Por: Tomislav Femenick
HAVIA
DUAS, NÃO HÁ NENHUMA E ESTAMOS FORA
24/11/2003
Tomislav Femenick
Tomislav
R. Femenick
O
Jornal de Hoje. Natal, 24 nov. 2003
Gazeta
do Oeste. Mossoró, 29 jan. 2004
Nós gostamos
de nos identificar como sendo de uma entidade mítica chamada de país de
Mossoró?, aceito como verdadeiro por força da tradição. Um ex-diretor do então
Ginásio Diocesano Santa Luzia, o padre Cornelio Dankers? Um sacerdote holandês
de rosto avermelhado, que não sei como nem porque foi parar nas frondes da
caatinga nordestina? Dizia que havia muito de similitude entre holandeses e
mossoroenses. Enquanto eles?Construíram? Seu país conquistando terras ao mar,
nós?Assentamos? o nosso sobre as agruras e vicissitudes do semi-árido e, às
vezes, enfrentando o descaso e interesses misteriosos dos poderes constituídos.
Acho que o transporte ferroviário é um exemplo típico.
A ferrovia é
uma aspiração mossoroense desde 1870, quando se fez um projeto ligando Porto
Franco, no litoral norte potiguar, ao Rio São Francisco, com a utilização de
recursos privados. Um desses idealistas, Francisco Solon, conseguiu a concessão
do empreendimento, viajou a Paris e conseguiu os financiamentos necessários,
contudo não obteve a aprovação do governo brasileiro. O assunto ficou em
compasso de espera até 1912, quando nova concessão foi dada a Humberto Sabóia,
Vicente Sabóia de Albuquerque e Francisco Tertuliano de Albuquerque. Em 1927,
os trilhos da ferrovia chegavam a São Sebastião (hoje Governador Dix-Sept
Rosado), viabilizando a exploração de uma das maiores jazidas de gipsita do
Brasil. No dia 30 de setembro de 1929 foi entregue o trecho de Carnaúbas e, em
1936, o de Mineiro. Nos anos cinquenta, já com a participação do governo
federal, os trilhos ligavam Mossoró à cidade paraibana de Souza.
Grandes nomes
(mossoroenses de nascimento ou por adoção) participaram dessa odisseia. Entre
eles Urich Grafe, Chorkatt de Sá, Francisco Solon, Roderic Grandall, Augusto
Severo, Humberto Sabóia Meira e Sá, Vicente Carlos de Sabóia, Francisco
Tertuliano de Albuquerque, Vicente Carlos de Sabóia Filho, o prefeito Luiz
Ferreira da Mota (o padre Mota), Jerônimo Rosado, General Agenor Zuzine
Ribeiro, o deputado Vicente da Mota Neto, Luis de Sabóia, Francisco Galvão de
Araújo, Pedro Leopoldo da Silveira.
A verdade era
que em Mossoró havia duas ferrovias: a Estrada de Ferro de Mossoró, que
explorava o trecho Mossoró-Porto Franco, até o litoral e a Estrada de Ferro
Mossoró-Souza, que ia até aquela cidade paraibana. Depois, houve a fusão das
duas e em Mossoró passou a existir apenas uma Delegacia administrativa da Rede
Ferroviária do Nordeste, fato que ensejou a transferência de grande número de
funcionários para outras cidades. Na gestão de Mário Andreazza no Ministério
dos Transportes, para incentivar o transporte rodoviário, as ferrovias foram
garroteadas e, criminosamente, os trilhos de alguns trechos foram arrancados e
vendidos como ferro velho. Em 1968 houve a primeira tentativa para a extinção
da ferrovia de Mossoró, até que, na década passada, as locomotivas pararam de
vez.
Agora
noticia-se que o BNDES vai conceder empréstimo à Cia. Ferroviária do Nordeste
(sucessória da Rede Ferroviária do Nordeste) para a recuperação, melhoria e
construção da chamada Ferrovia Transnordestina, que vai ligar São Luiz, no
Maranhão até a capital pernambucana. O trecho do Rio Grande do Norte, seria
apenas um ramal que, saindo de João Pessoa, atingiria Natal, possivelmente
Angicos e terminaria em Macau. E Mossoró? Nisso ninguém fala. Havia duas, não
há nenhuma e estamos fora do novo projeto de ferrovia.
Mossoró tem
sal, frutas, cimento, camarão e uma miríade de outros produtos para serem
transportados. Com a palavra os representantes de Mossoró nas casas legislativas
e em outros postos governamentais: os deputados Sandra, Betinho e Larissa
Rosado, Francisco José e Ruth Ciarlini, a governadora Wilma de Faria (é, ela
nasceu em Mossoró) e o senador José Agripino Maia.
Fonte:
http://www.tomislav.com.br/havia-duas-nao-ha-nenhuma-e-estamos-fora/
Enviado pelo pesquisador:
José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo
José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo
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