Foi um dos
dias mais tristes, que se teve notícia em toda, Chapada Diamantina, 16/05/1931
saindo para aliviar o calor após jantar, o Coronel Horácio Queirós de Mattos,
sai com sua filhinha, Horacina de Mãos dadas, quando recebe dois tiros, pelas
costas, efetuados pelo guarda civil, Vicente Dias dos Santos, este alegou que
foi por vingança, lógico que um bode expiatório, vou colocar um texto a seguir,
erros de nomes, mas vale apena ler....O Assassinato do Coronel Horácio de
Mattos.
16 de maio de 1931, no “A Tarde”: Numa explosão de ódio, um guarda civil mata a tiros o cel. Horácio de Mattos, tradicional chefe sertanejo Declarações attribuídas ao criminoso que não se arrepende do que fez No Largo 2 de Julho fora um homem assassinado! E correu gente para o local. Phisionomias assustadas indagavam o nome da victima.
A reportagem policial d’A TARDE movimentou-se chegando ao local do crime minutos após. O facto se dera precisamente ás 7 horas e 30 minutos da noite. Uma onda enorme de curiosos fechava em circulo o cadaver do coronel Horacio de Mattos, tradicional chefe politico sertanejo. estava deitado de bruços sobre o leito da linha de bondes, que vae da rua Democrata, antiga do Hospicio, no local entre o Armazem Novo elegante e a rua do Areial de Baixo, tinha o pescoço retorcido, vendo-se com segurança um filete de sangue que escorria de sua bocca semi-aberta, onde brilhava uma fila de dentes de ouro. Caído ao lado estava o seu chapéo de feltro, preto. A fio comprido, junto a sua mão direita, encontrava-se a sua inseparavel bengala de bastão de ouro.
Vestia um terno preto, tendo preso entre os botões do collete o seu relogio que marcava 7 horas e 40 minutos. Desfigurado embora, na crispação da morte, reconhecemos a figura do cel. Horacio de Mattos.
E o criminoso? Era a pergunta que faziam todos os presentes. As hypotheses formuladas sobre a figura do autor da morte eram as mais desconcertadas. De arma em punho, conseguira evadir-se ladeira do Areial a baixo, perseguido pelo clamor publico.
Com a chegada dos legistas Arthur Ramos, que se encontrava de plantão, e Estacio de Lima, aquelle perito de lapis e papel em punho procurou fazer ali mesmo um schema do local do crime e outros apontamentos para a descripção da perinecroscopia. A camisa de listra do cel. Horacio de Mattos estava manchada de sangue no lado esquerdo, na altura do peito aberta a mesma constataram se dois ferimentos por bala um na ponta do mamillo, com a sua destruição e outra a 5 ou 10 centimetros mais a cima.
Neste momento, o delegado Tancredo Teixeira, que não se fizera esperar tomava todas as providencias necessarias, não só para a identificação do criminoso, como tambem a sua captura. Varias pessoas apontavam como testemunhas do facto os emprgados do armazem Novo Elegante. Um rapazinho de nome Gonçalo Braga levado á presença da autoridade, explicou:
- Vi o assassino. Era um homem alto , cheio de corpo, todo de escuro e chapéo de palha. Atirou contra o cel. Horacio de Mattos, de frente, fugindo em seguida, ladeira abaixo, de arma em punho.
Come esta declaração do rapazinho, mil conjecturas foram feitas pelos presentes. O prof. Estacio de Lima, neste momento, providenciava a remoção do corpo para o Instituto Nina Rodrigues. Do cadaver fora tirado um revolver “schimidt” com 6 balas intactas e a importancia total de 5:020$200.
A reportagem d’”A TARDE” avida por colher notas para o noticiario de hoje, interrogava os presentes. Ninguem sabia ao certo como se dera o crime, mas affirmavam que o criminoso atirara de frente, com segurança, quando o cel. Horacio de Mattos passava em frente ao Areial de Baixo. Ao longe, ficaram vendo-o tres moças e uma menor.
As moças eram as suas cunhadas Amerina, Ayda e Maria e, a menor, a sua filha Horacina. Ao verem os disparos, aquellas moças entraram com a menor, apenas indo até junto ao corpo a de nome Amerina, a quem o guarda civil ali presente pediu que se retirasse. O cel. Horacio de Mattos morava actualmente com a sua familia na residencia do seu compadre e amigo o ex-deputado dr. Arlindo Senna, á rua Accioly, 17. Depois de ter jantado saíra para ver a sua cunhada de nome Arlinda que se encontrava doente. Mal sabia que ali perto, na esquina da rua do Areial, a morte o esperava traiçoeiramente.
Foi preso o assassino! O assassino entregou-se á prisão!
Foram estas as primeiras palavras que se ouviu, quando o corpo do cel. Horacio era posto no caixão. O delegado Tancredo Teixeira juntamente com algumas testemunhas do facto, dirigiu-se para a Secretaria de Policia. O criminoso ia ser identificado. Quem seria? Porque matara? era inimigo da sua victima ou agira sob alguma influencia extranha? Pairavam duvidas. Emquanto isto o legista Arthur Ramos, de vela em punho, examinava o local do crime, procurando as capsulas das balas.
Chegada a caravana na Secreataria de Policia e conhecido o autor do crime, foi geral a estupefação. Era elle o guarda civil 97, Vicente Dias dos Santos, que servira ha dias na Delegacia da 2ª Circumscripção. Era tratavel com todos e tinha com comportamento.
Como explicar o caso? Elle, entretanto, mostrava-se de uma calma apparente. De quanto em quando esboçando um leve sorriso, sorriso amarello, dizia: - Foi um bandido que desappareceu...
O delegado Tancredo Gteixeira a esta sua primeira phrase, deitou-o incommunicavel. - Era preciso - disse a autoridade - ia ouvil-o sob sigillo.
Aquella determinação do delegado Tacredo Teixeira foi o bastante para augmentar a curiosidade de todos.
- Porque teria o guarda morto o cel. Horacio de Mattos?
No entanto, a reportagem da A TARDE assim que teve conhecimento do nome do accusado, desvendou todo o mysterio. O guarda civil 97, pelo que parecia tinha um odio de morte do cel Horacio. A ninguem elle negava a sua magua. Conta o criminoso que a sua familia, que era de Morro do Chapéo, de onde é filho, foi bastante perseguida pelo cel. Horacio. Que o que elle fizera fora apenas “tirar uma fera do sertão”.
O cel Horacio de Mattos, proseguiu, de uma feita mandara espancar o seu irmão de nome Pedro Dias dos Santos, garimpeiro do cel. Aurelio Goudim. Que o povo de Horacio depredou fazendas do seu pae, denominadas “Alagoinhas” e “Duas Barras”, que fica no Morro do Chapeu. Que elle proprio fôra jurado pela gente da sua victima, não podendo ir áquelle municipio. O crime não premeditara. Encontrava-se no local, accidentalmente, quando viu o seu inimigo passar. Teve logo uma repulsa medonha, comettendo o crime e fugindo, indo esbarrar numa casa á rua da Gameleira, onde se entregou a Cicero Mullulo e o seu collega de n.27. A sua arma comprara por 40$ em mão d eum soldado revolucionario.
É do conhecido publico o modo porque foi preso o accusado. O sr. Olival Salles Pontes, empregado do Archivo criminal, conta que ao ver passar o acusado deu o alarma com um apito.elle, porem, não se intimidou, e apezar de grande numero de pessoas que corriam ao seu encontro foi esbarrar na casa 17, á Gamelleira casa do sr. Eusebio dos Santos, onde procurou occultar-se. Foi ali - disse a testemunha Cicero Mullulo que fui buscalo-o. Elle entregou-se a mim e ao guarda 27 sem a menor relutancia. Queria apenas que garantissemos a sua vida. Chamado um auto de praça foi elle transportado para a Secretaria de Policia. Alem do revolver, Vicente estava armado com um punhal que foi tambem entregue ao delegado Tancredo Teixeira.
Pela manhã de hoje, foi procedido o exame de necroscopia pelos legistas Egas Muniz e Arthur Ramos.Notaram logo elles tres orificios de entrada e dois de saída. O primeiro orificio de entrada no 7° espaço intercostal esquerdo, a 4 centimetros á esquerda da columna dorsal; trajecto: transfixiando a massa pulmonar esquerda, lesando ligeiramente o ventriculo esquerdo, saindo ao nivel da região precordial (4° espaço intercostal esquerdo). Segundo orificio de entrada na região axillar direita, atravessando o pulmão direito, lesando a aorta ascendente, e saindo na 3ª costella, fracturando-a ao nivel da articulação chondro-esternal, á esquerda. Hemorrhagia fulminante, 3 litros de sangue liquido e coagulos na cavidade pleural. 3° orificio de entrada ao nivel do acromio esquerdo, encontrando-se um projectio de chumbo (de revolver) encravado no omoplata esquerdo. Em suma: foram 3 disparos de traz para diante e da esquerda para a direita. Morte por hemorrhagia fulminante, por lesão larga da aorta ascendente.
O cel Horacio de Queiroz Mattos era de côr branca, casado com d. Augusta Medrado de Mattos, negociante fazendeiro, era residente em Lençóes e encontrava-se nesta cidade preso sob palavra. Deixou cinco filhinhos menores Horacina, Tacio, Judith, Horacio e Ruth. O seu corpo, ás 12 horas de hoje, foi removido para a residencia do sr. Arlindo Senna, á rua do Accioly de onde sairá o enterro para o cemiterio do Campo Santo.
FONTE - http://cariricangaco.blogspot.com/ (crédito das fotos Horacina já Adulta, Historiador e professor, Rubens Antonio, Horacina no velório do pai, ainda criança, Jornal a tarde).
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