Seguidores

sábado, 29 de setembro de 2018

A REVOLUÇÃO DE 1930

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

A Revolução de 1930 vitoriosa, deu inicio a implantação de direitos e deveres
dos cidadãos e das empresas diante da intervenção estatal. No Brasil não existia a CLT
– Consolidação das Leis do Trabalho e muito menos salário mínimo nacional
obrigatório, 13o salário, carteira de trabalho assinada e FGTS, PIS e COFINS, muito
menos. Tais institutos que favorecem a classe obreira foram conquistas do momento
pós-revolucionário dos períodos de 1930 e 1964. Conquistas gradativas dos
trabalhadores e garantias oficiais também para as empresas.
Ainda na primeira República, 1889 a 1930, já funcionava em pleno vapor em
Santa Rita a C.T. P – Companhia de Tecido Paraibana, a popular Fábrica Tibiry,
implantada em 1892 em nossa terra. O que vale dizer que o núcleo residencial e
industrial da Tibiry, era um lugar muito importante para a economia nacional, estadual e
municipal já na última década do século XIX, sem sombra de dúvida. A C.T.P., foi a
segunda mina e/ou galinha dos ovos de ouro que Santa Rita recebera de presente pela
iniciativa privada até então, porque a primeira grande riqueza da rainha dos canaviais
foi a construção em 1587 do Engenho Del Rey Tibiry, quando por aqui passaram
engenheiros e artífices das diversas nacionalidades do mundo para implantar a referida
indústria, sem deixar de lado o uso da própria mão de obra escrava (branca; negra;
indígena) para o plantio, corte e industrialização do ouro branco. A partir de então
surgiram outros engenhos e outras fábricas e/ou engenhos bangüês e/ou a vapor para
fabricar açúcar e seus derivados, antecessores dos engenhos grandes e/ou usinas,
decantados em versos e prosas, a exemplo dos romances “Usina”, “Bangüê” e “Fogo
Morto”, de autoria do paraibano José Lins do Rego Cavalcanti, sem deixar de lado a
“[...] colonização e, séculos depois, nos anos 1920e 1930, conforme os registros de
Ambrósio Fernandes Brandão (1612) e Celso Mariz (1939)”, conforme Rodrigues
(2013, p.41).
Ainda jovem, adolescente na flor de seus verdes anos, em 1897, o menino
operário Severo Rodrigues da Silva começou a trabalhar na Fábrica Tibiry, ainda
residindo e trabalhando durante trinta e cinco longos anos na referida vila operária. Aí
veio a Revolução de 1930, ele fez parte dela porque apoiava a ideologia implantada pela
Aliança Liberal que levou o “getulismo” ao poder central, inclusive seus patrões que

2

eram correligionários do líder Presidente Getúlio Vargas, o mesmo que criou o
Ministério do Trabalho e as primeiras leis esparsas concedendo direitos e deveres ainda
incipientes em favor da classe operária. Isso era 9 de agosto de 1931 (A UNIÃO,
20/07/1932, p.7), ele e seus amigos e/ou colegas de profissão da Fábrica Tibiry,
decidiram historicamente fundar o primeiro sindicato da várzea do Rio Paraíba e do
Estado da Paraíba com tal nomenclatura e/ou designação, ex-vi o quadro das
“organizações de trabalhadores na Paraíba – 1932”, que cita textualmente o “Syndicato
dos Operários da Fábrica Tibiry”, com sede em Santa Rita e data de fundação 1931,
com 345 (trezentos e quarenta e cinco) sócios, conforme Gurjão (1994, p.149).
Foi despedido da Fábrica Tibiry juntamente outros colegas seus porque era a
cabeça pensante que fazia parte da fundação e da diretoria do neófito e pioneiro
sindicato composto pelos operários da referida indústria, dentre seus colegas,
destacamos Severino Moreira da Silva, operário com dez anos de casa e que foi
igualmente despedido e sem direito a receber de nada pelo tempo de trabalho.
Fundaram o Sindicato dos Operários da Fábrica Tibiry em 1931 e perderam o
emprego, foram para olho da rua e/ou seja foram demitidos sumariamente.
O caso foi parar na Justiça Federal, secção da Paraíba através de representação
feita pelo Professor Severo Rodrigues da Silva, em nome do Sindicato dos Operários da
Fábrica Tibiry, tendo como advogado, o Dr. João Santa Cruz Oliveira. Isso representa a
primeira representação nas relações de trabalho dos operários contra o patrão da referida
empresa fabril mencionada em Santa Rita, representada pelo seu presidente o Dr.
Manoel Velloso Borges, em momentos iniciais das ações provenientes da Revolução de
1930.
O termo de protesto judicial contra a Fábrica Tibiry foi deferido pelo MM. Juiz
Dr. Antônio Guedes, em nome da Justiça Federal na Paraíba, porque não existia ainda a
Justiça do Trabalho no Brasil, mediante o seguinte:

“Despacho: A., tome-se por termo e façam as intimações pedidas. Em
18/07/1932. Antonio Guedes” (A UNIÃO, 20/07/1932, p. 7).
A União, edição de 20 de julho de 1932, p. 7, publicou na integra o seguinte
edital:

3

“Juizo Seccional do Estado da Parahyba – Edital de citação – De um
protesto feito pelo Syndicato dos Operarios da Fabrica de Tecidos
Tibiry, contra a gerencia da mesma Fabrica, na forma abaixo:O
dr.Antonio Galdino Guedes, juiz federal na Secção do Estado da
Parahyba: Faz saber aos que o presente edital virem ou dele tiverem
conhecimento e interessar possa, que pelo Syndicato dos Operarios da
Fabrica de Tecidos Tibiry, lhe foi dirigida a petição deste teor aqui:
“Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal do Estado da Parahyba. Diz o Syndicato
dos Operarios da Fabrica de Tecidos Tibiry com sede a Avenida Dr.
João da Matta, em Santa Rita, deste Estado, fundado em 9 de agosto
de 1931, de acordo com o dec. 19.770 de 19 de março de 1931, do
Governo Provisorio, com estatutos organizados e cuja copia foi ha
meses, enviada para aprovação, ao Ministerio do Trabalho, onde tem
representante autorizado, que a gerencia da Fabrica de Tecidos Tibiry,
não querendo que seus operários se organizassem syndicato e que este
funcionasse com verdadeira associação de classe, zelando pelos
interesses da ordem econômica, jurídica, hygienica e cultural dos
operários da mesma fabrica, tem assim, desde a fundação desta
corporação, lhe dificultado a existência, perseguindo os seus
membros, exercendo grande coação entre os trabalhadores da empresa
a fim de sahirem do syndicato ou não se associarem ao mesmo e
despendindoaquelles que faziam parte da directoria como se deu com
Severo Rodrigues da Silva, com 35 annos de serviço na fabrica e
Severino Moreira da Silva, com 10 annos. Todos esses actos injustos e
abusivos são praticadoscom táctica e no intuito exclusivo de suffocar a
acção legal dos trabalhadores e operários da fabrica a fim de que não
se organizem não tenham consciência de seus direitos, nem uma
associação independente que os dirija na conquista do que a lei lhes
assegura e garante. Succedeque, no intuito de destruir a existência
legal do Syndicato, pretende e simula a gerencia da fabrica organizar
alli uma instituição que obedeça sem discrepância e que, em suas
atitudes, não manifeste nenhuma divergência com ella, o que além de
ferir o art. 13 e seus respectivos §§, do citado decreto n. 19.770, busca
cindir o operariado da fabrica. E na qualidade de única associação
legal organizada para a defesa dos direitos e interesses dos operários e
trabalhadores da mesma Fabrica Tibiry, o Syndicato vem, assim, para
resalva e salvaguarda de seus direitos e dos seus membros, protestar
contra todos os attentadossoffridos ou a soffrer por parte da gerencia
da fabrica e especialmente contra quaesquereffeitos da pretensa
organização de uma associação hostil, perdas e damnos, requerendo
tomar por termo este protesto sejam delle, nos termos do decreto no
3.084, de 5 de novembro de 1898, parte do art. 3o, a, art. 155,
intimados pessoalmente, o dr. Procurador da República, o Ministerio
do Trabalho na pessoa de seu representante legal neste Estado, o
presidente da Companhia de Tecidos Parahybana e gerente da Fabrica
Tibiry, dr. Manoel Velloso Borges e por edital quem quer que se
apresente como representante activo ou organizador de novo
Syndicato, entregando-se depois este processado ao supplicante
independente de traslado, para lhe servir de documento. (Com uma
procuração. João Pessoa, 18 de julho de 1932. João Santa Cruz
Oliveira, advogado (Devidamente sellado). Despacho: A., tome-se por
termo e façam as intimações pedidas. Em 18/07/1932. Antonio
Guedes. Termo de protesto: Aos 18 dias do mês de julho, do anno de
1932, nesta capital do Estado da Parahyba,em meu cartorio,
compareceu o doutor João Santa Cruz Oliveira, procurador e

4

advogado do Syndicato dos Operarios da Fabrica de Tecidos Tibiry,
reconhecido por mim escrivão e pelas testemunhas abaixo nomeadas,
e disse que nos termos da petição que exhibia despachada pelo
meretissimosr.dr. juiz federal, protestava, como de facto protestado
tem, para resalva e salvaguarda dos direitos do mesmo Syndicato e
dos seus membros, contra todos attentados sofridos ou a soffrer por
parte da gerencia da Fabrica de Tecidos Tibiry, da qual o Syndicato
era uma associação legal de seus trabalhadores e operários, com
estatutos organizados, de accordo com o decreto 19.770, de 19 de
março de 1931 e com representação perante o Ministerio do Trabalho,
e também protestava contra a pretensa organização de um novo
Syndicato, com o intuito de aniquillar o já existente perdas e damnos e
o facto da mesma gerencia hostilizar e despedir do serviço da fabrica
operários e trabalhadores, membros do Syndicato, tudo de
conformidade com os termos e conteúdo da petição a folhas duas, que
fica fazendo parte integrante deste termo. E de como assim o disse,
assignou com as testemunhas Antonio Manoel do Nascimento,
Diolindo de Carvalho. Era o que se continha na petição, despacho e
termo de protesto, aqui bem e fielmente copiados. E para que chegue a
noticia de todos, especialmente de quem quer se apresente como
representante do activo ou organizador do novo Syndicato, conforme
foi requerido, mandei passar este edital que será affixado no logar do
costume e publicado pela imprensa. Dado e passado nesta capital do
Estado da Parahyba, em 19 de julho de 1932. Eu, Eutichiano Barreto,
escrivão federal, o escrevi. (Assignado). Antonio Galdino Guedes. Era
o que se continha no edital aqui bem e fielmente copiado; dou fé. João
Pessoa, 19 de julho de 1932. O escrivão federal,Eutichiano Barreto”.
(Ortografia da época). Grifo nosso.

Severo Rodrigues não era professor formado por Escola Normal, Faculdade e ou
Universidade de qualquer espécie, ele era formado pelos veios dos “teares” da C.T.P.
Companhia de Tecido Paraibana. O tear é vivencial e memorial na vida do “mestre”
demitido da Fábrica Tibiry, onde o vai e vem do tear, ainda que por analogia é algo
parecido “como uma aranha que se dissolvesse a si própria nas secreções construtivas
da sua teia” (BARTHES, 1973).
E Severo Rodrigues da Silva teve que mudar de profissão, construiu um novo
“tear”, agora tendo como matéria prima o pensamento e o sonho de que nada é
impossível na vida, em sendo assim, transformou a modesta sala de sua casa residencial
em uma modesta sala de aula particular, porque sabia ler e escrever, ingressando assim
na fila de professor leigo (aquele que não tem diploma de formatura para exercer o
magistério) em Santa Rita, transformando-se assim um dos primeiros professores do
ensino particular de Santa Rita, haja vista que fundou a Escola Particular Noturna do
Sexo Masculino na Vila Operária Tibiry, segundo o Anuário Informativo de Santa Rita

5

(1937), de onde passou a tirar o sustento para si e para duas irmãs solteironas que com
ele viviam e residiam debaixo do mesmo teto.
Além de Severo Rodrigues da Silva, naquele tempo, na década de 30 do século
XX, Santa Rita tinha poucos professores do sexo masculino, podemos então citar ainda
seus colegas de magistério: Luiz de Azevedo, lecionou na Escola Elementar do Sexo
Masculino/Idem Noturna do sexo feminino/sede Santa Rita (homenageado com nome
de rua e escola pública estadual no Tibiri II); e Assis Pereira da Silva (Escola Particular
Mixta de Barreiras, atual Bayeux).
O magistério feminino santaritense em 1936 era composto por: Iracema Feijó da
Silveira, escritora e poetisa nacional (AGUIAR, 2013), cuja biografia é citada no
Pequeno Dicionário dos Escritores e Jornalistas da Paraíba do Século XIX (2009); Ana
Maura Henrique; Celina Gomes da Silveira; Altina Eudócia de Vasconcelos
(homenageada com nome de rua no Bairro Popular); Maria de Lourdes de Araújo
(homenageada com nome de uma escola estadual no Tibiri II); Maria do Carmo
Gonçalves; Laura Gonçalves; Julieta Cardoso de Albuquerque; Clara Cordeiro; Maria
Amélia Camelo; Emilia da Silva Costa; Maria de Lourdes Teixeira; Elisa de Alcantara
Correia; Francisca Miranda da Nóbrega; Severina Cardoso; Anália Ramos; Luiza Vieira
Campos; Isaura Fernandes das Neves; Eunice Serrão; Maria das Neves Pires; Arminda
Santos; Emilia Serrão de Oliveira; Ana Carolina; e Eunice Cabral.
Poucos dentre os nomes dos professores da década de 30 do século XX em Santa
Rita receberam homenagem do poder público com nomes de ruas e de escolas aqui
existentes na atualidade. Assim sendo, fica aqui o nosso reconhecimento pleno aos
valorosos mestres citados e que jamais serão esquecidos pela memória histórica da
cidade que ensinou a Paraíba a comer açúcar e a beber cachaça e caldo de cana, ainda na
época do Brasil Colônia de Portugal.
Dentre as dezenas de alunos que o Professor Severo Rodrigues teve, podemos
destacar o ex-vereador e ex-prefeito Antônio Teixeira de Carvalho, que no exercício do
cargo de prefeito, no primeiro mandato entre 1959/1963, mandou botar o nome de seu
mestre na rua principal do Bairro Popular – Rua Professor Severo Rodrigues.
O líder popular santaritense Antônio Teixeira, também faz lembrar a memória do
conceituado professor Severo Rodrigues, quando no exercício do seu segundo mandado
de prefeito de Santa Rita (1969/1973), escreve de próprio punho um bilhete em papel
timbrado da Prefeitura Municipal de Santa Rita para Francisco Aguiar, o mesmo autor

6

deste texto, pedindo um favor para um popular e seu amigo que também foi aluno do
referido professor na Vila Operária Tibiy em sua juventude:

“Amigo Francisco. Meu abraço. Se fosse possível queria que você
fizesse um atestado de curso primário para este amigo, que ele precisa
para ocupar uma colocação no Rio, é verdade que é um arranjo pois
penso que não tem nenhum inconveniente. A coisa é tão pequena que
não tem expressão. Ele fez os primeiros estudos com o professor
Severo Rodrigues de saudosa memória. Sem mais do amigo. Antônio
Teixeira”. (30/06/1969).

Aqui termina a epopéia ideológica do homem ético que fundou com amigos e
colegas de trabalho o primeiro Sindicato de Operários da Paraíba, em Santa Rita e bem
assim, fundou uma das primeiras e/ou a primeira escola (classe ou cadeira) particular
para o sexo masculino, porque na época as “cadeiras” eram assim chamadas: masculinas
e/ou femininas – escolas separadas para ambos os sexos na Vila Operária de Tibiry em
resposta a sua demissão da Fábrica Tibiry por ter participado da fundação do referido

sindicato e fazer parte de sua diretoria.
Enviado por Francisco de Paula Melo Aguiar autor

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário