Seguidores

terça-feira, 29 de outubro de 2013

PROFESSOR VILDER SANTOS, SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ...

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Igual peregrino em busca da montanha para alongar sua visão de mundo, tal qual o sábio que espera um discípulo para as boas palavras, como o viajante que na humildade e simplicidade dialoga com pássaros e outros seres, eis a caminhada de Vilder Santos. Ou alguém que anda por aí envolto de luz e sabedoria.

Tarefa difícil qualificá-lo nos seus afazeres, diferentemente de delineá-lo no seu jeito de ser. Professor, radialista, poeta do triverso, pesquisador incansável, é uma verdadeira biblioteca ambulante. Das páginas de sua memória surgirão respostas para todo tipo de questionamento, pois homem culto sem ter a intelectualidade pedante dos especialistas. Folheia mentalmente desde impensáveis manuscritos aos conhecimentos mais atualizados.

Por isso mesmo também reconhecido como verdadeiro baú de antigas curiosidades, de fatos pitorescos de outros cotidianos, de histórias e mais histórias desde que era Aracaju era terra de cajueiros e papagaios. Traz sempre consigo fatos, datas, números, contextos; enfim, o passado na acessibilidade da informação mais confiável. Mas lhe dói recordar o parque Carrossel do Tobias, pertencente a seus pais e tão importante nas tardes natalinas do Aracaju de outros tempos.

Vez por outra o jornalista Luiz Eduardo Costa faz constar de sua página dominical no Jornal do Dia alguma importante relembrança trazida pelo Professor Vilder. Um dado histórico sobre o futebol, o exsurgir das cinzas de um acontecimento já desprezado pelas transitoriedades da vida, precisamente aquilo que não pode ser relegado pelos anais da história sergipana. Acessível a todos, terá sempre como honra ser abordado nas ruas para uma indagação.


De muitos já ouvi que quem não conhecer o Professor Vilder o acaba tomando por um simples caminhante que passa apressado para comprar o pão e o leite; de outros ouvi que dificilmente o passante imaginaria quanta potencialidade intelectual e tamanha grandeza humana acompanha aquele homem de baixa estatura, magro, cabelo baixo, de tez amorenada e sorriso sempre aguardando um chamado. Realmente, Vilder Santos contrasta a primeira visão, pois pequenino e imenso, silencioso e gritante, pacato demais e tão importante.

Importante sim, e de uma importância fundamental para a vida cultural, educacional, histórica e humana de Sergipe. Nascido em família com longas raízes políticas, filho de político atuante, pois seu pai, o saudoso Milton Santos, teve assento garantido na câmara municipal em sete legislaturas e foi figura das mais prestigiadas na política aracajuana, ainda assim Vilder reservou para si outro destino. Frequentou com avidez os bancos escolares, foi estudar em outras cidades, procurou se aprofundar em lições da religiosidade no Curso de Teologia Pedagógica e talvez até tivesse pensado no sacerdócio.

Porém, como dito, seu destino era outro. Abraçou os livros como abraça a vida, fez da busca do conhecimento toda sede e fome que possam existir num homem, percorreu seu caminho como alguém que precisava urgentemente chegar. Mas chegar aonde? Ao berço sólido do conhecimento, à indestrutível seara da formação acadêmica e humana. Daí ter se formado em Letras e Direito pela UFS, além de haver percorrido muitos outros caminhos do saber. E certamente não quis permanecer nas lides jurídicas porque sua concepção humanista e educacional lhe mostrava outro caminho.

Enveredou de vez pelos caminhos da educação, ensinando e aprendendo para ensinar, e se tornou conhecido como Professor Vilder. Seu percurso no magistério é dos mais profícuos. Ensinou no Ginásio Municipal Belém de Maria (em Pernambuco), no Atheneu, no Colégio 15 de Outubro, no Instituto de Educação Rio Barbosa, no Colégio Alcebíades Melo Vilas Boas e em outros centros educacionais. Pela sua cátedra passaram disciplinas como Português, Linguistica, OSPB e Moral e Cívica. Colocado à disposição da UFS durante 15 anos, lecionou Estudos de Problemas Brasileiros e depois Psicologia Geral e Português Instrumental.

É também radialista profissional e verdadeiramente apaixonado pelo rádio. Sua paixão é tanta por tudo que aconteça no rádio que atualmente ruboriza emocionado, como num idílio juvenil, ao falar numa locutora de uma emissora paulista que, segundo diz, possui a voz de despertar corações. Já manteve programa radiofônico regular, mas hoje parece gostar mais de participar como ouvinte ou dando pequenas entrevistas. Por isso que não é difícil encontrá-lo ouvindo um radinho de pilha.

Encontro-o sempre pelas ruas com seu caminhado de cabeça baixa, pensativo, reflexivo, ou no mercadinho pelos lados da seção de frutas e verduras. Parece ser adepto apenas da horta e do pomar. Solteiro, não fuma nem bebe, mas convive e se embriaga com a imensidão de livros que se avolumam e se espalham na sua moradia. Dorme com os livros, sonha com os livros. Sua vida são páginas de todos os livros num só livro pequenino e singelo. E quanta sabedoria em cada página.

Assim é o Professor Vilder. Alguém que anda por aí carregando uma pastinha com poucos escritos. Mas a pujança de sua bagagem está na mente, na inteligência, no conhecimento. Quem dera professor, quem dera amigo Vilder, que todos fossem iguais a você.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

São Raimundo Nonato: Compromisso SBEC 2015 !


A SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, divulga a cidade sede do
IV Congresso Nacional do Cangaço
a se realizar em Outubro de 2015:

São Raimundo Nonato no estado do Piaui


http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Lembra de sua promessa? - Código de honra dos cangaceiros


Romper com a palavra dada no cangaço era uma atitude inaceitável no código de honra dos cangaceiros. Melhor seria escolher a morte, do que a desonra de se quebrar a palavra empenhada, e não ser mais considerado um homem de verdade.

Cangaço

Quando o cangaceiro dava a sua própria palavra sobre alguma coisa ou assunto, não tinha mais como o cabra voltar atrás. A palavra estava dada. E a honra também.

Não se precisava de papel. para registrar, comprovar com assinatura. Era uma questão de vida, ou de morte em vida (se o cabra descumprisse a palavra). Porque a palavra era a honra, e a honra estava na palavra empenhada.

http://br.similarsites.com/goto/osultimoscangaceiros.com.br?searchedsite=blogdomendesemendes.blogspot.com.br&pos=4

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

"A VIDENTE DE UMÃ"

Por: Jair Eloi de Souza
Jair Eloi de Souza

Os caboclos já madornavam, noite chuviscada, veredas entrançadas de cipós e feijão-brabo. As macambiras nas empenas da serra talhavam os pés semi-protegidos com alpercatas abertas e já gastas, grilos faziam uma sinfonia descompassada, porém, efusiva que de certa forma protegia aquele vivente do cinzento que se destinava a mais uma visita a sua confidente, a vidente do Umã. Era quarto minguante, o sinistro estava presente no canto lastimoso da “Mãe da Lua”[1] solitária, espojada nas galhadas na burra leiteira. Virgulino Lampião tinha lá suas confidências, quando os sonhos pesadelos lhes roubavam o sono, e no arredar da luz do dia e dos fogos com os macacos, acorria até a casa da cabocla, que via o passado nos labirintos do pensamento e antevia o futuro invisível nas dobras do tempo vincendo, era, pois, uma espécie de telepata. 

Virgulino Ferreira, o cangaceiro Lampião

A Serra do Umã tinha suas histórias de bravuras, de caboclos que traziam na sua ancestralidade a figura do temido bacamarteiro e chefe do clã, o mítico Miguel dos Anjos. Lampião admirava os dotes de robustez e valentia daqueles caboclos que faziam a vida na cumeeira e abas daquela serra. Grassava a última lua do mês das cobras, pois era vinte e seis de agosto do ano de l926. Saía de refrega no lugar chamado Favela, onde destroçara volante comandada pelo anspeçada[2] Mané Neto, e chegara à vez de visitar quem lhe dava resposta a sua mente atanazada pelos últimos acontecimentos: Como as persigas mais constantes, o despacho de macacos para o Pajeú, Caatinga do navio, Moxotó e a arregimentação de cachimbos[3], tornando os cabras de Nazaré, numerosos e mais afoitos, pois, já não cuidavam mais de suas terras, tornaram-se espécie de mercenários do cinzento, com um agravante, além de receberem soldo do Governo, na infância e adolescência criaram-se com os ferreiras, tinham os mesmos dotes, que facilitavam o permeio na caatinga, o que nunca deixou de ser temido por Lampião, daí, se valer da cabocla puxada na cor, de idade meã, olhar prudente e macerado pelo tempo e precisão, adereçada por xale fubento de tanta lavagem, a mítica Vidente de Umã, seu confessionário naquele mundaréu cinzento.

Morava a Vidente de Umã em casebre de taipa, troncho no oitão esquerdo, que se fazia de pé por milagre ou graças a duas estroncas de pau-d`arco. O adereço da cozinha um fogão de trempe, que tinturava a parede de pucumã. Na sala da frente, a presença dos registros de papel, sem qualquer moldura, mas com certeza benzidos pelo Padim Cícero, onde se via Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição. Na camarinha junto à parede, a zidora[4] com esteira feita de bananeiras, um cafiote de couro cru. A aproximação do visitante ilustre foi denotada pelo vira-lata que latiu. Virgulino naquelas horas tinha que adiantar o prefixo: Ôh de casa! Naquela negritude dos tempos, uma voz feminina arrastada responde: ôh de fora! Quem é? É Virgulino Lampião, Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, é de paz. Para sempre seja o Senhor louvado, em tênue bocejo respondera a mítica cabocla. A porta se abriu e fechou.

Era a quarta vez, em visita extraordinária, que Virgulino entrava naquela choça para consultar a vidente. A primeira em novembro em plena seca de l919. A segunda no principiar do ano de l925. A terceira em dias de janeiro de l926. Era também costume todo começo de mês quando estava em refrigério visitá-la ocultamente. Segundo Frederico Bezerra Maciel, reproduzindo diálogo do Padre José Kehrle com Lampião, este levava a sério essa visita, tanto era assim que provocado pelo vigário deixou essa relíquia: “Padre Kehrle: Porque você nunca caiu em emboscada?” “Porque teu u`a mulher em Umã que devinha tudo a respeito de mim” respondeu Virgulino. Padre Kehrle: “É feiticeira?” “não Senhor. Ela tem devoção às almas”. “Duas noites antes de findar o mês, sonha tudo que vai me acontecer”. Essa é minha protetora aqui na terra. 

Na primeira visita a Vidente em novembro de 1919, apareceram duas bandeiras separadas, logo em seguida morreram seus pais. Na segunda em l925, foi a vez do seu irmão Livino. Em l926, aparecem as bandeiras de números 4 e 5,. Logo no comecinho do ano, morrera sua Irmã Angélica em janeiro e no seu final em dezembro, era vez do seu irmão Antônio, o mais velho e seu lugar tenente mais graduado, cuja função, era atuar na retaguarda, principalmente quando o palco de luta era um desfiladeiro ou em boqueirão de Serra, utilizando o famoso laço húngaro, tão executado pelos que fizeram a travessia nacional nas hostes da coluna Prestes.
Convém admitir que essa cabocla tenha morrido sem percepção de ter sido talvez, mais determinante na vida de Lampião que qualquer outra mulher, incluindo-se aí a própria Maria Bonita, que embora tenha estabelecido no âmbito do bando, a tenda do cupido em coitos remotos, não prenunciou a morte de Lampião, como o fez a Vidente, pois, pouco tempo do epílogo da saga lampiônica, dissera ao Rei do Cangaço, quando provocada pela indagação, o que veria ser “uma cobra bem comprida vomitando fogo”? A Cabocla telepata dissera: “A serpente comprida seria a estrada, o progresso, o caminhão a levar gente do Governo a sua persiga. O fogo que vomita é a costureira,[5] que vai dar cabo de sua vida”.

Essa interpretação mística e mítica de que Lampião tinha o “corpo fechado pra bala, era máxima popular não só nos Sertões do Seridó, como em todo o Nordeste, inclusive atribuía-se a Padim Cícero Romão ser o grande protetor de Lampião. No entanto, não é mistério, Lampião no seu último estágio, que foi o Cangaço-meio, era um facínora muito bem informado, montara rede de positivos, coiteiros, cuja mantença financeira, comprometia setenta por cento de sua rapinagem, além dos seus dotes de maior guerrilheiro do Cinzento, quando sendo sabedor das existências dos pequenos choradores ou finas veias de cacimba, fazia do Raso da Catarina, um dos maiores desertos do Mundo, seu habitat natural, pra não dizer um baita refrigério, com direito a toque de concertina, em xote gineteado ou xaxado parraxado, o parraxaxá daqueles bandoleiros nômades do cinzento nas terras nordestinas.

Nota do autor: Fragmento da obra Lampião o lobo do Cinzento."


Enviado pelo professor e pesquisador Francisco Borges de Araújo - Jardim de Piranhas 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com