O Rei do Cangaço é o tema do Documentários desta semana. Virgulino Ferreira, trabalhador rural, deu lugar a Lampião, o cangaceiro que amedrontou o nordeste brasileiro por 16 anos.
O que levou a essa transformação? Como era a vida fora da lei na Caatinga? Os amores, os ódios, a morte. Esses sentimentos estão vivos 80 anos depois da emboscada que matou o bando cangaceiro. Lampião continua aceso.
Quer saber mais sobre o programa? Acesse:
http://bit.ly/2XkGvoe
Documentário na TV
🔘 canal 53.1
🕖 domingo, às 22h; segunda, às 22h30; quarta, às 18h e quinta, às 13h30.
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SERÃO VINTE E TRÊS CAPÍTULOS CONTENDO A NARRAÇÃO DA FANTÁSTICA ENTREVISTA REALIZADA, ENTRE DEZEMBRO DE 1949 E JANEIRO DE 1950, PELO JORNALISTA BERLIET JÚNIOR DO JORNAL CARIOCA DIÁRIO DA NOITE COM O POLÊMICO EX-CANGACEIRO VOLTA SECA (ANTÔNIO DOS SANTOS).
UMA ENTREVISTA REPLETA DE ALTOS E BAIXOS, VERDADES E INVERDADES, MAS QUE TODOS DEVEM CONHECER PARA QUE POSSAM ANALISAR, ESTUDAR E ASSIM TIRAR SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES A RESPEITO DO DEPOIMENTO PRESTADO PELO EX-CANGACEIRO.
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A famosa “Ponte de Igapó”, ou “Ponte de Ferro”, ou “Ponte dos
Ingleses”, como você preferir chamar, foi erguida em na pequena Natal-RN
de 1912, numa época em que a cidade nem energia elétrica tinha direito, e foi
um grande marco para a cidade porque foi a responsável pela comunicação,
ampliação e escoamento do comércio na cidade.
Ponte de Igapó
antigamente. Foto: Jaeci Galvão
Depois de
décadas servindo à cidade, primeiro só com passagem de trens, depois com a
passagem mista de veículos e trens, ela foi parcialmente desmontada e suas
partes foram vendidas para uma empresa de sucata de Pernambuco. O que
sobrou dela infelizmente está abandonado, e ao lado foi inaugurada em 1970 uma
ponte para carros em funcionamento até hoje.
Mas você sabe
qual foi a primeira locomotiva a atravessar a ponte em toda a história?
Sim, essa aí
da foto. Essa pequena locomotiva foi fabricada na Inglaterra em 1902, e recebeu
o nome de Catita nº 3. Ela entrou para a história do Rio Grande do Norte
ao fazer a travessia inaugural da antiga Ponte sobre o Potengi no dia 20
de abril de 1916.
Isso mesmo!
Mas quem viajava nela não podia ter pressa de chegar. Ela andava na forma
“devagar e sempre”, isto é, a uma velocidade muito pequena, numa média de
15 km por hora. Catita nº 3 foi aposentada em 1975 quando seguiu para
Pernambuco onde passou 39 anos no museu do trem em Recife, porém sem receber os
devidos cuidados.
A máquina
retornou ao Rio Grande do Norte em 2014 após uma peleja jurídica de onze anos
pelo IAPHACC (Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico e Artístico
Cultural e da Cidadania). Mas, felizmente, hoje ela está no lugar certo:
sendo atração principal do Museu do Trem de Natal.
A locomotiva
hoje no Museu do Trem de Natal. Foto: Tribuna do Norte.
Antes de falar
mais sobre a locomotiva é importante dizer que a ideia do “Museu do Trem de
Natal” surgiu de Ricardo Tersuliano, presidente da IAPHACC, quando ele
pesquisava sobre a história da ponte de ferro de Igapó em 2003, acabando por
descobrir a locomotiva Catita Nº 3.
“Ela estava em
Recife, e tomamos a missão de devolvê-la para o RN. Comecei a entrevistar
velhos ferroviários e no processo vi que tínhamos um acervo que merecia ser
recolhido, guardado e exibido. E assim surgiu a ideia do Museu do Trem”, disse
Ricardo ao jornal Tribuna do Norte. O museu hoje se chama ‘Museu do Trem
Manoel Tomé de Souza’, e funciona no prédio da antiga estação de trens, no
bairro das Rocas, local onde as 26 locomotivas que circulavam no Estado
recebiam manutenção.
E sabe quem
foi na primeira viagem?
Na inauguração
Ponte de Igapó, em 1916, a “Catita Nº 3” carregou personalidades potiguares
famosas como o então governador Joaquim Ferreira Chavez, o médico Januário
Cicco, o escritor Henrique Castriciano, o advogado caicoense José Augusto, e
ainda: Juvenal Lamartine, ex governador do RN que instituiu o voto feminino no
estado, o historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo (ainda criança)
acompanhado do seu pai, o jornalista Elói de Souza, entre outros nomes da
história do Rio Grande do Norte.
Quer dar uma
passada nesse importante museu natalense quando a pandemia passar? O Museu do
Trem Manoel Tomé de Souza fica no campus do IFRN, Unidade Rocas. Consulte
horários de visitações pelo telefone 4005-0967.
As estatísticas do blog dele falam por si só o que esse cara é: 1 milhão e 360 mil cliques.
No dia 03 de Março de 2010 ele bateu o recorde de suas visualizações num artigo que mostrou 401 fotos antigas de Natal, reunindo quase 150 comentários, muitos milhares de acessos e atingindo muita gente dentro e fora da internet.
Ele é Rostand Medeiros, que além de blogueiro é escritor de livros e pesquisador potiguar, e certamente possui o maior e melhor acervo da História do Rio Grande do Norte na Web. Seu blog, abarrotado de dados interessantes e fotografias raras, se chama Tok de História e seu criador falou comigo em mais uma entrevistaexclusiva para o Curiozzzo. Acompanhe:
O que te motiva a fazer o “TOK de História”?
“Apesar do Tok de História não ser focado unicamente na história Potiguar, eu sempre fiquei fascinado diante da riqueza de dados históricos existentes em locais como a hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do nosso Arquivo Público e um dia decidi dividir um pouco desta história com outras pessoas.”
Qual a importância de propagar a história do RN para a população?
“Penso que ao democratizarmos a informação histórica através de meios digitais, com um maior número de pessoas acessando este conhecimento através destas ferramentas digitais e com uso intensivo da internet, nós podemos ajudar a criar um maior sentido de uma identidade potiguar.
Acredito que essa coisa de identidade potiguar é algo que parece meio difuso e estranho para a grande maioria dos nossos conterrâneos. Mas não é culpa deles. Ao nosso povo foi negado o acesso e a propagação desta ideia, como igualmente foi negado o acesso a informação histórica.
O resultado é que no Rio Grande do Norte a maioria de sua gente quase nada sabe do seu passado, consequentemente pouco entende qual é o seu lugar nos dias atuais neste mundo tão interligado e muitos vivem sem pensar e agir por um melhor futuro coletivo.
Mas para a nossa triste e oligárquica classe política isso tudo é maravilhoso!”
As informações históricas de Natal ficam restritas a um determinado grupo da sociedade?
“No meu entendimento a informação sobre o conteúdo da história potiguar sempre ficou muito restrito a grupos mais elitizados da nossa sociedade, que povoam certos ambientes aristocráticos, onde a ideia de existir um universo virtual que propaga e democratiza informações históricas soa como uma espécie de fantasia.
O que muitos destes ditos “doutos” não perceberam é a enorme acessibilidade que existe atualmente na internet.”
Na sua opinião, quais os três melhores artigos do seu blog?
“Pessoalmente eu tenho certa dificuldade para listar os melhores posts do meu blog. Não nego que os que mais curto são os relativos aos temas envolvendo a aviação histórica no Rio Grande do Norte, o momento da Segunda Guerra Mundial na nossa região e o tema do cangaço.
O artigo das 401 fotos antigas de Natal me trouxe muita alegria pelo retorno propagado entre muita gente.
Soube de professores que utilizaram este material em sala de aula, da alegria de pessoas que viajaram no tempo vendo estas imagens e de jovens que interagiram de maneira fantástica com seus parentes mais idosos na busca do conhecimento de uma Natal que não existe mais!”
Como você faz para descobrir tantos fatos históricos sobre a cidade?
Nos livros, no diálogo com os mais velhos, mas principalmente através de jornais antigos. Neste tocante a existência da hemeroteca digital da Biblioteca Nacional é algo fantástico e é uma grande ferramenta para quem deseja conhecer mais da nossa história.
Qual a foto antiga de Natal que você mais gosta?
Pessoalmente me emociono muito com as fotos da velha Ribeira.
Rostand Medeiros – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
Basicamente o whisky é um licor alcoólico destilado de um mosto fermentado de grãos, como cevada, centeio ou milho, geralmente contendo de 43 a 50 % de álcool. Mas independente do que ele é, ou de suas regras de produção, se você bebe whisky, seja muito ou pouco, então você está na companhia de algumas das melhores mentes e personagens do mundo. Gente importante e influente que admirava a bebida, ou desfrutou de um trago ao longo de suas vidas e não tiveram reservas em falar publicamente sobre o assunto.
Mas antes de comentar sobre quando o whisky e Natal interagem, é interessante saber desde quando essa bebida chega ao Brasil…
Chegou No Brasil Com os Britânicos
Basta pesquisar na internet para logo encontrar a informação que foi em 1850 que pela primeira vez alguém bebeu whisky em terras tupiniquins e o felizardo foi ninguém menos que o Imperador Pedro II.
Isso é pura lorota!
Vai ver que quem criou essa afirmação já tinha passado da oitava dose, ou não sabe pesquisar, ou apenas quis dar um ar de “superioridade” a essa bebida, colocando o primeiro copo de whisky nos nobres lábios de Sua Alteza Real.
Provavelmente essa história começa 42 anos antes, mais precisamente na cidade de Salvador, Bahia, no dia 28 de janeiro de 1808.
Nessa data o príncipe regente de Portugal, Dom João de Bragança, futuro rei Dom João VI, assinou o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas, que literalmente abriu a grande colônia portuguesa do Brasil para o comércio exterior. Mas a verdade é que esse comércio ficou basicamente restrito aos britânicos e houve uma forte razão para isso. Apenas oito dias antes de assinar esse documento, praticamente toda a corte portuguesa havia desembarcado na capital baiana, fugindo das tropas francesas de Napoleão Bonaparte, que em 19 de novembro do ano anterior haviam invadido Portugal. E foram os britânicos que apoiaram a fuga dos nobres portugueses para sua enorme colônia. Após a entrada dos franceses em território luso, Dom João de Bragança assinou uma convenção secreta com a Inglaterra, onde ficou estabelecido que esse país recorreria a ação da Royal Navy, a Marinha Real Britânica, para a Família Real e membros do governo português chegarem sãos e salvos no Brasil. O Reino de Portugal por sua vez “compensaria” largamente os britânicos com a abertura do comércio no Brasil.
E o que tem isso com o whisky?
Como os britânicos estavam com passe livre em terras brasileiras, é difícil de acreditar que já no primeiro dia que eles aqui desembarcaram, não trouxeram seus barris e garrafas de gim, brandy, whisky ou outra bebida qualquer.
Se apenas temos uma ideia de quando se iniciou o consumo de whisky no Brasil, na Hemeroteca da Biblioteca Nacional encontramos um interessante registro do comércio e do consumo dessa bebida.
Na segunda página do exemplar do Jornal do Commércio publicado no Rio de Janeiro, edição de sexta-feira, 21 de agosto de 1835 (15 anos antes de 1850), podemos ler na coluna intitulada “Parte Comercial”, que no dia 17 daquele mês um cidadão estrangeiro chamado “Diego Birckhead”, manifestou oficialmente junto a Alfândega do Rio que a galera norte-americana “Nova Orleans”, registrada no porto de Nova York, trazia várias mercadorias em seus porões, entre estas “145 barris de whisky”.
Mesmo sem termos a ideia do tamanho e de quantos litros caberia nesses barris, evidentemente que ninguém desembarcaria tal quantidade de bebidas em algum lugar que não tivesse quem as consumisse.
“Minha Esperança”
Eu não consegui descobrir quando o whisky chegou em Natal. Mas ao menos descobri uma notícia de quem aparentemente foi o primeiro vendedor dessa bebida por aqui, ou pelo menos quem primeiro anunciou sua venda para os papudinhos da capital potiguar.
No tradicional bairro da Ribeira existe a Rua Frei Miguelinho, paralela à rua Chile, sendo uma das mais antigas ruas do mais tradicional bairro de Natal. No ano de 1891 essa rua se chamava 13 de maio, em homenagem a data que a princesa Isabel assinou a lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil, e no número 26 existiu uma loja chamada “Minha Esperança”.
Para os olhos de hoje podemos dizer que esse estabelecimento comercial tem algo que mistura aquelas bodegas do interior que vendem todo tipo de bugigangas, misturado com muitos produtos importados de qualidade e materiais importantes para a realização de uma boa festa – instrumentos musicais e bebidas.
Para facilitar para você leitor, coloco aqui alguns anúncios da loja “Minha Esperança” e assim vocês poderão conhecer a variedade de produtos que ali eram comercializados em 1891.
Temos um outro anúncio que é bem específico sobre as bebidas vendidas nesta loja, onde podemos ver que a rapaziada de Natal apreciava produtos de primeira qualidade.
De saída vemos que a “Minha Esperança” tinha garrafas de Fernet Branca. Esse é um aperitivo amargo e aromático, feito com mais de 40 ervas e especiarias, incluindo mirra, ruibarbo, camomila, cardamomo e açafrão, com uma base de álcool de uva. A receita é um segredo e foi criada como um remédio no ano de 1845, na cidade italiana de Milão. A Fernet Branca ainda é produzida em Milão pela empresa Fratelli Branca, que atribuiu a invenção ao farmacêutico Bernardino Branca e ao seu colaborador, um médico sueco chamado Fernet e cujos sobrenomes batizaram a bebida. Ela é geralmente servida como digestivo após uma refeição, mas também pode ser degustada com café, ou puro à temperatura ambiente e ainda com gelo. É muito popular na Argentina, onde eles bebem com Coca-Cola e é uma das bebidas mais apreciadas pelos nossos vizinhos.
Outras bebidas que se encontravam na “Minha Esperança” eram vermutes, vinhos da região francesa de Bordeaux, o fortíssimo absinto, conhaques, os “vinhos de cheiro de uva pura” e whisky. Talvez em razão do nosso clima eu não vi entre as bebidas a cerveja. Em todo caso a rapaziada de Natal naquele final de Século XIX estava até que bem equipada para cair na farra.
Apesar da simplicidade da urbe natalense, os jornais daquele período trazem várias referências de festas, soirées, quermesses, eventos de sociedades organizadas, grêmios literários e clubes de encontros sociais, entre eles o “Club dos Quatorze”, “Club Carlos Gomes, o “26 de maio”, ou o “Grêmio Literário Le Monde Marche”. Ou seja, não faltavam locais organizados para deleitar a elite local, nem momentos para que esses natalenses adquirissem as bebidas oferecidas pela loja “Minha Esperança” e certamente “encherem o caneco”.
Podemos vislumbrar um exemplo desses momentos na primeira página do semanário O Santelmo, que nas edições de 14 e 30 de junho de 1891 informavam que na sede social do “Club dos Quatorze” ocorreu a sua “4ª soirée” na tarde de 23 de junho, uma terça-feira, véspera de São João.
Em resumo houve muita animação e tudo começou com a queima de fogos dos tipos “chineses, de bengala, electricos & Sorvête”. muita música tocada por uma orquestra, onde as principais serviram para animar as quadrilhas juninas no salão. O curioso é que a maioria dessas músicas possuíam títulos em francês.
Também dançaram valsas como “Ondas do Danúbio”, do romeno Ivan Ivanovici, além de polcas como “Cecy”, de Chiquinha Gonzaga, e “Brilhantina”, de Anacleto de Medeiros. Alguns sócios do “Club” formaram um grupo de piano, flauta, violão e violino e tocaram uma cavatina chamada “Sonâmbula”, que creio ser da ópera italiana “La Sonnambula”, de Vincenzo Bellini. Executarem também uma parte da ópera “O Trovador”, que certamente é “Il Trovatore”, de Giuseppe Verdi, cujo momento principal foi tocado por um músico chamado de “A. Barbosa”, que foi muito aplaudido e recebeu um buquê de flores de uma jovem sócia da agremiação, algo que chamou bastante atenção.
Não foi informado a que horas iniciou o arrasta-pé, mas ele terminou às cinco da manhã do dia seguinte, com a última quadrilha sendo animada pela música “Riso d’alvorada”.
Mesmo sem a nota de O Santelmo comentar sobre o consumo de bebidas na festa, fica difícil de acreditar que em um evento com tanta dança e que durou tanto tempo, não tenha sido consumido bebidas e, talvez, um uisquinho. Até porque o lugar para comprar existia!
Deixados na Alfândega
O tempo vai passando na pequena e provinciana Natal, onde reinava a tranquilidade para os seus pouco mais de 20.000 habitantes. Então, em uma quinta-feira, 11 de março de 1909, um navio cargueiro inglês adentra o tranquilo Rio Potengi.
Esse era o “Orator”, da Harrison Line and Steamers, que em Natal era representada pela firma de importação e exportação de Julius Von Söhsten. Aquela era uma nave de 3.563 toneladas, construída apenas quatro anos antes, que procedia da cidade inglesa de Liverpool. Após atracar foram descarregados no cais do porto 3.825 volumes com produtos diversos, que serviriam para abastecer o comércio natalense, sempre carente de produtos manufaturados. Vale recordar que a industrialização em massa no Brasil ainda era um sonho distante e muito do que nossos antepassados consumiam vinha do exterior. Além desses volumes, o “Orator” também trouxe para Natal 700 toneladas de carvão inglês, destinado a movimentar as locomotivas da Estrada de Ferro Central. No outro dia o navio de cargas partiu com peles de gado e peles de animais da fauna selvagem potiguar, além de fardos de borracha de maniçoba.
Mesmo não havendo maiores restrições à importação de produtos manufaturados, evidentemente que o Governo Federal cobrava impostos pela sua entrada em território nacional. Então, todas as mercadorias foram levadas para o prédio antigo da Alfândega, para que seus proprietários pagassem os impostos e retirassem os produtos.
Os jornais da época mostram que quando chegava um desses navios de carga, sempre havia uma certa movimentação no cais do porto, principalmente dos comerciantes, carroceiros e carregadores que eram contratados para levar os produtos. Logo as dependências da Alfândega foram se esvaziando, mas em um canto permaneceram sem serem retiradas quinze caixas de whisky escocês da marca J & B, a mesma que se pode comprar hoje em dia em supermercados de Natal, com a diferença do estilo das garrafas e rótulos. Então só voltamos a ter notícias sobre essas quinze caixas de whisky J & B quase seis meses depois.
No jornal natalense A República, edição de 10 de dezembro de 1909, na sua segunda página, encontramos a publicação de uma nota assinada por José A. de Viveiros, segundo escriturário da Alfândega de Natal, que informava ao cidadão que havia importado as quinze caixas que ele viesse pagar os impostos devidos para retirar as bebidas, ou em trinta dias elas seriam vendidas pela repartição em hasta pública. Procurei bastante nos jornais natalenses de 1909 para saber se os impostos foram pagos e quem desfrutou dessa bebida em Natal, mas nada encontrei. Em um exemplar de A República de 28 de janeiro de 1902, na segunda página, encontrei um edital oriundo da mesma Alfândega de Natal, onde um importador tinha de pagar $480 (quatrocentos e oitenta réis) por cada litro de whisky vindo da Escócia. Mas eu fiquei sem saber se o valor desse imposto ainda era o mesmo em 1909.
O whisky J & B foi criado em Londres, destilado na Escócia, sendo o resultado original da mistura de 42 dos melhores whiskies produzidos pelos escoceses desde 1749. E essa marca tem a orgulhosa distinção de receber uma autorização real desde o rei George III, em 1761.
Trazido e Comercializado por Diplomatas
Se nada sei do estoque que ficou na Alfândega de Natal naquele distante ano de 1909, descobri quem provavelmente poderia fornecer boas garrafas de whisky para o comércio natalense.
Naquele tempo o principal entreposto comercial do Nordeste do Brasil era a cidade de Recife e ao observar nos velhos jornais o seu movimento comercial, vi que as vendas dessa bebida na capital pernambucana eram feitas por comerciantes estrangeiros, que também atuavam como representantes diplomáticos de suas nações e eram pessoas muito respeitadas na sociedade local.
Um deles foi a empresa Griffith Williams & Johnson, comandadas pelos britânicos Arthur Llewellyn Griffith Williams e M. Johnson, cuja sede ficava na antiga Rua Visconde de Itaparica, número 1, atual Rua do Apolo, provavelmente na esquina com a Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife.
A empresa foi organizada em 1904, onde atuavam como agentes das firmas de navegação da Royal Mail & Pacific Steam Navigation Co. e da Houston Line. Esses investidores também possuíam serviços de estiva, uma frota de 22 saveiros e um rebocador. Entre as empresas com as quais eles tinham contrato para a prestação de serviços estavam a Great Western of Brazil Railway Co. Ltd., a Companhia das Obras do Porto e a Repartição de Esgotos. Para completar o quadro Mister A. L. Griffith Williams era o Vice-cônsul britânico em Pernambuco.
Certamente que para aliviar a pressão na luta para ganhar dinheiro e resolver pendências diplomáticas, só tomando umas boas doses do bom e velho néctar dos deuses das Highlands escocesas. E talvez esses dois súditos de Sua Majestade, cuja a colônia de estrangeiros era na época uma das maiores e mais influentes em Recife, podem ter sabiamente pensado “porque não vender whisky para os brasileiros?”
Não sei se para essa empresa a venda desse produto funcionou, mas justamente no ano de 1909 eu encontrei nos jornais que Griffith Williams & Johnson realizaram uma forte campanha entre os jornalistas recifenses para chamar atenção sobre a bebida. Esses profissionais, que sempre adoraram mimos, receberam nas suas redações algumas garrafas de um whisky chamado The Gaelic Old Smuggler, cuja mistura original data de 1835, sendo fabricado até nossos dias com a denominação simplificada para Old Smuggler.
Pesquisando mais a fundo nos jornais, acho que os jornalistas que provaram o The Gaelic Old Smuggler detestaram o gosto, pois não publicaram mais uma linha sequer sobre essa bebida…
Outro que trabalhava com a importação de whisky em Recife em 1909 era o Senhor Constantino Barza, um comerciante oriundo do finado Império Austro-húngaro, que representava diplomaticamente seu país na capital pernambucana e se dedicava com afinco ao ramo da fotografia.
Sua empresa, a Barza & Companhia, ficava na Avenida Marquês de Olinda, número 2, a poucas quadras da sede da Griffith Williams & Johnson, o que facilitava para os papudinhos de plantão a aquisição de diferentes tipos de whisky. Só que no caso de Barza ele trabalhava com o conhecido Black & White, aquele que traz no rótulo dois cachorrinhos.
O Black & White é uma bebida muito popular em vários países do mundo, devido à sua qualidade robusta e preços competitivos, dois fatores que combinam e ajudam a marca a conquistar a lealdade dos bebedores de uísque. Tal é a longevidade e popularidade da mistura, que o Black & White foi referenciado muitas vezes na cultura popular. Conta a lenda que James Buchanan, proprietário da James Buchanan & Co Ltd, visitou uma exposição de cães e teve a ideia de utilizar a imagem de um West Highland Terrier branco e de um Scottish Terrier preto como mascotes em suas garrafas. Obviamente que esses dois animaizinhos são originários da Escócia.
Sobre o Constantino Barza, sua loja e a venda de whisky Black & White, eu não consegui muitas informações. Só posso comentar que ele chegou ao Brasil com dez anos de idade e aqui viveu até seu falecimento em 4 de março de 1934, aos 74 anos. Em nosso país ele se casou com a Senhora Helena Cristina Barza, que teve vários filhos e, conforme comentei anteriormente, sua memória é muito mais importante no contexto do desenvolvimento da fotografia no Brasil, sendo ele considerado um dos pioneiros estrangeiros que ajudaram a desenvolver essa atividade em nosso país.
Na Companhia de Algumas das Melhores Mentes e Personagens do Mundo
Ainda sobre essa complexa, sofisticada e aromática bebida, lembram que no começo desse texto eu escrevi que gente importante e influente admirava esse típico produto escocês? Agora vamos conhecer o que muitos deles comentaram sobre o whisky.
Até hoje não se sabe se Abraham Lincoln, o 16º presidente dos Estados Unidos, gostava de whisky, mas quando ele descobriu que o seu bem sucedido general Ulysses S. Grant, grande vencedor da União na Guerra Civil Americana, era um entusiasmado bebedor de whisky, Lincoln teria dito: “Você pode me dizer onde ele consegue seu whisky? Porque, se eu descobrir, enviarei um barril dessa bebida maravilhosa para todos os generais do nosso exército”.
O Primeiro Ministro britânico Winston Churchill, o homem que fez sua nação suportar os momentos mais complicados durante a Segunda Guerra Mundial, comentou que: “A água não era própria para beber. Para torná-lo palatável, tivemos que adicionar uísque. Com esforço diligente, aprendi a gostar.”
O dramaturgo irlandês George Bernard Shaw afirmou: “Whisky é sol líquido”.
William Faulkner, renomado escritor nascido no sul dos Estados Unidos, assim comentou sobre essa bebida: “Minha própria experiência diz que as ferramentas de que preciso para o meu ofício são papel, tabaco, comida e um pouco de whisky”.
Alexander Fleming, o descobridor da penicilina, que era escocês e sabia apreciar a bebida que tornou ainda mais famosa a sua região de nascimento, disse certa vez: “Um bom gole de uísque quente na hora de dormir – não é muito científico, mas ajuda.”
Os atores de Hollywood adoravam whisky. Um que comentou sobre essa bebida foi Errol Flynn, que afirmou: “Gosto do meu whisky velho e das minhas mulheres jovens”.
Dizem que as últimas palavras de Humphrey Bogart, outro astro hollywoodiano, foram de um profundo arrependimento: “Eu nunca deveria ter trocado de whisky por Martini”.
Já Ava Gardner, colega de profissão de Flynn e Bogart, teria dito:” Quero viver até os 150 anos, mas no dia em que morrer, desejo que seja com um cigarro em uma mão e um copo de whisky na outra”.
O whisky para o estrategista de comunicações americano-israelense Joel C. Rosenberg é o seguinte: “Sou um homem simples. Tudo o que quero é dormir o suficiente para dois homens normais, whisky suficiente para três e mulheres suficientes para quatro.
Já o apresentador de TV americano Johnny Carson comentou assim sobre a bebida: “Felicidade é ter um bife mal passado, uma garrafa de whisky e um cachorro para comer o bife”.