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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

SANTO ANTONIO DA GLÓRIA, UMA CIDADE SUBMERSA PELAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO

Por João de Sousa Lima

Santo Antônio da Glória era uma cidade de referência na Bahia nas décadas de 10, 20 e 30.

Seu chefe político o coronel Petronilo de Alcântara Reis foi um homem de expressão para seu tempo.

chegou aser amigo do cangaceiro Lampião e depois se desentenderam e lampião tocou fogoi em suas fazendas.

A cidade encontra-se embaixo das águas do Rio São francisco, depois que construiram a barragem de Itaparica, Usina Luiz Gonzaga.




CACHOEIRA DE PAULO AFONSO 2

Por João de Sousa Lima

Rara foto da cachoeira de Paulo Afonso onde vemos Marcondes Ferraz com sua equipe. 

A foto hoje pertence ao acervo da fundação Getúlio Vargas.


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CACHOEIRA DE PAULO AFONSO

Por João de Sousa Lima

Cachoeira de Paulo Afonso em foto de Marcondes ferraz, hoje pertencente a fundação Getúlio Vargas.


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OS CANGACEIROS ANTONIO SILVINO E ZEZÉ PATRIOTA E SUAS AVENTURAS EM ITAPETIM, PERNAMBUCO.

Por João de Sousa Lima

As intricadas veredas do nordeste serviram de caminhos para os vários bandos de cangaceiros, assim como fazendas, sítios e roças, dos homens simples aos mais abastados criadores da época, foram passagens desses grupos. Os catingueiros tinham suas residências visitadas tanto pelos que andavam “à margem da lei”, como pelos que se diziam defensores delas.

A cidade de Itapetim, em Pernambuco não fugiu a regra: Antonio Silvino (Foto ao lado) pisou aquelas terras.

Segundo a história registrada em livros, o povoamento daquele município começou em 1885, sob a orientação do Senhor Amâncio Pereira, que deu início a construção das primeiras casas. Graças ao seu esforço e espírito progressista organizou-se uma feira e a primeira casa de comércio, que marcou a evolução do povoado.


Marcos e João de Sousa Lima na casa visitada pelos cangaceiros

É fácil desmistificar essa data, pois fazendo uma pesquisa mais detalhada encontramos casa com datas gravadas nas madeiras, registrando o ano de 1814.

Em 1890 foi erguida uma capela em homenagem a São José do Egito, coube ao padre José Gomes, a celebração da primeira missa. Outro templo, mais amplo, foi construído em 1914, com a finalidade de acomodar maior número de fiéis.


A dupla próxima à árvore onde os cangaceiros amarraram os burros.

O primeiro nome de povoação foi Umburana, em virtude da existência de uma árvore de igual denominação na localidade. Posteriormente passou a ser conhecida como São Pedro das Lajes. O terceiro nome foi Itapetininga e, finalmente, em 1943, por decreto lei nº 952, passou a ser Itapetim.

Entre as várias construções ali existentes, a casa do casal Emídio Ferreira de Lima e Maria Ferreira da Conceição era uma dessas residências, em suas madeiras e paredes, apesar de abandonadas, ainda estão registradas essas datas. A casa foi construída nas proximidades do Riacho do Gato, um dos afluentes do Rio Pajeú.

Data da construção da casa.

Antonio Silvino se dividia entre a Paraíba e Pernambuco, Itapetim faz essa divisa com Teixeira, são dois lugares conhecidos por ter nascido grande cantadores repentistas.

No Sítio Prazeres (tinha esse nome Prazeres por ser o lugar das danças realizadas pelos escravos que ali viveram) Maria Ferreira da Conceição e Emídio Ferreira de Lima viram surgir o famoso Antonio Silvino e seu grupo, o cangaceiro apenas solicitou água e alimentação; Maria serviu alguns biscoitos “Mata-Fome” ou Bolachas Pretas, feitas de rapadura.

Os cangaceiros devoraram a saborosa iguaria e Antonio Silvino, depois desse primeiro contato, sempre que possível passava nessa residência para apreciar as bolachas feitas por Maria, acabaram tornando-se amigos.

Além de Antonio Silvino, outros grupos de homens armados apareceram na região. Um desses grupos era chefiado por Zezé Patriota.
Aspecto atual da Casa de Maria Ferreira da Conceição.


Como sempre nos rastros dos cangaceiros vinha às volantes policiais, aquela região passou a ser também caminho dos soldados. O tenente Alencar fazia diligências contínuas por lá.

Um dia de feira o tenente chegou entre os feirantes e prendeu Caboclinho Patriota, o tenente forçou o rapaz a dizer o itinerário dos cangaceiros que andavam com seu irmão Zezé; Caboclinho aproveitou um descuido do tenente e fugiu no meio da feira; Na mesma hora o tenente encontrou outro irmão do cangaceiro: Levino Patriota.

O jovem foi espancado e forçado a dizer quais eram os lugares percorridos pelo irmão cangaceiro. O jovem acabou contando ao tenente sobre o paradeiro do irmão. O tenente seguiu com o grupo até a fazenda São Pedro, os cangaceiros foram cercados, o tiroteio foi intenso, morrendo Bernardo Nogueira, apelidado de Repentista. O tenente continuou sua busca, indo ao Sítio Mucambo.

Chegando ao sítio, novo cerco foi armado, tiros pipocaram, o combate durou pouco, como saldo dos disparos, morreu Zezé Patriota, o restante do grupo, sem a voz de comando do chefe, partiu mato à dentro, em disparada. Os familiares de Zezé Patriota o enterraram em Itapetim. Como registro daquela época, resta uma cruz tombada e carcomida que marca o lugar do tiroteio, onde Zezé caiu morto.

A casa do casal Emídio Ferreira de Lima e Maria Ferreira da Conceição, ainda está lá, teimando contra o tempo, semi destruída, como imagem querendo perpetuar um tempo que não volta mais.

Nas palavras emocionadas de minha entrevistada Antonia Dias de Oliveira, neta do casal citado acima e do seu filho Marcos, ouvi sobre esse tempo de lutas, histórias que o tempo não apaga.

Na visita a velha casa, durante alguns minutos observando-a, transportando-me no tempo, imaginei sentir o cheiro da fabricação da saborosa bolacha preta, a mata fome, que tanta fome matou, nos confins das terras, no mais distante rincão, da região banhada pelo adorado Rio Pajeú.

João de Sousa Lima é Pesquisador e escritor.
Paulo Afonso madrugada do dia 20 de dezembro de 2010.


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DOS CICLONES À JOÃO GUIMARÃES ROSA...

Um dos clássicos da literatura brasileira sem dúvidas é a Obra inigualável de Guimarães Rosa; Grande Sertão Veredas... Mia Couto, pseudônimo de António Emílio Leite Couto, festejado escritor e biólogo moçambicano, em conferência no Sesc Palladium, apresentou sua forte ligação com Rosa e com o romance Grande Sertão . A conferencia aconteceu em abril de 2019, exatamente um mês após a dramática passagem do ciclone Idai por sua cidade natal, Beira em Moçambique, trazendo dor e desespero àquela nação africana.

 "Diz-se que um livro só começa a existir quando o lemos pela segunda vez. Confesso que o Grande sertão não foi, para mim, um livro fácil. No início, resisti como quem se apercebe que precisa de reaprender a ler. Aquela língua era e não era a minha língua. Eu já tinha lido os contos de Rosa, mas o Grande sertão era uma outra coisa"...

Mia Couto nasceu e foi escolarizado na Beira, cidade capital da província de Sofala, em Moçambique - África. Adotou o seu pseudônimo porque tinha uma paixão por gatos. Com 14 anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal "Notícias da Beira" e três anos depois, em 1971, mudou-se para a cidade capital de Moçambique, Lourenço Marques , hoje Maputo. Iniciou os estudos universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações em Setembro de 1975, por colonos que se opunham à independência. Foi nomeado diretor da AIM e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias até 1985. Além de considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, é o escritor moçambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana.  

Escritor Moçambicano Mia Couto 

A conferência do escritor Mia Couto aconteceu em abril de 2019 no Sesc Palladium e transcrevemos aqui algumas de suas reflexões a partir do texto do jornalista Carlos Marcelo para o portal do "Uai E+": "... A conferência de Mia Couto, na noite de quarta-feira, foi precedida  pela apresentação de integrantes do grupo Miguilim, de Cordisburgo (terra natal de Rosa), ovacionado depois da interpretação vigorosa de trechos de Grande sertão. Antes de falar sobre a obra máxima do escritor mineiro, Couto narrou o impacto emocional sofrido ao visitar Beira, cidade onde nasceu em 1955 e viveu até os 17 anos, devastada no mês passado por um ciclone. "Estou a escrever um livro sobre a minha infância e senti uma imperiosa necessidade de rever esses lugares infinitos onde não paro de nascer", contou... "Posso dizer que foi na prosa de João Guimarães que encontrei o retrato mais fiel deste país. Talvez porque a sua intenção não seja a verdade, mas a viagem, essa viagem que Rosa chama de travessia." A seguir, trechos da conferência de Mia Couto no Sesc Palladium.

Ciclone Idai devastou várias cidades de Moçambique  e da costa leste do sul da África, 
nos dias 14 e 15 de março de 2019

"Fiz uma visita à minha cidade (devastada pelo ciclone). Sobrevoei Beira e confirmei o que sentira desde o princípio: eu estava órfão da minha infância. Fui o último a sair do avião como se receasse não saber pisar aquele que foi o meu primeiro chão. Em criança, não nos despedimos dos lugares. Pensamos que voltamos sempre. Acreditamos que nunca é a última vez. Aquela visita dizia o contrário. E eu experimentava o amargo sabor do adeus. Abracei meus amigos no aeroporto sabendo que lidávamos todos com uma ferida que era maior que corpo. Eu pensava que os ia consolar. Aconteceu o oposto: foram eles que me reconfortaram. Eles já estavam reerguendo casas, refazendo tetos, reabrindo ruas. Enquanto reconstruíam a cidade, eles se refaziam a si mesmos. A mim faltava-me essa labuta que converte a lágrima em suor. No final da visita a Beira, eu pensava: 'vou ao Brasil e falarei, sim, sobre Guimarães Rosa com prova de gratidão para com toda a literatura que nos chegou da nação brasileira'. Rosa já antes me tinha brindado com vozes que nasciam para além do tempo. Ficavam. Agora ele me devolvia o chão que pensara ter perdido. Eis o que Rosa me voltava a ensinar: aquela minha cidade não era apenas um lugar. Era uma entidade viva que me tinha trazido ao colo e me tinha contado histórias."

"Tal como o sertão de Rosa, a minha cidade é mais da palavra do que da terra. Os nosso lugares de afeto são sempre mais da linguagem do que da geografia. Os territórios onde nascemos são, como diz Rosa, esses pastos que carecem de fecho. Agora sei: nenhum ciclone me pode roubar essa pertença.A escrita de Rosa recuperou uma infância que já foi a minha e não distinguia fronteira entre o corpo e o mundo. Essa fronteira, essa vereda, nasce muito depois de nascermos. A linguagem comum, a linguagem funcional – essa que Rosa combateu de modo visceral – essa linguagem envelhecida é talvez a mais poderosa lâmina que nos afasta do mundo. Somente renovando a língua é que se pode renovar o mundo. O que chamamos hoje de linguagem corrente é um monstro morto. A língua serve para expressar ideias, mas a linguagem corrente expressa apenas clichês e não ideias; por isso está morta, e o que está morto não pode engendrar ideias. E esse monstro nos divide e asfixia."

João Guimarães Rosa

"Tudo em Rosa parece feito de contrários, peças de puzzle que não encaixam. Este médico devia incorporar o rigor da ciência frente a um corpo doente. O que ele acabou fazendo foi tratar a alma de um mundo sem alma. Este diplomata que foi chefe da Divisão de Fronteiras dedicou toda a sua vida a abolir fronteiras. Derrubou fronteiras que separam o pensamento do sonho, que separam a poesia da prosa, a oralidade da escrita. Este diplomata do Itamaraty que, nas palavras de Drummond de Andrade, não foi senão um "embaixador de um reino que há por trás dos reinos, dos poderes, reino cercado não de muros, chaves, códigos, mas o reino-reino?". Este poliglota que dominava oito línguas acabou escrevendo num idioma que era anterior a todos os outros idiomas. Esse que foi cônsul brasileiro na Alemanha nazi juntou-se à sua esposa Aracy para salvar judeus das mãos de Adolf Hitler. Rosa reuniu todos estes Rosas por trás desse seu retrato de homem composto, trajando terno e gravatinha que sugeriam tudo, menos esse intempestivo criador de mundos." 

"O Brasil é um espaço de mestiçagens de mundos diversos. A questão sempre foi como colocar em diálogo os que falam e os que escrevem este país. João Guimarães Rosa conseguiu que essa conversa acontecesse nos seus livros. E ele fez isso não tanto pela inovação linguística, mas pela dimensão poética da sua escrita. É na poesia que ele se coloca em diálogo consigo mesmo. Não se pode esperar que João Guimarães Rosa tenha a mesma popularidade que Jorge Amado. Rosa é um escritor bem mais difícil, mais impenetrável. Contudo, ele marcou profundamente escritores como Luandino Vieira, Ruy Duarte de Carvalho, Ascênsio de Freitas, Ondjaki. Para não falar de mim, que sempre reverenciei Rosa como um dos meus mestres." 


"Publiquei o meu primeiro livro de contos, em 1985, muito influenciado pela escrita do angolano Luandino Vieira. Quando confessei essa influência a Luandino, ele me disse: 'Se queres que a linguagem seja um personagem vai à fonte e procura por João G. Rosa'. E foi isso que sucedeu quando, dois anos depois, recebi uma fotocópia de A terceira margem do rio. Eu estava a escrever o meu segundo livro de contos. E nota-se claramente que há um antes e depois na minha escrita. É evidente que a linguagem cotidiana é absolutamente necessária. Não viveríamos sem ela. O problema é a relação hegemônica que esta linguagem mantém com as outras muitas linguagens que são nossas por natureza e por direito histórico. Nós acabamos sendo funcionários dessa linguagem funcional. Fechamo-nos a outros saberes, outros sabores, outros sotaques. Sem querer nos juntamos a uma velha cruzada de dessacralização da terra e da natureza. À nossa volta tudo se tornou cenário. A paisagem ficou muda, cega e sem alma. Essa falsa apropriação do mundo tem um preço: para ser donos, deixamos de ser sujeitos. Para ter domínio, deixamos de ser autores da nossa existência. Acabamos personagens descoloridas de um enredo escuro e pobre." 

"Dizem que Grande sertão foi escrito em Paris. E faz sentido a pergunta de Drummond: 'Rosa tinha pastos, tinha buritis plantados no seu apartamento?'. O que dali resultou é mais milagre do que obra. Porque ele usou o regional para fazer um texto profundamente universal; brincou com o pitoresco para fazer filosofia; usou a fala popular para fazer uma literatura nova e inovadora. Riobaldo não é apenas o protagonista-narrador. Ele é um contrabandista entre a cultura urbana letrada e a cultura oral sertaneja. Esse é o desafio que enfrenta o Brasil (e que enfrentam todos os Brasis do mundo). Mais que um ponto de charneira necessita-se hoje de um médium, alguém que usa de poderes para colocar em conexão criaturas de distintos universos. Necessita-se da ligação com aquilo que Rosa chama de "os do lado de lá". Esse lado está, afinal, dentro de cada um de nós."

"Grande sertão: veredas percorre as grandes inquietações da humanidade: o bem e o mal, o sentido da existência, a briga entre Deus e o diabo, o conflito entre a vontade e o destino."


"Moçambique é uma nação plural, com várias nações, povos, culturas, e religiões. Essas nações, essas gentes enfrentam hoje o seguinte desafio: todas têm que ser modernas, parecidas umas com as outras, todas devem partilhar de uma mesma grande nação chamada Mercado. Os moçambicanos olham o futuro com desconfiança. Porque esse futuro vai chegando sem pedir licença, o futuro fala uma língua estrangeira, esse futuro não tem tempo. Devia haver futuros, no plural. Devia haver modernidades, cada uma com o seu desenho, a sua cor, o seu compasso. Numa palavra: prevalece em Moçambique um contexto histórico que tem fortes semelhanças com o ambiente vivido no Brasil à data em que Rosa construía a sua obra."
 
"Grande sertão é uma obra de resistência. O sertão é erguido em mito para contrariar uma certa ideia uniformizante de um Brasil em ascensão. Rosa não escreve sobre o sertão. O brasileiro escreve como se ele fosse o sertão. Um sertão que se enche de estórias para contrariar o curso da história. O que os novos poderes pedem não é apenas que as pessoas se retirem do sertão. Pedem que o sertão se retire delas. Vivemos em Moçambique esse mesmo confronto de mundos. Rosa coloca os mundos de sertão em diálogo. Em Moçambique, nós precisamos saber que esses mundos e esses tempos podem conversar. Eu fui brasileiro ao ler João Guimarães Rosa. Tal como fui brasileiro ao ler Amado, Machado, João Cabral, Drummond, Bandeira, e tantos, tantos outros. Fui brasileiro ao escutar Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil e muitos outros..."

"Quando me pergunto por que escrevo, eu respondo: para me familiarizar com os deuses que não tenho. Os meus antepassados estão enterrados no outro lado do oceano. Não partilho da sua intimidade e, mais grave ainda, eles me desconhecem inteiramente. Sempre que escrevo, convoco um tempo sonhado, invento os meus antepassados. Essa reinvenção exige uma perda radical da razão. Exige uma linguagem em estado de transe, uma possessão. Exige a poesia. Quem me trouxe essa poesia foi um mineiro de Cordisburgo"

Sesc Palladium, Abril de 2019 - Fonte: https://www.uai.com.br 


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LANÇADO: FLORESTA - UMA TERRA UM POVO


 Por:Leonardo Ferraz Gominho
Marina, Cristiano Ferraz, Nivaldo Cavalho, Leonardo Gominho e Luiz Ferraz


Aconteceu no último dia 25 de dezembro, noite de natal, na querida  e tradicional cidade de Floresta; no Sertão de Pernambuco; o lançamento da mais nova edição do segundo volume da obra “Floresta – Uma terra, um povo”; do pesquisador e escritor Leonardo Ferraz Gominho.
Leonardo Ferraz Gominho
 Leonardo Ferraz Gominho e Amelia Araujo
Leonardo Ferraz Gominho, Nivaldo e Denis Carvalho, Ricardo Ferraz

O autor, um das maiores autoridades em historia florestana, autor de várias obras de relevo e fôlego, conferencista em duas edições de nosso Cariri Cangaço, dá continuidade à exuberante e forte história de sua cidade, da sua gente, da saga desses sertanejos fortes que se estabeleceram na terras dos tamarindos. O Cariri Cangaço esteve representado pelo escritor Cristiano Ferraz e por Amelia Araujo.
O lançamento do livro aconteceu nos salões do Espaço Cultural João Boiadeiros e contou com a presença de um público qualificado entre autoridades, escritores e . A obra recebeu o número 15 da Coleção Tempo Municipal, do Centro de Estudos de História Municipal.
Espaço João Boiadeiro, Floresta-PE 25/12/2019
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ANTÔNIO MATILDE E OS IRMÃOS PORCINOS


Por Antônio Correa Sobrinho

A história do banditismo no sertão do Nordeste do Brasil, conhecido por CANGAÇO, imperante de anos do século XIX a meados do século XX, tem registrado em seus anais a atuação de notáveis bandoleiros, como Cabeleira, Jesuíno Brilhante, Antonio Silvino, Luiz Padre, Sinhô Pereira, Virgulino Lampião, Sabino, Corisco, e também os cangaceiros ANTONIO MATILDE e os IRMÃOS PORCINO, estes últimos, iniciadores, preceptores, mestres daquele que veio a se tornar o mais célebre dos cangaceiros que existiram no Brasil, considerado o “rei do cangaço”, o já acima citado VIRGULINO LAMPIÃO.



Fui buscar Antonio Matilde e os filhos de Porcino Cavalcanti de Lacerda, Antonio, Manuel, Pedro, gente das terras alagoanas, a fim de compor a coleção de textos que ora apresento, nos jornais pernambucanos, Diário de Pernambuco, A Província e o Jornal do Recife, e, um único informe, no diário carioca A Noite, publicações estas disponibilizadas na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional.

Detalhe: reuni somente as notícias e comentários trazidos a lume pelos sobreditos periódicos, nas datas contemporâneas ou relativamente próximas aos episódios dos quais fizeram parte Antonio Matilde e os irmãos Porcino, para, com isso, proporcionar ao leitor os primeiros escritos, as iniciais formulações históricas dos momentos germinais do cangaço produzido por Lampião.


Antônio Correa Sobrinho

São relatos onde se percebe, nas entrelinhas, o quão isolado e abandonado, pobre e desvalido encontrava-se o sertão nordestino naqueles remotos anos, terminais do Império e iniciais da República, tempo de secas prolongadas e fome epidêmica, condição esta, em boa parte, resultante da inexistência, ali, do Estado verdadeiramente promovedor de justiça e progresso, cultor do bem-estar social, cuja presença meramente formal, simbólica, omissa, seletiva, interesseira, terminou por transformar o adusto rincão nordestino num campo fértil de banditismo e messianismo, expressões de dor e sofrimento, brado de desespero de um povo.

Podemos também imaginar, lendo estes pequenos artigos, o que poderia não ter sido a vida cangaceira de Lampião, tão abrangente e impactante, caso ele tivesse deixado o cangaço, como o fizeram os seus sobreditos comandantes, Luiz Padre e Sebastião Pereira, bem como os seus monitores Antonio Matilde e os irmãos Porcino. Ao preferir continuar trilhando os caminhos da criminalidade organizada, o que o fez até às últimas consequências, Lampião terminou por herdar destes seus maiorais, um sem número de figadais inimigos, perseguidores vorazes e contumazes, ávidos por extirpá-lo da face da terra; como se não lhe bastassem os seus originais inimigos e os seus algozes das volantes. Lampião que terminou, por um lado, alastrando e agravando a grave e perniciosa doença social; e por outro, dizendo aos quatro cantos do mundo e do Brasil, com sua espetaculosa e beligerante atuação, ainda que de forma reflexa, inconsciente, da existência de uma nação chamada Sertão.

Outras coisas mais podemos retirar desta leitura. Agradecendo sempre ao meu filho Thiago, pela capa e diagramação, encerro a apresentação do E-book, pensando estar contribuindo

Disponível em PDF, gratuitamente: www.antoniocorreasobrinho.com

Aracaju, dezembro de 2019.
Antônio Corrêa Sobrinho

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PRESTANDO CONTAS

*Rangel Alves da Costa

Nada fácil prestar contas de 2019. Uma tarefa cujo troco sai mais amargo do que o imaginado. Entre perdas e ganhos, como se muito de mim tivesse chegado à beira da falência.
Mas tudo bem. A gente nem sempre ganha. Ademais, as realidades da vida são de um comércio tão injusto que a gente perde achando que está lucrando.
Nem tudo perdido, porém. E ainda bem. A vida, o ato de continuar vivendo, sempre será o lucro maior que se tem. E quando o viver está acompanhado de saúde, então não há que se reclamar.
Nenhuma novidade de monta. Nem subi ao alto da escada nem permaneci no reles do chão. Olhei muito para o alto, e sempre como se quisesse alcançar além. As dificuldades nos degraus, contudo, impediram tal escalada.
Amei e desamei. Fui apaixonado e desapaixonado. Muito beijei e também ressequei o lábio. Tive prazer e tive dor. Na junção dos sorrisos com as tristezas, sempre a mistura de tudo em qualquer instante.
Nada havia me prometido que não consegui realizar. Não me prometo nada. Vou apenas vivendo, fazendo, tentando construir castelos. Alguns se mostram de areia, outros permanecem como espelho da luta.


Não comprei carro nem fiz nenhuma viagem dos sonhos. Também eu não havia me prometido nada disso. Não enchi os meus dedos de anéis nem perdi a conta de cifras em contas bancárias. O mesmo que eu tinha na entrada do ano é o mesmo que continuo tendo.
Não sou de mágoas, de ódios nem de rancores. Não juntei nada disso e agora não guardo nada que me permita revanches. Sou de paz e de concórdia, talvez suportando mais do que deveria. Mas assim mesmo.
Como diz a canção e o poema, a verdade é que eu deveria ter vivido mais, namorado mais, brincado mais, ter sido mais menino do que sempre fui. Eu deveria ter olhos de mais poesia, ter braços mais abertos para os abraços, ter palavras mais amigas e mais ecoadas. Eu deveria ter feito muito mais.
Contudo, comigo levo – e sempre aberto – o Livro do Eclesiastes. Sei que depois da alegria vem a tristeza, depois da seca vem a chuva, depois do amor vem a solidão, depois da palavra vem o silêncio. De nada disso eu jamais pude fugir.
E assim o ano passou. 2019 acabou e agora a janela já se abre para 2020. Esperar o melhor, sim. Desejar o melhor, sim. E fazer o melhor também. É preciso construir, edificar sempre. Fazer e viver!


Escritor
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LAMPIÃO E MARIA BONITA - FILME COMPLETO.

https://www.youtube.com/watch?v=0leCavDFqQc

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ASSIM ERA DADÁ - A VIDA PÓS CANGAÇO DE SÉRGIA DA SILVA CHAGAS (DOCUMENTÁRIO)


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"CANGAÇO CAMPINA GRANDE 2019"



Palestrantes:

João Marcos Carvalho e Victor Portela
Assunto: Os Tiros que Mataram Lampião

Mais uma produção Aderbal Nogueira Laser/vídeo


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"CANGAÇO CAMPINA GRANDE 2019"



Palestrante: Bismark Martin
Assunto: Cangaço na Paraíba
Mais uma produção Aderbal Nogueira Laser/vídeo

LAMPIÃO: UM TIRO NO PÉ (DOS HISTORIADORES)

Por Raul Meneleu

Em São José do Belmonte, existe um platô na serra do Catolé, com um conjunto de cavernas em que Virgulino Lampião, rei dos cangaceiros, recorreu como esconderijo natural para se recuperar do balaço que levou no pé, precisamente no calcanhar, que discute-se até hoje, se foi o direito ou o esquerdo. Isso se dera no ano 1924 em refrega com soldados. A história é implacável com quem escreve sobre ela. Nesse episódio temos algumas versões, isso só para mostrar o quanto é confuso diversos casos envolvendo Lampião.

Irei citar aqui nesse artiguete algumas que li em livros de historiadores. Iniciando com "SERROTE PRETO, LAMPIÃO  seus sequazes" escrito por Rodrigues de Carvalho,  onde na página 224 da segunda edição diz textualmente:

"...estava a quadrilha encafuada havia mais ou menos um mês. Esconderam-se a fim de tratar do ferimento que Lampião recebera no pé esquerdo, em tiroteio travado com elementos da familia Gomes Jurubeba. Ou mais precisamente com Odilon Flor, o seu inimigo mais acirrado dentre os membros da aguerrida familía."

Este episódio, vem sendo descrito pelo autor, a respeito do cerco feito pelo famoso Sargento Quelé, sob as ordens do comandante da volante, o tenente Chico de Oliveira. Mais detalhes os amigos poderão consultar a partir da página 222 da referida edição. Um relato bem contado, pois o informante tinha sido o famigerado e perverso cangaceiro do bando de Lampião chamado Marcos Passarinho. Marcos esclareceu detalhes muito importantes em que o próprio Clementino ignorava completamente. Como por exemplo o fato de Lampião esteve na iminência de ser preso por se entregar ao sargento.

O tenente Oliveira era homem destemido, porém sem nenhuma experiência do que eram os  cangaceiros e sua periculosidade. E além desse desconhecimento de causa, a impetuosidade e a imprudência nele apontava para um desastre à vista, o que reclamou o sargento Quelé quando de retorno à cidade de Princesa, quando ao caudilho José Pereira, prefeito e organizador da campanha de repressão ao banditismo, pediu-lhe que não o designasse mais para servir em uma volante com o tenente impetuoso e suicida, em diligências daquela natureza. O relato vai até a página 232.

Esse meu primeiro relato, deixo bem registrado, fala da recuperação do tiro levado no calcanhar e que tal tiro fora desferido por Odilon Flor, em outra ocasião, tratado como autor genérico.

VAMOS AGORA ao segundo relato encontrado. Este refere-se ao tiro no calcanhar de Lampião. Lembre-se que no primeiro relato, o tiro foi desferido por Odilon ou um dos nazarenos e na serra do Catolé, Lampião estava se recuperando do tiro e quando fugiu do ataque do sargento Quelé, na fuga, não suportou e a ferida veio abrir-se com o esforço:

Nos relata o livro RAPOSA DAS CAATINGAS, do Confrade José Bezerra Lima Irmão, na página 144 sob o título "Lampião é ferido na lagoa do Vieira e escapa por pouco na serra das panelas" que o mesmo se encontra com quatro membros que estavam desgarrados da volante de Teophanes Ferraz, que fizera um chamamento geral para todas as volantes perseguidoras de Lampião fossem lhe dar apoio, pois este se encontrava na região. O relato do livro diz:

"O major Teófanes Ferraz Torres, que vinha no rastro do bando, desconfiou que Lampião estivesse acoitado por ali, Despachou mensageiros para Vila Bela e outras cidades, solicitando reforços. Logo acorreram as volantes dos tenentes Alencar e Ibraim e do sargento Clementino Quelé.

No dia 23 de março de 1924, enquanto aguardava a volta de Livino, Lampião, acompanhado dos cabras Moitinha e Juriti, foi pegar uns mantimentos encomendados a um coiteiro nas proximidades da Lagoa do Vieira, no lado paraibano, ao leste da Pedra do Reino. No caminho, por volta das 10 horas, toparam com quatro integrantes da volante de Teófanes Torres que tinham se desgarrado
da tropa - o anspeçada Manoel Amaro de Sousa e os soldados Manoel Gomes de Sá (Sinhozinho), Antônio Brás do Nascimento (Antônio Pequeno) e João Demétrio Soares. Na troca de tiros, uma bala acertou a cabeça do burro em que Lampião estava montado e o animal ao cair prendeu a perna direita de Lampião sob o seu corpo. O anspeçada Manoel Amaro foi atingido por um tiro no rosto. Os outros, vendo que Lampião estava com uma pema presa sob o cavalo, rodearam pelo mato a fim de matá-lo. Percebendo a manobra, Juriti mandou que Moitinha ficasse atirando para lhe dar cobertura e foi correndo socorrer Lampião. Moitinha, atirando de ponto, feriu gravemente dois soldados, pondo os três para correr. Juriti chegou sem perigo aonde Lampião se encontrava, pegou o burro pelo pescoço e virou-o para o outro lado.


Quando os outros cangaceiros escutaram os tiros, vieram em socorro e, tomando todas as precauções para não deixar pistas, levaram Lampião para um esconderijo à distância de uma légua, num trecho da Serra das Panelas, ao lado do Barro, no lado pernambucano, município de Vila Bela. O local foi escolhido pelo cangaceiro Cicero Costa, que era daquela região, assegurando que ali não havia risco de serem descobertos. O coito ficava num lugar onde há vários "caldeirões" de pedras acompanhando uma grota que separa a Serra das Panelas da Serra do Caldeirão.


Como Lampiảo não podia correr, pois a perna estava ferida, Juriti saiu arrastando-o... O lugar é conhecido como Grota do Caldeirão.


Cicero Costa de Lacerda tinha prática na aplicação de primeiros socorros, sendo considerado o "médico" do bando - sabia até extrair bala e costurar ferimentos. Com uma faca, rasgou a calça de Lampião, para descobrir a perna ferida, e fez uma avaliação preliminar.


- Esse horrô de sangue na perma não é nada, foi só um arranhão O qui me preocupa mermo é o firimento no carcanhá. Isso foi bala de fuzi. E eu acho qui o pé tá turcido..."

CONCLUSÃO: Alguns historiadores afirmam que o tiro teria sido dado peio sargento Quelé ou pelo major Teófanes Torres. Porém a participação de Quelé foi no tiroteio, alguns dias depois, na Serra das Panelas, onde Lampião se recuperava de ferimento recebido na Lagoa do Vieira (Lampião não foi ferido na Serra das Panelas - nesta apenas houve agravamento do referido ferimento. Quanto ao major Teófanes Torres, este sequer se encontrava na área por ocasião dos dois tiroteios - chegou depois.


Escrever sobre o cangaço é um desafio. Quando cruzamos informações dos diversos livros, vemos nesse caldo de informações, imprecisões. Recentemente em pesquisas comparatórias* dos escritos, verificamos inconsistências gritantes que são repetidas por diversos autores, levando sem maldade, ao erro, estudantes da história do cangaço.

* Vejam meu ebook


LAMPIÃO NA JARAMATAIA E BORDA DA MATA, que pode ser copiado gratuitamente no Grupo Ebook Cangaço e Nordeste
https://www.facebook.com/groups/443128926284815/
Eis um "ebook brochura" com poucas páginas, sobre as famosas fotos de Eronides de Carvalho onde exploro nos intrincados labirintos da história do cangaço, com cruzamento de informações que temos à nossa disposição. Desta vez, além de argumentações básicas, procurei usar uma das ferramentas mais poderosas da história, a cronologia. Para isso usei os documentos oficiais, livros e blogs, conforme bibliografia no final da brochura virtual, que pode ser lida em 20 minutos.

Vejam também meu artigo 
LAMPIÃO - SANGUE EM BELMONTE (Em 3 versões)
http://meneleu.blogspot.com/2016/09/lampiao-sangue-em-belmonte-em-3-versoes.html?m=1


http://blogdomendesemendes.blogspot.com