Por Rostand Medeiros
Jerônimo
Ribeiro Rosado, o dono da farmácia que levava seu nome, nasceu em Pombal-PB,
aos 8 de dezembro de 1861, era filho de Jerônimo Ribeiro Rosado e Vicência
Maria da Conceição Rosado. Formou-se em Farmácia no Rio de Janeiro, onde atuava
como fiscal da iluminação pública. Voltou ao seu Estado natal em 1889, quando
abriu a primeira botica em Catolé do Rocha e desposou Maria Rosado Maia, a
Sinhazinha.
Jerônimo Rosado
O casal teve
três filhos: Jerônimo Rosado Filho, médico, farmacêutico e poeta, morto aos 30
anos; Laurentino Rosado Maia, que morreu 15 dias depois do nascimento, e Tércio
Rosado Maia, farmacêutico, odontólogo, advogado, poeta, pioneiro do
cooperativismo brasileiro, comerciante de livros usados, professor
universitário.
Na página de anúncios do periódico natalense A República, de, 21 de março de 1901, vemos uma propaganda da farmácia que Jerônimo Rosado possuía em Mossoró.
Sinhazinha
partiu em 1892, pouco depois do último parto, vítima de tuberculose. No leito
de morte, conforme relata mestre Luís da Câmara Cascudo, pediu “que o marido a
fizesse sepultar no Catolé do Rocha, na terra onde nascera”. E casasse com sua
irmã Isaura, para que seus filhos não tivessem madrasta.
Nesta nota do
jornal carioca Gazeta de Notícias, de 19 de janeiro de 1887, vemos o jovem
Jerônimo como estudante no Rio de Janeiro.
Reivindicações
atendidas: o corpo de Maria Amélia foi sepultado o viúvo, de 32, casou-se com a
cunhada, de 17 anos, em 1893. A noiva se mudou para Mossoró, onde o marido
residia e para onde transferiu os negócios em 1890, a convite do médico e líder
político Francisco Pinheiro de Almeida Castro, patrocinador da drogaria.
Em Mossoró, a
principal cidade do interior potiguar, Jerônimo abriu sua farmácia e, em 40
anos, gerou 21 filhos. Foi uma figura central na construção histórica e
política do chamado eufemisticamente como “País de Mossoró”.
Do segundo
enlace advieram 18 rebentos, nem todos chamados “Jerônimo” e nem todos
numerados. Diferentemente do que reza a lenda, nem todos receberam nomes
franceses. Do terceiro até o décimo, a inspiração para os nomes era o latim. A
partir do 11º, e só com a exceção do 12º filho, todos levaram nomes inspirados
nos numerais franceses. Foram ao todo 12 homens e nove mulheres. A maioria
recebendo Jerônimo ou Isaura como primeiro nome.
Izaura Rosado
(com z)
Laurentino
Rosado Maia (homônimo do segundo)
Isaura Sexta
Rosado de Sá
Jerônima
Rosado, que tem como apelido o nome de “Sétima”
Maria Rosado
Maia, que tem como apelido “Oitava”
Isauro Rosado
Maia, que tem por apelido “Nono”
Vicência
Rosado Maia, que como apelido o nome de “Décima”
Laurentina
Rosado, que tem como apelido o nome de “Onzième”
Laurentino
Rosado Maia, que tem como apelido “Duodécimo”
Isaura Rosado,
que tem como apelido o nome de “Trezième”
Isaura Rosado,
que tem como apelido o nome de “Quatorzième”
Jerônimo
Rosado Maia, que tem como apelido o nome de “Quinzième”
Isaura Rosado
Maia, que tem como apelido o nome de “Seize”
Jerônimo
Rosado Maia, que tem como apelido “Dix-sept”
Jerônimo
Dix-huit Rosado Maia
Jerônimo Rosado
Maia, que tem como apelido o nome “Dix-neuf”
Jerônimo Vingt
Rosado Maia
Jerônimo
Vingt-un Rosado Maia.
Entre outras
notícias publicadas pelo jornal carioca Gazeta de Notícias, de 3 de novembro de
1925, vemos o relato da morte de um dos filhos de Jerônimo Rosado
Numeração
Ninguém sabe
ao certo o que levou o patriarca a numerar os filhos. Talvez influência dos
tratados farmacêuticos da época, todos escritos nas duas línguas, ou algum tipo
extremo de obsessão pela ordem. O que se sabe é que o velho Jerônimo Rosado era
fanático pela educação dos filhos e dos netos. Tão fanático que, certa vez,
quando um de seus netos decidiu que não iria mais estudar, ele não pensou duas
vezes. Mandou fazer uma engraxateira para o menino, deu-lhe um macacão de
engraxate e ordenou que começasse a trabalhar. Sugeriu, até, que ele nem
precisava sair de casa, já que a família era grande e ali mesmo ele teria uma
boa clientela. Logo, logo o menino voltou para a escola.
O velho Rosado
ensinou os filhos, ainda, a serem solidários. Se houvesse apenas uma fruta para
comer, ela era dividida igualmente entre todos. Estimulava as crianças a
conversar com estranhos, levando-as consigo, sempre, a encontros ou jantares.
Não fazia distinção de sexo: meninos e meninas deviam acompanhar o pai. Tratava
todos da mesma maneira. Queria vê-los trabalhando e estudando. Em razão disso,
fundou a primeira escola exclusivamente feminina de Mossoró: o Externato
Mossoroense.
Tese
Em sua tese de
doutorado sobre a família Rosado, o professor José Lacerda Alves Felipe defende
a ideia de que essa forma de educar adotada por Jerônimo Rosado tinha como
objetivo formar o núcleo de uma oligarquia. Nela, cada filho teria uma função
econômica. Felipe trata Jerônimo Rosado como o “herói civilizador” de Mossoró.
Uma espécie de grande criador, de instituições sociais, elementos culturais,
mitos. O objetivo não declarado era sempre, ele diz, conquistar o poder
político.
Cada vez que
um filho se aproximava da maturidade, o velho Rosado o chamava para uma
conversa em particular, em que tentava convencê-lo a entrar para a política. Os
Rosado desmentem isso. Alguns mossoroenses afirmam, contudo, que essa foi uma
das revelações feitas por Dix-Huit em seu leito de morte. Verdade ou mito? O
que se sabe é que, apenas 18 anos depois da morte do patriarca, um Rosado
abraçou, de fato, a carreira política. Em 1948, Dix-Sept Rosado Maia, em uma
campanha na qual pela primeira vez se usaram trios elétricos, foi eleito
prefeito de Mossoró.
O Mito
Rosado
Dix-Sept
governou a cidade durante quatro anos. Tornou-se, depois, governador do estado,
mas morreu, em um acidente aéreo, seis meses depois da posse. Virou um mito. No
País de Mossoró, há uma estátua de Dix-Sept, em bronze e tamanho real, na
principal praça da cidade. Sob ela, podemos ler: “Nele se conjugaram idealismo
e ação, espírito público e solidariedade humana, capacidade de resistência e
destino de comando […]”. Logo abaixo, em letras enormes, a assinatura:
“Homenagem do povo”. A estátua foi construída pelo irmão Vingt, que, em 1954, o
sucedeu na prefeitura de Mossoró.
O 17º filho
foi, de fato, a raiz política dos Rosado. Irmãos, sobrinhos e netos o sucederam
como prefeitos da cidade, vereadores, deputados e até senadores. Entre eles,
destacam-se Dix-Huit e Vingt Rosado. Depois de algum tempo, os dois irmãos
romperam. Diz-se em Mossoró que a briga entre eles não passou de uma jogada
política para conservar, em definitivo, os Rosado no poder. Desde então, Rosado
é oposição de Rosado. Não importa o vencedor: a família sempre leva. O
sobrenome Rosado batiza, hoje, muitas ruas, praças e até estabelecimentos
comerciais de Mossoró.
Nota do jornal
carioca Gazeta de Notícias, 1 de julho de 1922, mostrando a atuação política de
Jerônimo Rosado
A cultura,
porém, ficou nas mãos do 21º, Vingt-un, a quem coube realizar os sonhos
educacionais do pai. Desde cedo, ele se empenhou para contar a história de
Mossoró, registrar tudo que levasse o nome de sua terra natal e gerar e
publicar a produção intelectual dos mossoroenses. Foi por isso que nos anos
1960 ele idealizou e fundou a Escola Superior de Agronomia de Mossoró (ESAM),
onde organizou encontros e seminários e fez amizade com grandes intelectuais.
Vingt-un Rosado foi uma espécie benigna de fanático.
A biografia
completa do pombalense Jeronimo Rosado foi escrita pelo historiador Luiz da
Câmara Cascudo, no livro “Jerônimo Rosado: uma ação brasileira na província de
Mossoró(1861-1930)”.
Fonte de fotos
– Autor do Blog Tok de História
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