Seguidores

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

TIME DE PESQUISADORES


Oi pessoal, vejam esse time de pesquisadores imbatível do cangaço e entes eles alguns remanescentes da época, esse talvez foi um dos encontros mais épicos da história de trabalhos e pesquisas do cangaço.

Vamos tentar legendar este time de pesquisadores. Da esquerda para a direita:

1 - Escritor Alcino Alves Costa;
2 - Não o conheço;
3 - Professor e escritor Antonio Vilela;
4 - Não o conheço;
5 - O economista Sílvio Bulhões filhos dos cangaceiro Corisco e Dadá;
6 - Acho que é Lívio Ferraz; 
7 - A cangaceira Aristéia;
8 - Escritor João de Sousa Lima;
9 - Não o conheço;
10 - Escritor Antonio Amaury;
11 - Não o conheço;
12 - Cineasta Aderbal Nogueira. 

Sentados:

1 - Escritor Frederico Pernambucano de Melo;
2 - Colecionador do cangaço Ângelo Osmiro Barreto.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=156703595321405&set=gm.626225141181999&type=3&theater&ifg=1

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

“PAJEÚ EM CHAMAS: O CANGAÇO E OS PEREIRAS”


Recebi hoje do Francisco Pereira Lima (Professor Pereira) lá da cidade de Cajazeiras no Estado da Paraíba uma excelente obra com o título "PAJEÚ EM CHAMAS O CANGAÇO E OS PEREIRAS - Conversando com o Sinhô Pereira" de autoria do escritor Helvécio Neves Feitosa. Obrigado grande professor Pereira, estarei sempre a sua disposição.


O livro de sua autoria “Pajeú em Chamas: o Cangaço e os Pereiras”. A solenidade de lançamento aconteceu no Auditório da Escola Estadual de Educação profissional Joaquim Filomeno Noronha e contou com a participação de centenas de pessoas que ao final do evento adquiriram a publicação autografada. Na mesma ocasião, também foi lançado o livro “Sertões do Nordeste I”, obra de autoria do cratense Heitor Feitosa Macêdo, que é familiar de Helvécio Neves e tem profundas raízes com a família Feitosa de Parambu.

PAJEÚ EM CHAMAS 

Com 608 páginas, o trabalho literário conta a saga da família Pereira, cita importantes episódios da história do cangaço nordestino, desde as suas origens mais remotas, desvendando a vida de um mito deste mesmo cangaço, Sinhô Pereira e faz a genealogia de sua família a partir do seu avô, Crispim Pereira de Araújo ou Ioiô Maroto, primo e amigo do temível Sinhô Pereira.

A partir de uma encrenca surgida entre os Pereiras com uma outra família, os Carvalhos, foi então que o Pajeú entrou em chamas. Gerações sucessivas das duas famílias foram crescendo e pegando em armas.

Pajeú em Chamas: O Cangaço e os Pereiras põe a roda da história social do Nordeste brasileiro em movimento sobre homens rudes e valentes em meio às asperezas da caatinga, impondo uma justiça a seus modos, nos séculos XIX e XX.

Helvécio Neves Feitosa, autor dessa grande obra, nascido nos Inhamuns no Ceará, é médico, professor universitário e Doutor em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal), além de poeta, escritor e folclorista. É bisneto de Antônio Cassiano Pereira da Silva, prefeito de São José do Belmonte em 1893 e dono da fazenda Baixio.

Sertões do Nordeste I

É o primeiro volume de uma série que trata dos Sertões do Nordeste. Procura analisar fatos relacionados à sociedade alocada no espaço em que se desenvolveu o ciclo econômico do gado, a partir de novas fontes, na maioria, inéditas.

Não se trata da monumentalização da história de matutos e sertanejos, mas da utilização de uma ótica sustentada em elementos esclarecedores capaz de descontrair algumas das versões oficiais acerca de determinados episódios perpassados nos rincões nordestinos.
Tentando se afastar do maniqueísmo e do preconceito para com o regional, o autor inicia seus estudos a partir de dois desses sertões, os Inhmauns e os Cariris Novos, no estado do Ceará, sendo que, ao longo de nove artigos, reunidos à feição de uma miscelânea, desenvolve importantes temas, tentando esclarecer alguns pontos intrincados da história dessa gente interiorana.

É ressaltado a importância da visão do sertão pelo sertanejo, sem a superficialidade e generalidade com que esta parte do território vem sendo freqüentemente interpretada pelos olhares alheios, tanto de suas próprias capitais quanto dos grandes centros econômicos do País.

Após a apresentação das obras literárias, a palavra foi facultada aos presentes, em seguida, houve a sessão de autógrafos dos autores.

Quem interessar adquirir esta obra é só entrar em contato com o professor Pereira através deste e-mail: franpelima@bol.com.br
Tudo é muito rápido, e ele entregará em qualquer parte do Brasil.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O SIGNIFICADO DOS SÍMBOLOS USADOS PELOS CANGACEIROS...

https://www.youtube.com/watch?v=2ZRfnugBAdw&feature=share

Publicado em 26 de fev de 2019

Estudando e buscando os significados dos símbolos usados dentro do cangaço. Criação do estilo UNIGÊNERO pelo cangaceiro Lampião.

Categoria

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

NÓS E OS RIACHOS

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.068

Certa vez escrevemos sobre o isolamento das nossas paisagens, sobretudo dos nossos riachos. Pequenos, médios, alongados, tão humildes no verão, tão alegres no inverno. Esquecidos pela humanidade tornam-se invisíveis como pessoas idosas nos recantos da casa. Somente os fatos relevantes negativos ou positivos, fazem-nos brilhar nos noticiários e nos interesses dos que buscam. Veias de uma rede que alimenta os grandes rios que nutrem os bravos oceanos. Exemplificamos um desses riachos da nossa terra, conhecido como João Gomes. Quando não havia ponte sobre ele no trecho Santana do Ipanema – Olho d’Água das Flores, bem que o nosso riacho tinha prestígio. No período chuvoso descia violento interrompendo o trânsito por vários dias seguidos. Aí sim, todos falavam sobre ele com respeito danado e medo de afogamento.

RIO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS).

        Foi às margens do João Gomes que nasceu o escritor Oscar Silva, tão bravo na sua sobrevivência quanto o riacho que o viu nascer. Mais tarde escreveria, em contexto, que nenhum geógrafo do Brasil o conheceria e nem iria conhecê-lo. Seu conterrâneo tornou-se geógrafo e o conheceu. Mas depois da ponte, de fato nunca mais houve manchete, assim como as eternas do riacho Ipiranga. Mas se o riacho João Gomes pensasse como gente, o que diria do colega de Minas Gerais, o córrego do Feijão? No Nordeste chamamos riacho, no Sudeste, córrego. Então, é melhor ser humilde e ter a honra de ter originado um filho escritor ou ter ganhado a fatalidade que ocorreu no Brumadinho? Tem a fama para cima, tem a fama para baixo. E, não podemos esquecer o poeta que disse: “Água corrente/água corrente/teu destino é igual/ ao destino da gente”.
       E o meu Sertão continua repleto de capilares, de veias, de artérias, alimentando os grandes, os famigerados, os mitológicos, pavões atrativos do mundo. Fiquemos assim com a modéstia incondicional do João Gomes, do Camoxinga, Bola, Tenente, Salobinho, Desumano, Farias, Tigre, Jacaré que nutrem o Capiá, o Traipu, o Ipanema, o Riacho Grande... Suportes missionários do “Velho Chico”, nutricionista do Atlântico.
       “Água corrente/água corrente...”.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O DESCONHECIDO CANGACEIRO ANTONIO BRAZ O TERROR DO SERIDÓ

 Por Rostand Medeiros

No Rio Grande do Norte, quando o assunto é cangaço, a primeira noção que a maioria das pessoas possuem remete ao ataque de Lampião a Mossoró, a resistência do povo mossoroense ao 13 de junho de 1927, o assassinato de Jararaca e a sua metamorfose em santo popular. Na sequência, de forma esporádica, alguns recordam as andanças de Antônio Silvino no inicio do século XX, a ideia que este cangaceiro era um homem de honra e a famosa história que o mesmo mandou um dos seus “cabras” comer um litro de sal, após este ter reclamado da comida que uma mulher preparou para o grupo e esqueceu de pôr este condimento.

Por fim vem à figura do único grande chefe de um bando de cangaceiros potiguar, Jesuíno Brilhante, homem injustiçado em meio a dilacerantes lutas políticas, enviesadas de épicas lutas com acentuados e tradicionais códigos de honra. ( 1 )

De forma geral, os pesquisadores do tema no Rio Grande do Norte produziram bons trabalhos, que muito ajudaram a esclarecer os aspectos que envolvem os mistérios deste gênero de banditismo social. Contudo a história é mais ampla, diversificada e pautada de fatos desconhecidos.

As testemunhas destes episódios a muito descansam no solo sertanejo, restando a tradicional tarefa de buscar a história em carcomidas e amareladas páginas de antigos jornais, em documentos oficiais esquecidos em bolorentos e desaparelhados arquivos e na tradição contada de pai para filhos nos alpendres das antigas fazendas do sertão. A busca é difícil, mas a colheita é normalmente compensadora.

Debruçado sobre a coleção do jornal republicano “O Povo”, editado, encontramos uma série de reportagens que apontam a existência do desconhecido cangaceiro Antônio Braz e do seu diminuto bando, que além de uma extrema valentia, é apontado como sanguinário, arrogante e desaforado com as autoridades.

As notícias sobre a atuação de Antônio Braz estão contidas em várias edições deste jornal, entre os dias 23 de novembro de 1889 a 11 de agosto de 1891. ( 2 )

Tudo indica que Antonio Braz era da Paraíba, onde lhe eram creditados oito mortes em sua vida de tropelias, tendo sido condenado a uma pena de 48 anos de detenção, que cumpria na cadeia pública de Pombal. Entre os anos de 1894 e 1895, este cangaceiro fugiu desta detenção, estando há quase cinco anos vagando pelos sertões da região fronteiriça da Paraíba e Rio Grande do Norte, mais precisamente na área ao longo da bacia do Rio Piranhas. ( 3 ) 

Amedrontava os fazendeiros de Pombal, Catolé do Rocha e Brejo do Cruz, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, Serra Negra do Norte e Caicó, mais especificamente a então vila de Jardim de Piranhas, eram seus pontos de atuação. Antônio Braz era um cangaceiro que as informações da época o classificam como “temível”, pois seu bando fora protagonista de inúmeros assassinatos, roubos, espancamentos e estupros. Andava este bando sempre com um pequeno número de membros, com no máximo quatro a cinco integrantes, entre eles o seu irmão Francisco.
Catolé do Rocha, em foto do escritor Mário de Andrade, em janeiro de 1929
Fonte Rostand Medeiros Tok de História

Até mesmo a sua perseguição gerava a velha ação de abuso de poder por parte da polícia. Em 29 de junho de 1889, as páginas de “O Povo”, divulgaram que um grupo de policiais paraibanos vindos de Catolé do Rocha, invadiu por duas ocasiões o território potiguar em caça de Antonio Braz e seu grupo. Na primeira ocasião os policiais haviam praticado uma série de violências, arbitrariedades e até roubos. Na segunda ocasião, na pequena área urbana de Jardim de Piranhas, que nesta época abrigava uma população de 200 almas, ouve um cerrado tiroteio entre os policiais do estado vizinho e os cangaceiros, sendo os policiais obrigados a recuar devido à reação do bando.

Não há maiores detalhes sobre este tiroteio, mas por este período, os aparatos policiais da Paraíba e do Rio Grande do Norte eram formados por pequenos contingentes de homens mal armados, violentos, corruptos e extremamente despreparados, que pouco diferiam dos cangaceiros e bandidos que deviam perseguir. (4) 

Tudo indica que Braz encontrou na pessoa do coronel Florêncio da Fonseca Cavalcante, chefe da vila de Jardim de Piranhas, o apoio e proteção que necessitava para suas ações na região. O coronel Florêncio exercia nesta época o cargo de primeiro suplente de juiz municipal de Caicó. Esta ligação entre homens de poder e cangaceiros sempre resultava em sangue e em jardim de Piranhas não foi diferente. Ainda no ano de 1889, Antônio Braz matou na comunidade de Timbaubinha, três quilômetros ao norte da vila, o agricultor Manoel de Souza Franco, que mantinha com o coronel Florêncio, uma questão de posse de terras.

O caso se deu da seguinte forma; o pai de Manoel, Roberto Franco, morrera em 1878 e deixara como herança um pequeno sítio na Timbaubinha. Haviam dívidas contraídas pelo falecido, que foram cobradas pelos credores, entre estes estava o coronel Florêncio, que mesmo sendo suplente de juiz, recorreu a “força d’armas”, utilizando Antônio Braz e seu grupo para resolver a questão.

Pouco tempo depois do tiroteio com a polícia da Paraíba, Braz tentou aniquilar Manoel cercando sua casa e ateando fogo à mesma. Houve reação do agricultor que, ajudado por outros parentes, afugentou os cangaceiros. Como Manuel morava em sua propriedade cercado de familiares, sentia certa segurança, mesmo assim passou a ter muito cuidado em suas saídas. Já Braz e seu grupo, sempre espreitavam perto da propriedade, buscando uma ocasião para desfechar a ação fatal.

No dia 13 de novembro, quando Manoel Franco voltava do roçado, em pleno meio-dia, entrando pela parte traseira da sua casa, foi alvejado com dois tiros e morreu sem reagir. Não satisfeito Braz ainda lhe fez quatro perfurações de punhal. Aparentemente o cangaceiro aproveitou um momento de descuido do agricultor e de sua família para fazer o “serviço”. Após matar Manoel, o assassino ordenou a todos que o corpo deveria ficar estendido no pátio defronte a casa, sem ser enterrado, para “dar o exemplo”.

Os jornais comentavam que a questão entre o coronel e Manoel Franco chegara ao fim e que agora “ninguém se oporá mais ao coronel”, apontando como o mentor do crime. Diante da repercussão do caso, Antônio Braz e seu grupo seguiram para a região de Catolé do Rocha, onde de passagem pelo lugar “Barra”, deram uma formidável surra em uma mulher.

Passou a existir na região um clima de medo muito forte, onde o jornal denunciava a inércia das autoridades, com uma forte critica para o número pequeno de policiais na região. A repercussão do assassinato de Manoel Franco e o medo do povo, fizeram com que as autoridades intensificassem as buscas ao bando. O então comandante da polícia, o capitão Olegário Gonçalves de Medeiros Valle, ordena mais empenho dos seus comandados.

Não demorou muito e os policiais tiveram um encontro com o cangaceiro; ao passarem próximos de uma casa as margens do Rio Piranhas, tiveram a surpresa de estar diante de Antônio Braz. Este se encontrava equipado com suas armas, já montado em seu cavalo, não se intimidou com a tropa e fez fogo contra o grupo, recebendo uma chuva de balas em resposta. O cangaceiro fez o segundo disparo e fugiu a galope.
Na fuga, Braz encontrou um homem na estrada e lhe ordenou que fosse com o cavalo para Jardim de Piranhas, então o cangaceiro desapareceu na caatinga. Sem maiores opções e temendo o pior, este homem fez o que fora ordenado, nisto a força policial seguia no encalço do bandido, quando viram o homem montado em um cavalo idêntico ao de Braz e fizeram fogo. Para a sorte deste cavaleiro, os policiais atiravam muito mal.

Sentindo o cerco apertar, Antônio Braz e seu grupo buscam abandonar a área do Rio Piranhas, sendo noticiada uma incursão a Paraíba, na região de Piancó, onde se informa, sem maiores detalhes, ter o bando assassinado um homem. O grupo será visto novamente no Rio Grande do Norte, em 11 de fevereiro de 1890, no lugar “Riacho Fundo”, onde uma tropa policial se depara com o coito do grupo no meio da mata. Ocorre rápida escaramuça, sem vitimas, tendo o bando fugido do local nos seus cavalos sem as selas, roupas e outros utensílios. A polícia persegue os bandidos por quase seis léguas, o que seria uma média de trinta quilômetros, abandonando a perseguição por ter chegado à noite.

O bando passa a agir principalmente na Paraíba, mas a ação policial neste estado se torna mais forte. Em junho de 1890, Braz e seus homens travam um forte tiroteio contra uma patrulha da polícia paraibana, da cidade de Pombal, tendo o grupo perdido alguns animais de montaria.

Rumam então para a fronteira do Rio grande do Norte, na região da cidade de Serra Negra do Norte. Esta cidade potiguar possuía na época um diminuto destacamento de três praças e estes não proporcionariam alguma resistência ao grupo. Na fazenda Jerusalém, do coronel Antônio Pereira Monteiro, tomaram através de ameaças os cavalos deste proprietário, tendo a malta de celerados seguido novamente em direção a Paraíba. A fazenda Jerusalém está atualmente localizada no município de São João do Sabugi.

Mas as tropelias de Antonio Braz e seu bando não param, em 4 de agosto de 1890, na então vila paraibana de Paulista, pertencente a Pombal, este cangaceiro cria uma situação de escárnio para as autoridades, que chega a ser inusitada. Neste dia, neste lugarejo onde habitavam umas 50 almas, Braz conduz preso o bandido que respondia pela estranha alcunha de “Francisco Veado”. Na vila ele obriga dois paisanos a levarem o prisioneiro para o delegado de Pombal, com uma carta para a autoridade, onde dizia que “não estava disposta a deixar livres tantos cangaceiros, que por ora remetia aquele, e que mais tarde... ele próprio iria”. (5)

Parece uma tanto fantasiosa esta última afirmação do jornal, mas a partir desta data, cessam toda e qualquer nota sobre o cangaceiro Antônio Braz e suas atividades.

Esta última notícia data de agosto de 1890, coincidindo com o retorno de chuvas depois de um período de fortes secas entre os anos de 1888 e 1889. É fácil supor que devido ao risco e periculosidades inerentes a atividade de cangaceiro, esta já não fosse tão interessante e a terra molhada vai dispersando o grupo em busca de outras formas de sobrevivência (6).

Infelizmente, não sei como terminou este episódio, ou mesmo a vida de peripécias deste inusitado cangaceiro e seu bando. Não consegui mais nenhuma informação nos jornais da época e nos arquivos existentes em Natal e Caicó.

Sobre o aspecto de atuação territorial, o cangaço de Antônio Braz ocorreu praticamente na mesma área que notabilizou o único potiguar que chefiou um bando de cangaceiros, Jesuíno Brilhante. Já em relação à sua prática como cangaceiro, Antônio Braz era tido como “terrível”, já Jesuíno, segundo os relatos históricos de Henrique Castriciano e Câmara Cascudo (7), era o “gentil homem”, um “homem de valores”, que estava na vida do cangaço pelas injustiças do seu tempo.

Notas

(1) Os livros que melhor tratam sobre o ataque de Lampião a Mossoró são “Lampião em Mossoró”, de Raimundo Nonato, “A Marcha de Lampião”, de Raul Fernandes, “Lampião no RN-A história da grande jornada”, de Sergio Augusto de Souza Dantas. Sobre Antônio Silvino no Rio Grande do Norte, temos “Antônio Silvino no RN” de Raul Fernandes, “Antônio Silvino-O homem, o mito e o cangaceiro”, de Sergio Augusto de Souza Dantas. Já Jesuíno Brilhante serviu de tema para o livro “Jesuíno Brilhante-o cangaceiro romântico”, de Raimundo Nonato. Já Câmara Cascudo, em seu livro “Flor de romances trágicos”, aponta vários aspectos das atuações dos cangaceiros Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Lampião, Jararaca e outros.

(2) Existe uma coleção microfilmada deste jornal no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. 

(3) Esta não seria a primeira notícia sobre fuga de presos da Cadeia Pública de Pombal. Em 18 de fevereiro de 1874, 25 anos antes da fuga de Antônio Braz, Jesuíno Brilhante e seu bando atacaram a guarnição desta cadeia, libertando quarenta e três detidos, entre eles membros do seu bando.

(4) Para se ter uma ideia da situação numérica do efetivo policial, no jornal “A Republica” de 9 de janeiro de 1890, era publicada a “Ordem do dia nº 6”, emitida em 4 de janeiro do mesmo ano, onde o então governador do Rio Grande do Norte, Adolfo Afonso da Silva Gordo, organizava o Corpo de Polícia com 1 capitão comandante, 2 tenentes, 4 alferes, 2 primeiros sargentos, 4 segundo sargentos, 1 sargento ajudante, 2 furriéis, 10 cabos, 120 soldados e 4 corneteiros. Eram apenas 150 policiais para todo o estado. 

(5) A adoção grifada da palavra “cangaceiro”, pela edição deste jornal, chama a atenção, pois neste período os jornais normalmente utilizavam termos como “banditismo”, para designar a ação, “celerados” e “salteadores” para definir os protagonistas, dificilmente nesta época encontramos nos textos jornalísticos, o termo que designariam estes bandidos e assim seriam mitificados. Entretanto, vale ressaltar que o jornal “O Povo” era editado em uma cidade sertaneja, onde os bandidos errantes que carregava suas armas e utensílios, preferencialmente nos ombros, a partir da metade do século XIX, passam ser conhecidos como “aqueles que estão debaixo da canga” “aqueles que estão no cangaço” e daí a “cangaceiro”, não sendo difícil de supor que, por este jornal está inserido no sertão, esta tenha sido a primeira vez na imprensa potiguar que o termo “cangaceiro” tenha sido utilizado. 

(6) Sobre a seca de 1888 e 1889 e outros assuntos a respeito deste fenômeno climatério, ver o pronunciamento do então Senador pelo Rio Grande do Norte, Eloy de Souza, intitulado “Um problema nacional (Projecto e justificação)”, pronunciada na seção de 30 de agosto de 1911 e editado em formato de brochura pela Tipografia do Jornal do Comercio, em 1911. Sobre a teoria do crescimento das ações de grupos cangaceiros nos períodos de estiagem, ver “Guerreiros do sol”, de Frederico Pernambucano de Mello. 

(7) Com relação aos escritos de Henrique Castriciano sobre Jesuíno Brilhante, temos no jornal "A Republica", edição de 25 de julho de 1908, uma interessante crônica deste poeta potiguar sobre este cangaceiro.

*Rostand Medeiros é Pesquisador de Natal, RN

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CANGACEIRO ESPERANÇA SUA PRISÃO E SUA HERANÇA

Por João de Sousa Lima
Cangaceiro "Esperança" ao centro.

A fazenda Quirino, no povoado São Francisco, Macururé, Bahia, era um  dos coitos do bando de Lampião e principalmente reduto dos cangaceiros nascidos entre Macururé, Brejo do Burgo, Santo Antonio da Glória  e Chorrochó. Entre eles Gavião, Azulão, Esperança, Cocada, Zé Sereno, Zé Baiano e Gato. No povoado São Francisco a mãe de Esperança, dona Andressa, tinha terras por lá, porém ela residia na Várzea da Ema.

O comandante de volante que destacava na Várzea da Ema era Antonio Justiniano e dois dos soldados que ele comandava eram irmãos de Esperança: Vicente, apelidado de Medalha e Ananias. A fazenda pertencia a Ludugero, tio do cangaceiro Esperança.
Ludugero, tio de Esperança, dono da fazenda Quirino.

João e Jovelina Barbosa, irmã do cangaceiro Azulão, 
povoado São Francisco.

Esperança, Cocada, Pancada e Gavião, encontravam-se acoitados próximo ao sítio Quirino. Dentro de um cercado os cangaceiros catavam imbu quando chegou o dono do terreno e Cocada o prendeu e depois o soltou. O sertanejo correu e foi avisar policia do encontro que teve com os cangaceiros.
    
Dona Andressa sempre que precisava ir ver suas criações no São Francisco tinha que pedir autorização ao comandante do destacamento e foi em uma dessas viagens que ela travou diálogo com o contratado Reginaldo que lhe sugeriu pedir para que Esperança se entregasse que nada lhe aconteceria, de preferência que ele trouxesse a cabeça de um companheiro que sua vida tava garantida. Andressa levou o recado ao filho que mesmo relutante acabou cedendo aos apelos da querida mãe. Reginaldo mandou roupas novas de mescla azul para Esperança. O cangaceiro ainda relutante disse a mãe que não tinha coragem de se entregar e a mãe saiu triste.
    
Era março de 1933, no coito encontrava-se Esperança, Cocada, Gavião e Pancada.  Esperança chamou Cocada para irem pegar água em um caldeirão ali próximo. Os dois seguiram na direção do caldeirão. Diante quando chegaram ao caldeirão sentaram-se e ficaram conversando. Cocada limpou sua arma e depois pediu a arma do amigo para ele limpar e Cocada entregou seu mosquetão. Esperança limpou, colocou uma bala na agulha e detonou. O cangaceiro com o impacto do tiro caiu uns dois metros de distância e sem saber de onde tinha partido o disparo pediu socorro:
- Me acode Esperança, não deixe os “MACACOS” me matar!
Esperança pegou o facão da marca jacaré, partiu na direção do moribundo e o degolou ainda com vida. Pegou os bornais, armas, a cabeça do cangaceiro e foi se entregar a policia.
 Cabeça do Cangaceiro Cocada,
morto pelo "colega" Esperança

Na Várzea da Ema ele se entregou  as autoridades, contou detalhes da morte que fez, denunciou os coitos dos cangaceiros na região. Com dez dias  depois  foi encaminhado para a cidade de Uauá, onde o capitão Manoel Campos de Menezes que o livrou da prisão e o incorporou na volante policial do tenente Santinho como contratado . Ficou sendo o corneteiro do grupo. Trabalhou em Jeremoabo e faleceu tempos depois na cidade de Juazeiro, Bahia.

Ainda na prisão em Várzea da Ema.

O cangaceiro Esperança quando preso, já atendendo agora por Mamede, seu nome real, encontrou o com o jovem sobrinho José  Gonçalves Varjão, apelidado de Pororô e lhe confidenciou que na frondosa árvore lateral a casa de sua família, enterrado próximo ao seu tronco, tinha um material guardado e que ele tirasse e entregasse a seu pai. Pororô procurou ao redor da árvore mais diante da pouca idade não encontrou forças para continuar a empreitada de escavação no duro chão de cascalhos.

O tempo passou, Pororô cresceu e retornando certo dia de uma caçada, quando se aproximava de sua velha residência, viu quando seu cachorro passou acuando um preá, o cachorro parou próximo a antiga e frondosa árvore, Pororô se aproximou e viu o cão rosnando e olhando para um pé de macambira, Pororô tirou a cactácea e avistou uma lajota cobrindo um buraco, tirou a pedra, o preá correu com o cachorro latindo atrás, Pororô puxou um tecido em farrapos que cobriam algumas peças, entre elas: Uma colher de prata, 160 cartuchos de fuzil, um punhal, uma espora e algumas moedas.
 Colher de prata de Esperança 
presenteada ao escritor João de Sousa Lima pelo sobrinho do cangaceiro.

Era esse o tesouro de Esperança que ele havia pedido para o sobrinho guardar. Pororô vendeu os cartuchos a um dos prefeitos de Macururé. A colher de prata, algumas moedas, o punhal e uma das esporas ele me presenteou. Na colher encontramos as letras: MA. Talvez o cangaceiro tenha tentado escrever seu verdadeiro nome: MAMEDE. No punhal tem um “NA” ou “NH”.
Detalhe do cabo do punhal de Esperança

Pororô ainda reside e seu irmão Izidoro ainda residem no São Francisco e os Quirino é herança que ficou com a família. Aquele longínquo pedaço de chão ainda guarda as histórias do cangaço vivido em suas terras, memórias ainda latentes de um tempo que teima em não ser esquecido e nem deve....
João de Sousa Lima ladeado por Izidoro e José Pororô
Sobrinhos de Esperança.

Segue em anexo a esse texto uma das cartas de interrogatórios realizados pela polícia e que mostra a importância desses lugares citados com a história do cangaço e a referência com pessoas da localidade. A carta vai transcrita na integra com os erros e incorreções:
“Aos três do mês de maio de 1932, no arraial de Várzea da Ema em casa de residência do segundo tenente Antonio Justiniano de Souza, sub delegado de policia, foi interrogado o bandido acima referido que disse:
  
“Em 1929, estando ele bandido, em seu rancho no lugar denominado São Francisco, foi surpreendido pelo grupo de Lampião que ali chegava a mando do Cel. Petronílio de Alcântara Reis, para que fosse as imediações do Icó e ali receber dinheiro enviado para Lampião, cuja importância era 20:000$000, mas só foram entregues 18:000$000 e que dois restantes Lampião disse que dava por recebido, quando lhe mandasse um cunheito de munição; o que não sabe-se se isso efetuou-se,  mais depois ouviu do bandido ferrugem a declaração de que teve referido Cel. Petronilio havia comprado munição. E que devido a esse encontrão foi ele depoente obrigado a refugiar-se nas Caatingas, pois as forças andavam a sua procura tendo por isso de quando em vez constantes encontros com os cangaceiros, merecendo do mesmo consideração a ponto de lhe ser entregue por “Lampião” um rifle com cem cartuchos, os quais conservou até a data de sua prisão, não tendo, porém feito uso da dita arma para a prática de crime.
 
 Sargento Otávio Farias, radiotelegrafista da policia baiana.
Serviu na Várzea da Ema, sempre enviava as mensagens contando os combates 
dos cangaceiros contra as volantes.
Que sempre foi seduzido por “Lampião”  para fazer parte do seu grupo, mas nunca aceitou, apesar de ter parente no grupo, como sejam: Azulão, Carrasco e Moita Brava. Que esses encontros se efetuavam no lugar denominado Quirino para Lagoa Grande, sendo os sinais convencionados para os referidos encontros, três  pancadas em um pau seco, ou então berrando como boi; que nunca recebeu dinheiro de “Lampião” a não ser algumas roupas dadas pelos cãibras.
  
Que nos últimos encontros que “Lampião” teve com as tropas. Ele respondendo notou que alguns companheiros estavam desgostosos por verem os sacrifícios da causa, que nessa data viajaram nos “cascalhos” das aroeiras com direção a Várzea pernoitando a três quilômetros de distância.
  
Que nessa mesma noite desligou-se do bando a meia noite com Manoel Sinhô de Aquileu, sem que fossem pressentidos pelos outros e vieram pairar nas “Canouas” onde foram informados por Pedro de Aquileu que havia garantia para todos aqueles que tinham ligações com cangaceiros, uma vez que procurassem as autoridades para se entregarem.
  
E baseado nisso em companhia de Pedro veio à procura do Tenente Justiniano em Várzea de Ema onde se acha. Disse mais que “Lampião” depois do combate do touro com o Tenente Arsênio cuja força foi emboscada e morreu quase toda, escapando o referido oficial, pois é um herói que enfrentou o grupo que era numeroso, com um fuzil metralhadora dando somente três rajadas conseguiu matar o irmão de Lampião, Ponto Fino e sendo forçado a abandonar a arma deixando-a inutilizada pelos bandidos.
  
Que nessa ocasião encontrou Lampião cartas ao Cel. Petronilo acusando Lampião, por isso Lampião resolveu queimar algumas fazendas referido Cel. Petronilo.
  
Disse mais que ouviu de Lampião dizer que tinha mil tiros de fuzil enterrados em um ponto lá para baixo, não declarado ao certo o lugar e que ia também a Curaçá a procura de outros mil tiros que tinha para lá.
Quanto ao armazenamento sabe que Lampião tem alguns  rifles ensebados em ocos de pau (ensebados, para não darem o bicho próprio de madeira).
  
Perguntado quais são as pessoas que fornecem armas a Lampião respondeu que não conhece mais sabe que nas fazendas Juá, Várzea, e São José há “coitos” onde lhes prestam bastante serviços em abastecimentos.
  
E por nada mais dizer nem lhe ser perguntado deu-se por findo estas declarações ao presente auto que vae por todos assignados pelo tenente e testemunhas.

Várzea da Ema, 7 de maio de 1932”
João de Sousa Lima,
Historiador e escritor, Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro do IGH- Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso
Membro do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará- Fortaleza- CE.

Tá tudo lá, no www.joaodesousalima.com

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Esperan%C3%A7a

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

OS ÚLTIMOS DIAS DE UM REINADO O CERCO SE FECHAVA

Por Sálvio Siqueira

Desde o segundo meado do séc. XVIII que o cangaço infestava as terras nordestinas. O Fenômeno Social surgiu na zona canavieira pernambucana e, aos poucos, migra para o interior do Estado das Alagoas numa época denominada na História como “A Era do Couro” e, em sequência, estende-se aos sertões dos Estados vizinhos.

O interior pernambucano, mais precisamente a microrregião Pajeú das Flores, torna-se um verdadeiro celeiro de cangaceiros. Porém, da Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e do próprio Alagoas, começam a surgir inúmeros bandoleiros por ‘n’ motivos. Nesse tempo, final do Império e início da República Velha, o sertão nordestino estava infestado por esse tipo de banditismo. As autoridades dos vários Estados da Região Nordeste assolados pelos bandos fazem de tudo para darem fim, ou pelo menos diminuírem, esse tipo de criminosos rurais, sem conseguirem seus intentos.

Ocorreram vários fatores que impediram o extermínio dos bandos de bandoleiros naquela época. O contingente das Províncias, depois Estado, não era grande, e o pouco que tinham não poderia enviá-las para o foco do problema para não correrem o risco de ações criminosas nas zonas urbanas que também viviam abarrotadas de problemas inclusive com imigrantes dos interiores. As longas e cruéis estiagens deixavam quase que impossível algum ser humano viver, ou conviver, dentro da caatinga.

Não havia água nem comida disponível para abastecer as tropas.

A comunicação via telégrafo não existia em todo lugar. As volantes sabiam de onde iriam partir, porém, jamais sabiam para onde iriam nem tão pouco quando chegariam a algum lugar habitado. Os governadores até que tentavam, na medida do possível, abastecerem os locais com praças, no entanto, ocorre um grande problema causando o impedimento da continuação dessa ação devido o soldado, formado em outras terras e usando equipamento inadequado, adoecerem, principalmente dos pés ao ponto de não conseguirem prosseguir com as perseguições. A falta de estradas era outro empecilho que as volantes tinham para transporem. E outros problemas mais...


Volante atuando no Estado da Bahia

Além de todos esses problemas, havia o ataque nas emboscadas colocadas pelos bandoleiros abrindo brechas enormes nas fileiras das tropas.

O soldado não sabia em quem confiar, passando a usar um modo operante totalmente equivocado onde todo e qualquer roceiro eram suspeitos. Com essa maneira errada de trabalhar, em vez de conquistarem os sertanejos, conseguiram foi o seu afastamento e falta de colaboração. Vendo essa insatisfação dos sertanejos os chefes dos bandos usam de tática diferente. Protegendo, ajudando e respeitando vários deles, com outros usaram também a ‘moeda’ de troca de favores. Então começa a surgirem, a se criar, uma malha de protetores e colaboradores onde, mais tarde, essa mesmo é o fator principal da longevidade do Fenômeno Social. Essa “malha” foi alimentada por “favores”, dinheiro e proteção dos chefes cangaceiros. No decorrer do tempo, grandes latifundiários e produtores rurais começam a fazerem parte da mesma, assim como pequenos e grandes comerciantes e até militares. A falta de receberem o seu pequeno soldo, vários soldados desertam da Força Militar e se engajavam aos vários bandos nômades de bandoleiros levando seu fardamento, armas e munição.

Essa pirâmide de colaboradores tem sua maior extensão quando do cangaço implantado pelo chefe cangaceiro Virgolino Ferreira, alcunhado de Lampião, o “Rei dos Cangaceiros”, entre os anos 1918/19 e 1938, segunda personagem mais biografada na América Latina. Lampião não foi o criador da malha de colaboradores nem foi o criador da ‘guerra de movimentos’, mas foi aquele que mais a aperfeiçoou no decorrer de seu cangaço nos contrafortes da Mata Branca, onde tendo a contribuição dessas e outras táticas, conseguiu permanecer por quase longos vinte anos assombrando o sertão nordestino. Porém, como tudo nessa vida tem seu início, meio e fim, na segunda metade da década de 1920, o cangaço começa a sofrer tombos que algum tempo depois o leva ao clímax, ao epílogo de uma era sangrenta, dolorosa e enlutada para os sertanejos.


Os anos considerados mais gloriosos das ações cangaceiras estão entre 1919 e 1927, já na fase do cangaço lampiônico, mesmo haverem, na época, mais de 40 bandos com chefes distintos nos sertões dos Estados nordestinos, o comandado por Lampião destaca-se notoriamente, apesar de entre os anos de 1921 e 1922 a Força Pública pernambucana ter sido uma ‘pedra nas Xô-boi’ dos bandos na região do Pajeú das Flores. Até fins de 1926 e início de 1927 os cangaceiros tinham um ‘aliado’ bastante benéfico: era que as tropas militares em perseguição aos bandos de cangaceiros não podiam transpor as divisas de Estado, legalmente, dando continuação a uma perseguição.
Eurico de Souza Leão
Quando Estácio Coimbra assume o governo do Leão do Norte em fins de 1926, nomeia o jovem Eurico de Sousa Leão, Chefe da Segurança do Estado. Estudando o problema do banditismo nos confins do sertão, após a colaboração do Chefe de Gabinete, sociólogo Gilberto Freire e do ex chefe cangaceiro preso desde 1914 na Casa de Detenção do Recife, Antônio Silvino, Manoel Batista de Morais, elaboram um plano, dentro desse uma emenda donde surge uma nova “Lei” para colaborar com o Estado no combate ao banditismo rural. Essa “Lei” fica conhecida nas hastes da historiografia cangaceira como “A Lei do Diabo”. Coimbra, através do Chefe de Segurança, convoca os governadores e/ou representantes dos Estados envolvidos com o problema e dessa resulta a liberação para que as volantes tivessem livre acesso em qualquer um dos territórios não importando a qual deles pertencesse.

No plano colaborado pelo “Rifle de Ouro” determinam-se focar as investigações e ações militares na malha colaboradora, roceiros, vaqueiros, militares, fazendeiros, comerciantes e etc.. Até aquele momento todas as tentativas de combaterem o banditismo rural focava-se diretamente em sua figura maior, Lampião. Silvino, tendo sido chefe cangaceiro, sabia que dentro da ‘malha’ de colaboradores existiam aqueles que serviam de ‘pombos-correios’, servindo quase que exclusivamente para levar e trazer recados, notícias e etc.. A coisa estava tão séria que mesmo antes de uma ordem direta para determinado comandante de volante chegar ao mesmo, Lampião já estava ciente da mesma.

Com isso tinha tempo para organizar uma emboscada ou mesmo mudar totalmente sua direção apagando seus sinais. Podemos concluir que a partir daí inicia-se o começo do fim do Fenômeno Social. Logicamente, devido a inúmeros obstáculos surgidos, como por exemplo, uma extensão territorial enorme, colaboradores na alta sociedade e militares de alta patente, leva-se mais de 10 anos para terem o resultado final, para que o laço fosse se fechando objetivando a extinção do Cangaço.

Uma das decisões principais para que se desse fim ao movimento social cangaço, a nosso ver, foi à admissão de sertanejos nas colunas militares perseguidoras. A ‘matéria prima’ para formar-se um cangaceiro era um vaqueiro, um roceiro, um sertanejo nato, homem disposto, sem medrar a nada, nem mesmo a morte, estava pronto para tudo. Além disso, fora forjado em um ambiente duro, cruel, sentindo na pele a selvageria causada pelos homens dos ‘coronéis’ em seus familiares, amigos e conhecidos. Então, quando da decisão de nomear homens do sertão, vaqueiros, roceiros e sertanejos natos, a coisa começou a ficar equilibrada. Havia homens de mesmo ‘quilate’ de ambos os lados e todos eram conhecedores dos perigos da caatinga. Vestimentas, calçados e coragem agora estavam equidistantes. Os comandantes militares locados em diversas cidades interioranas tiveram a ordem de admitir aquele que quisesse fazer parte da Força Pública, aqueles que quisessem ser contratados e ainda de aceitarem a ajuda daqueles que se fizessem voluntários, por ‘n’ motivos, para darem combate aos cangaceiros. Aí passou a ser “cobra engolindo cobra”.

Lampião, em princípios de 1926 é convocado para fazer parte do Batalhão Patriótico, medida tomada pelo Governo Federal com o intuito de dar combate a “Coluna Prestes” em vários Estados da Nação, situado na cidade de Juazeiro do Norte, CE. Virgolino recebe a patente de Capitão Provisório dos Batalhões Patrióticos, consequentemente, seu Estado-Maior também recebe suas devidas divisas militares. Além disso, a agora ‘tropa militar’, recebe dinheiro, uniformes e equipamento bélico de alta precisão para a época. O bando de Lampião torna-se tão forte que em novembro daquele mesmo ano, no local chamado Serra Grande, no município de Calumbi, PE, causa a maior derrota até hoje registrada a Polícia Militar de Pernambuco. Porém, essa vitória deixa o chefe mor do cangaço bastante afoito, fugindo notadamente de sua maneira de agir, e no primeiro meado do ano seguinte sofre grande derrota em terras potiguares.

Fugindo com o rabo entre as pernas, o bando do “Rei Cego” a cada investida das Forças Públicas de vários Estados vai diminuindo rapidamente. Tanto que no segundo meado de 1928, contando apenas com cinco homens, migra para terras baianas onde remonta seu império do terror. A maneira de Virgolino agir, suas táticas empregadas, sempre chamou atenção até entre seus perseguidores e inimigos. Sempre planejando antes de agir, causa grandes baixas nas fileiras das colunas militares que sai em sua perseguição.

Logicamente não se tratava apenas de táticas no campo de batalha, também havia aquela usada junto aos colaboradores, principalmente aqueles que tinham o dever de persegui-lo.
Ficando um bom tempo na ‘moita’, Lampião começa a conquistar os baianos. Aos poucos vai recrutando e aumentando, novamente, o contingente de seus asseclas. Porém, Lampião depois de algum tempo, sai da Bahia e vai instalar-se em terras sergipanas, ficando o território baiano como zona de ataques periódicos. No início dos anos 1930, “O Cocho” toma uma decisão fantástica em termos de guerrilha: divide seu bando em pequenos grupos e cada grupo com seus respectivos chefes. Com isso as Forças perseguidoras ficam um tanto desbaratinadas sem saberem ao certo quando, realmente, estavam dando combate ao cangaceiro mor do Pajeú das Flores. Essa ação deixa até os jornais, meio único de comunicação em massa na época, desnorteados e, automaticamente, seus leitores. Há, nos arquivos de vários periódicos, ações noticiadas de em um mesmo dia, em cidades distintas e longe uma da outra, praticadas pelo “Rei do Cangaço”. Quando na verdade eram praticadas por asseclas daqueles pequenos grupos.

Após as pancadas que levou no lombo no decorrer da década de 1920, seu primeiro decênio de reinado, o terceiro filho de José Ferreira já no envelhecer do corpo físico, mantem-se mais nos acampamentos. Entre fins de 1936 e início de 1937 até meados de 1938, quando de sua morte, Lampião passou a comandar diferentemente seus cabras. Nessa fase, o “Rei Cego” passa quase que exclusivamente a executar os famosos bilhetes de extorsão e enviar cangaceiros e coiteiros de confiança para que trouxessem mantimentos, armas e munição. O chefe cangaceiro distribui entre a população, nessa época, seu ‘passaporte’ de livre passagem. Para se transitar pelo sertão fazia-se necessário pagar um percentual ao neto predileto de dona Jacoza, ou corria o risco de enfrentar a boca de um fuzil ou a ponta de um punhal. E não eram apenas os ‘pequenos’ que sofriam de imposição, os grandes produtores, industriais, fazendeiros e latifundiários também faziam parte das ‘colaborações’.

“(...) No atacado, no plano dos grossos capitais, houve o caso exemplar da fábrica de tecidos da Pedra, em Alagoas, cujo caminhão somente teve a jornada diária garantida, as cargas não mais deixando de atingir a ponta do trilho da Great Western em Rio Branco, (Arcoverde) Pernambuco, a cada dia, quando o gerente, José Borba, despiu-se dos escrúpulos e sentou à mesa discretamente com Lampião, lá mesmo na vila alvíssima do finado coronel Delmiro Gouveia, em meio a goles de uísque. Onerada a folha da empresa em um conto de réis por mês, o sossego fez-se total. Negócio bom é o que interessa a ambos os lados, devem ter pensado industrial e cangaceiro (...).” (MELLO, pg 251, 2012)

Alguns jornais começam a prestar um serviço digno para a população e com isso começa a ‘balançar’ o poder daqueles que tinham as ‘rédeas do poder nas mãos’. Outros, pensando apenas em vender seu produto, até inventar inventam notícias sobre o que ocorria nos sertões dos Estados: na aurora de 1938 o jornal Diário de Notícias, da cidade soteropolitana, Capital do Estado da Bahia, noticia a morte de Virgolino Ferreira. O cangaceiro mor teria morrido vítima de tuberculose em sua própria cama. Hoje podemos até darmos risadas de uma notícia dessas, porém, naquele tempo as coisas eram por demais sérias, tanto que a notícia é postada pelo jornal nova-iorquino New York Times, onde disse: “O fora da lei número um morre em sua cama, no Brasil”. (MELLO, pg 270, 2012)

De uma ou de outra forma os Jornais levaram as informações ao público. Em fim, prestando excelentes serviços. Tanto que a população dos grandes centros urbanos começa a exigir mais e eficientes ações das autoridades. Alguns vespertinos, já tendo o povão ao seu lado, começam a ‘apertar’ o nó de cânhamo no gogó de alguns chefes militares envolvidos diretamente com as ações no combate ao banditismo rural. Nas Alagoas o alvo é diretamente o comandante do II Batalhão, major, na época, José Lucena de Albuquerque, em Pernambuco a coisa recai no lombo do tenente Luís Mariano da Cruz, ‘sucessor’ de Manoel de Souza Neto que havia deixada a Força Volante voluntariamente em janeiro de 1936.

O oficial pernambucano, tenente Luís Mariano, natural do município de São José de Belmonte, PE, é tido como um dos grandes e valorosos oficiais que deram combate aos cangaceiros. O comandante pernambucano, sendo entrevistado por um repórter do Diário de Pernambuco em fins de 1937, diz: “Lampião faz uso dos seus retratos como salvo-conduto, que ele autentica com sua firma e entrega às pessoas que lhe pagam determinado tributo e ao grupo, e que lhes prestam completa lealdade e obediência (...) nesses últimos tempos, tem-se embrenhado nas caatingas do Estado de Sergipe e se demora principalmente nos município de Porto da Folha, Simão Dias, Aquibadã, Gararu e Frei Paulo, sendo nesse último município que o bandido-chefe fez, com certa segurança, o seu quartel-general.

De quando em vez, Lampião, à frente de uma parte de seu grupo, invade a Bahia, entrando ali pelos municípios de Jeremoabo, Cícero Dantas e Paripiranga, que separam os Estados da Bahia e Sergipe. Nessas excursões, pratica grandes roubos e depredações, e retorna aos lugares que lhes servem de coito, onde descansa por meses oculto, guardado por coiteiros de sua absoluta confiança(...).”

Já o periódico “Gazeta de Alagoas”, em sua edição de 9 de julho de 1937, usando um pseudônimo chamado de “Sertanejo”, ataca diretamente o comandante do II Batalhão localizado em Santana do Ipanema, AL, “... alguma de lamentável venha ocorrendo no policiamento feito por alguma volante”, cobrando-lhe, antes e depois, maiores resultados nas ações contra o banditismo. Passa-se mais de trinta dias para que o major Lucena desse uma resposta, em 5 de agosto daquele ano, jogando toda a culpa nas costas dos coiteiros: “... se encontram naturalmente nos coitos, amparados e recebendo munições(...) de modo algum prestam auxílio à polícia.” Citando ainda que as Forças de Combate “trabalham com uma única esperança: a casualidade”. O comandante Lucena se ver tão apertado que se dirige diretamente, através de um boletim/telegrama, ao comandante-geral coronel Teodureto Camargo do Nascimento o qual o jornal Folha de Maceió consegue e o publica, na íntegra, em sua edição do dia 13 de agosto de 1937:
comandante Teodoreto Camargo do Nascimento

“Sipanema – Pls. 93-91, data 11, Hora 11h10, Cel. Teodureto – Reg. Policial Militar, Maceió
Estou posse recorte jornais contendo acusações ação força contra banditismo. Não me admiro isto parta Mata Grande, onde há maiores coitos bandoleiros. Vislumbro bem quais responsáveis artigos, os quais, antes 1930, acoitavam cangaceiros e hoje, mais criminosamente ainda, o fazem. Tais autores deviam, antes de mentir, se preocuparem com misérias deles próprios. Fique pois, digno comandante, tranquilo que saberei cumprir meu dever. Vou responder artigos jornais, pois estou disposto aceitar luta. Saudações – José Lucena de Albuquerque Maranhão, major comandante II Batalhão.” (MELLO, pg 260. 2012)

Depois dessa postagem da “Folha de Maceió”, o “Sertanejo”, através das páginas da “Gazeta de Alagoas”, compra a briga definitivamente e desce o ‘cacete’ no comandante do II Batalhão. Em 18 de agosto, dirigindo-se diretamente a José Lucena, diz: “devia estar em Mata Grande, com seu trabalho, não em Santana do Ipanema”. Referi ainda sobre os criminosos citados pelo major, “criminosos de antes ou de depois de 1930, que tudo seja apurado!”.

Rapaz, depois dessa Lucena fica vendo as saídas se fechando. Apertado, redige imensa carta e envia-a ao jornal que a posta no dia 21 do mês. Nessa carta o major tenta argumentar sobre uma ‘possível’ colaboração de seus subordinados aos cangaceiros: “...quem luta com quatrocentas naturezas espalhadas em todo sertão, por mais que seja rigoroso será surpreendido, vez por outra, com irregularidades de subordinados”. Para nós, há uma concordância em que alguém da corporação, ou mesmo alguns militares, colaboravam com os cangaceiros. O rebu é grande e a população fica na expectativa das providências que serão tomadas pelas autoridades. Porém, só em outubro é que o governador de Alagoas, Osman Loureiro, lança na Gazeta de Alagoas sua determinação de que o II Batalhão permanecerá em Santana do Ipanema.

No dia 11 de novembro daquele ano, Getúlio Vargas, através do Decreto nº 19.398, dissolve o Congresso e dá um golpe no regime que o colocou no Palácio do Catete, implantando uma Ditadura, O Estado Novo. São criadas as Delegacias de Ordem Política e Social, linha dura, e é decretada a pena de morte gerando grande impasse nos redutos advocacionais. O Decreto-Lei 88, sobre a novíssima LSN, Lei de Segurança Nacional, em seu Arti. 122, inciso 13, alínea f, rezava claramente que seriam tomadas medidas radicais no “homicídio cometido por motivo fútil ou com extremos de perversidade”. Logicamente esses termos eram dirigidos para aqueles contrários ao Novo Regime e aos bandos de cangaceiros e seus colaboradores, nunca para as perversidades praticadas pelas volantes. O sociólogo Frederico Pernambucano de Mello, diz a respeito: “parecendo mirar o dia a dia dos cangaceiros e de seus protetores. Carapuça certeira. Cabia o alarme entre chefes políticos do sertão. Entre os favorecedores mais eficientes do cangaço, incorrigíveis até ali”.

No início de 1938, o major José Lucena, comandante do II Batalhão em Santana do Ipanema, AL, é convocado para comparecer urgentemente a presença do coronel Teodureto na Capital do Estado:

“(...) o coronel Teodureto ansiava por ter com ele uma conversa reservada, com vistas a “identificar o dedo misterioso que incidia sobre o contexto da campanha (contra o cangaço) e levava àquele resultado deplorável”. Homem enérgico, embora polido, como se impõe a um oficial superior do Exército, Teodureto abre a fala ressalvando “que não punha em dúvida a lealdade e a competência do seu subordinado, mas que precisava descobrir a causa da frustração e eliminá-la custasse o que custasse”. E porque “cumpria restaurar a confiança das populações massacradas pelo cangaço nas providências de governo”, pontuava palavra por palavra, “não abriria mão, a partir de agora, de ação efetiva e ajustada, sob pena de apelar para medidas drásticas e até arbitrárias contra aqueles que fossem apanhados violando suas determinações”. Lucena pouco fala. Ao fazê-lo, já no final, somente lhe acode rememorar o que dissera à imprensa na polêmica de meses atrás: que lhe parecia impossível garantir a honradez de cada uma das quatrocentas individualidades que comandava no sertão. E deixa o Regimento policial “tão amargurado, que ruma dali para a catedral, a fim de orar e pedir a Deus ânimo e luzes para se safar do sério embaraço em que se via metido”. (MELLO,pgs 268 a 269. 2012)

A partir daí, já vinda desde o Palácio do Catete, a ordem de acabar com Lampião vai passando de esfera em esfera de comando. Cada um que passasse a batata quente para as mãos do seu subordinado imediato. As autoridades lançam panfletos deixando a população ciente de que suas ações tinham carta branca, ou seja, podiam usar as ações que quisessem que o Estado os protegiam. Ocorre uma ruma de gente que deixa seus lugares onde moram e caem no mundo. Outros, já da alta, mudam de lado e começam a serem colaboradores das volantes, outros, porém, não deu tempo e são trancafiados. Mesmo assim alguns gatos pingados, devidos à grana ser alta, permanecem colaborando com Lampião, não outro chefe, apenas ao “Rei dos Cangaceiros”.

Entre os cangaceiros, também há deserções, pois sabiam que o cerco se fechava cada vez mais.

Lampião e Jurity em foto de Abrahão

Aqueles que fizeram parte das fileiras cangaceiras não tinham nenhum compromisso com seus companheiros. Ninguém era por ninguém e cada um que defendesse sua vida particularmente. O respeito e a solidariedade entre eles se baseavam em valores financeiros. Se qualquer um deles tivesse tido a oportunidade de matar o cangaceiro mor, Lampião, para apossar-se de seus ‘bens’, da grana e valores em joias e ouro que levava consigo, com certeza o teria matado. Excetuando-se, logicamente, algumas personagens como Luiz Pedro, na ocasião de sua morte, um Mariano anteriormente, um Gato, Sabino e etc... O cangaço estava prestes a acabar.

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2019/02/os-ultimos-dias-de-um-reinado.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com