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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

UERN: ENTRE O SOFRIMENTO E A RESISTÊNCIA.

Por Rogério Alcoforado

Eu estava desde às 8h da manhã, em mais um dia de luta pelo que acredito – pela educação, dignidade, respeito – e acabava de chegar em casa depois de uma das experiências mais revoltantes que já vivenciei. Era 20h do dia 24 de novembro de 2017. Estávamos em greve há 14 dias.
Não bastasse o desrespeito de um governo que drena o dinheiro público, elegendo em quê gastá-lo, notadamente, em cargos comissionados (que frequentemente são alvos de escândalos de corrupção) e priorizando o pagamento de benefícios e auxílios vergonhosos para setores do executivo, legislativo e judiciário (que, apesar de legais, são imorais); não bastasse a indiferença frente a situação de milhares de pessoas que estão sem receber seus salários vencidos, em uma demanda humilhante; ainda assim, e com a maior virulência, insensibilidade e desrespeito o governo do RN solicitou e endossou uma ação repleta de violência, abuso, insanidade e deslealdade.
Foi terrível!!! Eu estava lá e presenciei tudo. Pessoas pacificamente protestando (não por aumento ou outra coisa qualquer) apenas pelo recebimento de seus salários… Ali presentes membros da saúde e membros da educação associados em um único pleito (o recebimento de salários vencidos); contávamos com o apoio de representes da OAB, membros do grupo “juristas pela democracia”, membros de movimentos sociais, membro da Câmara de vereadores da cidade do Natal, membro da Câmara dos deputados do RN, imprensa em peso, professores, técnicos das duas categorias, alunos, pessoas da sociedade em geral – jovens, idosos, famílias; todos fomos expulsos, por policiais que se utilizaram de todo tipo de artifício: bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, spray de pimenta, cassetetes…
Uma força policial que cumpria ordens. Os mesmos policiais que a pouco mais de 15 dias lutavam pelo recebimento de seus salários e ameaçavam entrar em greve também. Eles apenas cumpriam ordens, é verdade; mas, paradoxalmente, empatia não houve, nem há nessas situações – lamentavelmente!!! A culpa é do Governador Robinson Faria, sem dúvidas; nos tratando, trabalhadores, como bandidos.
Tudo aconteceu dentro de uma repartição pública, à noite, com cidadãos acuados… O pior, certamente, poderia ter acontecido… A repartição fica suspensa e tem uma rampa de acesso frontal de pouca proteção… Houve pânico… O pior poderia ter ocorrido… Os policiais vieram de dentro do prédio (acesso por portas internas)… Lá dentro um grande grupo – eu via senhores, senhoras, jovens… Todos acuados… Não se esperava por aquilo (não daquela forma)… O pior poderia ter acontecido… Fomos varridos, subjugados e expulsos pelo governo do estado do RN, que se negava (e ainda se nega) a dizer quando serão pagos os salários de nós trabalhadores, quando receberemos pelo serviço que desenvolvemos.
Estamos em uma greve pelo mínimo, uma greve por dignidade, uma greve para que possamos apenas receber nossos salários.
            Sou professor do curso de Direito do campus de Natal, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN – desde 2008. Nesses nove anos passei por muitas experiências, não muito diferentes das que todos que se propõem ao caminho da docência se deparam no seu cotidiano; e, no caso de uma universidade estadual, em um estado pequeno como o nosso, mais desafios, obstáculos e dificuldades que conquistas.
Enquanto docente, só para ilustrar, posso enumerar algumas atividades que permeiam meu cotidiano, no exercício de minha profissão: um conjunto contínuo de ações de ensino, pesquisa e extensão. Tais atividades, além das aulas regularmente preparadas e ministradas, envolvem desde a elaboração de planos de trabalhos, suas instrumentalizações e desenvolvimentos, passando pela coleta de resultados e elaboração de relatórios (principalmente nos níveis de extensão e pesquisa); confecção e correção de avaliações; organização de eventos; participação em bancas de trabalhos de conclusão de curso de graduação, especialização, mestrado e doutorado; apresentação de trabalhos e comunicação em seminários, encontros, congressos; elaboração de artigos, publicação deles e de livros; orientação de alunos, etc).
Além disso, a vida acadêmica, que escolhi por vocação, ainda me exige a atualização constante de meu repertório técnico-científico, estudos constantes, o que me levou aos desafiadores concursos para ingresso em mestrado (antes mesmo de começar a ministrar aulas) e doutorado, com seus compromissos, prazos e cobranças, de forma que eu pudesse continuar minha qualificação.
É, pois, com uma sensação confusa, que desorienta meu coração, meus pensamentos e minhas ações, que me encontro enquanto servidor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. O que nos atinge vai desde a perda do básico (atraso no recebimento de salários vencidos), passa por nossa diminuição, enquanto indivíduos desprestigiados e violados em nossas condições de vida (através de cinismo, violência e desprezo lançados por um Governo intransigente, que não oferece soluções práticas e concretas), pela desvalia da força real de nosso trabalho (nossa categoria que, dentre outras questões, não tem sequer reposição salarial há 5 anos), além de outras, que poderiam preencher uma lista enorme – e sintomática – contra o que se poderia chamar de “dignidade”; mais precisamente, da desconstrução do significado profundo dessa palavra.
O sintoma, nesse caso, é uma espécie de registro dual e confuso, como as próprias questões que o desencadeia: registro de sofrimento e registro de resistência.
Por quê “greve por dignidade”?
Não há dúvidas de que a “educação” pública como um todo sofre ataques coordenados e muito bem sistematizados. Não há dúvidas…, não  mais!!! Em um País, onde sua democracia se fragiliza, por reação em cadeia, toda a estrutura de direitos e garantias fica sob risco, esgarçada em sua trama constitutiva.
Apesar de não ser esse o ponto central de que tratamos aqui, não há como não ter em mente, de forma lúcida e triste, a compreensão de que tais fatos recentes em nossa República são determinantes para o cenário de ataques à educação e às múltiplas tentativas de imprimir uma desconstrução da noção de dignidade, tão cara e tão valorosa ao nosso mundo do trabalho/trabalhador.
No recorte do nosso estado do RN, a questão mostra-se crítica e nos gera grande revolta; não bastasse os possíveis casos de corrupção, amplamente divulgados na mídia e investigados no âmbito do judiciário, a má gestão (se comparada à estados vizinhos como Paraíba e Ceará, onde a situação difere) é paradigmática e sem precedentes. Ouvimos relatos, repetidamente nos encontros e nas ações do movimento grevista, até mesmo dos aposentados, de que nunca haviam passado por uma situação tão crítica como a atual. Nós, certamente, em nossos 9 anos de UERN nunca havíamos visto e passado por isso.
É nesse contexto que se estabelece a atual greve na UERN; uma greve que traz o selo de #GrevePorDignidade e #EmDefesaDaUERN não por acaso. É esse selo, como se disse acima, uma representação da condição dual que nos envolve: sofrimento e resistência – uma greve que busca o mínimo, apenas o direito de recebermos nossos salários em dia e que seja apresentado um cronograma sério, claro e bem estruturado dos pagamentos futuros. Nossa greve é uma greve para receber salário, APENAS!!!
A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte é um patrimônio do RN; está espalhada em teia por todo o estado; conta com o campus central, mais 05 (cinco) campis e vários núcleos de ensino; entre professores e técnicos (segundo dados de nossa página oficial na internet, em 2015)[2] contabiliza-se em torno de 2.000 (dois mil) servidores; mais de 12.000 (doze mil alunos) em cursos, sendo mais de 61.000 candidatos inscritos para concorrer a mais de 1.200 vagas anuais (registros de 2015); e esses números atualmente já são maiores. A nossa IES tem papel decisivo na formação de professores por todo o estado através do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR – consolidado; e, dentre outros dados importantes, apresenta o curso de Direito com classificação entre os 10 (dez) melhores cursos de Direito do País em aprovação na OAB.
Na contramão da valorização de uma instituição de educação superior pública tão importante, relevante e expressiva, é revoltante a forma como tudo vem sendo conduzido por parte do governo do RN. Nós, servidores da UERN, acabamos de receber os salários de outubro no último dia 08/12. Os atrasos já se repetem por 23 meses.
Importante salientar que a saúde do estado passa pelos mesmos problemas no tocante ao atraso dos pagamentos, e também estão em greve. Foram e são nossos parceiros na luta, e passaram pela violência do último dia 24 juntamente conosco. Foi através de uma junção de forças, desde o início, entre os sindicatos da UERN (ADUERN)  e da saúde (Sindsaúde-RN), que o nosso sofrimento veio se ressignificando  em resistência.
Foram feitas ações sistemáticas desde a deflagração da greve no dia 10/11, que podem ser entendidas de forma simplificada a partir da seguinte cronologia:
No dia 13/11, depois de tentarmos ocupar a Governadoria do RN, fomos agredidos com spray de pimenta, o que gerou a motivação para um acampamento na lateral do prédio da própria Governadoria, de forma a criar um apelo para a negociação.
Passados 9 dias de acampamento, no dia 22/11, seguindo-se à continuidade do descaso e ao fracasso da reunião com representantes do governo, no mesmo dia, que não apresentaram nenhuma proposta, decidimos ocupar o prédio da SEPLAN (Secretaria de Planejamento e Finanças do RN) – passamos não mais que 48h, pois – foi nesse local onde se deu o momento mais dramático e que resultou nos eventos narrados no início desse texto, a nossa expulsão do prédio no dia 24/11.
Irredutível e insensível o governo estava e assim continuou. Além de atos sistemáticos de clamor, que continuam, para que se solucione a situação da falta de pagamento dos nossos salários, no último dia 04/12 ocupamos a antessala da presidência da Assembleia Legislativa do RN (Alern), com pedidos de intermediação dessa instância no problema. Do que saímos com a promessa de uma nova reunião com o Governador, que ainda não ocorreu.
Nesse turbilhão de acontecimentos e de lutas continuadas, o episódio de desocupação forçada da SEPLAN ficará gravado na memória e nos corações de quem lá estava naquela triste noite de 24 de novembro, desse ano. Como dissemos, estávamos lá e fomos tratados como “bandidos”.
A nossa luta continuou após aquele episódio e continuará… Resistência é a síntese de um registro de dor, que, quando interiorizado e elaborado em consciência, transmuta o sofrimento; por isso, o movimento grevista e a educação pública grita: RESISTIREMOS!!!
Diante de tudo que se apresenta, no meio de sofrimento e resistência, de desejos difusos de uma #GreveGeral que una o País e também diante de um horizonte muito nebuloso, nos resta também invariavelmente uma agonia interna já cantada outrora em poesia e aqui apresento revisitada em uma espécie de paráfrase:
“O que será que será?” que andam costurando os governantes?, que emerge em suas ideias mais delirantes?, que habita suas mentes mais degradantes?, que se retorce em seus corações repugnantes?
“O que será que será?”:
Do Povo, da Dignidade, da Educação?…
P.S. – O nosso movimento grevista (dos servidores da UERN, juntamente com os da Saúde do RN) continua sem expectativa concreta de atendimento do pleito de recebimento de salários. No último dia 18/12, depois de muitas tentativas e apelos, as lideranças tiveram uma reunião com o Governador do RN, Robinson Faria; ele e sua equipe, mais uma vez, não apresentaram medidas concretas que apontem para uma melhoria da gestão ou medidas de contingenciamento que possam garantir uma capacidade financeira para pagar os servidores. Distante disso, condicionou o pagamento dos salários (novembro, dezembro e 13º) a um possível empréstimo junto ao Governo Federal – o que, na prática, não garantiria a solução do problema de forma razoável e equilibrada, muito menos uma agenda de programação dos futuros pagamentos em dia, pois se trataria de empréstimo e não de receita própria, que poderia efetivamente representar um equilíbrio financeiro. Ademais, a PM do RN também parou por atraso no salário no último dia 19/12; e a situação do nosso Estado do Rio Grande do Norte torna-se mais crítica ainda. Diante de tudo isso, nós da UERN continuamos em greve por dignidade; e, assim como tem ocorrido desde o dia 10/11, como o início dessa greve, temos feito atos contínuos e constantes – A LUTA CONTINUA!!!
[1] Professor do Departamento de Direito da UERN Natal/RN. Doutor em Filosofia e Autor dos livros: “Ética racional” e “Uma breve história dos direitos fundamentais”.
*Rogério Alcoforado é professor do curso de Direito (Campus de Natal), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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“O DIA DE FÚRIA” DE ANTÔNIO SILVINO


Na época do cangaço, cangaceiros e volantes eram inimigos naturais, ou seja, um era perseguido e o outro perseguidor.

Interessante era que nas duas ‘frentes’ estavam pessoas da mesma família. Havia, na vastidão do Pajeú das Flores, uma família composta por vários irmãos, destes, um passa para o lado cangaceiro e seus irmãos se engajam na volante.

Nos combates que ocorriam entre eles, entre uma e outra pausa, se falavam aos gritos perguntando e respondendo sobre outros familiares que ficaram em suas casas. Ao despedir-se, sempre se ouvia de cima de um morro, um serrote ou uma colina um longo e triste aboio como adeus. Por motivos vários, cangaceiros passaram a servirem as Forças Públicas assim como soldados passaram a fazerem parte dos bandos de bandoleiros.

Soldados se destacavam em seu trabalho de caçar e combater cangaceiros. A promoção recebida, naquela época, era de acordo pela quantidade e destaque do cangaceiro. Exemplo maior se ver no decorrer do cangaço lampiônico quando um simples contratado pernambucano, José Osório de Farias, mais conhecido por Zé Rufino, galga os degraus das promoções até chegar ao coronelato pelas cabeças dos cangaceiros que cortou.

Além de serem incentivados com as promoções, alguns soldados ou comandantes de volantes, querendo chamar a atenção da população para si, empregam desordens, maus-tratos e outras mais, não sabemos quais nem quantas, perversidades nos simples caboclos que moravam em singelas taperas, ou casas de taipas, pelo sertão afora. Descendo o cacete no lombo dos coitados, ainda esbravejavam desaforos para o chefe cangaceiro destacado no momento, achando que aquele seria o mais rápido meio de chegar aos ouvidos dele. Assim, cidadãos que nada tinham de acoitadores, e os que realmente tinham, tanto fazia, sofreram bastante nas mãos deles. Chegamos a ver e ouvir remanescentes daquela época citarem que queriam, mil vezes, estarem às voltas com Lampião e seu bando, do que estarem nas mãos de determinado comandante de volante.

As perseguições e as ameaças soltadas aos quatro ventos chegavam, logicamente, ao ‘endereçado’. Devido a isso, além da natural inimizade entre eles, começava a surgir uma rixa muito grande entre ambos.

Manoel Batista de Morais - o chefe cangaceiro Antônio Silvino - baleado e preso

Na primeira metade do ano de 1910, Antônio Silvino perambulava com sua horda nas imediações da cidade de Patos, PB, quando, através de um comerciante recebe a notícia de que o Alferes Maurício se encontrava por perto. Esse Alferes, tido como uma pessoa violenta, em suas várias incursões em Povoados, Vilas e pequenas cidades a caça de cangaceiros, ao descer o cacete nas pessoas, culpadas ou não, tanto fazia para ele, bradava que sua meta seria acabar com o bando do Filho da Fazenda Colônia, e em contra partida, retalharia sua pele a golpes de peixeira. Acreditamos que intimamente nascera um ódio particular, aí perdera a razão da sua missão, não só sobre a pessoa de Manoel Batista, mas, e principalmente, sobre a fama do chefe cangaceiro. Talvez achasse que matando o bandoleiro a fama recairia sobre si. A inveja não deixa de ser uma terrível doença, não é mesmo?

O escritor Sérgio Dantas assim descreve o Alferes Maurício: “Arbitrário e violento, o Alferes alimentava insaciável volúpia em torturar agricultores, à menor suspeita que fossem coiteiros do “Capitão”. Seu chicote, invariavelmente, permanecia à mostra. Possuía indizível prazer de exibir ao povo um poderoso aparato bélico. Apresentava com orgulho a granada de uso privativo das Forças Armadas. O Alferes, de fato, encarnava o que a Polícia da época poderia ter de pior.” (DANTAS, 2012).

Silvino sabia que essa maneira do Alferes agir, poderia sim colocar sua vida em risco. Ele estava abrindo uma brecha no local mais frágil de sua defesa, que era a rede de informantes e fornecedores. Debaixo do cacete ou na ponta do punhal, o cara abriria a boca rapinho. Então, além das ameaças que já o deixaram maluco da vida, essa seria mais uma razão para que o chefe cangaceiro partisse para o contra ataque e fosse à busca da tropa comandada por ele, para acabar com o perigo e o inimigo falastrão.

Seguindo com seu novo intento, acabar com o Alferes Maurício, o “Rifle de Ouro” começa a planejar como faria. Entra mês e sai mês e nada de poder colocar seu plano em ação. O bando e a volante sempre estavam por trilhas diferentes. Vai que, ainda no primeiro meado de 1910, na Vila paraibana de Soledade, um cidadão por nome de Raulino revela a Silvino que o Alferes estava próximo.


O chefe cangaceiro aguarda alguém aparecer na estrada e, quando aparece, manda um recado de que na manhã seguinte entraria na Vila de Batalhão para fazer uma ‘coleta’. Que todos estivessem preparados com sua grana que iria buscar.

Pois bem, como imaginara Antônio Silvino, aquele recado foi mesmo que um rastilho aceso numa dinamite, a população entrou em polvorosa. Estando próximo ao povoado, logicamente o alferes é informado por alguém e o recado tem seu destino certo. Foi mesmo que balançar um pano vermelho na frente de um novilho bravo. Silvino atrasa sua caminhada propositadamente, entra na mata e fica a esperar. A noite cai e no acampamento cangaceiro não se acende fogo. Raspam algumas rapaduras, cortam alguns queijos de coalho, misturam com a farinha de milho comem bebem água e se aquietam por perto.

O Alferes manda preparar um jantar farto. Comem com sofreguidão, talvez saboreando a vitória no dia seguinte. A informação que tinha era de que o bando de Silvino era composto de seis ou sete cangaceiros. Logo cedo, manda que a tropa se apronte e sigam rumo a Vila para esperarem os bandoleiros.


Antônio Silvino e sua caterva há muito estavam de pé. Seguem rumo a Vila de Batalhão com cuidado, ouvidos atentos a qualquer som fora do normal. A tropa, a pouca distância da Vila param para tomarem as últimas providências de como fariam o cerco aos bandoleiros... E começam a prepararem o desjejum as margens da Lagoa de Pedras.

O chefe cangaceiro acertou em cheio. Escuta vozes logo adiante. Percebendo de quem se tratava, ordena que seus homens façam um cerco e fiquem quietos. Só era para abrirem fogo depois de ele dar um primeiro tiro.

Parecia que o chefe cangaceiro não via nenhuma outra pessoa no acampamento. Depois de identificar o Alferes, não o perde mais de vista. Todo movimento é meticulosamente observado. Estando de lá para cá, talvez a ansiedade estivesse consumindo sua calma, o comandante de repente agacha-se como que fosse examinar o solo, nesse instante cai por terra morto.

Antônio Silvino, como que saboreando o momento, coloca o inimigo na mira de seu rifle e o segue para onde ia. Para lá, depois para cá, e sua imagem aparecendo na sombra do ponto de tiro de exímio atirador. Vendo o alvo abaixar-se, aperta o galho com firmeza, respiração travada, acertando a cabeça do Alferes. Após esse disparo, o restante da horda tacam seus dedos nos gatilhos e a espoleta corta rapidamente. Além do comandante, vários militares tombam sem vida, não sabiam nem de onde partiu o tiro que ceifou sua vida. O restante do contingente militar, que não estava ferido, abriram ‘passagem’ na marra e caíram fora, em busca de salvarem suas vidas.

O cangaceiro “Cobra Verde”, Odilon Sebastião, em entrevista ao jornalista Dorgival Terceiro Neto, relatou o seguinte quanto ao ataque: “Os macacos se assanharam e aí fechou o tempo! Foi fogo grande! Perto do meio dia serenou um pouco! Os macacos pensavam que a gente tinha saído. Então, um macaco pretão subiu em um pereiro para nos avistar. O capitão disse para nós: deixa menino, que eu vou botar aquele porco abaixo!

Meteu-lhe bala e o bicho caiu como um cevado! Quando fomos vê-lo, de tarde, ainda foi sangrado!” (DANTAS, 2012).

Ao fugirem, na tentava de salvarem-se, um dos soldados é atingido, cai e fica sem poder prosseguir. Examinando o terreno por onde a tropa, ou o que restou dela, um dos cangaceiros o encontra, no mesmo instante, sem hesitar um momento , o mata a punhaladas.

Antônio Silvino, já a bastante tempo no serviço da espingarda, demora-se por um longo período do dia para tomar chegada de vez no campo do inimigo. Vai à beira da Lagoa onde estava estendido o corpo do Alferes e o examinando, certifica-se de que estava morto.

Há tanto tempo vendo gente morrer, matando gente e sendo acompanhado pela morte, o “Rifle de Ouro” sofre de uma crise de fúria. Arrancando seu longo punhal da bainha, desfere inúmeras punhaladas no corpo do militar. “Arranca os botões dourados da túnica e as divisas de ombro”. Ainda dominado pela ira, afasta-se um pouco, pega uma grande pedra e, arremessando-a, amassa a cabeça do Alferes, fazendo misturarem-se massa cefálica com sangue. Acompanhando os movimentos do chefe os cangaceiros desembainham seus punhais e sangram todos os corpos dos militares mortos... nos sertões paraibanos da Vila de Batalhão.

Foto "Antônio Silvino - O Cangaceiro, O Homem, O Mito" - DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 2ª Edição. Cajazeira, PB. 2012
Tok de História

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SEU GALDINO E A ONÇA LEITEIRA.

Por José Mendes Pereira

- Dionísia, minha velha, gritava seu Galdino, o diabo das ovelhas do morador da viúva estão todas dentro do nosso cercado. Não se pode mais criar nada nas nossas terras. Ele sabe que as suas ovelhas são umas verdadeiras ladras, e as solta perto do meu cercado.

- Calma, meu velho! Calma! - aconselhava-o dona Dionísia. É melhor ter paciência. Intrigas com vizinho já se parece morte.

- Mas por que ele não as coloca no cercado de cima, se lá é bem mais farto o parto do que ali? - dizia ele com ignorância.

Enquanto isso, se ouvia o toc, toc de um animal que vinha caminhando. Era seu Leodoro Gusmão, montado em um lustroso cavalo de campo, que havia tomado emprestado à fazendeira dona Chiquinha Duarte, para a captura de um boi mandingueiro.

Fazendeira dona Chiquinha Duarte

- Apeie-se, compadre Leodoro, para tomar um cafezinho. A Dionísia acabou de fazer, e está bem quentinho... Dionísia, trás um cafezinho para o nosso compadre! – gritou seu Galdino em direção à cozinha.

E virando para o seu Leodoro, perguntou-lhe:

- Conseguiu ver o seu boi mandingueiro nos cerrados, compadre?

- Infelizmente não o vi, compadre Galdino. O parto está muito unido ainda, e torna-se difícil ver qualquer vivente naquelas matas fechadas.

- Mas assim é que é bom, compadre! Muito pasto e os nossos animais não morrerão de fome; ao contrário, eles estão nadando no meio da fartura.

- Deus nos livre de seca! Nossa! Só trás sofrimento para nós e para os animais. - Disse seu Leodoro.

- Quando eu vejo a fartura, me lembro de quando ainda não era fazendeiro. O sofrimento era grande. Nós morávamos nos fundos das terras do fazendeiro Chico Duarte, lá bem próximo à Favela.

Fazendeiro Chico Duarte esposo da dona Chiquinha Duarte

Eu vivia de campear gado bravo nos cerrados. Eu era vaqueiro de aluguel. Nunca fui vaqueiro de fazendeiro nenhum. O fazendeiro me dizia o bicho que precisava no seu curral, e me dava uma radiografia completa. A cor do animal, o ferro, se era adulto ou ainda novilho, tudo, sem faltar nada. E a partir das características do vivente, eu me mandava em busca dele, e só retornava para casa com ele na frente, mascarado e com chocalho...

- Mas o senhor sempre campeava sozinho, compadre Galdino? Interrompeu-lhe seu Leodoro.

- Sim senhor! Nunca precisei de vaqueiros para tanger gado comigo. E naquele tempo as onças viviam passeando por todos os lugares. Todos os dias, nas fazendas, amanheciam bezerros mortos e estraçalhados pelas danadas.

- E o senhor tinha medo delas?

- Nunca tive medo de tal animal. Eu a tratava como se fosse um cachorro, com uma diferença, apenas de grande porte.

- Eu não tenho medo, compadre Galdino. Eu evito de vê-las, porque elas são traiçoeiras, e não se deve dar chance a esse tipo de animal.

Seu Galdino precisava urgente contar uma história sobre onça a seu Leodoro. E de imediato, deu início a uma de suas aventuras.

- Certa vez, eu precisava de uns cabos para as minhas ferramentas. Os meus dois filhos, os que moram lá na grande São Paulo, o Artur e o Severino ainda eram pequenos, o mais novo com sete anos, e o mais velho com oito. A nossa situação era de lástima, porque os fazendeiros não estavam precisando de serviços dos vaqueiros, vez que os rebanhos estavam muito bem, obrigado. Naquela época, eu ainda nem sonhava em possuir fazenda. Mas, o senhor sabe, que quem é pobre, sofre por tudo. E o pior é a falta de alimentos. A minha casa estava sem nada, apenas água no pote e nada mais. O que ainda tinha em casa era açúcar, e quando um deles sentia fome, a Dionísia fazia garapa, isto no intuito de amenizar a fome do menino.

- Os meus filhos também foram criados bebendo garapa, compadre. - afirmava seu Leodoro para reforçar o que dizia seu Galdino...

- Pois bem, já que eu iria tirar os cabos para as minhas ferramentas, e como a situação andava de pior a pior, que o senhor sabe que quem anda pelas matas, vez por outra encontra uma fruta, mel de arapuá..., levei o Artur e o Severino, pois se caso eu encontrasse frutas ou mel, eles aliviariam um pouco a fome. Mas eu os levei, não só para isto, também para conhecerem as terras que eles teriam que passear por elas quando atingissem a adolescência, à procura de animais. E nós seguimos por uma vereda feita por bodes, e bem próximo ao Pai Antonio, que o senhor o conhece muito bem, do Soutinho, avistamos um animal que se escondia por detrás de uma árvore derreada. 

Dona Edith Souto e Soutinho

E fomos nos aproximando daquele bicho, para termos a certeza que vivente era. Mas com muito cuidado, pois eu temia que poderia ser uma onça, e já que os meus filhos andavam comigo, talvez acontecesse um ataque contra nós, feito por ela. E lentamente, fomos mais perto, e adivinhe, compadre, o que era!?

- Eu suponho que era uma rês pastando bem escondidinha. – Dizia seu Leodoro.

- Que rês que nada, compadre! Era uma enorme onça, em pé, diante de nós. Os meninos ficaram assustados. Mas para consolá-los, eu os disse que não tivessem medo, que ela não iria lhes fazer nenhum mal.

- Meu Deus, uma onça! – exclamou seu Leodoro.

- E vi logo que era uma onça parida, porque as suas mamas estavam muito inchadas, como se ela tivesse perdido os seus filhotes. Mas em nenhum momento, ela demonstrou insatisfeita com a nossa presença. Mas com receio, que ela poderia atacar os meus filhos, coloquei-os trepados em uma árvore, pois se ela tentasse me atacar e eu corresse, ela não conseguiria subir, para estrangular os meus garotos. E fui me aproximando mais dela, e nas mãos, eu levava um enorme facão, mais uma corda que eu a conduzia amarrada em minha cintura. A onça era tão mansa, mas tão mansa, que nada fez contra mim. Fiquei alisando o seu corpo, repuxando o couro, e a danada se era covarde, naquele dia se tornara um cordeiro. Olhando as suas tetas, desejei secá-las. Mas com medo que ela se revoltasse contra mim, continuei alisando o seu couro, e com a outra mão, fui peando as suas patas traseiras. Ali, eu iniciei secar as suas tetas.

- O senhor estava tirando leite da onça, compadre?

- E eu brinco, compadre Leodoro!? Como eu já havia peado as suas patas traseiras, cheio de certeza que ela era uma verdadeira amiga, pedi que o Artur descesse da árvore, para que eu o arriasse em uma das patas dianteira da onça, para facilitar a esgotada do leite, que com certeza, seria melhor para eu mungi-la.

- O senhor arriou o seu filho na onça, compadre Galdino? - Perguntava seu Leodoro com espanto.

-Arriei-o! Eu notei logo que a onça era uma lesada..., eu achando que era um desperdício, já que o leite era de boa qualidade, chamei o Severino para mamar nela, porque ele sentia fome. A onça nem ligava, e me parece que ela estava achando boa aquela arrumação. Como ela estava tranquila, desarreei o Artur das mãos da onça, e ordenei-o que fosse mamar também. Eles ficaram com os as barrigas enormes, porque a onça tinha muito leite.

- E depois, compadre, a onça não se revoltou com vocês?

- Pois diga! De forma alguma! Eu vendo que ela era uma besta, isto é, muito mansa, peguei a corda, fiz um cabresto, encabrestei-a, e meus filhos e eu fomos para casa montados nela.

- Que bom que um dia, nos tabuleiros, eu me encontrasse com essa mesma onça, compadre Galdino, para a Gertrudes passear montada nela nesse nosso sertão sofrido.

História contada, seu Leodoro resolveu ir embora, pois precisava fazer algumas compras lá em Mossoró.

- Até mais tarde, compadre! - Disse e saiu galopeando vagarosamente em direção à sua casa.

- Até, compadre...!

Seu Leodoro não tinha mais espaço para guardar a tamanha mentira do seu Galdino.

- Vai-te corno! - Dizia seu Galdino. Quem irá sempre montar na Gertrudes sou eu, e não onça nenhuma!

Minhas Simples Histórias

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O PREFEITO QUE ENFRENTOU LAMPIÃO PARTE II

Por Ana Paula Cardoso

Lampião tentou negociar uma espécie de "acordo de paz" com o prefeito Rodolpho Fernandes antes de invadir a cidade. O cangaceiro pretendia extorquir Mossoró em 400 contos de réis. Em troca, não adentraria terras mossoroenses. O prefeito, no entanto, recusou a "oferta" do criminoso, conforme registrado em bilhetes trocados durante a negociação.

O primeiro bilhete partiu de Lampião, escrito pelo Coronel Antônio Gurgel, feito refém pelos cangaceiros para escrever uma carta a Rodolpho Fernandes. Esta a transcrição do bilhete endereçado ao prefeito de Mossoró no dia 13 de junho de 1927.

"Meu caro Rodolfo Fernandes.

Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró..."

Quando recebeu a carta, Rodolpho Fernandes convoca uma reunião com pessoas de destaque da cidade, entre eles comerciantes e membros das forças policiais, para rediscutir a estratégia de defesa da cidade, visto que não seria possível entregar aos cangaceiros a quantia exigida.

O Coronel Rodolpho Fernandes respondeu da seguinte forma:

"Mossoró, 13 de junho de 1927"

Antônio Gurgel.

Não é possível satisfazer-lhe  a remessa dos 400.000 contos, pois não tenho, e mesmo no comércio é impossível encontrar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Sr. Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem. Nossa intenção oferece absoluta confiança e inteira segurança.

Rodolpho Fernandes

Insatisfeito com a resposta, Lampião enviou um bilhete escrito de próprio punho: 


Ao bilhete do cangaceiro mais temido do Nordeste, Rodolpho Fernandes reforça a negativa de atender à tentativa de extorsão e destaca estar confiante na defesa da cidade. Veja o conteúdo do bilhete:

Virgulino Lampião.

Recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importância que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo os funcionário se retirado da qui. Estamos disposto a acarretar com tudo o que o Sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua defesa, confiando na mesma. 

Rodolpho Fernandes
Prefeito, 13,06.1927" .

No final da tarde do dia 13 de junho de 1927, após falha tentativa de extorsão, o bando de Lampião invade Mossoró. Sob chuva, a batalha se trava  nas trincheiras montadas em frente à Igreja São Vicente, onde morreu o cangaceiro Colchete e foi baleado Jararaca, e também em frente à casa do então prefeito.

Os mossoroenses conseguiram expulsar o bando de Lampião sem registrar nenhuma baixa entre os homens que defenderam a cidade nas trincheiras. Um marco na história da cidade e do próprio cangaço, feito apontado  como o início da derrocada da trajetória de Lampião e seu bando.

CONTINUA...

Fonte:
Revista: BZZZ
Ano: 4
Nº: 51
Páginas: 22 e 23.
Mês: Setembro de 2017.
Digitado por José Mendes Pereira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CONVOCAÇÃO URGENTE - REUNIÃO AMANHÃ (10/01) ÁS 9H


A DIRETORIA DA ADUERN informa que esteve em Natal, durante o dia de hoje (09) para acompanhar as movimentações políticas realizadas entre o Governo do Estado e a Assembleia Legislativa. 

O pacote de maldades apresentado por Robinson Faria aos deputados é ainda mais duro do que o imaginado pela direção sindical.

Diante disto, a Diretoria  convoca uma reunião extraordinária com TODA A CATEGORIA amanhã (10), às 9h, na sede do sindicato. Na oportunidade,   serão feitos repasses detalhados das medidas apresentadas e as estratégias para impedi-las. 

 A diretoria compreende a dificuldade de articulação diante de uma convocação tão em cima da hora, mas solicita que o máximo de sindicalizados se faça presente para debater a situação, que é gravíssima.

Jornalista

Cláudio Palheta Jr.

Telefones Pessoais :

(84) 96147935
(84) 88703982 (preferencial) 

Telefones da ADUERN: 


ADUERN
Cep: 59.625-620
Mossoró / RN
Seção Sindical do Andes-SN
Presidenta da ADUERN
Rivânia Moura

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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