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quarta-feira, 8 de abril de 2020

O INVERNO DOS PROFETAS

Clerisvaldo B. Chagas,8 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.289

BARRAGEM CONFIRMA OS PROFETAS (F.OTO: ÂNGELO RODRIGUES).

Com êxito total ainda repercute o encontro anual do Profetas das Chuvas em Santana do Ipanema, sertão de Alagoas. Todos os sertanejos experientes que se apresentaram no evento, confirmaram o que a Ciência vinha pregando sobre um ano bem chovido e um inverno profícuo para a Agricultura e a Pecuária do semiárido. Baseados nas observações da Natureza, os profetas acumulam conhecimento durante décadas e décadas. A Ciência até erra às vezes, mas os Profetas das Chuvas continuam firmes com seus olhares sobre a fauna, a flora, o tempo e os sinais do céu na barra, nas estrelas, no Sol, na Lua e em outros segredos transmitidos pelos     ancestrais. E esse mundo mágico do homem rural dedicado a inquirir
O ambiente, até agora tem sido verdadeiro.
As chuvas que antecedem o inverno de Sergipe, Pernambuco e Alagoas, com o nome trovoadas, vêm surpreendendo pela intensidade e volume. Não ficou um só rio, um só riachinho que não extrapolasse suas enchentes, aguardadas há anos seguidos de seca braba. E o espanta-boiada canta sobrevoando as lagoas; o bem-te-vi não para o bico; sapinhos formam exércitos e marcham dos rios pelas ruas mais próximas das cidades. O inverno para nós tem início em maio, mas muitos agricultores já seguiram conselho dos antigos: “é chover é plantar”. Dessa vez o acauã não cantou; as formigas fugiram dos riachos secos; o mandacaru florou bonito e o rio Ipanema botou cheias e mais cheias torando o São Francisco pelo meio. O sertão queimado ficou verde, belo e espetacular com seus matizes.
São as chuvas que alimentam os rios. São os rios que alimentam a terra e o mar. Os detritos das correntes engordam o peixe que mata a fome do ribeirinho. E os campos ficam dourados entre o sol e a chuva, nasce o grão, chega à espiga, boneca verde de cabelos ouro. Nos terreiros das fazendas, canta-se o “mineiro-pau” na batida do cacete no feijão de arranca. O galo assanha o desejo correndo de asas abertas atrás das frangas. Até mesmo a raposa faz festa em rondas curtas pelos galinheiros. Produtos no mercado, dinheiro no bolso, barriga cheia... Viva Sertão paraíso do mundo.
Com certeza os Profetas das Chuvas estão em alerta.
Com certeza Deus está no comando.
“E nada como um dia atrás do outro e uma noite no meio”.

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A FAMA DO BOI

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.288
BOI SALGADINHO.  (IMAGEM: YOUTUBE).

Iguaracy, lá para as bandas da região do Pajeú, Pernambuco, está criando fama no Brasil inteiro, através das redes sociais. Cidade com pouco mais de 12.000 habitantes, desafia Norte, Nordeste e todas as regiões brasileiras. O desafio é que possui em suas terras um boi revelação rei da caatinga e desmoralizador de vaqueiro desassombrado. Na vaquejada verdadeira também chamada pega de boi e pega de boi no mato, o boi Salgadinho vai completando suas 39 edições de carreiras e vaqueiro nenhum de inúmeros estados brasileiros, conseguiu lhe pôr as mãos. Vem gente de todos os lugares do Nordeste, uns para tentar a sorte outros atraídos apenas pela brincadeira e o histórico do boi. É grande o número de apostas de todo tamanho quando acontece cada uma dessas edições.
Todo o semiárido tem nos seus anais bois e vaqueiros invulgares cantados e decantados em prosa e versos através de décadas. Foi assim com o boi Saia Branca nos anos 1960, no povoado Várzea de Dona Joana, em Alagoas. Foi vencido pelo vaqueiro Zé Vicente que já era famoso e passou a ser glorificado. Mas agora em Pernambuco o boi Salgadinho estica suas vitórias desafiando excelentes cavalos e cavaleiros. Dizem que ele é treinado para se esconder com mestria dos seus melhores perseguidores. E se é difícil pegá-lo em mato seco, imagine na caatinga verde. O dono do boi também provoca a quem quiser apostar alto contra o animal. Porém, os mais famosos vaqueiros que foram derrotados por Salgadinho, não colocam desculpas esfarrapadas, mas sim, reconhecem a rapidez do ruminante de Iguaracy.
Músicas, aboios, repentes e talvez cordéis, exaltam as qualidades do bicho que não se deixa pegar. Até carro zero entra na jogada de premiação, conforme o que temos visto. Um veterano derrubador de gado falou: “Se um dia pegarem o boi Salgadinho, merece uma estátua em Iguaracy, o boi e o vaqueiro vencedor, porque esse será, sem dúvida, o rei de nós vaqueiros”.
É assim que se vai perpetuando a brincadeira bravia de homens intimoratos desde a chegada do gado nos sertões. Brincadeira essa filha das mangas dos antigos latifundiários criadores.
Você é vaqueiro? Pois tente pegar o Salgadinho, camarada.
Salve o eterno Ciclo do Gado nordestino.

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EU E O CANGAÇO COM SOUSA NETO

Por Manoel Severo

Hoje traremos mais uma entrevista dentro do universo de pesquisadores da temática cangaço e nordeste. A iniciativa é do grande documentarista Aderbal Nogueira que desta vez nos traz o pesquisador e escritor, Conselheiro do Cariri Cangaço e membro da SBEC e ABLAC, Sousa Neto, secretário de cultura de Barro, no Ceará. 

Março de 2020

BREVES COMENTÁRIOS SOBRE ANTOLOGIAS DE ROMANCEIRO, DE CANTORIA E DE CORDEL

 Por Carlos Alberto Silva
Sebastião Nunes Batista

ANTOLOGIA DA LITERATURA DE CORDEL, de Sebastião Nunes Batista, Natal-RN: Fundação José Augusto, 1977, 419 páginas. O pesquisador Sebastião Nunes Batista (1925-1982) veio de uma família de poetas, pois, era filho do cordelista, livreiro e editor Francisco das Chagas Batista (1882-1930) e Hugolina Nunes da Costa (1888-1965), filha do famoso cantador da Vila do Teixeira: Ugolino Nunes da Costa (1832-1895), ou seja, vem da tradição da Escola dessa Toponímia de poetas.
Era sobrinho do cantador e cordelista Antônio Batista Guedes (1880-1918) e do poeta Manoel Sabino Batista (1868-1899), ou melhor, um dos fundadores do movimento literário cearense, de 1892, conhecido como Padaria Espiritual, que, tinha o jornal de nome O Pão. Aquela confraria era formada por Adolfo Caminha, Antônio Sales, Rodolfo Teófilo, e, além de Outros. O padeiro Sabino Batista utilizava o cognome de Sátiro Alegrete no tal movimento.


E irmão do famoso cordelista Paulo Nunes Batista (1924-2019) e de Maria das Dores Batista Pimentel, que, utilizava o pseudônimo de Altino Alagoano na autoria de seus cordéis. Foi bastante influenciado pela tradição, convivência e legado poético familiar, pois, esses fatores contribuíram para inseri-lo na poesia, não como cantador e muito menos como cordelista, mas, como grande pesquisador do cordel. Realizou muitas pesquisas da teoria, do resgate de verdadeiros autores de folhetos e da história do cordel, que, foram publicados em forma de artigos e livros.
De sua lavra, entre outras obras, destacaram-se: Primeiro, publicou pela Biblioteca Nacional, em 1971, a excelente BIBLIOGRAFIA PRÉVIA DE LEANDRO GOMES DE BARROS (1865-1918). Em 1921, a viúva do Pai do Cordel Brasileiro vendeu o espólio a João Martins de Athayde, entretanto, ao longo dos anos, João Martins e José Bernardo passaram de editor proprietário para "editor autor", como era estampado nas capas dos folhetos. Então, o grande objetivo desse Livro foi reaver e devolver a Leandro Gomes de Barros a devida autoria.
Segundo, em 1977, pela Fundação José Augusto, do Governo do Rio Grande do Norte, a ANTOLOGIA DA LITERATURA DE CORDEL, a qual, terá maiores detalhes, abaixo. Terceiro, em 1982, publicou pela Fundação Casa de Rui Barbosa, a POÉTICA POPULAR DO NORDESTE, que, trata da forma e da modalidade da poesia oral e escrita. Fazia parte de uma equipe de pesquisadores da Fundação Casa de Rui Barbosa, na qual, existiu um projeto que se chamava de Literatura Popular em Verso, onde, foram publicados catálogos, estudos e antologias.


A lista de cordelistas inseridos no livro ANTOLOGIA DA LITERATURA DE CORDEL, de Sebastião Nunes Batista...
Em janeiro de 1982, proferia uma palestra em Laranjeiras-SE, repentinamente, foi acometido de um ataque cardíaco e veio a falecer. Quanto à Obra, em voga, o prefácio é de autoria de Manuel Diégues Júnior (1912-1991), pesquisador do folclore e pertencia aos quadros da Fundação Casa Rui Barbosa, pois, ao longo do texto referiu-se à poesia oral e escrita. Destacou a influência portuguesa, a peleja na cantoria e no cordel, a classificação de temas em ciclos e a importância cultural do cordel no Nordeste. Aliás, o prefaciador já tinha publicado um alentado artigo, nomeado de CICLOS TEMÁTICOS NA LITERATURA DE CORDEL.
A nota preliminar, do Autor, começou afirmando a similaridade entre a literatura de cordel e o romanceiro popular do Nordeste. No fluxo do texto fez alusão ao romanceiro estudado pelo escritor José de Alencar, aos cantadores da Vila do Teixeira e ao cordelista Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Vale salientar, que, tanto o Prefaciador como o Autor adota o estudo da literatura de cordel com o viés folclórico e não como gênero literário. A Antologia é formada de 44 cordelistas, em ordem alfabética, visto que, começa com Abraão Bezerra Batista e termina com Silvino Pirauá de Lima.
De cada poeta, descreveu os dados biográficos e escolheu somente um cordel já publicado em forma de folheto, pois, reproduziu a capa da edição. É bom lembrar, que, para esse Livro, foi utilizado um conjunto de fontes: livros, artigos, jornais, revistas, cordéis e depoimentos.

Carlos Alberto Silva
Até aquele momento, um cordel ainda pouco conhecido, foi inserido e chamava-se de A GUERRA DE CANUDOS. De acordo com o pesquisador da Guerra de Canudos e de Antônio Conselheiro: o sergipano, mas, radicado na Bahia, José Calasans Brandão da Silva (1915-2001), encontrou, um exemplar, na Biblioteca da Faculdade de Filosofia, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), esse cordel, sem autoria, sem data, sem local de publicação e com 16 páginas. Comparou o conteúdo com os dados do cordelista e cantador João Melquíades Ferreira da Silva (1869-1933), contemplado no Livro CANTADORES E POETAS POPULARES, de Francisco das Chagas Batista (1882-1930), e, chegou à conclusão, que, só poderia ser de autoria do Cantor da Borborema, porque, também foi combatente na citada Guerra. Então, o Professor produziu um texto e publicou, em forma de artigo, na Revista Brasileira de Folclore.
O livro ANTOLOGIA DA LITERATURA DE CORDEL, de Sebastião Nunes Batista, teve uma tiragem de 20.000 exemplares. Foi notícia no Jornal Diário de Natal, na edição do dia 29/09/1977, informando, que, no dia 10/10/1977, na Academia Norte-Riograndense de Letras seria lançado e com a presença do Autor. De fato, no dia do lançamento, foi entrevistado na Rádio Poti e na redação do Jornal.
REFERÊNCIAS:
-BATISTA, Francisco das Chagas. CANTADORES E POETAS POPULARES. 2ª Edição. João Pessoa-PB, Governo do Estado da Paraíba, 1997, 233 páginas (Biblioteca Paraibana, Volume XXI).
-BATISTA, Sebastião Nunes. ANTOLOGIA DA LITERATURA DE CORDEL. Natal-RN: Fundação José Augusto, 1977, 419 páginas.
-HEMEROTECA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Fonte: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx…>. Acesso: 01/04/2020.

-SILVA, José Calasans Brandão da. A GUERRA DE CANUDOS. Através da Revista Brasileira de Folclore, Ano VI, Nº 14, 1966, páginas 53-64.

Carlos Alberto Silva, pesquisado do Cariri Cangaço
Natal, Rio Grande do Norte

EU E O CANGAÇO COM RAIMUNDO MARINS

Por Manoel Severo

Hoje traremos mais uma entrevista dentro do universo de pesquisadores da temática cangaço e nordeste. A iniciativa é do grande documentarista Aderbal Nogueira que desta vez nos traz o oficial da Policia Militar da Bahia, pesquisador e membro da ABLAC, Major Raimundo Marins, de Salvador-Bahia.

Março de 2020.

ESTÁ VENDO COMO O SEU DEUS DE AGORA É MUITO MAIS QUE AQUELE SEU “DEUS DO ACASO”?

*Rangel Alves da Costa


Gente de pouca fé, ou de fingida fé. Povo de Deus aos poucos, a conta-gotas, somente quando já não pode fingir que sequer dele se recorda. Gente que se diz fiel, mas de fidelidade escondida e de pouco uso.
Mesmo que não queiram admitir, muitos tiveram em suas vidas somente um “Deus do acaso”. Ou seja, creram somente naquele Deus pontual, existente somente em determinadas ocasiões e para serventia em apenas numa ou noutra situação. E jamais num Deus vivo, num Deus forte e de permanente presença na fé, na alma, no coração.
E por que insistiam em ter apenas um “Deus do acaso”, este parecia de utilidade apenas quando um grave problema surgia, quando tinha uma situação difícil de resolver, quando a mente desesperada se lembrava de sua existência e a boca se abria para clamar, rogar, implorar.
Dava uma topada, então dizia “Ai meu Deus!”, recebia uma notícia ruim e dizia “Meu Deus!”, via-se diante de uma gravidade e logo clamava “Meu Deus, e agora?”. Será que Deus, o Deus vivo, o verdadeiro Deus, aquele do qual dependemos a vida e tudo, merece ser visto e lembrado apenas casualmente, de vez em quando, apenas num momento de precisão?
O momento de crise pelo qual passamos agora, de incertezas, medos e até desesperanças, serve muito para pontuar acerca daquele “Deus do acaso” e do Deus único e de eterna presença.
Muitos que antes buscavam a existência de Deus apenas casualmente, agora se veem tomados por uma fé e uma crença diferentes. Agora se clama por Deus a todo o momento. Agora Deus é lembrado a todo instante. Deus nunca esteve tão presente na vida das pessoas como agora.
E que isto sirva como lição. E para esta lição: Deus não possui serventia apenas na hora da precisão. Deus antecede a toda e qualquer situação, bastando apenas que sua presença seja permanente no coração.
E que sirva de lição mais esta lição: Deus é tão bom, tão generoso e presente, que ao seu lado estará ainda que no esquecimento. Ele ergue a mão para levantar, permite força para seguir em frente. E mais: não pede que retribua.
Cabe a você viver e valorizar o seu Deus!

Escritor
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GOSTAR DE CASA

*Rangel Alves da Costa

Por mais estranho que possa parecer, mas a saudade do cafezinho chega mesmo quando a gente não está muito distante dele. Basta olhar pra cozinha, pro fogão, pra garrafa ou xícara. Ou basta que o relógio biológico sinalize que já chegou de mais um cafezinho.
Mas não somente o cafezinho causa saudade. A gente se acostuma de tal modo ao que é nosso, ao que tem gosto de casa, que nada de lá fora parece ter sabor igual. A comida pode ser chique, de nome estrambólico, mas a nossa, mesmo aquela simples e de quase todo dia, sempre melhor.
É sempre assim: quando a gente está distante ou por momentos se afastou daquilo que tanto gosta, então a real valorização chega em forma de saudade grande, de desejo de ter novamente, de nunca mais se afastar. Acontece sempre comigo.
Quando viajo por alguns dias e mesmo estando entre amigos, mesmo sem um só instante que não haja alegria, festividade e compartilhamento, mesmo com os prazeres do conhecimento do novo e da sabedoria alcançada, ainda assim sempre bate uma saudade danada de casa.
Ora, quem ama nunca afasta do pensamento aquilo que tanto tem e tanto quer. É como se água mineral nunca matasse a sede, nunca suprisse a água com gosto de barro da moringa e do pote. É como se o café encorpado, perfumado e diferenciado na mistura, jamais pudesse ter melhor aroma e sabor que o café da cozinha de casa.
É como se a comida - por mais diversificada e bonita que seja - nunca consiga ter o mesmo gosto e prazer daquela tão conhecida e apreciada no dia a dia da vida. É como se a cama fosse dura demais, o banheiro estranho demais, a porta de entrar e sair não deixasse entrar nem sair do mesmo modo que aquela da costumeira moradia.


Um povo amigo em reencontro, as palavras novas surgindo de boca em boca, os abraços e os carinhos por todo lugar, os olhares que sorriem a cada encontro, mas mesmo assim sempre diferente do encontro com o conterrâneo, com o povo do meu lugar, com João, Zabé, Aristarco, Gerúsia...
Com aquela esquina, com aquela praça sem praça e sem banco de praça, com Dona Maria de Lenço na cabeça e Seu João Berdoega passando o cigarro de fumo nos beiços. Quanta estranheza há entre o vasto mundo e o mundo que é meu, o seu, o de cada um!
E se vai de avião, então dá vontade de ser passarinho e voejar ligeiro para o doce e afetuoso ninho. E se vai de carro, logo dá vontade de sair correndo e fazer o caminho de volta. E se vai pra ficar três ou quatro dias, então as horas e os segundos passam a ser contados na palma da mão. Por que assim acontece?
Não por que o local visitado seja ruim, não por que os amigos reencontrados não trouxessem alegria e satisfação, mas simplesmente pelo fato de que é na nossa casa, seja de tijolo e cimento ou no cipó e barro, que nos completamos de alma e coração.
É na nossa casa que sabemos onde estão espalhadas todas as nossas páginas de vida. E as juntamos para verdadeiramente ser o que somos. E as escrevemos para que os outros não rabisquem nem falseiem as linhas de nossa história.
E somente na nossa casa, que é a moradia e a terra, que é a porta e o chão, é que nos sentimos assim: livres, grandes, passarinhos, donos do nosso destino.

Escritor
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JOSÉ FELIPE PAI DE MARIA BONITA E ZÉ DE NENÉM PRIMEIRO MARIDO DE MARIA BONITA.



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MARIA BONITA


Segundo o livro 1909/15 da paróquia de São João Batista de Jeremoabo, Maria Gomes de Oliveira, mais conhecida como Maria Bonita, nasceu no dia 17 de janeiro de 1910, no município hoje conhecido como Paulo Afonso, na Bahia. Mas, a partir da década de 1990, Maria Bonita passaria a ser lembrada todo dia 8 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher.
Ainda jovem, Maria se casou com o sapateiro Zé de Neném, mas ele era infiel, e Maria queria uma outra vida para ela. Quando Lampião ganhou fama, ela ansiava por encontrá-lo, o que realmente aconteceu, e eles começaram a namorar. Um ano após, aos 18 anos, ela foi embora com ele na garupa de um cavalo, e isso quebrou a tradição do cangaço e iniciou a fase em que os cangaceiros podiam levar suas mulheres junto.
A presença de mulheres tornou os bandos menos violentos, as ações passaram a ser mais seletivas e centradas na coleta de dinheiro. Nenhuma mulher podia entrar no bando sem já estar casada com um cangaceiro. Não era permitida traição, e se houvesse, a mulher era executada. Se o marido morresse, algumas viúvas foram mortas para não se tornarem um fardo para o grupo ou presas pela polícia. MARIA BONITA: SEXO, VIOLÊNCIA E MULHERES NO CANGAÇO é um compilado sobre como era a vida dos bandos, com destaque para dois casais: Maria Bonita e Lampião; Dadá e Corisco.
Os jornais de 1930, época maior das crueldades e ações espetaculares de Lampião, deram pouca importância para a esposa do cangaceiro. Maria Bonita começou a ganhar ares de mito depois de sua morte. Ao contrário de Dadá, esposa do cangaceiro Corisco, que morreria em 1994 e deixaria sua vida registrada em livros, filmes e entrevistas, a história de Maria Bonita é contada apenas pela palavra falada e passada.
Lampião abandonou os estudos aos 12 anos de idade para ser vaqueiro. Tornou-se conhecido por ser “amansador de cavalos e burros bravios” e pela familiaridade com os caminhos da região. Embora de pouco estudo, era exímio estrategista. Segundo ele próprio, entrou no cangaço em 1917 para vingar o pai, José, Ferreira, assassinado na cidade de Água Branca, Alagoas. O crime tinha sido encomendado pelas famílias Nogueira e Saturnino, do município pernambucano de Vila Bela, sua terra natal. Mas há contradições nessa versão, uma vez que seu pai faleceu em 1921 em decorrência de atividade criminosa. Ele estava escondido em uma fazenda, quando a esposa, dona Maria, faleceu vítima de infarto. Logo em seguida, José foi cercado pela polícia e fuzilado a queima-roupa.
As mulheres da época eram tratadas com violência, vítimas de estupro e mortes bárbaras. Entretanto, Maria era tratada com carinho e respeito por Lampião. Dadá, a esposa de Corisco, e Maria Bonita, não se davam.Dadá dizia que Maria era uma mulher muito chata. Considerava-a abusada, ranzinza, orgulhosa, metida a besta e barulhenta. Maria estava sempre ornada com algumas das melhores jóias que já tinham circulado pelo sertão. Ao contrário de Maria, Dadá não morreu quando o bando foi capturado, mas presa. Após cumprir sua pena, ela ficou conhecida por algumas músicas que gravou, além dos livros e filmes.
A obra relata de forma direta e sem qualquer censura, o que essas pessoas passavam, como elas deviam pensar, e os atos que praticavam. Principalmente como era a vida das mulheres e como a valentia destas mudou o cangaço. Algumas partes são terríveis, reviram o estômago. Como o fato de que elas ficavam grávidas com frequência, porque não usavam métodos contraceptivos e precisavam ficar disponíveis para seus homens. Assim que os filhos nasciam, eles eram dados a fazendeiros ou casais em cidades por onde os bandos passavam.
Em vida, Maria nunca foi conhecida como Maria Bonita, mas apenas como Maria de Déa, uma jovem de 28 anos que teve a cabeça decepada em 28 de julho de 1938 e que morreu sem saber que seria tão famosa como é hoje. Quando Maria Gomes de Oliveira morreu, nasceu Maria Bonita.
MARIA BONITA: SEXO, VIOLÊNCIA E MULHERES NO CANGAÇO é uma obra importante para se compreender, sem qualquer romantismo, a selvageria do ser humano quando em um ambiente tão cruel quanto ele próprio. Não há limites, apenas o instinto animal de sobrevivência e liderança. A edição traz algumas fotos da época, o que a torna ainda mais interessante.
AVALIAÇÃO: 
AUTORA: Adriana NEGREIROS
EDITORA: Objetiva
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 296

PARTE 01 - ANTONIO FERREIRA, PARENTE DO CANGACEIRO "LAMPIÃO"

https://www.youtube.com/watch?v=Xz4GPTrzHiw

Publicado em 16 de dez de 2015

Conheça o Testemunho e desabafo do Pr. Antonio Ferreira Lima Primo Terceiro do Cangaceiro Virgulino "LAMPIÃO". Em 28/Julho/1938,o Cangaceiro Morreu numa emboscada na Grota do Angico em Sergipe-AL e seu avô Acelino Ferreira, primo primeiro do Lampião Assumiu o papel de Vingar a Morte do Cangaceiro. Aos 13 anos já trabalhando na Fazenda, foi atacado pelos inimigos de seu Avô. e Antonio Ferreira cometeu seu primeiro Crime que tirou sua paz. Só aos 42 anos de Idade depois de ter tido uma vida de vinganças e perseguições, encontrou JESUS que mudou o Rumo de sua história. 

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ZÉ DE NENÉM, MARIA BONITA E LAMPEÃO


Maria Gomes de Oliveira, segunda filha do casal José Gomes de Oliveira, José Felipe e de dona Maria Joaquina Conceição de Oliveira, Maria Déa, como toda moça no desvirginar da adolescência, sonha em casar e ter seu ‘príncipe encantado’ ao seu lado por toda a vida.

José Felipe pai de Maria Bonita

Nos sertões nordestinos esses sonhos eram, na maioria das vezes, uma maneira de fugir, escapar, do modo, maneira, ao qual eram tratadas as meninas pelos pais. A criação não era nada fácil para um casal de agricultores, vivendo exclusivamente do que a roça lhes oferecia. O maior temor de um pai, ou uma mãe de família, naquela época era ter sua filha vendendo seu corpo nos cabarés das cidades. Principalmente a mãe, pois o machismo reinante faziam-na exclusivamente culpada. Com esse receio, em vez de educar, mostrando o fato, como a coisa se dava, e assim ela própria teria tempo para construir uma forte ‘muralha’ como defesa, os pais faziam eram manter suas filhas como escravas, ensinando, quando ensinavam, como ser obedientes em tudo ao marido. Logicamente, como em toda regra tem exceção, nessa também teve a sua.


Como em toda adolescência faz-se os grupinhos de moças e rapazes, com particulares e ‘segredos’ entre eles, naquele tempo, também tinha. Nos anos que se seguiram, Maria foi ‘ganhando’ uma ruma de irmãos, e fazendo amizades com algumas primas e primos. Logicamente todo mundo teve sua, ou seu, confidente, e Maria Gomes, Maria de Déa, tinha sua prima Maria Rodrigues de Sá como tal. Nas festividades, sambas e forrós que tinham na região, nas cidades de Santa Brígida, Santo Antônio da Glória e Jeremoabo, todas no Estado baiano, as quais ficavam mais perto de seu lugarejo, Malhada da Caiçara, pelos cálculos da época, como suas primas e amigas, Maria de Déa arrumou namoricos com um ou outro rapaz. Quis o destino que Maria se apaixona pela primeira vez por um de seus primos chamado José Miguel da Silva, por todos conhecido como Zé de Neném, da mesma localidade em que nascera, na Malhada da Caiçara, tendo uma espécie de ‘atelier’, ou um quarto de trabalho, um local para trabalhar, em Santa Brígida, onde exercia sua profissão de sapateiro.

José Miguel primeiro esposo de Maria Bonita

“(...) Zé de Neném era filho de Pedro Miguel da silva conhecido por todos na região pela alcunha de Pedro Brabo e Maria Conceição Oliveira, apelidada de Neném. O parentesco do sapateiro com Maria de Déa vinha por parte da sua avó, Generosa Maria da Conceição, uma senhora que era conhecida pelo apelido de Juriti e que era irmã de Zé Felipe, pai de Maria (...).” (“A trajetória guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” –LIMA, João de Sousa. 2ª Edição. Paulo Afonso, BA, 2011).

Como a família de Maria Gomes, a família de Zé de Neném era bastante grande. Naquela época não havia os meios contraceptivos atuais e, com toda certeza, fazer, fecundar, filho era como se fosse um investimento para o futuro, erroneamente pensavam assim os catingueiros. No futuro eles iriam ajudar os pais nas lidas diárias das fazendas, essa, e simplesmente essa, era a razão. Dentre as irmãs do sapateiro, destacamos Mariquinha Miguel da Silva, que, em determinada época, deixa seu marido, Elizeu, que era proprietário da fazenda Ingazeira onde moravam, e dana-se no mundo sombrio e incerto do cangaço com o bandoleiro Ângelo Roque, chefe de um dos subgrupos do bando de Lampião, que tinha a alcunha de ‘Labareda’.

Cangaceiro Ângelo Roque (Labareda)

Maria e José casam-se. Não demoraria muito para que se começassem as incompatibilidades. Maria, por demais ciumenta e seu esposo, Zé de Neném, um verdadeiro ‘pé de forró, não saindo dos sambas. Certa feita, estando Zé em um dos vários botecos, bebendo com alguns conhecidos, chega Maria e arma o maior escarcéu. Zé se defendia das acusações de Maria até quando pode, porém, a baiana encontra em um de seus bolsos uma lembrança de uma ‘amiga’, um pente com o nome da mesma. Nisso o pau quebrou pra valer. E a já conturbada vida a dois entre Zé e Maria, pelo fato de Maria não engravidar, desmorona-se de vez.

“(...) Maria encontrou um pente em um dos bolsos do marido, com o nome de uma moça gravado no objeto (...). Este tipo de discussão e separação tornou-se uma constante e marcou significativamente o relacionamento dos dois (...). O casal não chegou a ter filhos. Alguns amigos confirmam a esterilidade do sapateiro Zé de Neném, que não chegou a engravidar nenhuma das mulheres com quem viveu (...).” (Ob. Ct.).

Pois bem, nessa, como em tantas outras ‘separações’, Maria Gomes corria à procura dos braços acalorados e protetores de seus familiares, apesar de seu pai, Zé Felipe, não concordar com tais separações, ela assim procedeu por várias vezes.

Em uma dessas separações, já se indo alguns dias, mais ou menos quinze dias de Maria estar na casa de Déa, sua mãe, ela, por um acaso conhece o “Rei dos Cangaceiros”. Achamos, particularmente, que num ímpeto, Maria deixa aflorar seu ego, e permitiu que se falasse o cupido. Tanto Maria, quanto Lampião sente alguma coisa dentro deles de cara. A atração foi dupla e contagiante. Lampião, que tanto fez arapuca, tanta emboscada aprontou, caiu de quatro pela armadilha que o destino lhe fez. A morena da Malhada da Caiçara acabou de domar uma fera nascida e criada na região pernambucana do Pajeú das Flores. Não podendo mais esconder sua paixão, Lampião inventa de inventar uma encomenda, vários bordados em lenços de seda, simplesmente para ter a desculpa, de vindo ver se tinha algum lenço pronto, ver mesmo era Maria. Sabedora dos planos de Virgolino, Maria, logicamente aceita a encomenda e trata de, também, curtir aqueles raros momentos.


“(...) Era uma sexta-feira, Lampião pisou o batente da casa de Zé Felipe e Maria Déa. Odilon Café apresentou ao cangaceiro uma das filhas daquele casal, que no momento se encontrava ali, por estar separada do marido.

Novos sentimentos renasceram naqueles minutos seguintes. Depois de uma rápida conversa, Lampião pergunta a Maria:

- Você sabe bordar?

- Sei!

- Vou deixar uns lenços pra você bordar e volto daqui a duas semanas pra buscar!

Este foi o primeiro diálogo realizado entre Lampião e aquela que seria a sua grande companheira e eterna paixão, até o fim da vida (...).” (Ob. Ct.).

A partir de determinado tempo, ou de um dos encontros entre eles, não teve mais volta. O pai de Maria Gomes, Zé Felipe, não aprovava o namora entre ela e Lampião. Já por outro lado, sua mãe, Maria Déa, parece que até ‘cortar jaca’, cortou, para que eles se encontrassem.

Naquele tempo, a casa que recebesse com maior constância visita de cangaceiro, com toda certeza, logo, logo receberia a visita de alguma das volantes que caçavam os grupos. Então, rastejando os vestígios dos cangaceiros, as volantes terminaram fazendo, também, várias ‘visitas’ a casa da fazenda do pai de Maria Gomes, Zé Felipe. Com o aperto que deram no velho patriarca, cacete nele e sua família, até Zé de Neném foi pra debaixo da madeira, Zé Felipe resolve mandar sua filha para casa de um parente na fazenda Malhada, nas Alagoas. Para que assim, as volantes os deixassem em paz. Ao saber disso Lampião vai e dá um ultimato para Zé Felipe, ou ele manda buscar sua filha em terras alagoanas ou ele destrói a fazenda com tudo que nela existia. Sem ter, novamente, uma saída, Zé Felipe manda alguém buscar Maria, sua filha.
Ao retornar, Maria Gomes percebe o quanto sua família estava envolvida numa encrenca desgraçada por seu romance com o ‘Rei do Cangaço’. Nesse momento, ela toma uma decisão importante que mudaria a vida de muita gente, principalmente a do pernambucano fora-da-Lei, para que a Força Pública deixasse seus familiares em paz. Quanto da localidade de onde Maria Gomes resolvera seguir com Lampião, não fora na fazenda onde nascera, a Malhada da Caiçara, e sim, numa outra localidade, onde cuidava de sua avó materna, Ana Maria, que estava enferma, denominada Rio do Sal.

Ao contrário do que pensou, planejou Maria de Déa, a Força Pública não se afastou da casa de seus familiares, pelo contrário, as visitas tornaram-se mais constantes e violentas, tendo como alvo principal o velho Zé Felipe, seu pai. Estando já a não aguentar mais tanta pressão e cacete, Zé Felipe recebe a visita de um dos soldados da volante, que era seu amigo Antônio Calunga, dizendo-lhe que o comandante da volante recebera ordens superioras de acabar totalmente com a fazenda Malhada da Caiçara, matando todos que naquela ribeira moravam.

Zé Felipe agradece ao amigo, junta sua família, desce rumo às águas do “Velho Chico” aluga uma embarcação, coloca todos dentro e passa para o solo alagoano. Vai montar residência no sítio chamado ‘Salgado’, no município de Água Branca. Porém, sua estada nele é curta. Pega suas trouxas novamente, levanta acampamento, junta seus familiares e parte rumo ao local denominado ‘Salomé’, o qual, hoje é a cidade de São Sebastião. Nessa agonia, tendo de deixar suas terras por serem perseguidos e maltratados, constantemente, pela volante, um de seus filhos, conhecido como Zé de Déa, resolve juntar-se ao cunhado, Lampião. Lá estando, conta por tudo que seu pai, sua mãe, seus irmãos e irmãs passam.
Zé Gomes irmão de Maria Bonita acervo do escritor e pesquisador do cangaço Gilmar Teixeira 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2016/03/a-homenagem-do-grupo-oficio-das.html

Lampião ordena que se façam as vestes, bornais, cartucheiras, em fim, toda a tralha de um cangaceiro para seu ‘cunhado’, e separasse, também, as armas para o mesmo usar. No entanto, Maria sua irmã, não permite que ele use armas. Mesmo estando por mais ou menos oito dias no acampamento, Zé de Déa e sempre aconselhado pela irmã para não fazer parte daquela vida em que ela metera-se. Termina o irmão por ceder aos conselhos da irmã.

O “Rei dos Cangaceiros”, através da sua malha de informantes, sabe da fuga do sogro e sua família, assim como tem o conhecimento da ordem e do nome do policial comandante incumbido da tarefa de matar toda a família de Maria, sua amada, que seria o tenente Liberato de Carvalho.
Tenente Liberato de Carvalho - 

Fonte: http://cangaconabahia.blogspot.com.br/2012/01/liberato-de-carvalho.html

Certo dia, chega à casa onde moravam Zé Felipe e sua família, uma volante policial. Começam a destruir as coisas, matam alguns animais que estavam soltos, mas, próximos a casa, sem ninguém da família na casa para saciar a ira dos volantes, sobra para um morador das redondezas, que seria, segundo indicaram, um coiteiro, o qual é colocado debaixo de cacete e depois assassinado pela tropa.

“(...) Uma volante visitou a casa de Zé Felipe e não encontrando ninguém, quebraram as madeiras dos currais, destelharam e quebraram parte do telhado da residência, matando alguns animais. Menos sorte teve o coiteiro Manuel Pereira, conhecido como Manuel Tabó, que por não ter fugido acabou sendo espancado e morto pelos soldados (...).” (Ob. Ct.).

Lampião, sempre ardiloso, sabia que partir para enfrentar de cara a volante, indo a desforra, pelo que fizera nas terras da Malhada da Caiçara, era loucura, então usa de outra artimanha. Ordena a um de seus ‘cabras’’ que vá em determinado lugar, e peça a determinada pessoa para vir vê-lo. Essa pessoa já havia, em outras oportunidades, feito o mesmo que ele o enviaria para que fizesse.

Essa pessoa era conhecida pelo apelido de Tonico, e era irmão de Zé de Neném, ex marido de sua companheira Maria de Déa. Lampião escreveu uma missiva e determina que o jovem a leve ao Capitão João Miguel, em Jeremoabo, BA. Assim, o jovem após dar voltas e ter a certeza de não estar sendo seguido, parte rumo ao destino determinado. Lá chegando, procura o oficial no QG.

“(...) Tonico seguiu em direção ao quartel, sendo recebido por um sargento que fazia a guarnição e lhe perguntou:

- O sinhô qué fala cum quem?

- Com o Capitão João Miguel!

- Eu posso resolver?

- Não, tem que ser com o Capitão!

O sargento foi até a sala do capitão, retornou alguns minutos depois e pediu para que Tonico o seguisse até a sala do oficial (...).” (Ob. Ct.).

Tonico era frio, Lampião sabia escolher a pessoa certa para cada missão específica. E essa era bem difícil de ser cumprida, pois tinha que o colaborador entrar em um quartel militar. Chegando diante do capitão, esse dispensa o sargento e recebe o papel que lhe é entregue pelo portador.

“(...) O Capitão João Miguel, depois que leu o bilhete, falou:

- Se você está numa missão dessa, não é preciso pedir segredo, pois você deve ser da confiança de Lampião”. 

Os dois conversaram secretamente, trancados dentro da saleta. O Capitão João Miguel mandou a resposta: 

- Diga ao Capitão que pode mandar o sogro dele voltar, pois a partir de hoje, não passará mais nenhum soldado na sua porta. 

Na manhã seguinte, ao despertar, Tonico regressou da sua missão, trazendo consigo, a promessa positiva de que nenhuma volante iria mais importunar aquele pedaço de chão e sua gente V...).” (Ob. Ct.).

Vejam que Virgolino não só sabia manejar as alavancas das armas que usou, mas, também, com tinta, pena e papel, fazia suas defesas diante de uma guerra particular, imposta por ele mesmo, contra seus inimigos.

Uma das coisas que mais ocorreu no cangaço foi a traição, tanto do lado dos cangaceiros e coiteiros, como mesmo do lado daqueles que os davam combates. E essas atitudes, tomadas por dinheiro ou ‘favores’, foram mais um motivo para que Lampião prolongasse por quase vinte longos anos, seu reinado de sangue, lágrimas e mortes nas entranhas do sertão nordestino.

Fonte “A trajetória guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João de Sousa( João De Sousa Lima). 2ª Edição. Paulo Afonso, BA, 2011.
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
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