A Revolução de
1930 vitoriosa, deu inicio a implantação de direitos e deveres
dos cidadãos e
das empresas diante da intervenção estatal. No Brasil não existia a CLT
– Consolidação
das Leis do Trabalho e muito menos salário mínimo nacional
obrigatório,
13o salário, carteira de trabalho assinada e FGTS, PIS e COFINS, muito
menos. Tais
institutos que favorecem a classe obreira foram conquistas do momento
pós-revolucionário
dos períodos de 1930 e 1964. Conquistas gradativas dos
trabalhadores
e garantias oficiais também para as empresas.
Ainda na
primeira República, 1889 a 1930, já funcionava em pleno vapor em
Santa Rita a
C.T. P – Companhia de Tecido Paraibana, a popular Fábrica Tibiry,
implantada em
1892 em nossa terra. O que vale dizer que o núcleo residencial e
industrial da
Tibiry, era um lugar muito importante para a economia nacional, estadual e
municipal já
na última década do século XIX, sem sombra de dúvida. A C.T.P., foi a
segunda mina
e/ou galinha dos ovos de ouro que Santa Rita recebera de presente pela
iniciativa
privada até então, porque a primeira grande riqueza da rainha dos canaviais
foi a
construção em 1587 do Engenho Del Rey Tibiry, quando por aqui passaram
engenheiros e
artífices das diversas nacionalidades do mundo para implantar a referida
indústria, sem
deixar de lado o uso da própria mão de obra escrava (branca; negra;
indígena) para
o plantio, corte e industrialização do ouro branco. A partir de então
surgiram
outros engenhos e outras fábricas e/ou engenhos bangüês e/ou a vapor para
fabricar
açúcar e seus derivados, antecessores dos engenhos grandes e/ou usinas,
decantados em
versos e prosas, a exemplo dos romances “Usina”, “Bangüê” e “Fogo
Morto”, de autoria
do paraibano José Lins do Rego Cavalcanti, sem deixar de lado a
“[...]
colonização e, séculos depois, nos anos 1920e 1930, conforme os registros de
Ambrósio
Fernandes Brandão (1612) e Celso Mariz (1939)”, conforme Rodrigues
(2013, p.41).
Ainda jovem,
adolescente na flor de seus verdes anos, em 1897, o menino
operário
Severo Rodrigues da Silva começou a trabalhar na Fábrica Tibiry, ainda
residindo e
trabalhando durante trinta e cinco longos anos na referida vila operária. Aí
veio a
Revolução de 1930, ele fez parte dela porque apoiava a ideologia implantada
pela
Aliança
Liberal que levou o “getulismo” ao poder central, inclusive seus patrões que
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eram
correligionários do líder Presidente Getúlio Vargas, o mesmo que criou o
Ministério do
Trabalho e as primeiras leis esparsas concedendo direitos e deveres ainda
incipientes em
favor da classe operária. Isso era 9 de agosto de 1931 (A UNIÃO,
20/07/1932,
p.7), ele e seus amigos e/ou colegas de profissão da Fábrica Tibiry,
decidiram
historicamente fundar o primeiro sindicato da várzea do Rio Paraíba e do
Estado da
Paraíba com tal nomenclatura e/ou designação, ex-vi o quadro das
“organizações
de trabalhadores na Paraíba – 1932”, que cita textualmente o “Syndicato
dos Operários
da Fábrica Tibiry”, com sede em Santa Rita e data de fundação 1931,
com 345
(trezentos e quarenta e cinco) sócios, conforme Gurjão (1994, p.149).
Foi despedido
da Fábrica Tibiry juntamente outros colegas seus porque era a
cabeça
pensante que fazia parte da fundação e da diretoria do neófito e pioneiro
sindicato
composto pelos operários da referida indústria, dentre seus colegas,
destacamos
Severino Moreira da Silva, operário com dez anos de casa e que foi
igualmente
despedido e sem direito a receber de nada pelo tempo de trabalho.
Fundaram o
Sindicato dos Operários da Fábrica Tibiry em 1931 e perderam o
emprego, foram
para olho da rua e/ou seja foram demitidos sumariamente.
O caso foi
parar na Justiça Federal, secção da Paraíba através de representação
feita pelo Professor
Severo Rodrigues da Silva, em nome do Sindicato dos Operários da
Fábrica
Tibiry, tendo como advogado, o Dr. João Santa Cruz Oliveira. Isso representa a
primeira
representação nas relações de trabalho dos operários contra o patrão da
referida
empresa fabril
mencionada em Santa Rita, representada pelo seu presidente o Dr.
Manoel Velloso
Borges, em momentos iniciais das ações provenientes da Revolução de
1930.
O termo de
protesto judicial contra a Fábrica Tibiry foi deferido pelo MM. Juiz
Dr. Antônio
Guedes, em nome da Justiça Federal na Paraíba, porque não existia ainda a
Justiça do
Trabalho no Brasil, mediante o seguinte:
“Despacho: A.,
tome-se por termo e façam as intimações pedidas. Em
18/07/1932.
Antonio Guedes” (A UNIÃO, 20/07/1932, p. 7).
A União,
edição de 20 de julho de 1932, p. 7, publicou na integra o seguinte
edital:
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“Juizo
Seccional do Estado da Parahyba – Edital de citação – De um
protesto feito
pelo Syndicato dos Operarios da Fabrica de Tecidos
Tibiry, contra
a gerencia da mesma Fabrica, na forma abaixo:O
dr.Antonio
Galdino Guedes, juiz federal na Secção do Estado da
Parahyba: Faz
saber aos que o presente edital virem ou dele tiverem
conhecimento e
interessar possa, que pelo Syndicato dos Operarios da
Fabrica de
Tecidos Tibiry, lhe foi dirigida a petição deste teor aqui:
“Exmo. Sr. Dr.
Juiz Federal do Estado da Parahyba. Diz o Syndicato
dos Operarios
da Fabrica de Tecidos Tibiry com sede a Avenida Dr.
João da Matta,
em Santa Rita, deste Estado, fundado em 9 de agosto
de 1931, de
acordo com o dec. 19.770 de 19 de março de 1931, do
Governo
Provisorio, com estatutos organizados e cuja copia foi ha
meses, enviada
para aprovação, ao Ministerio do Trabalho, onde tem
representante
autorizado, que a gerencia da Fabrica de Tecidos Tibiry,
não querendo
que seus operários se organizassem syndicato e que este
funcionasse
com verdadeira associação de classe, zelando pelos
interesses da
ordem econômica, jurídica, hygienica e cultural dos
operários da
mesma fabrica, tem assim, desde a fundação desta
corporação,
lhe dificultado a existência, perseguindo os seus
membros,
exercendo grande coação entre os trabalhadores da empresa
a fim de
sahirem do syndicato ou não se associarem ao mesmo e
despendindoaquelles
que faziam parte da directoria como se deu com
Severo
Rodrigues da Silva, com 35 annos de serviço na fabrica e
Severino
Moreira da Silva, com 10 annos. Todos esses actos injustos e
abusivos são
praticadoscom táctica e no intuito exclusivo de suffocar a
acção legal
dos trabalhadores e operários da fabrica a fim de que não
se organizem
não tenham consciência de seus direitos, nem uma
associação
independente que os dirija na conquista do que a lei lhes
assegura e
garante. Succedeque, no intuito de destruir a existência
legal do
Syndicato, pretende e simula a gerencia da fabrica organizar
alli uma
instituição que obedeça sem discrepância e que, em suas
atitudes, não
manifeste nenhuma divergência com ella, o que além de
ferir o art.
13 e seus respectivos §§, do citado decreto n. 19.770, busca
cindir o
operariado da fabrica. E na qualidade de única associação
legal
organizada para a defesa dos direitos e interesses dos operários e
trabalhadores
da mesma Fabrica Tibiry, o Syndicato vem, assim, para
resalva e
salvaguarda de seus direitos e dos seus membros, protestar
contra todos
os attentadossoffridos ou a soffrer por parte da gerencia
da fabrica e
especialmente contra quaesquereffeitos da pretensa
organização de
uma associação hostil, perdas e damnos, requerendo
tomar por
termo este protesto sejam delle, nos termos do decreto no
3.084, de 5 de
novembro de 1898, parte do art. 3o, a, art. 155,
intimados
pessoalmente, o dr. Procurador da República, o Ministerio
do Trabalho na
pessoa de seu representante legal neste Estado, o
presidente da
Companhia de Tecidos Parahybana e gerente da Fabrica
Tibiry, dr.
Manoel Velloso Borges e por edital quem quer que se
apresente como
representante activo ou organizador de novo
Syndicato,
entregando-se depois este processado ao supplicante
independente
de traslado, para lhe servir de documento. (Com uma
procuração.
João Pessoa, 18 de julho de 1932. João Santa Cruz
Oliveira,
advogado (Devidamente sellado). Despacho: A., tome-se por
termo e façam
as intimações pedidas. Em 18/07/1932. Antonio
Guedes. Termo
de protesto: Aos 18 dias do mês de julho, do anno de
1932, nesta
capital do Estado da Parahyba,em meu cartorio,
compareceu o
doutor João Santa Cruz Oliveira, procurador e
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advogado do
Syndicato dos Operarios da Fabrica de Tecidos Tibiry,
reconhecido
por mim escrivão e pelas testemunhas abaixo nomeadas,
e disse que
nos termos da petição que exhibia despachada pelo
meretissimosr.dr.
juiz federal, protestava, como de facto protestado
tem, para
resalva e salvaguarda dos direitos do mesmo Syndicato e
dos seus
membros, contra todos attentados sofridos ou a soffrer por
parte da
gerencia da Fabrica de Tecidos Tibiry, da qual o Syndicato
era uma
associação legal de seus trabalhadores e operários, com
estatutos
organizados, de accordo com o decreto 19.770, de 19 de
março de 1931
e com representação perante o Ministerio do Trabalho,
e também
protestava contra a pretensa organização de um novo
Syndicato, com
o intuito de aniquillar o já existente perdas e damnos e
o facto da
mesma gerencia hostilizar e despedir do serviço da fabrica
operários e
trabalhadores, membros do Syndicato, tudo de
conformidade
com os termos e conteúdo da petição a folhas duas, que
fica fazendo
parte integrante deste termo. E de como assim o disse,
assignou com
as testemunhas Antonio Manoel do Nascimento,
Diolindo de
Carvalho. Era o que se continha na petição, despacho e
termo de
protesto, aqui bem e fielmente copiados. E para que chegue a
noticia de
todos, especialmente de quem quer se apresente como
representante
do activo ou organizador do novo Syndicato, conforme
foi requerido,
mandei passar este edital que será affixado no logar do
costume e
publicado pela imprensa. Dado e passado nesta capital do
Estado da
Parahyba, em 19 de julho de 1932. Eu, Eutichiano Barreto,
escrivão
federal, o escrevi. (Assignado). Antonio Galdino Guedes. Era
o que se
continha no edital aqui bem e fielmente copiado; dou fé. João
Pessoa, 19 de
julho de 1932. O escrivão federal,Eutichiano Barreto”.
(Ortografia da
época). Grifo nosso.
Severo
Rodrigues não era professor formado por Escola Normal, Faculdade e ou
Universidade
de qualquer espécie, ele era formado pelos veios dos “teares” da C.T.P.
Companhia de
Tecido Paraibana. O tear é vivencial e memorial na vida do “mestre”
demitido da
Fábrica Tibiry, onde o vai e vem do tear, ainda que por analogia é algo
parecido “como
uma aranha que se dissolvesse a si própria nas secreções construtivas
da sua teia”
(BARTHES, 1973).
E Severo
Rodrigues da Silva teve que mudar de profissão, construiu um novo
“tear”, agora
tendo como matéria prima o pensamento e o sonho de que nada é
impossível na
vida, em sendo assim, transformou a modesta sala de sua casa residencial
em uma modesta
sala de aula particular, porque sabia ler e escrever, ingressando assim
na fila de
professor leigo (aquele que não tem diploma de formatura para exercer o
magistério) em
Santa Rita, transformando-se assim um dos primeiros professores do
ensino
particular de Santa Rita, haja vista que fundou a Escola Particular Noturna do
Sexo Masculino
na Vila Operária Tibiry, segundo o Anuário Informativo de Santa Rita
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(1937), de
onde passou a tirar o sustento para si e para duas irmãs solteironas que com
ele viviam e
residiam debaixo do mesmo teto.
Além de Severo
Rodrigues da Silva, naquele tempo, na década de 30 do século
XX, Santa Rita
tinha poucos professores do sexo masculino, podemos então citar ainda
seus colegas
de magistério: Luiz de Azevedo, lecionou na Escola Elementar do Sexo
Masculino/Idem
Noturna do sexo feminino/sede Santa Rita (homenageado com nome
de rua e
escola pública estadual no Tibiri II); e Assis Pereira da Silva (Escola
Particular
Mixta de
Barreiras, atual Bayeux).
O magistério
feminino santaritense em 1936 era composto por: Iracema Feijó da
Silveira,
escritora e poetisa nacional (AGUIAR, 2013), cuja biografia é citada no
Pequeno
Dicionário dos Escritores e Jornalistas da Paraíba do Século XIX (2009); Ana
Maura
Henrique; Celina Gomes da Silveira; Altina Eudócia de Vasconcelos
(homenageada
com nome de rua no Bairro Popular); Maria de Lourdes de Araújo
(homenageada
com nome de uma escola estadual no Tibiri II); Maria do Carmo
Gonçalves;
Laura Gonçalves; Julieta Cardoso de Albuquerque; Clara Cordeiro; Maria
Amélia Camelo;
Emilia da Silva Costa; Maria de Lourdes Teixeira; Elisa de Alcantara
Correia;
Francisca Miranda da Nóbrega; Severina Cardoso; Anália Ramos; Luiza Vieira
Campos; Isaura
Fernandes das Neves; Eunice Serrão; Maria das Neves Pires; Arminda
Santos; Emilia
Serrão de Oliveira; Ana Carolina; e Eunice Cabral.
Poucos dentre
os nomes dos professores da década de 30 do século XX em Santa
Rita receberam
homenagem do poder público com nomes de ruas e de escolas aqui
existentes na
atualidade. Assim sendo, fica aqui o nosso reconhecimento pleno aos
valorosos
mestres citados e que jamais serão esquecidos pela memória histórica da
cidade que
ensinou a Paraíba a comer açúcar e a beber cachaça e caldo de cana, ainda na
época do
Brasil Colônia de Portugal.
Dentre as
dezenas de alunos que o Professor Severo Rodrigues teve, podemos
destacar o
ex-vereador e ex-prefeito Antônio Teixeira de Carvalho, que no exercício do
cargo de
prefeito, no primeiro mandato entre 1959/1963, mandou botar o nome de seu
mestre na rua
principal do Bairro Popular – Rua Professor Severo Rodrigues.
O líder
popular santaritense Antônio Teixeira, também faz lembrar a memória do
conceituado
professor Severo Rodrigues, quando no exercício do seu segundo mandado
de prefeito de
Santa Rita (1969/1973), escreve de próprio punho um bilhete em papel
timbrado da
Prefeitura Municipal de Santa Rita para Francisco Aguiar, o mesmo autor
6
deste texto,
pedindo um favor para um popular e seu amigo que também foi aluno do
referido
professor na Vila Operária Tibiy em sua juventude:
“Amigo
Francisco. Meu abraço. Se fosse possível queria que você
fizesse um
atestado de curso primário para este amigo, que ele precisa
para ocupar
uma colocação no Rio, é verdade que é um arranjo pois
penso que não
tem nenhum inconveniente. A coisa é tão pequena que
não tem
expressão. Ele fez os primeiros estudos com o professor
Severo
Rodrigues de saudosa memória. Sem mais do amigo. Antônio
Teixeira”.
(30/06/1969).
Aqui termina a
epopéia ideológica do homem ético que fundou com amigos e
colegas de
trabalho o primeiro Sindicato de Operários da Paraíba, em Santa Rita e bem
assim, fundou
uma das primeiras e/ou a primeira escola (classe ou cadeira) particular
para o sexo
masculino, porque na época as “cadeiras” eram assim chamadas: masculinas
e/ou femininas
– escolas separadas para ambos os sexos na Vila Operária de Tibiry em
resposta a sua
demissão da Fábrica Tibiry por ter participado da fundação do referido
sindicato e
fazer parte de sua diretoria.