Por Rangel Alves
da Costa*
De repente,
você encontra uma velha amizade e sente que a pessoa baixa a cabeça um tanto
envergonhada, como se temesse não ser reconhecida nem cumprimentada. Geralmente
acontece quando a situação de um parece estar melhor que a do outro e a pobreza
faz a pessoa querer evitar reencontros.
Em instantes
assim, como faz bem um olhar sincero, um abraço apertado, um punhado de
palavras antigas, daquelas que se dizia em meio às alegrias de outros tempos. E
logo a percepção que as amizades verdadeiras são aquelas construídas na flor
dos anos e que não haverá pobreza ou riqueza que as tornem esquecidas.
Nem todos
percebem, mas pessoas existem cujo sorriso no coração espera somente uma
palavra ou um gesto amigo do outro. Chamar alguém pelo nome causa um efeito de
chuva perante o sertão. Relembrar convívios passados causa um efeito de lua
perante olhos enamorados. Perguntar por parentes, amigos e conhecidos, causa um
efeito imensamente grandioso nos sentimentos.
É que as
pessoas gostam de ser reconhecidas, valorizadas, consideradas pela história de
vida e não apenas por situações. As pessoas - e quando mais em situação de
humildade estejam - gostam de ser reencontradas, principalmente nos seus
próprios lares, onde uma simples visita se torna num gesto inesquecível.
Pessoas
existem que conviveram juntas a criancice, a meninice, boa parte da vida
adulta. Por força do destino, cada uma segue um rumo diferente e mais tarde uma
está com melhores condições de sobrevivência que a outra. Muitos sequer
recordam do tempo passado, se negam sempre a relembrar os momentos iguais. A
riqueza e a bonança os tornam esquecidos daqueles que sempre se mostraram
verdadeiros amigos.
Lastimosos são
os corações assim, vaidosos, egoístas, presunçosos. Não há maior pobreza de
espírito que deixar de reconhecer o outro pelo fato de este estar
economicamente fragilizado, por viver na pobreza ou não poder ostentar o mesmo
anel. E se esquecem das voltas que o mundo dá e os exemplos recolhidos em cada
passo da vida.
Grandiosa é a
alma, primoroso é o espírito que possui a dádiva do reconhecimento, do amor
incondicional, do companheirismo e da fraternidade. Imenso é o coração e
potentado é o gesto daquele que convive para a vida e não para o momento,
daquele que se reconhece apenas um favor divino e não uma imposição humana.
Vaidade das
vaidades, tudo é vaidade, assim prega o Eclesiastes. Por que fugir ao bem e
buscar a arrogância e a desnecessária altivez? O que hoje se mostra de uma forma,
amanhã já terá outra feição. Quanto mais foge aos que cresceram no mesmo ninho
mais perto estará da solidão do amanhã.
Gostar de quem
gosta da gente é sublime reconhecimento. Sentir o que o outro sente é gesto
incomparável de igualdade. E não é difícil saber quem verdadeiramente é amigo,
quem nos admira, quem nos preserva no coração. Tudo na simplicidade do
encontro, do olhar, do abraço, da palavra sincera.
Eis aqui as
sandálias da humildade. Nenhum reinado é mais poderoso que uma boa amizade. O
velho amigo - mesmo em barraco de cipó e barro - adoça o café no prazer em
receber, entrega todo o contentamento do mundo porque não possui algo mais
valioso para oferecer. E há muita gente assim na minha Nossa Senhora da
Conceição de Poço Redondo.
Conheço o dourado,
o de anel, o de riqueza e o que pensa que tem. Conheço o rico e o pobre, a
arrogância e a humildade, aquele que é amigo e aquele que apenas finge, que
sempre age por conveniência. Mas afirmo com sinceridade: sempre abraçar o velho
amigo de chapéu de couro e roupa remendada, sempre abraçar aquela de mão
calejada e feição marcada pelo sacrifício. E assim com o moço, a moça, o jovem,
o menino. É que aprendi a amar os meus iguais.
Por que somos
apenas o que somos. Antes de tudo a raiz. E sem sair do chão. Por que a ele
retornaremos feito pó, leve, suave e com a consciência dos justos.
Poeta e
cronista
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