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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Tributos ao velho cangaceiro. - Lembranças luminosas de um "Candeeiro"

 Belíssimo registro de Márcio Vasconcelos

Manoel Dantas Loyola sobreviveu a Angicos. Na época do cangaço, era conhecido como Candeeiro. Pernambucano de Buíque (a 258 quilômetros do Recife), ingressou no bando de Lampião em 1937, mas afirma que foi por acidente. Trabalhava em uma fazenda em Alagoas quando um grupo de homens ligados ao famoso bandido chegou ao local. Pouco tempo depois, a propriedade ficou cercada por uma volante e ele preferiu seguir com os bandidos para não ser morto.

Candeeiro vive como comerciante aposentado em Guanumbi, distrito de sua cidade natal. Atende pelo nome de batismo, Manoel Dantas Loyola, ou por outro apelido: "seu Né". No primeiro combate com os "macacos", Candeeiro foi ferido na coxa. "Era muita bala no pé do ouvido", lembra. O buraco de bala foi fechado com farinha peneirada e pimenta. Candeeiro teve o primeiro encontro com o chefe na beira do Rio São Francisco, no lado sergipano.

"Lampião não gostava de estar no meio dos cangaceiros, ficava isolado. Quando soube que eu era de Buíque/PE, comentou: "sua cidade me deu um homem valente, Jararaca'".

 Candeeiro na ocasião de sua entrega

Candeeiro diz que, nos quase dois anos que ficou no bando, tinha a função de entregar as cartas escritas por Lampião exigindo dinheiro de grandes fazendeiros e comerciantes. Sempre retornava com o pedido atendido. Ele destaca que teve acesso direto ao chefe, chegando a despertar ciúme de Maria Bonita. Em Angicos, comentou que o local não era seguro. Lampião, segundo ele, reuniria os grupos para comunicar que deixaria o cangaço. Estava cansado e preocupado com o fato de que as volantes se deslocavam mais rápido, por causa das estradas, e tinham armamento pesado. No dia do ataque, já estava acordado e se preparava para urinar quando começou o tiroteio.

"Desci atirando, foi bala como o diabo" .

"Mesmo ferido no braço direito, conseguiu escapar do cerco". Dias depois, com a promessa de ser não ser morto, entregou-se em Jeremoabo, na Bahia, com o braço na tipóia. Com ele, mais 16 cangaceiros. Cumprindo dois anos na prisão, o Candeeiro dava novamente lugar ao cidadão Manoel Dantas Loyola. Sobre a época do cangaço, costuma dizer que foi "história de sofrimento". Mas ainda é possível perceber a admiração por Lampião.

"Parecia que adivinhava as coisas", lembra. Só não quis ouvir o alerta dado na véspera da morte, em 1938".

Fonte: Diário de Pernambuco

 Impressões sobre um velho amigo

Seu Né, Aderbal e Dona Lindinalva.

Candeeiro foi casado com Dona Lindinalva (Linda), com quem teve quatro filhos. Aderbal Nogueira sempre foi recebido com carinho por toda família. Há mais de 20 anos o documentarista da SBEC fazia as primeiras imagens do velho cangaceiro, na época ainda produziu um documentário exclusivo sobre o amigo e fonte de pesquisa, vamos conferir um trecho.



Testemunhos de quem o conheceu pessoalmente

 
 Candeeiro e Múcio Procópio

Para mim o encontro com o ex-cangaceiro Candeeiro, ou seu Né, como todos o chamam na intimidade, foi de uma emoção tremenda. A partir daquela casa simples, num lugarejo também simples, se esconde pedaços das história tantas vezes contadas por tantos.

Logo que chegamos e antes mesmo de sermos apresentados a Candeeiro, o sertanejo olhou para cada um de nós com um olhar manso, mas como de uma águia e com a firmeza que só as experiências da vida podem proporcionar, foi declinando a característica de cada um; um a um. Aquilo me marcou profundamente. Permanecemos ali com seu Né e sua família por muito tempo, uma conversa boa, amena, cheia de animação que podia ser notada pela risada forte e conhecida de seu Né.

Quando nos despedimos, ele veio até a porta, agradecendo a visita e fiquei a me perguntar o tamanha da inteligência desse sertanejo, talhado pela vida, pelo sofrimento e pelo destino. Candeeiro foi para mim o marco da Caravana Cariri Cangaço.

Múcio Procópio
Vice-Presidente da SBEC
Conselheiro Cariri Cangaço
Fotos e informações: Manoel Severo

 
Sabino Bassetti

Com a morte de Candeeiro, secou uma das últimas fontes de informação sobre o cangaço. Seu Né, como era chamado pelos mais íntimos, era incapaz de dar uma informação errada como tantos fizeram, quando não sabia algo respondia simplesmente: "Não tenho conhecimento". Sua casa era um porto seguro, pois ele e sua família recebiam a todos com muita satisfação. Candeeiro prestou importantes informações a diversos pesquisadores.

Agora com a missão já cumprida, que ele encontre o descanso eterno.

Adeus seu Né...

Sabino Bassetti
Pesquisador e escritor, Salto/SP

http://lampiaoaceso.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Dominguinhos

Publicado em 23/07/2013 por Rostand Medeiros
O grande Dominguinhos - Fonte - www.transasom.net
 O grande Dominguinhos – Fonte – http://www.transasom.net

Batizado por Gonzaga, Dominguinhos levou adiante legado do Rei do Baião – Após começo com ritmos nordestinos, este grande músico pernambucano transitou entre muitos estilos.

Um adolescente de 16 anos, chegado ao Rio de Janeiro havia pouco, de repente ganha a bênção do Rei do Baião ao ser chamado pelo próprio de “herdeiro artístico”. Não poderia ter começado de maneira mais certeira a carreira musical de Dominguinhos, o sanfoneiro nascido José Domingos de Morais, em Garanhuns, Agreste pernambucano, no dia 12 de fevereiro de 1941. O Brasil se despede do músico nesta terça-feira (23).

“Gonzaga estava divulgando para a imprensa o disco ‘Forró no escuro’ [1958] quando me apresentou como seu herdeiro artístico aos repórteres”, lembrou-se Dominguinhos, em entrevista ao G1, durante os festejos do centenário de Gonzaga, em dezembro do ano passado. “Foi uma surpresa muito grande, não esperava mesmo”, assegurou.

Dominguinhos junto ao Rei do Baião - Fonte - www.onordeste.com
 Dominguinhos junto ao Rei do Baião – Fonte – http://www.onordeste.com

A relação entre os dois, no entanto, é mais antiga. Dominguinhos ainda era criança e tocava triângulo com os irmãos no grupo Os Três Pinguins. Naquela época, era chamado Neném do Acordeon, apelido de infância. Tinha 8 anos e estava tocando na frente do hotel onde Gonzaga se hospedara, em Garanhuns, quando o Rei do Baião notou seu talento. Ali mesmo, prometeu ao músico mirim uma sanfona de presente, caso este resolvesse ir ao Rio de Janeiro.

O artista consagrado não se esqueceu do garoto quando ele foi procurá-lo, já rapaz, na então capital federal. Acompanhado do pai, o também sanfoneiro Chicão, e de um dos irmãos, Dominguinhos se mudou para o Rio de Janeiro e passou a viver em Nilópolis. Em 1954, a intenção do músico era encontrar Luiz Gonzaga. Quando o encontro aconteceu, a promessa não demorou a ser cumprida: “Em cinco minutos, ele me deu uma sanfona novinha, sem eu pedir nada”, contou. Também não foi necessário tempo demais para Gonzagão ter certeza do que tinha suspeitado em 1949: o anúncio de Dominguinhos como herdeiro aconteceria apenas quatro anos após a chegada do então jovem sanfoneiro ao Rio. Além do instrumento e da bênção, Gonzaga ainda batizou o rapaz, dando-lhe o apelido que viraria nome artístico. Para o velho Lua, a alcunha de “Neném do Acordeon” não ajudaria na carreira como músico.

A primeira gravação profissional de Dominguinhos não poderia ser no disco de outro artista: em 1957, tocou sanfona em um álbum de Luiz Gonzaga, na música “Moça de feira”, de autoria de Armando Nunes e J. Portela. No mesmo ano, o padrinho ajudou de novo na hora de batizar o grupo do qual o afilhado faria parte: com Zito Borborema e Miudinho, Dominguinhos fundou o Trio Nordestino, que ficou conhecido por interpretar diversos ritmos do Nordeste. O grupo continuaria, com outras formações, mas a participação de Dominguinhos foi encerrada em 1960.

Os primeiros discos
Os primeiros discos

O mundo do samba, da gafieira e do bolero atrairia o sanfoneiro temporariamente, mas, em 1965, Dominguinhos foi convidado a gravar, na recém-inaugurada gravadora Cantagalo, um disco que tinha como alvo os migrantes nordestinos que viviam no Rio de Janeiro. O dono da empresa era Pedro Sertanejo, pai de Oswaldinho do Acordeon, um dos primeiros a lidar com o forró no mercado do Sul-Sudeste brasileiro. Foi o bastante para Dominguinhos voltar a tocar xotes e baiões e, em 1967, integrar uma excursão de Luiz Gonzaga à região Nordeste, dividindo-se entre as funções de sanfoneiro e motorista – o notório medo de avião do sanfoneiro não começou aqui, no entanto. Antes de adotar o transporte rodoviário, Dominguinhos voou pelo mundo durante 30 anos, mas há 26 tinha deixado as aeronaves de lado.

Luiz Gonzaga, Guadalupe, Dominguinhos e Genival Lacerda. Foto do casamento de Dominguinhos e Guadalupe - Fonte - http://www.forroemvinil.com/
Luiz Gonzaga, Guadalupe, Dominguinhos e Genival Lacerda. Foto do casamento de Dominguinhos e Guadalupe – Fonte –http://www.forroemvinil.com/

Além de ser o segundo sanfoneiro de Gonzaga, e motorista eventual, Dominguinhos teve a oportunidade de conhecer, nessa excursão, a cantora pernambucana Anastácia. O encontro com a compositora, com quem se envolveu, marcou a carreira do músico. Juntos, são autores de mais de 200 canções. “Tenho sede” e “Eu só quero um xodó” são dois dos grandes sucessos da dupla e esta última música já soma cerca de 250 regravações, em várias línguas.

O empresário Guilherme Araújo, que dirigia a carreira dos novos ídolos baianos como Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil, viu Dominguinhos tocando num show de Luiz Gonzaga, em 1972, e fez o convite para que o sanfoneiro acompanhasse Gal no show “Índia”.  É dessa mesma época a primeira gravação de Gil de “Eu só quero um xodó”, versão que ficou muito famosa no Brasil. Como instrumentista, Dominguinhos passou então a transitar com desenvoltura no mundo da MPB, tocando ao vivo e também participando de gravações em estúdio.

Dominguinhos e Gilberto Gil - Fonte - www.premiodemusica.com.br
Dominguinhos e Gilberto Gil – Fonte – http://www.premiodemusica.com.br

Durante show no dia do centenário de Luiz Gonzaga, em 13 de dezembro deste ano, realizado na terra natal do Rei do Baião, Exu (PE), Gilberto Gil reiterou a importância de seu herdeiro. “Dominguinhos teve a herança do Gonzaga, que ele incorporou, através das canções, dos estilos, o gosto pelo xote, xaxado”. No entanto, para Gil, Dominguinhos soube trilhar um caminho próprio. “Ele foi além, em uma direção que Gonzaga não pôde, não teve tempo. Ele foi na direção do início de Gonzaga, o instrumentista, da época das boates do Mangue, no Rio de Janeiro, quando ele tocava tango, choro, polca, foxtrote, tocava tudo, repertório internacional, tudo na sanfona”.

Em meados dos anos 1980, Dominguinhos viu sua popularidade crescer em nível nacional. “De volta pro meu aconchego”, composta em parceria com Nando Cordel e gravada por Elba Ramalho, e “Isso aqui tá bom demais”, assinada junto com Chico Buarque, e gravada pelos dois, fizeram parte da trilha sonora da novela “Roque Santeiro”, da TV Globo, um sucesso absoluto entre 1985 e 1986. Temas dos personagens Roque Santeiro e Sinhozinho Malta, respectivamente, as canções ganharam milhares de ouvintes, levando o nome de Dominguinhos país adentro.

A composição de trilha sonora voltaria à vida de Dominguinhos em 1997, quando o sanfoneiro assinou as canções do filme “O cangaceiro”, de Anibal Massaini Neto. Dois anos depois, o disco “Você vai ver o que é bom” trouxe o registro de “O riacho do imbuzero”, uma letra até então inédita do compositor pernambucano Zé Dantas, que foi entregue a Dominguinhos pela viúva do parceiro de Luiz Gonzaga.  No mesmo trabalho, os dez anos da morte do Rei do Baião foram lembrados na música “Prece a Luiz”, assinada em parceria com Climério.

CD-Dominguinhos-Iluminado

Em 2004, Dominguinhos cumpriu temporada de shows no Rio de Janeiro, em dupla com Elba Ramalho, com repertório que privilegiou os hits de ambos os artistas. As apresentações se transformaram em CD no ano seguinte.  Em 2007, os papéis se inverteram e foi a vez de Dominguinhos virar padrinho: o sanfoneiro participou da estreia da filha Liv Moraes em disco, fazendo o arranjo e tocando a sanfona em algumas das faixas.  Nos últimos anos, a cantora acompanhou o pai em muitas das suas apresentações, inclusive durante a festa pelo centenário de Gonzaga, em Exu. A gravação, em 2009, do primeiro registro em DVD – “Dominguinhos ao vivo” – aconteceu no maior teatro ao ar livre do mundo, em Fazenda Nova, cidade do Agreste pernambucano, mesmo palco onde é realizada anualmente a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Os cantores Elba Ramalho, Renato Teixeira, Liv Moraes e Jorge de Altinho e os sanfoneiros Waldonys e Cezzinha participaram do trabalho.

Entre os últimos CDs gravados por Dominguinhos estão os trabalhos com o violonista gaúcho Yamandu Costa. A parceria começou em 2007, com o disco “Yamandu + Dominguinhos”, que tinha uma única preocupação: deixá-los tocarem o que tivessem vontade, sem amarras a repertórios ou estilos. Em cinco dias, foram registrados clássicos como “Feira de Mangaio” (Sivuca e Glória Gadelha), “Wave” (Tom Jobim), “Pedacinho do céu” (Waldir Azevedo) e “Asa branca” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). O encontro dos músicos viraria DVD, em 2009, e permitiria a produção de um novo CD, o “Lado B – Yamandu Costa e Dominguinhos”, lançado em 2010. Composições de Hermínio Bello de Carvalho, Jacob do Bandolim, Lupicínio Rodrigues, Ary Barroso e Lamartine Babo fazem parte do repertório do segundo disco.

Prêmios e honrarias não foram poucos ao longo de praticamente 60 anos de carreira: em 2002, o CD “Chegando de mansinho” deu a Dominguinhos seu primeiro Grammy Latino. “Conterrâneos”, CD solo gravado em 2006, conquistou o Prêmio Tim em 2007, na categoria cantor regional. Em 2008, Dominguinhos foi o homenageado do Prêmio Tim de Música Brasileira e, dois anos depois, venceu o Prêmio Shell de Música. Este ano, o disco “Iluminado” deu ao sanfoneiro pernambucano mais um Grammy Latino, na categoria raízes brasileiras -  uma classificação mais do que digna para uma estrela da música brasileira, defensor e renovador de suas raízes nordestinas.


Fonte – G1 PE

Extraído do blog Tok de História, do historiógrafo e pesquisador do cangaço: Rostand Medeiros

Descanse em Paz, Mestre !

Por: Juliana Ischiara
Dominguinhos e Juliana Ischiara

Descanse em paz mestre! Hoje o nordeste se despede de você com dor no coração... e já com saudade do sorriso doce e cativante, da voz suave e forte. Seu amor pelo nordeste jamais será esquecido...


Vai mestre, voa para o céu e de lá, continue torcendo pela nação nordestina e mandando inspirações musicais...


Juliana Ischiara e toda família Cariri Cangaço

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Morreu nessa madrugada de 24 de julho de 2013 o Ex-Cangaceiro Candeeiro.

Por: João de Sousa Lima
João de Sousa Lima e o ex-cangaceiro Candeeiro

Manoel Dantas Loyola foi o cangaceiro candeeiro e um  dos sobreviventes do combate da Grota do Angico. Nascido em Buíque, Pernambuco. Ingressou no bando de Lampião em 1937, mas afirma que foi por acidente. Trabalhava em uma fazenda em Alagoas quando um grupo de homens ligados ao famoso bandido chegou ao local. Pouco tempo depois, a propriedade ficou cercada por uma volante e ele preferiu seguir com os bandidos para não ser morto.  Candeeiro era aposentado e vivia na vila São Domingos, distrito de sua cidade natal. Apelidado por Seu Né. No primeiro combate com os "macacos", Candeeiro foi ferido na coxa. "Era muita bala no pé do ouvido", lembra. O buraco de bala foi fechado com farinha peneirada e pimenta.

CANDEEIRO diz que, nos quase dois anos que ficou no bando, tinha a função de entregar as cartas escritas por Lampião exigindo dinheiro de grandes fazendeiros e comerciantes. Sempre retornava com o pedido atendido. Ele destaca que teve acesso direto ao chefe, chegando a despertar ciúme de Maria Bonita. Em Angicos, comentou que o local não era seguro.

"Desci atirando, foi bala como o diabo .". Mesmo ferido no braço direito, conseguiu escapar do cerco".

Dias depois, com a promessa de ser não ser morto, entregou-se em Jeremoabo, na Bahia, com o braço na tipóia. Com ele, mais 16 cangaceiros. Cumprindo dois anos na prisão, o Candeeiro dava novamente lugar ao cidadão Manoel Dantas Loyola. Sobre a época do cangaço, costuma dizer que foi "história de sofrimento". Mas ainda é possível perceber a admiração por Lampião.

Postado por João de Sousa Lima no João de Sousa Lima em 7/24/2013

Enviado pelo escritor e pesquisador João de Sousa Lima
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Nota de falecimento! - Morre um dos últimos ex cangaceiros vivos

Por: Ângelo Osmiro

Lamentamos informar o falecimento do Sr. Manoel Dantas Loyola o ex-cangaceiro "Candeeiro", que aos 98 anos era um dos últimos remanescentes do Grupo de Lampião.

 
Foto: NE10 UOL

Fato ocorrido nas primeiras horas do dia de hoje, conforme nos comunicou o sócio honorário do GECC João de Sousa Lima.


Seu Né, como também era conhecido desde segunda-feira (15/07) estava internado na UTI do hospital Memorial Arcoverde na Capital do Sertão.

Da época do cangaço, seu Né guardava muitas lembranças e não escondia a admiração pelo maior cangaceiro da história, a quem chama de "amigo".

Produção laser vídeo - do documentarista Aderbal Nogueira


Seu Né deixa esposa e seis filhos. O velório está acontecendo na residência do ex-cangaceiro, na vila Guanumby, zona rural de Buíque. O sepultamento está marcado para as 16 horas desta quarta-feira no cemitério local.

Com informações de Angelo Osmiro Barreto
e do Caetés Lula Blogspot

Adendo:

Remanescentes de Lampião agora só  restam dois: 
O cangaceiro Vinte e Cinco e a cangaceira Dulce.

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OS ESQUECIDOS (MEMÓRIA E VIDA DEPOIS DO CANGAÇO) - II

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

OS ESQUECIDOS (MEMÓRIA E VIDA DEPOIS DO CANGAÇO) - II

Afirmo, sem medo de errar, que a maioria da população atual de Poço Redondo não sabe dizer quem foi Zé de Julião e muito menos o cangaceiro Cajazeira; não lembra mais de Sila ou de Adília e nem sabe o que significaram na história do cangaço; não conhece nada sobre a participação de Mané Félix ou de outros coiteiros e cangaceiros naquele período de lutas sem vitórias. Parte da história de Zé de Julião, por exemplo, só foi conhecida com as filmagens de “Aos ventos que virão” na região. E assim mesmo completamente distorcida, irreal.

Hoje em dia, por exemplo, se perguntar a algum morador quem foi Durval Rodrigues Rosa, logo terá como resposta o falecido líder político, ex-prefeito, valoroso sertanejo reconhecido por todos na região. Mas ninguém o recordará como o rapazote em cujas terras ribeirinhas da família Lampião foi chacinado, e muitos menos daquele que conhecia todos os segredos envolvendo a participação de seu irmão, o coiteiro Pedro de Cândido, na trama que culminou com a tragédia cangaceira.

Adília e Sila

Mesmo meninote, Durval rondava o coito e também ajudava o irmão coiteiro naquilo que o bando ali refugiado necessitasse. Porém, nunca gostou de relatar em detalhes o que sabia. Questioná-lo sobre aquelas verdades escondidas era o mesmo que adentrar num sombrio labirinto. Verdade é que faleceu levando consigo a sentença de absolvição ou de condenação do irmão Pedro de Cândido, acusado de traição a Lampião e seu bando.

Soa até como contrassenso que tenha acontecido assim, mas a verdade é que pessoas estranhas ao seu meio os tenham valorizado e reconhecido muito mais do que aqueles conviventes sob o mesmo chão. Enquanto os sertanejos se mantinham afastados, ignorando aquelas vidas recheadas de feitos - para o bem ou para o mal -, outros chegavam de muito distante ávidos para lançá-los o olhar e a palavra. E ouvir, acima de tudo.

E em Poço Redondo, município do sertão sergipano que forneceu mais de duas dezenas de filhos seus ao bando mais famoso de cangaceiros e em cujo solo, na Gruta do Angico, coito às margens do Velho Chico, Lampião e mais nove companheiros foram chacinados a 28 de julho de 38, sempre foi marcante a indiferença das pessoas com relação aos seus irmãos de luta. A par dos já citados, os exemplos se avolumam.

Não se conhece bem os motivos de ter acontecido assim. A maioria dos ex-cangaceiros nunca gostou de ser reconhecido como tal, de ser relembrado pela sua trajetória catingueira. Por trás disso tudo o temor que permaneceu por muito tempo, como se ainda estivessem sendo perseguidos pela polícia, tivessem que ser chamados a prestar contas às autoridades, serem vítimas de vinganças ou problemas não resolvidos desde outros tempos.

As perseguições policiais existiram mesmo, é verdade. Muitos caçadores de cangaceiros, talvez ainda não satisfeitos com os acontecimentos de Angico, continuaram perseguindo aqueles que conseguiram sobreviver à chacina. Não bastou, como alguns fizeram, que se entregassem à polícia. E não porque as perseguições continuaram com uma feição de pessoalidade, de acerto de contas de indivíduo para indivíduo, da polícia contra o ex-cangaceiro. O “ex” era a senha maldita. O sargento Deluz, por exemplo, fez fama nesse encalço aterrador, agindo com desmedida perversidade.

Zé de Julião, alcunhado de Cajazeira no bando de Lampião, foi um exemplo claro de que as perseguições pessoais continuaram existindo mesmo após a chacina de Angico. Perdeu sua esposa Enedina no fogo, porém conseguiu escapar. E daí em diante se viu muito mais encurralado do que nos tempos de luta aberta. Contudo, a história registra que outros fatores interferiam para a continuidade das perseguições.

Ser ex-cangaceiro era apenas a desculpa para o prosseguimento dos encalços, vez que contra ele pesavam outras desavenças, até mesmo de antes de entrar para o bando. Um dos motivos para que ele enveredasse no mundo cangaceiro foi exatamente o repúdio contra as ações violentas da polícia contra os inocentes sertanejos, aliadas às repetidas extorsões e ameaças. Talvez a polícia não houvesse esquecido aqueles arroubos de indignação de um filho de um fazendeiro de então. Por isso aproveitou-se da ocasião para testar a sua força.

Mas a verdade é que as perseguições policiais contra o ex-cangaceiro passaram a ter outras motivações. Ter participado do bando era apenas uma desculpa de fachada. O que realmente pesou contra ele foi o fato de ter se mostrado disposto a enfrentar politicamente os poderosos da região. E quando disse que seria candidato a prefeito, então a coisa pegou fogo para o seu lado. Daí ter sido forçado a viajar para o Rio de Janeiro. Ao retornar e se lançar novamente candidato continuaram as perseguições. Até ser assassinado, já nas terras de Poço Redondo, quando mais uma vez regressava do exílio forçado.

Zé de Julião ou Cajazeira

Como demonstrado, não era vão o temor demonstrado pelos ex-cangaceiros. E mesmo muitos anos depois, quando já não se falava mais daqueles acontecimentos de Angico nem de qualquer investida policial contra eles, ainda assim permaneceram arredios, amedrontados, só aceitando falar quando conhecia bem quem os procurasse. E até mesmo Alcino, uma forte liderança local, iniciou suas pesquisas tendo grandes dificuldades para contar com a colaboração daquelas pessoas.

Esse afastamento dos ex-cangaceiros e coiteiros se justificativa por si mesmo. Estavam exercendo um legítimo direito de proteção pessoal e de não querer fuçar em cinzas de fogo adormecido. Contudo, o que não se justifica é que a população de Poço Redondo, conhecendo cada um e sabendo de sua passagem pelo cangaço, tenha se mostrado tão alheia a esse povo combatente e com uma história tão pujante. E não conhecer o acontecido nos limites de onde vive revela ainda mais o descaso com o passado e com o que lhe deu feição de importância.

Vejo como descaso, desvalorização mesmo, estar na presença de Adília, pessoa que entrou no cangaço ainda adolescente, companheira de Canário e irmã de Delicado, e avistá-la como pessoa comum. E assim acontecia. E o fazendo estavam, também, renegando a história, o passado, as lutas sangrentas que ainda ecoavam pelas moitas catingueiras. E certamente ainda ressoam por aquelas brenhas de sol e espinhos.

Para a maioria dos poço-redondenses era como se nada daquilo tivesse acontecido, era como se aquelas pessoas jamais tivessem sido comandadas por Lampião ou arriscado a vida para não deixar nada faltar aos revoltosos. E vejo total desacerto nessa postura de indiferença. Heróis ou bandidos, justiceiros ou vermes sanguinários, fossem como fossem, verdade é que eram pessoas distintas, e, como tais, personagens de um mundo onde a força sertaneja foi colocada a toda prova.

Continua...

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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