Por Valdir José Nogueira
A década de
1930 foi rica em cultura, cinema, moda, assim como em grandes conflitos
políticos. O mundo passou por intensas mudanças no comportamento social, na
política. Foi instituída uma nova legislação eleitoral e as mulheres
conquistaram o direito ao voto. O fato é que a década marcou a história, e
traçou rumos que nos trouxeram até aqui.
Pois foi nessa década marcante, no dia 24 de maio, dia de Nossa Senhora
Auxiliadora, do ano da graça de 1930, na cidade de Belmonte, sertão de
Pernambuco, que nasceu Aliete Rodrigues de Moura filha do casal Joaquim Donato
de Moura e Luíza Rodrigues de Moura (d. Lizô).
Primogênita de sete irmãos: Auridete, Maria Felismina (Lia), Maurício, Maria
Auxiliadôra (Dôra), Antônio e Joaquim Donato Filho (Quinca), foi batizada na Matriz
de São José da localidade, pelo padre Carlos Frichzahu (alemão). Foram seus
padrinhos de batismo os seus avós paternos: Tertuliano Donato de Moura e
Felismina Nunes de Menezes; madrinha de crisma Antônia Iluminata de Moura (tia
Tonha) e madrinha de apresentar Joaquina Nunes de Moura (Quina), sua tia
também.
Apesar dos percalços enfrentados por seus pais, pode-se dizer que Aliete teve
uma infância feliz.
Muito comunicativa, desde pequena fez parte de dramas, pastoris, brincou de
circo, foi madrinha de times de futebol, foi anjo nas procissões, participou de
coroação de Nossa Senhora e um dia alimentou o desejo de fugir para Hollywood e
concretizar o sonho de ser atriz.
Cresceu ouvindo boa música e por ter voz bonita, cantou na matriz de São José
nos corais de dona Alexandrina Sobreira, dona Badú e Rosa Pau Ferro. Com
memória privilegiada, sabia de cor as valsas, baladas, canções e cançonetas,
que cantavam nas festas, nos bailes, na difusora e no rádio. Cresceu num
ambiente festivo da casa do seu avô paterno Terto Donato e na riqueza do
carinho de suas tias e do seu pai Quinca, seu maior incentivador.
Teve como primeira professora dona Umbelina Menezes, seguida de Antônia Moura,
Elina e Virgínia Sabino, Maria Belfort, Ameriquinha, Alaíde, Lourdes Siqueira e
Waldecy de Paula.
Foi também aluna da Escola Silva Jardim, no Recife, ainda hoje existente, onde
passou dois anos da sua vida (1936/1937), juntamente com sua irmã Auridete,
morando com sua avó materna Bubuzinha (Maria Rodrigues da Costa), no bairro do
Monteiro.
No ano de 1944 foi estudar no Stella Maris em Triunfo. Ali, naquele tradicional
educandário bebeu conhecimento e cultura, e estimulou sua aguçada inteligência,
aplicando os ensinamentos adquiridos na sua vida, até os dias de hoje.
A Igreja de São José foi o alicerce da sua fé, onde, além de ser batizada, fez
a sua 1ª comunhão em 1939.
Por intermédio de sua madrinha Francisca Costa, se associou ao Apostolado da
Oração. Participou da Associação de São José, do Anjo da Guarda, onde era
secretária.
Na Matriz de São José, foi uma das iniciantes da novena de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, de quem é muito devota, juntamente com a sua grande amiga e
comadre Mocinha (Maria do Carmo Gomes).
E mamãe cresceu assim: cantando roda e ladainhas, modas e ofícios. Dentro dela
as rezas cresciam, enchiam seu coração de esperança de ver o progresso
acontecer. Era uma menina querendo concertar o mundo que ela conhecia. Belmonte
era o seu mundo.
Mulher de garra, inteligente, espirituosa, determinada, habilidosa e audaciosa.
Uma mulher vaidosa, forte e sensível, amante da vida.Diante de tantos
predicados, logo apareceu um pretendente: Pedro Andrelino Nogueira. O casamento
então veio a se realizar, numa cerimônia singela, em casa dos pais da noiva no
dia 29 de junho de 1946, no povoado do Serrote. Época que seu Quinca Donato
estava morando ali, gerenciando uma usina de caroá.
Depois do casamento passou a ser Aliete Moura Nogueira.
Desse casamento tiveram seis filhos: Valdemir, Maria do Socorro, José Vital,
Pedro Filho, Valdir e Enildo.
Viveram por 51 anos, até que papai morreu. Foi uma vida alternada entre altos e
baixos como toda família. Mas mesmo nos momentos difíceis mamãe nunca desanimou
nem tirou da sua boca palavras de fé e risos de felicidade.
Sempre tivemos sincera admiração pela personalidade de nossa mãe. Admitindo-se
que seja possível abstrair os laços emocionais que nos ligam, aprendemos a ver
nela a personalidade invulgar que sempre foi.
De que estofo queremos que sejam montados nossos heróis? Se eles são como os
santos, seres em quem encontramos o modelo para nossas vidas, então dona Aliete
de Moura Nogueira tem todo o perfil característico dos verdadeiros heróis.
Sua vida é tão rica de lições e exemplos e ela sempre em frente sem perder o
entusiasmo, sem perder a esperança de ver tudo melhorar.
Boas lembranças ficam para sempre guardadas num cantinho especial da nossa
memória.
Lembrar o ontem de dona Aliete é lembrar a máquina de costura, os pés ligeiros
fazendo a máquina levar as linhas para o pano estirado no bastidor, correndo
para cima e para baixo fazendo nascer flores, frutos, peixes, pássaros, nos
bordados no linho...é lembrar dos pincéis e tintas misturados no tecido fazendo
surgir baianas com tabuleiros, holandeses de tamanco entre tulipas e moinhos, gueixas
com sombrinhas e ventarolas...é lembrar dos crochês e do ponto de cruz... é
lembrar das confecções femininas de adulto e criança, dos enxovais de noiva...
É pensar na cozinha, cheia de panelas e formas com os melhores gostos do mundo.
É pensar nas compoteiras repletas de doces que as frutas nos davam. É relembrar
os suspiros de açúcar adoçando nossa infância.
A doçura da nossa meninice vem nos ajudando a enfrentar as amarguras que
surgem. As mãos de dona Aliete, mesmo trêmulas, nos sustentam.
Envelheceu assim...Ainda espera dias melhores para todos que a cercam. Sempre
foi o suporte de tudo, a mola mestra que impulsionou sempre. Mãe dedicada
sempre deu o melhor de si, principalmente na saúde e educação dos filhos, no
intuito de ver o futuro assegurado, todavia, cada um seguiu o caminho que
escolheu.
Sem sombras de dúvidas, é realmente uma mulher extraordinária que enfrentou
desafios com inteligência e coragem. Fez valer seu trabalho artístico, fez
valer seu trabalho culinário. Sempre valorizando o simples e o belo. É uma
criatura com dotes singulares.
Todos têm mamãe como espelho e sentem o reflexo do maior amor do mundo dela por
nós e por tudo da nossa cidade.
Mário Quintana nos deixou uma quadrinha que diz bem o que agora vivemos:
Para louvar
nossa mãe
Todo bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer.
Mamãe!
Agradecemos a Deus pelos seus 90 anos.
Feliz Aniversário!
http://blogdomendesemendes.blogspot.com