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Notas sobre o
Poço Feio
Este artigo me
foi enviado pelo amigo Romero, da UERN de Mossoró, igualmente empenhado em
preservar o patrimônio espeleológico potiguar.
(*) José
Romero Araújo Cardoso
A natureza privilegiou o patrimônio espeleológico potiguar com a
presença de verdadeiros caprichos em diversas exposições superficiais da
estrutura calcária, a qual se constitui em uma das singularidades da bacia potiguar ao lado do importante depósito sedimentar conhecido no meio técnico
como arenito Assú.
Integrando a bacia potiguar, o território pertencente ao município de
Governador Dix-sept Rosado, antiga terra do gesso, do alho e da cebola, ainda importante na
exploração calineira, abriga preciosas belezas naturais como o Poço Feio,
localizado na comunidade rural do Bonito, distante cerca de quatro quilômetros
da cidade.
Haver escoamento d’água dentro da caverna calcária torna a caverna ainda mais importante para os estudos geológicos e espeleológicos, embora enseje
impressionante e exponencial atrativo à população local e externa que
busca lazer não raro marcado por incipiente consciência ambiental sobre a
necessidade de preservação da formação calcária submetida à intensa ação
hídrica em moldes racionais.
O Poço Feio integra indelevelmente o imaginário do povo dix-septiense, cuja
lenda foi divulgada e apresentada em peça teatral escrita e dirigida pelo
teatrólogo Nonato Santos. Próximo à entrada da valiosa formação natural,
encontra-se pedra calcária em forma de baú, de onde, conforme os mais velhos,
em noites de lua desencanta-se bela mulher que vaga buscando
enfeitiçar homens.
Provavelmente o Poço Feio é um dos recantos de lazer e diversão mais frequentados no município de Governador Dix-sept, bem como da região contígua à antigaPassagem do Pedro, Sebastianópolis e São Sebastião. Compromissos e
responsabilidade com a preservação do ambiente natural que compõe a estrutura
natural do Poço Feio são enfatizados por poucos, sendo a maioria nativa, a qual
demonstra afeição e identificação com o patrimônio espeleológico potiguar,
representado, no caso específico, pela interessante formação calcária cortada por curso d’água que proporciona beleza ímpar aos serpenteares da bacia hidrográfica
do rio Apodi-Mossoró.
Quebrar garrafas de bebidas alcoólicas e refrigerantes, sobretudo destas
primeiras, bem, como deixar lixo acumulando, na entrada principal do Poço Feio,
são práticas comuns, as quais atesta absoluta ausência de qualquer princípio
engajado no processo ensino-aprendizagem referente à educação ambiental. Alguns
relatos da população local indicaram que mesmo dentro da caverna inundada já
houve casos semelhantes, denotando irresponsabilidade e falta de compromisso
humano e ambiental.
Há décadas a SEP e a SEPARN, duas organizações não-governamentais, estudam o
patrimônio espeleológico potiguar, motivo pelo qual despertou-se o interesse dos
poderes públicos, resultando em primeira reunião realizada em Mossoró, no dia
sete de abril de 2007, com Promotores do Ministério Público preocupados com as
incertezas pertinentes à intensa relação do homem com a natureza, cujo enfoque
centrou-se na necessidade de se implementar o desenvolvimento sustentável referentes
às cavernas potiguares.
Além do Poço Feio, ficou acertado empreender lutas sem trégua para que também
se tornem Áreas de Preservação Ambiental o Lajedo do Rosário, localizado no
município de Felipe Guerra, e a Furna Feia, situada em terras da antiga Maisa,
precisamente no assentamento Eldorado dos Carajás II, a qual se estende ainda
por terras pertencentes ao vizinho município de Baraúna, sendo a mais extensa
caverna de todo Estado do Rio Grande do Norte.
Matéria prima para inúmeros produtos usados na construção civil e militar, o calcário é extremamente visado pelo capital e sua dinâmica, razão pela qual é
tarefa conjunta lutar para que as belezas naturais potiguares, as quais revelam
infinito potencialturístico sustentável, deslumbrem e
propiciem qualidade de vida às gerações futuras.
(*) José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor adjunto do departamento de geografia
da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
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