Por Joab Nascimento
Eu já estive na ativa,
até usei farda um dia,
se dependesse de mim,
ficaria lá pra sempre,
do quartel não sairia.
Usei mescla, usei cinza,
também servi embarcado,
usei perneira e fuzil,
limpei chão e dei recado,
fui auxiliar na cozinha,
já também fui humilhado.
Capinei paralepipedo,
com enxadeco de mão,
no sol de 40 graus,
de camiseta e calção,
sem água pra tomar banho,
ficava no corpo sabão.
Já dei "pau" de zero às 4,
e marchei em ordem unida,
ensaiei milhões de vezes,
mesma marcha repetida,
cobertura e alinhamento,
pra não ser mais esquecida.
Prestei muita continência,
corri em acelerado,
durante o TFM,
mesmo estando cansado,
ao reunir tinha chamada,
varias vezes fui anotado.
Já perdi fim de semana,
sem poder ir para casa,
impedido no quartel,
meu peito explodia em brasa,
fiz faxina e mutirão,
muito invocado eu ficava.
Cantei o Hino Nacional,
da Bandeira e Cisne Branco,
já chorei de emoção,
tive que esconder o pranto,
vários cerimoniais,
que o arrepio foi tanto.
Tirei guarda, dei pernoite,
1 por 1, sem reclamar,
fiz corridas mixurucas,
que não davam pra cansar,
também já virei a noite,
sem direito a descansar.
Fui pra terra sem destino,
já dei "soco" suicida,
já morei em cabaré,
sem valorizar a vida,
no meio de prostitutas,
tinha "amor", tinha guarida.
E para não morrer di...
peguei o velho picado,
no meio da madrugada,
mesmo estando resfriado,
ao chegar do velho "soco"
totalmente esfomeado.
Meus amigos eram de mu...
fui campanha, companheiro,
joguei dominó a bordo,
do "aliado", cumbuqueiro,
eu também já fui perú,
palpitando o tempo inteiro.
Aprendi honra e respeito,
confiança e retidão,
de acordo com ART. 7°,
eu já sofri punição,
por não cumprir uma ordem,
passei 3 dias, na prisão.
Aprendi que nossas armas,
não nos causam violência,
que flores não trazem a paz,
tenho plena consciência,
e sim, as mãos que carregam,
todo mal, por excelência.
Obedecer o pai e a mãe,
desde cedo eu convivi,
respeitar o superior,
na Marinha eu aprendi,
ter disciplina na vida,
também eu absorvi.
Foi lá também que aprendi
para minha evolução,
que nossa família é a base,
pra uma boa educação,
em todos os obstáculos,
Deus nos trás a solução.
Hoje não mais uso farda,
minhas roupas são normais,
bermudas e camisetas,
as vezes roupas sociais,
o velho mescla e o cinza,
já não me pertencem mais.
Algumas fotos guardei,
pelo tempo amareladas,
hoje só recordações,
das missões inopinadas,
lembro do 3° tempo,
faxinas inesperadas.
Aceleram o meu peito,
Todas essas recordações,
as lágrimas dessem dos olhos,
me arrepio com emoções,
minha garganta sufocada,
soluços aos turbilhões.
Minha missão foi cumprida,
isso eu tenho consciência,
a saudade dos amigos,
e de toda convivência,
hoje revivo o passado,
Que me deu experiência
O estampido do canhão,
Isso eu não vou mais ter
barulhos das aeronaves,
estão vivas em meu viver,
nosso saudoso NAel,
impossível de esquecer.
Da nossa querida Aldeia,
do nosso esquadrão guerreiro,
e das suas missões noturnas,
de janeiro a janeiro,
das inspeções programadas,
sendo o fiel escudeiro.
Ainda sinto os solavancos,
do navio em alto mar,
do mau tempo, tempestades,
que tivemos de enfrentar,
acidentes que houveram,
que não gosto de lembrar.
Ainda estão na lembrança,
o velho centro de instrução,
das viagens e missões,
que eu fiz pelo esquadrão,
todos amigos de bordo,
carrego em meu coração.
Não tiro mais zero hora,
e nem presto continência,
não faço mais ordem unida,
disso eu tenho ciência,
sempre serei marinheiro,
em toda minha existência.
Hoje às minhas batalhas,
não são mais em alto mar,
hoje eu só faço cordel,
pra fazer o tempo passar,
escrevo da minha mente,
a leitura popular.
Joabnascimento
Camocim-CE 06/05/22.
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