Material do acervo do historiógrafo Rostand Medeiros
A Revolta de
Princesa, em 1930, foi um acontecimento que marcou e transformou a vida
estadual e teve repercussão nacional. Tudo começou através de discórdias
políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior do estado e o
governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. O
principal deles era o chefe político de Princesa Isabel, o “coronel” José
Pereira de Lima, detentor do maior prestígio na região, que se tornou o líder
do movimento. Era a própria personificação do poder político. Homem de decisão
e coragem pessoal, também era fazendeiro, comerciante, deputado e membro da
Comissão Executiva do partido.
No dia 22 de
outubro de 1928, na qualidade de presidente (governador) do estado da Paraíba,
assumiu o governo Dr. João Pessoa Cavalcante de Albuquerque.
João Pessoa
discordava da forma como grupos políticos que o elegera, conduziam a política
paraibana, onde era valorizado o grande latifundiário de terras do interior,
possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária.
Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se
valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços
armados e outras ações as quais o novo governador não concordava. Nos seus
redutos, eram eles que apontavam os candidatos a cargos executivos, além de
nomearem delegados, promotores e juízes. Eles julgavam, mas não eram julgados.
Verdadeiros senhores feudais, nada era feito ou deixava de ser feito em seus
territórios que não tivesse a sua aprovação. Mas João Pessoa passou a não
respeitar mais as indicações de mandatários para nomeações de cargos públicos.
Antigo casarão
do coronel José Pereira
Por esta
época, esses coronéis exportavam seus produtos através do principal porto de
Pernambuco, em Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a
Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os
coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras
da Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente
passaram a chamar o governador de “João Cancela”.
A gota dágua foi a escolha dos candidatos paraibanos à deputação federal. Como
presidente do estado, João Pessoa dirigiu o conclave da comissão executiva do
Partido Republicano da Paraíba que escolheu os nomes de tais pessoas. A ideia
diretriz era a rotatividade. Quem já era deputado não entraria no rol de
candidatos. Tal orientação objetivava afastar o Sr. João Suassuna, grande
aliado de José Pereira que, como presidente do estado que antecedeu a João
Pessoa, teria maltratado parentes de Epitácio na cidade natal de ambos,
Umbuzeiro. No entanto, João Pessoa deixou na relação dos candidatos o nome de
seu primo, Carlos Pessoa, que já era deputado. Isso valeu controvérsia na
comissão executiva e apenas João Pessoa assinou o rol dos candidatos.
No dia 19 de
fevereiro de 1930, o presidente do estado da Paraíba, João Pessoa, na tentativa
de contornar a crise política provocada pela divergência na composição da chapa
para deputado federal, viaja a Princesa. A chapa para deputado federal fora
publicada um dia antes da viagem, no jornal “A União”. O presidente é recebido
com festa. Por falta de habilidade política, o presidente João Pessoa e o
“coronel” José Pereira, chefe político princesense, não encontraram um
denominador comum.
Em 22 de
fevereiro de 1930, o “coronel” José Pereira rompe oficialmente com o governo do
Estado, através do telegrama n.º 52. José Pereira conta com o apoio dos Pessoa
de Queirós (os irmãos José e João Pessoa de Queirós), primos do presidente João
Pessoa e donos de um grande empório industrial, jornalístico (Jornal do
Commércio) e mercantil (João Pessoa de Queirós e Cia.), no Recife, rebelou-se
contra o governo estadual. Com o apoio discreto, mas efetivo, do Presidente da
República e dos governadores de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra, e
do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria, o coronel José Pereira
decidiu resistir a essas investidas contra seus poderes. Partiu então para a
arregimentação de aliados.
Como resposta,
no dia 24 de fevereiro de 1930, o presidente João Pessoa, visando
desestabilizar o poder de mando do “coronel”, retira os funcionários do Estado,
lotados em Princesa; quase todos os parentes do “coronel”, e exonera o prefeito
José Frazão de Medeiros Lima, o vice-prefeito Glicério Florentino Diniz e o
adjunto de promotor Manoel Medeiros Lima, indicados pelo oligarca princesense.
O juiz Clímaco Xavier abandonou a cidade por falta de garantias. O jornal “A
União” de 28 de fevereiro de 1930, trazia decretos de exoneração do subdelegado
de Tavares, Belém, Alagoa Nova (Manaíra) e São José, distritos de Princesa na
época. Com o rompimento oficial do “coronel” José Pereira em 22 de fevereiro de
1930 no município de Princesa, a justiça deixou de funcionar, as aulas foram
interrompidas e foi suspensa a arrecadação de impostos.
Como resposta
José Pereira declarou a independência provisória de Princesa do Estado da
Paraíba. Neste mesmo dia 28 era publicado o Decreto nº 01 foi aclamado pela
população, que declarou oficialmente a independência da cidade (República de
Princesa), com hino, bandeira e leis próprias. Ainda em 28 de fevereiro de
1930, data aceita como início da Revolta de Princesa, João Pessoa mandou a
polícia estadual ocupar o município de Teixeira, sob o comando dos capitães
João da Costa e Irineu Rangel reduto dos Dantas, aliados de José Pereira,
prendendo pessoas da família e impedindo que ocorresse votação naquela cidade.
Houve reação armada dos Dantas.
O “coronel”
não era homem de se intimidar com pouca coisa e enviou 120 homens armados para
Teixeira, que foi retomada pelos rebeldes.José Pereira tinha armas em
quantidade, recebidas do próprio governo estadual, em gestões anteriores, para
enfrentar o bando de Lampião e mais tarde a Coluna Prestes. Seu exército era
estimado em torno de 1.200 a 1.500 combatentes, onde diversos desses lutadores
eram egressos do cangaço ou desertores da própria polícia paraibana. Com esse
poderio bélico e seu prestígio político, começou a planejar o que ficou
conhecido como “A Revolta de Princesa”.
Essa rebelião
atingiu também diversos municípios como Teixeira, Imaculada, Tavares e outros.
A cidade, que já tinha visto passar diferentes grupos de cangaceiros, passou a
ser reduto de valentia e independência.
O Governo do
Estado prepara o golpe que supunha fatal e envia à Princesa 220 homens em doze
caminhões e farta munição sob o comando do tenente Francisco Genésio, e,
pasmem, para espanto dos leigos e estrategistas, um feiticeiro que “benzia a
estrada, a cada parada, dizendo: ‘Vamos pegar Zé Pereira à unha!’. Os soldados
sentiam-se mais protegidos e aplaudiam com entusiasmo o novo protetor, pois com
ele estariam imunes às balas. Não foi o que aconteceu. Ao chegarem ao povoado
de Água Branca, no dia 5 de junho de 1930, foram recebidos à bala, numa
emboscada fulminante. O primeiro a ser atingido, com um tiro na testa, foi o
dito feiticeiro. Os caminhões foram queimados; quem não conseguiu fugir,
morreu; inclusive o tenente Francisco Genésio. Mais de cem mortos e quarenta
feridos.
João Pessoa
tenta nova investida. Incapaz de dominar a cidade rebelde, ele apela para a
guerra psicológica. Uma avioneta, pilotada por um italiano, lança panfletos
sobre Princesa, exortando a população a depor as armas. Caso contrário, haveria
bombardeio aéreo. Mas a resistência continua e as bombas não vêm. Nas semanas
seguintes, os homens do “coronel” José Pereira, usando táticas de guerrilha,
espalham sua ação pelo sertão, dando a entender que o conflito seria longo.
Casa de
Marcolino Diniz, em Patos de Irerê, destruída pela polícia paraibana
Foram travadas
sangrentas batalhas e inúmeras vidas foram perdidas. Princesa se tornou uma
fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais
ao governador João Pessoa.
Mas a
luta estava para terminar, com um desfecho imprevisto. João Pessoa foi
assassinado no Recife por um desafeto, João Dantas, por motivos mais pessoais
do que políticos. Foi na confeitaria Glória, no Recife, às 17 horas do dia
26 de julho de 1930. É que João Dantas teve a sua residência e escritório de
advocacia na capital da Paraíba invadida pela polícia estadual, tendo parte de
seus documentos apreendidos e divulgados pelo jornal A União, quase um diário
oficial do estado. Vieram à luz detalhes de suas articulações políticas e de
suas relações com a jovem Anayde Beiriz. Em uma época em que honra se lavava
com sangue, Dantas sabendo que João Pessoa estava de visita ao Recife, saiu em
sua procura para matá-lo.
Com sua morte,
o movimento armado de Princesa, que pretendia a deposição do governo, tomou
novo rumo. Os homens de José Pereira comemoraram, mas o coronel, pensativo,
teria dito: “Perdemos…! Perdi o gosto da luta. Os ânimos agora vão se
acirrar contra mim”. Essa data é considerada para o encerramento do
conflito, faltando dois dias para completar quatro meses.
E conforme sua
previsão, os paraibanos ficaram chocados com o assassinato (a partir daí
criou-se todo um mito). O crime foi apresentado como obra dos perrepistas, o
Partido Republicano Paulista. Seus partidários, em retaliação, foram
perseguidos e tiveram suas casas incendiadas, além de sofrerem outros tipos de
perseguição e violência. O Presidente da República, Washington Luiz,
decidiu então terminar com a Revolta de Princesa e o “coronel” José Pereira não
ofereceu resistência, conforme acordo prévio, quando seiscentos soldados do 19º
e 21º Batalhão de Caçadores do Exército, comandados pelo Capitão João Facó,
ocuparam a cidade em 11 de agosto de 1930. José Pereira deixa a cidade no dia 5
de outubro de 1930.
No dia 29 de
outubro de 1930, a Polícia Estadual ocupa a cidade de Princesa com trezentos e
sessenta soldados comandados pelo capitão Emerson Benjamim, passando a
perseguir os que lutaram para defender a cidade ameaçada, humilhando e
torturando os que foram presos, sem direito a defesa. A luta teve um balanço
final de, aproximadamente, 600 mortos.
FONTE
– http://culturapopular2.blogspot.com.br/2011/02/revolta-de-princesa.html
http://tokdehistoria.com.br/2015/03/18/a-revolta-de-princesa-guerra-na-caatinga/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com