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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Cangaço

O Bando de Lampião: o mais famoso grupo de cangaceiros da História do Brasil.

A prática do cangaço marcou um interessante momento da História do Brasil. Grupos de homens armados vagueavam pelos sertões, principalmente do Nordeste, buscando meios de sobrevivência, e o enfrentamento dos poderosos com o uso de suas armas e de sua coragem. Porém, seria somente dessa maneira que poderíamos compreender a prática do cangaço?

O próprio termo “cangaceiro”, em suas origens, faz referência ao termo “canga”, peça de madeira usualmente colocada nos muares e animas de transporte. Assim, a palavra cangaceiro, originalmente, faz uma alusão aos utensílios que os cangaceiros carregavam em seu corpo. Além disso, essa idéia heróica sobre os cangaceiros é equivocada. Os primeiros cangaceiros de que se tem relato eram, de fato, “prestadores de serviço” aos chefes políticos locais. Perseguiam e matavam os inimigos políticos dos coronéis de uma região.

Somente nos primeiros anos da República Oligárquica é que os primeiros grupos independentes de cangaceiros surgiram. Através de práticas criminosas esses grupos constituíram um grupo social à margem das estruturas de poder e das relações sociais vigentes durante o tempo das oligarquias. De acordo com seus interesses, os cangaceiros estabeleciam alianças com aqueles que oferecessem vantagens econômicas ou proteção às suas atividades.

Dessa maneira, não poderíamos dizer que o cangaço foi um movimento essencialmente comprometido com uma determinada classe social. Um dos primeiros cangaceiros que se tem registro é Antônio Silvino. Buscando vingar a morte do pai, ele formou um bando que lutava contra a polícia, promovia assaltos e armava “tocaias” contra autoridades governamentais. Anos mais tarde, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, formou um dos maiores e mais duradouros grupos de cangaço existentes na região Nordeste.

Sua família, de origem pernambucana, já se envolvia com a prática do cangaço. Fazendo parte, inicialmente, do bando de Sinhô Pereira, Lampião aprimorou sua habilidade em matar inimigos e realizar assaltos. Seu apelido foi criado devido a sua rapidez no gatilho e a luz que saia do cano de sua arma. Em 1922, ele passou a liderar o grupo de Sinhô Pereira.

Vários documentos demonstram as formas de ação do grupo de Lampião. Em algumas cartas de próprio punho, Lampião exigia o pagamento de quantias em dinheiro em troca da não-invasão às cidades. Estendendo sua ação e número de integrantes, o bando de Lampião chegou a atuar contra a Coluna Prestes, em 1926. Só no ano de 1938 que Lampião foi subjugado pelas forças militares do Estado. Os principais líderes de seu bando foram decapitados e tiveram as cabeças expostas em diferentes cidades nordestinas.

A decadência do cangaço tem grande ligação com o estabelecimento do Estado Novo. A criação de órgãos repressores mais atuantes e a desarticulação da influência exercida pelos grupos oligárquicos remanescentes podem ser apontadas como as possíveis razões para o fim desse movimento. Por fim devemos ver no cangaço, a crise provocada pelas relações excludentes que figuraram a construção histórica do próprio Brasil.


ROSÁRIO - MA, TERRA DO BOI BUMBÁ, FEITIÇO E CATIMBÓ

Por: Dr. Lima
Dr. Lima - ao centro

Cruz. Março de 1990. Dia chuvoso. Partimos em um caminhão Mercedes-Benz dirigido por José Afonso que transportava uma carrada de tijolos sobre a qual iam todos os meus móveis. Na cabine, eu, Maria e os dois meninos, Fabio e Paulo Andre. Cruzamos a Serra de Tianguá, Serra Grande ou Serra da Ibiapaba como é conhecida sob forte serração. Meia noite, fizemos uma pequena parada em um posto de abastecimento na divisa do Ceará com o Piauí, vizinho à cidade de Piripiri no Piauí. Às 13 horas, estávamos passando por Teresina Capital do Piauí. Após percorrer 930 Km chegávamos à cidade de Rosário, às 19hs. O primeiro contato com os comerciantes maranhenses foi para comprar um bico ou chupeta para Fabio, mas ninguém conhecia esta palavra. Após passar por vários comércios sem que os vendedores soubessem o que era chupeta, fomos informados de que havia um comerciante cearense na cidade, então nos dirigimos até o comercio dele, que entendendo a nossa língua, nos atendeu com a chupeta. Finalmente, chegamos ao nosso destino que era a Cerâmica Rosário que ficava do outro lado da cidade. No dia seguinte, retiramos os móveis e fui trabalhar como vendedor por sete meses quando resolvi voltar para Mossoró. Vedemos todos os móveis e fizemos o retorno de ônibus. Dia 31 de outubro, saímos da cerâmica às 6 hs e deixamos a cidade de Rosário às 9 hs pela empresa Itaguatur até São Luis, de onde viajamos para Fortaleza pela Expresso de Luxo. Em uma das caixas estava escrito o nome de Mossoró. Quando o motorista viu, perguntou se éramos de Mossoró e respondemos que sim. Então, ele nos disse que era natural de Apodi/RN. Viajamos com ele até a cidade de Campo Maior-PI quando houve troca de motorista. Chegamos a Fortaleza às 6 Horas, quando fomos informados de que estava saindo um ônibus da Viação Nordeste para Mossoró às 6h15. Ainda deu tempo de compramos as passagens e chegamos a Mossoró ao meio dia e 15 minutos.
Em Rosário, conheci muita gente boa, fiz amigos em São Luís, conheci seu Centro Histórico, os casarões de azulejo, as ruas estreitas, o museu, o centro comercial, o Bumba meu Boi, os costumes e as tradições do Maranhão. Em São Luís, o velho contrasta com o novo e o moderno. Confesso que uma das dificuldades que encontrei foi entender o linguajar de sua gente. “Qualira, Pé de curica, pisa maneiro e fica velhaco, estiva, bandeco, pititinga, pacamão, espocar laranja”.
Onde havia duas ou mais pessoas conversando, o assunto era Boi do Maranhão ou macumba. Em toda a cidade, encontrei apenas quatro mulheres de cor branca. O restante da população é de cor preta. São pessoas muito educadas e atenciosas. No dia 12 de outubro de 1990, um jovem de vinte e dois anos estudante de segundo Grau, assassinou um garoto de 7 anos. Foi preso, mas a população invadiu a delegacia no dia seguinte, arrebentou a porta do xadrez, retirou o criminoso e o mataram a pauladas e pedradas. Não queriam o seu sepultamento no cemitério, mas houve a intervenção do padre para que pudesse ser sepultado no cemitério. Lá o povo é amigo, mas mata por diversão. Na cidade, há uma grande presença de urubus que habitam as árvores e o teto das casas.
Certo dia Paulo Andre estava brincado com os amigos na ceramica do vizinho quando pisou em brasa e queimou o pé ficando dente por vários dias. Um fato curioso que me chamou atenção foi no dia em que eu caminhava pela Rua Grande no Centro de São Luís quando passou uma moça e uma multidão passou a segui-la, inclusive, um taxista que passava pela avenida, parou o taxi e segui à moça. Tratava-se de uma jovem que aparentava uns 20 anos, usava um short e conduzia uma pequena bolsa. Tinha os cabelos compridos e estatura média. Passei a segui-la até quando entrou em uma loja. Era bonita, mas nada de anormal.
Rosário é uma região que chove muito, mas o calor é intenso. Qualquer pinguinho de chuva vem acompanhado de muitos raios e fortes trovoadas.

Dr. Lima
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GORJEIOS E MADRIGAIS (Crônica)


Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Meu coração pastoril compôs uma canção para quem tem amor. Tão bela e solene, lisonjeira e graciosa, doce melodia que embala a brisa, esvoaça junto às asas do passarinho, certamente fluirá feito suave e aquecido orvalho nalgum coração apaixonado.

Busquei pelos cantos e baús os instrumentos musicais para compor a cantiga. Um velho alaúde, um clavicímbalo, uma harpa. Catei no pensamento distante, pois forçosamente recordando os tempos desde muito idos que sabia o que era amar, e me pus a juntar palavra com palavra, som e melodia, tudo como se constrói a pétala.

Não sei por que pensei em reviver assim tantos momentos bons, não sei os motivos de querer compor novamente uma poesia musical. O último madrigal que concebi feito joalheiro artesão, rude lapidador de pedra preciosa, não conta menos da metade da idade que tenho agora. E já sou mais velho que as sombras do porão.


Talvez a saudade me fizesse reinventar o brilho, a alegria, o prazer. Mas apenas a fortuna da criação, pois a composição em si, ainda que bela demais no que dedilha a paixão em versos sonados, chega ao outro como uma flecha ferindo o coração com o mel do amor. E muitos dizem que dói, e depois passa no primeiro abraço, no primeiro beijo.

Dizem ainda que são misteriosas as consequências dos madrigais nos recônditos e inocentes corações femininos. Após ouvirem a canção acompanhada de dolente instrumento, quase num murmúrio poético e musicado, as belas jovens correm aos espelhos, rasgam sonhos infantis, colocam as brincadeiras num canto e vão à janela namorar a vida. E não só a vida...

Muitas vezes, num tempo ido, bem pouco antes da metade da idade que tenho agora, fiz madrigais para apaixonar corações. Apenas um poeta, bardo de canção solitária, vate de rima sofrida, talvez jamais tenha conseguido colocar uma manhã na canção, um entardecer na cantiga, um noturno na melodia. E jamais amei através dos madrigais. E jamais amei através de nada.

Jamais amei, porém conheço muito bem o que é o amor, o seu significado, a sua extensão, as consequências e o seu poder curativo. Conheci o verso pelo reverso, não amando, conhecendo o amor. Dos meus olhos de lince, do meu romântico coração e da minha sabedoria da terra, chegaram as folhas secas com os escritos sobre tudo.

E certa vez me chegou uma folha de fim de outono contendo tudo sobre o amor. Estava tão frágil, magra e fraca, ressecada e ressequida, que nem falou. Mas li nas suas linhas cinzentas que um dia foi verdejante, que imponente quis amar, mas a vaidade primaveril foi lhe distanciando de tudo. Até que o vento passou avisando que o seu tempo na natureza já estava acabando.

Quando quis amar qualquer folha, eis que já era outono. E um dia ela se desprendeu do galho e foi trazida pelo vento até a porta da minha casa. De sua tristeza e aflição, percebi o porquê de a solidão ser amiga da ventania; do seu lábio sem cor percebi quanto doloroso é viver sem amor. E pelo sofrimento da folha aprendi a beleza do amor.

Por muito tempo tive medo de também me tornar folha seca, ressequida, e também ter o mesmo destino nas mãos do vento. Sem amor, sem ser amado, ainda assim jamais desprezei a fortuna desse sentimento maior. Porque não coube a mim sua dádiva não hei de maldizer os que amam.

Por isso mesmo componho madrigais para os amantes. Quem amar e quiser presentear seu bem-querer com uma canção pastoril, pode aparecer por aqui que coloco a melodia numa garrafa, fecho-a bem fechadinha e depois ensinarei como fazer para ecoar a melodiosa cantiga, o madrigal dos amantes. Basta avistá-la e abrir os braços. A garrafa cairá e a canção se espalhará ao redor.

Ontem mesmo compus um madrigal maravilhoso. Mas este guardarei só para mim. Logo ao alvorecer abri a porta e os passarinhos voaram em minha direção com pios, gorjeios, trinados e cantigas alegres da natureza. Da profunda alegria, do encantamento infinito com aquela presença, abri os braços e também voei.


E lá em cima, pertinho das nuvens, um passarinho que voava ao meu lado e cantarolava uma velha canção de ninho, de repente se virou e disse que aquele gorjeio era com saudade de alguém. Mas apenas saudade, pois agora se bastava amando o seu próprio canto.

Quando pousei cantarolei como o passarinho. Lembrava do seu gorjeio e de sua saudade. Então nasceu um madrigal tão melodiosamente triste, tão parecido comigo, que este não darei a ninguém. Guardarei a partitura no meu coração para sempre, nem cantar cantarei mais. Não quero mais sofrer. Não quero mais sofrer...

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com



Luiz Gonzaga: O Centenário de Luiz Gonzaga em Novo Livro do erscritor João de Sousa Lima

 Dia 27 de Julho de 2012, no Lindinalva Cabral,  lançamento do mais novo livro do escritor João de Sousa Lima. O livro é uma homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga narrando também a passagem do Rei do Baião em Paulo Afonso, cidade que concedeu o título de cidadão pauloafonsino por sua música dedicada a nossa história. 
O livro contém várias fotos inéditas de Luiz Gonzaga em Paulo Afonso e alguns amigos da cidade.
A obra Literária será comercializada ao preço de R$ 25,00 e pode ser adquirida diretamente com o autor:
João de Sousa Lima
Telefone: 75-8807-4138 ou 9101-2501
email: joaoarquivo44@bol.com.br / joao.sousalima@b

Scans: Revista "A província nº 06 - Crato-Ce, Junho de 1994


“A saga de Sinhô e Luis Padre"

Recebi  do amigo Artur Carvalho, uma sensacional matéria do escritor cearense Hilário Lucetti,  a qual passo ao conhecimento dos rastejadores para um maior esclarecimento,  acrescentamos  " algumas  fotos ", para ilustrar  a excelente matéria...vejamô-la .

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A cangaceira Sila de Zé Sereno


Sou boa corredora, e por isso escapei do cerco que matou Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros que tiveram suas cabeças decepadas e exibidas pelo Nordeste. Participei do cangaço por dois anos, depois que Zé Sereno me seqüestrou para ser sua mulher.

Nasci em Poço Redondo, interior de Sergipe, às margens do rio São Francisco. Na minha casa, éramos oito irmãos – seis homens e duas mulheres –, sou a sexta filha. Meu pai tinha uma pequena fazenda. Quando eu tinha 6 anos, minha mãe morreu, nem sei de quê. O povo diz que foi de nervoso. Era uma vida sacrificada. Mas tínhamos uma família unida, meu pai nos ensinou a ter respeito pelos mais velhos, a ser honestos e a ter personalidade.

Desde menina eu escutava histórias sobre Lampião, mas achava difícil ele chegar ali. Só que um dia ele passou pela cidade. Eu estava na casa de minha madrinha, e os coiteiros [sujeitos que protegiam os bandidos] foram avisar meu tio que os cangaceiros estavam chegando. Ele tinha uma venda e poderia ser assaltado. Meu tio trancou eu e minhas primas num quarto. E eu louca para ver Lampião! Deitei no chão para espiar por debaixo da porta. Eles levaram açúcar, bolachas e foram embora. Só vi os pés dos cangaceiros.

Eu tinha uns 12 anos quando papai morreu, e meu irmão mais velho, João, é quem tomou conta da gente. Eu estudava na cidade, só ia para a fazenda nas férias. Corria o boato de que os cangaceiros seqüestravam as moças e, como eu era bonitinha, cheia de luxos, meu irmão tinha medo de que eu fosse à fazenda: 'Os cangaceiros podem lhe carregar'. Foi ele falar, no dia seguinte cinco deles invadiram nossa fazenda.

Mandaram a gente preparar uma galinha e era para eu levar até o riacho, onde eles estavam acampados. Eu disse que não iria, mas meu irmão achou que seria pior. Fui caindo pelo caminho, de medo. 

Zé Baiano

Tremia tanto quando entreguei a comida para o cangaceiro Zé Baiano que ele disse: 'Menina, nós não vamos fazer nada com você'. E me deu um anel, que não aceitei. Fui para casa e comecei a arrumar a mala para fugir quando Zé Sereno, o chefe do bando, apareceu e ameaçou: 'Volto daqui a oito dias para te carregar. Não adianta fugir. E não conte para ninguém'.

Guardei segredo os oito dias todinhos, morrendo de angústia. Tinha medo de que fizessem mal à minha família. No dia marcado chegou o bando. Fizeram uma festa na fazenda. E eu triste, pedindo a Deus que Zé Sereno não quisesse mais me levar. 

Neném do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita

Dancei com Luís Pedro, que estava com Neném, sua mulher. Ao amanhecer, Neném me disse: 'Sila, se prepare que a gente vai embora'. Imaginei que, se não fosse, matariam minha família.

Fui com a roupa do corpo. Meus irmãos nem me viram sair e, mesmo que tivessem visto, quem era louco de reclamar? Fomos andando pelo mato, calados. Zé Sereno na frente, eu atrás.

Era tudo tão estranho, parecia que eu flutuava. Eu chorava quietinha, e Neném me dizia que não adiantava chorar. Se a gente pisava numa pedra e tirava do lugar, os homens colocavam de novo, para não deixar pistas para os macacos [policiais].



Zé Sereno não tinha aparência ruim: era baixo, de tipo nortista e tinha uns 20 anos. Ganhou o apelido de Sereno por causa do temperamento. Mas eu estava morrendo de medo dele.

À noite, ele estendeu um cobertor em cima de uma pedra, e tive de me deitar com ele. Foi assim minha primeira noite. Fui sabendo que a partir daquele dia seria sua mulher. Naquela época o marido era um só, não tinha esse negócio de separação. Ele nunca me maltratou, mas tinha o jeito dele, a grossura dele. No dia seguinte, paramos em uma fazenda e a volante [grupo de policiais] apareceu. Nesse tiroteio morreu Neném. Apesar de termos passado só um dia juntas, ela foi minha primeira amiga ali. Eu só chorava, desesperada.

Dali fomos encontrar Lampião, que estava acampado em Sergipe. No caminho, outro tiroteio. Comecei a pegar prática de fugir correndo. Chegando no acampamento, Lampião me olhou e deu uma bronca no Zé: 'Como, uma menina?'. Zé respondeu que eu era a mulher ideal para ele. Eu imaginava Lampião baixo, e ele era alto, magro. Simpático, mas de pouca conversa.

Maria Bonita me chamou para ir à barraca dela e trocar de roupa, porque eu ainda estava do jeito que saí da fazenda. Me deu um vestido dela de brim, enfeitado com passamanarias. Ficou enorme. Ela era mais gorda e mais baixa do que eu. Maria era divertida, inquieta, chamava a atenção, mas não era tão bonita. Tinha muita mulher bonita no mato. As que conheci melhor foram ela e Dulce, mulher do cangaceiro Criança.

No dicionário, cangaceiro é bandido. Mas o Lampião da história oficial não é o mesmo que conheci. Bandido, essa palavra a gente não pode tirar. Mas ele só era bandido para quem era para ele também. Ele se preocupava com a moral do bando, tinha amizades, considerava as pessoas, as crianças. E era muito religioso, rezava de manhã e à tarde.

Nunca presenciei um ato de selvageria. Às vezes ficava sabendo de execuções necessárias à segurança do bando, mas nunca vi tomarem nada dos pobres, ao contrário. Quando chegava nas casas, se a moça ia casar, a gente dava o enxoval todo. Se via criança passando fome, o que a gente tinha dava. Nossa riqueza era a polícia nos deixar em paz.

De noite, se não tinha perseguição, a gente tirava os bornais [bolsas de pano que usavam a tiracolo], estendia uma coberta. Senão, era só encostar em uma árvore. Dormia debaixo de chuva, de xiquexique [cacto]. Nunca mais deitei numa cama nem sentei em uma mesa para comer.

A comida principal era bode assado. De vez em quando matavam um boi roubado. Quando não tinha nada, comíamos jacuba, uma mistura de rapadura com farinha e água. Eu tinha vontade de comer arroz, mas era difícil.

Às vezes eu ficava no coito [esconderijo] com Maria Bonita. Lampião ia encontrar amigos e deixava uns cangaceiros com a gente. Ali, um respeitava a mulher do outro, não tinha bagunça. Falam que os cangaceiros eram machistas, mas isso dependia da inteligência da mulher. No nosso bando eles respeitavam muito a nossa opinião, mesmo que a gente não tivesse muita função nas lutas. Nos curtos períodos de trégua, as que sabiam costurar costuravam. Tínhamos máquinas de manivela. Apesar da vida dura do sertão, os cangaceiros eram vaidosos, gostavam de usar jóias e roupas enfeitadas.

Uns dois meses depois da partida, engravidei e fiz o enxoval do meu filho todinho no mato. Fiz camisinhas em opalina, tecido fininho, tudo cor-de-rosa, bordadinho à mão. E nasceu homem. Mas, com dois dias, tive que dar ele. Era proibido ter crianças no bando: dificultaria as caminhadas e o choro seria uma pista. Ao nascer, a criança era levada por um coiteiro para alguém criar.

Tive meu filho embaixo de uma árvore, Maria Bonita foi a parteira. No outro dia Lampião jogou uma agüinha na cabecinha dele, rezou um padre-nosso e o batizou como João do Mato. Aí o coiteiro chegou, e chorei muito. Dobrei as roupinhas dele e mandei entregar para uma pessoa de minha confiança. Meu leite demorou a secar e fiquei muito deprimida. Soube depois que com seis meses João adoeceu e morreu.

Eu não tinha muita noção do que era o cangaço. Apesar de ser considerado um movimento revolucionário, naquela época ninguém pensava assim, nem Lampião. Era o jeito de sobrevivermos sem obedecer aos coronéis. Eu achava que aquilo não era vida de gente. Mas não tinha saída.

Nos tiroteios, eu rezava muito, era tudo caindo, e eu rezando. Uma vez, tinha tanto macaco em volta que a gente não podia mais andar. Um tiro passou perto da minha cabeça e levantou um tampo de terra do chão. Vi muita gente morrer na minha frente, mas, engraçado, nunca pensei na morte.

Apesar do sofrimento, entrei no espírito do grupo. Andava com um punhal e uma pistola 'máuser' pequenininha, que dava cinco tiros, igual à de Maria Bonita. Mas só usei uma vez, para libertar o Zé. Ele entrou em uma casa e um homem o derrubou no chão. Por causa do peso do armamento, quando um cangaceiro caía, era difícil levantar. Eu cheguei na hora, peguei minha pistola e falei: 'Se não soltar ele agora, eu mato'. Depois Zé falava para todo mundo que, se não fosse eu, ele tinha morrido.

Lampião em Nossa Senhora da Glória, no Estado de Sergipe

Por: Juarez Conrado

Em 1929 Lampião visitou o município de Nossa Senhora da Glória. Nesse dia, Lampião chegou a uma roça, onde antes do almoço servido ao seu bando, solicitou "um golinho de conhaque" para matar o verme. Descontrolada com a presença daqueles facínoras, a dona da casa, chamada Chica da Roça, disse que naquele momento era impossível adquirir o conhaque, pois não dispunha de dinheiro. 

Lampião não ficou zangado, apenas deu-lhe uma certa quantia de dinheiro, dizendo-lhe que ela adquirisse. E assim foi feito. Ela comprou o conhaque e guardou, esperando o retorno do facínora. Porém os seus familiares baldearam o coreto, aconselhando-a que envenenasse a bebida.

Ao retornar ao local, pouco tempo depois, Lampião mostrou-se ao ver a presteza da mulher, que antes mesmo fosse solicitada, colocou a bebida sobre a mesa. 

Mas uma das filhas da mulher, não se sabe o porquê, revelou tudo ao bandido. Apoderado de ódio, Lampião resolveu castigar severamente a infiel coiteira, porém sem matá-la. Obrigou-a a despir-se e, com algumas vergastadas nas costas aplicadas por Cainaro e Zabelê, fê-la subir em alguns pés de mandacaru, cheios de espinhos. Foi a única violência praticada em Glória pelo governador do sertão.

Extraído do livro:
Lampião assaltos e morte em Sergipe.
Autor: Juarez Conrado
Página: 149
Aracaju - Sergipe - 2011
Por: João de Sousa Lima

Nicy é uma artesã que trabalha apenas por prazer e amor a arte, sua produção em biscuit transforma a paisagem do cangaço em miniaturas.


As várias peças geralmente são presenteadas aos amigos, porém se alguém tiver interesse pode adquirir algumas esculturas por um valor que varia entre R$ 30,00 e R$ 60,00. Contato da artesã: 075-9108-2113 ou 8807-9668

Maria Bonita e Lampião em uma pose de combate.

O descanso dos Reis do Cangaço

O casal com a presença dos cachorros


Maria Bonita na cena clássica de uma das famosas fotografias

A Rainha do Cangaço

Maria Bonita na cena clássica de uma das famosas fotografias

Maria Bonita

Várias peças formando um belo conjunto artesanal com um cenário natural.

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço: 
João de Sousa Lima








Lampião e Maria Bonita - Conheça os Cangaceiros do Sertão brasileiro


Quando eu tinha oito anos eu vi essa série de TV baseada em uma história verdadeira chamada Lampião e Maria Bonita. Aconteceu nas terras secas do Brasil Sertão, um pouco semelhante ao e não muito longe, a região de Crisópolis, onde meu avô Octavio tinha resolvido sozinho em uma casa, no meio do nada, depois de deixar a cidade grande de uma vez por tudo
Lembro-me de ter guerras de tomate cereja com meus irmãos, colhendo algodão das árvores no seu quintal e comer sua polenta. Também me lembro de olhar para a lua da varanda e do sentimento oprimido pelo seu poder, o seu mistério, e pelo fato de que ele certamente sabia tudo sobre o meu futuro (mas ele não quis me dizer). Em termos de paisagens, eu não sei onde as memórias deste final séries de TV e onde os da minha infância na fazenda pouco avô Octavio de começar.
Nesta história da televisão Lampião morto e roubado como um louco, mas era também um homem honrado, porque ele ajudava os pobres. Ele odiava a polícia e os proprietários de terras, e teve o amor mais bonito, Maria Bonita. Juntos, eles conquistaram o mundo e fez dele um lugar melhor para estar, para alguns. No final, ambos foram finalmente capturado e decapitado sem piedade, suas cabeças rolando no chão como dois melões ao som de  Mulher Nova, Bonita e Carinhosa -uma música épica cantada por Amelinha, que ainda é um dos meus preferidos de sempre.
Como eu vim a saber, Lampião foi o maior representante do cangaço, um fenômeno social que teve lugar no Nordeste do Brasil no final dos anos 19 e início do século 20. Bandidos armados, conhecidos como cangaceiros reagiu contra a dominação dos proprietários de terras e do governo e começou a agir como bandidos perambulando pelas terras áridas do  Sertão. Devo acrescentar que a pesquisa feita nos tempos mais recentes, afirmou que Lampião não era menos de um ladrão do que qualquer outro, fazendo acordos com coronéis e roubar de ninguém, até mesmo os pobres. A sua é uma história cheia de contradições.
Os cangaceiros realizada hábitos nômades e usava roupas de couro e chapéus para proteger seus corpos da vegetação espinhosa da região durante suas aventuras. Eles estavam sempre prontos para enfrentar todo tipo de situação e sabia muito bem o território, o que os tornava muito difícil de ser pego pela polícia. Eles sabiam onde encontrar as ervas água, comida e medicamentos, tinha meios de salvamento e esconderijos. Eles desenvolveram os truques mais incríveis para evitar a captura, como o uso de sapatos de pele de coelho para não deixar pegadas ou andar para trás através de um caminho que acabara de entrar, tudo como uma maneira de confundir a polícia. E as histórias são tais e tantas que não se pode mais mito separado do fato.

   
Tudo o que disse, fui surpreendido algumas semanas atrás, quando eu corri para este vídeo no You Tube. É um filme de Lampião e seu bando feito em 1936 pelo libanês Benjamin Abraão fotógrafo amador, que convenceu Lampião para documentar sua vida em vídeo, só trabalhar a seu favor. Benjamin se diz ter sido um pouco carismático e obteve acesso total ao Lampião, seu povo e seu estilo de vida incomum, oculto. O resultado foi de 2 horas de filmagem que, confiscada pela polícia logo depois que ele saiu, permaneceu esquecido por cerca de 25 anos. Muito pouco do que permanece intacto ...
Momento Aula Viva:
Aprenda a cantar um trecho da Mulher Rendeira, que segundo muitos foi apresentada pela próprio Lampião. É divertido! E talvez na próxima reunião Viva Aula estaremos tocando pandeiros, chocalhos, e dançando e cantando ao som de uma das mais marcantes canções folclóricas brasileiras.
Olé mulher rendeira 
Olé mulher rendar
Tu me ensina fazer uma renda
Que eu te ensino a namorar