tinha que ver com o status de um cangaceiro para outro. Pelo tamanho e pelo ouro e medalhas de ouro dos enfeites, permitia-se fazer a comparação da importância que o mesmo tinha. Sabemos de cangaceiros ricos, tais como Zé Baiano, que emprestava dinheiro a comerciantes e fazendeiros e de importância como o chefe de seu próprio bando, Corisco, que através de suas indumentárias mostravam seu status no grupo.

"Certos motivos, é possível observar nas fotografias, representam flores brancas cercadas de um círculo sobre fundo branco, como no chapéu de Lampião; outros parecem árvores estilizadas feitas de couro branco, ou como o chapéu de juriti e outros ainda, que representam estrelas brancas com oito ramificações sobre fundo negro, como o de Corisco. Todos esses chapéus eram enfeitados com medalhas e moedas. A base e as correias do chapéu de Lampião estavam de tal forma carregadas que um jornalista, descrevendo-as depois da morte do cangaceiro, diz que se tratava de uma "verdadeira exposição de numismática." - Citação da escritora Elise Grunspan-Jasmin em seu livro Lampião, senhor do sertão - Frederico Pernambucano de Melo faz referência à exposição de numismática citando o jornal paulista Diário de São Paulo de 31 de julho de 1938,

Após a morte de Lampião, as Forças Volantes apossaram-se de suas roupas e de seus acessórios. Essas roupas foram inventariadas e expostas, durante algum tempo, na caserna da Polícia Militar de Maceió, antes de serem expostas numa das vitrines do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. 

Eis a descrição do chapéu de Lampião dada pelo inventário montado em 26 de novembro de 1938, no quartel-general do regimento de Maceió, datilografado pelo aspirante Messias Ferreira da Silva e assinado pelo coronel T. Camargo Nascimento. O ato de inventário conserva-se atualmente no Instituto Histórico e Geográfico de Maceió, Alagoas.

CHAPÉU — De couro, tipo sertanejo, ornado em alto relevo em suas abas, com seis signos de Salomão; barbicacho — de couro, com 46 centímetros de comprimento e ornado em ambos os lados com cinquenta e cinco (55) peças de ouro, de confecção variada, como sejam: botões para colarinho, para punhos e cartões tipo visita, com variadas inscrições, como "AMOR", "RECORDAÇÃO", "LEMBRANÇA" e "AMIZADE", e em alguns, um "P" como inicial e em outro "C.L", e mais três anéis, sendo um com pedra verde, outro uma aliança e o terceiro, um de identidade gravado o nome "SANTINHA"; 

TESTEIRA — de couro com quatro centímetros de largura e vinte e dois centímetros de comprimento, onde estão afixadas as seguintes moedas e medalhas: duas com a gravação "DEUS TE GUIE", duas libras esterlinas, uma moeda brasileira de ouro com a efigie de "PEDRO II", de 1885, e ainda duas brasileiras de ouro, respectivamente de 1776 e 1802; 

BARBICACHO TRAZEIRO — de couro com as mesmas dimensões da testeira e ornado com as seguintes peças de ouro: duas medalhas com a inscrição da palavra "AMOR" e uma com a mesma inscrição e um brilhante pequeno e quatro outros de desenhos diferentes. 

Como percebemos na atualidade, o chapéu é o ponto principal para reconhecimento de um traje cangaceiro. É a fachada ostensiva. Em nosso encontro de discussão e conhecimento da história, encontramos amigos nossos, vestidos como cangaceiros onde o destaque principal é o chapéu.


Foto do filme de Benjamin Abrahão

Frederico Pernambucano de Mello em seu livro Estrelas de Couro, referindo ao chapéu, nos fala das missões silenciosas, caminhando o bando por lugar aberto, sujeito a ser avistado de longe, ou entrasse em canoa para atravessar o São Francisco, Lampião advertia a tirar o chapéu. Era como que o único detalhe de se saber quem era cangaceiro fosse o chapéu. Era a condição de se ser cangaceiro. E ao tirá-lo da cabeça, estavam disfarçados de volantes e isso era estratégico.

Foto do filme de Benjamin Abrahão

"Como expressão de arte, o chapéu tem vida própria, podendo ser lido, em seus aspectos estético e místico, com ou sem o geral da vestimenta... vistosos, ilhoses e circunstancialmente fitas, há de ser apreciado no conjunto que encerra em harmonia com a cabeça, não resistindo à decomposição. Os elementos, por si, ou são, no máximo, discrepâncias de padrões conhecidos milenarmente ou, pior, séries industriais, o que de mais fundo podendo arrancar-se de cada um destes não indo muito além do que vimos, salvo quanto a algumas sugestões adicionais ligadas à flora sertaneja. As fotografias depõem com eloquência. A foto, muito nítida, das cabeças de Lampião e seus homens, colhida na escadaria da Prefeitura de Piranhas, Alagoas, no dia mesmo do combate do Angico, apresenta treze chapéus arrebatados aos cangaceiros pela volante. Não há dois iguais. Tão ricos em tema e valor material quanto o do chefe, sim. O de Luís Pedro, lugar-tenente do bando, igualmente abatido, ilustra ambas as vertentes. O mesmo se diga quanto aos outros dois comentados, o de Zé Baiano e o de Corisco. Os demais, estando longe de ser pobres, rivalizam mais propriamente no que toca à estética. Registre-se ainda terem sido conjuntos notáveis, em todos os aspectos, os chapéus de Moderno, de Mariano, de Zé Sereno, de Gato, de Canário, de Juriti, de Balão, subchefes a serviço do capitão. E não se deixe de insistir no que ouvimos dos ex-cangaceiros Candeeiro e Barreira: que ao chefe ou subchefe, padrinho ou patrão, cabia enfeitar seus afilhados, sem exclusão dos riculutas [recrutas]. Os cabras sob sua direção, enfim. A tarefa consistindo não somente no fornecimento dos metais nobres, do pouco ouro e da alguma prata como vimos, mas também do auxílio na confecção dos ornatos. Nada rara a prática do padrinho confeccionar peça na intenção de presentear o afilhado. - Estrelas de Couro pgs 73-74.

Foto do filme de Benjamin Abrahão

E de onde vinha esses chapéus? O próprio autor de Estrelas de Couro nos fornece a resposta quando nos informa que eram confeccionados com couro de veado e vinham de Rio do Sal, povoação próxima a Paulo Afonso na Bahia e que eram confeccionados por mestre Duda, Joaquim Ribeiro dos Santos, casado com uma tia de Maria Bonita, irmã de dona Déa. As peças vinham apenas com a barbela de prender no queixo, deixando os enfeites para serem confeccionados em tempos de coito manso.

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