Por Geziel Moura
É notório na
literatura do cangaço, a presença de cachorros entre os cangaceiros, e muito já
se falou deles, temos portanto, pelo menos, quatro desses animais, registrados
pelas lente de Benjamim Abrahão Botto, a saber: Ligeiro e Guarani de Lampião e
"Seu Colega" e Jardineira de Corisco.
Não vou entrar
no mérito da questão, das funções destes canídeos, diante dos cangaceiros, se
eram adestrados ou não para detectarem a presença das volantes, pois não tenho
propriedade suficiente, pela literatura, para afirmar tal entendimento, mesmo
com a declaração feita pelo ex - cangaceiro José Alves de Matos, o Vinte e Cinco,
na entrevista que ele concedeu à Gazeta de Alagoas: "Os cachorros de nome
“Seu Colega” e “Guarani” exerciam papel importante, haja vista que, além de
serem adestrados para despertar a atenção do grupo quando algum estranho se
aproximasse, muitas vezes comiam antes uma parte das comidas que seriam
servidas aos cangaceiros para terem a certeza de que não estavam
envenenadas".
Diante disso,
quero pensar com os amigos, outra situação, vividas pelos cães dos cangaços, e
que me chamaram atenção, isto é, as pelejas (brigas) entre eles. Os escritores
Hilário Lucetti e Margébio de Lucena, em seu livro "Lampião e o Estado
Maior do Cangaço" nos conta do entrevero entre Luiz Pedro e Lampião, por
causa de seus cães, o causo é mais ou menos assim:
O bando de
Lampião encontrava-se no Estado da Bahia, na região de Curituba e Brejo do
Burgo, próximo ao Raso da Catarina, e com eles estavam dois cachorros, o de D.
Maria cujo nome era "Zé Rufino" e o de Neném de Luiz Pedro denominado
"Mané Henrique", homenagens, nada elegantes, aos seus inimigos e
comandantes das volantes baianas.
O que os
autores relatam, é que depois de certa refeição, os dois cachorros passaram a
disputar um osso, o que levou a briga renhida, sem no entanto, as duas mulheres
conseguirem separar os dois animais. Além disso, o episódio tomou proporções de
campeonato, entre os cabras que assistiam a tudo e gritavam como num campo de
futebol, cada um animando seu atleta preferido.
Após algum
tempo, o cachorro "Zé Rufino" de D. Maria leva a pior e começa a ser
liquidado por "Mané Henrique" de Nenêm de Luiz Pedro, o que leva a
companheira de Virgolino reclamar a ele, que tudo via e nada fazia, ato
continuo, Lampião saca a pistola e quando aponta para o cachorro adversário,
não teve tempo de executá-lo, pois Luiz Pedro aponta para ele seu mosquetão e
anuncia: "Compadre, se atirar no cachorro morre, só lhe considerei até
hoje. Já perdi meu pai, minha mãe, não tenho mulher nem filho, sou como um
urubu! Mas é como estou dizendo: Se atirá no cachorro morre."
Assim, Lampião
vendo que a promessa, do fiel amigo, era séria responde: 'O que é isto meu
compadre, você acha pouco os nossos a policia já ter matado e ainda vamos nos
acabar por via de uma besteira dessa, para dar mais gosto a eles? Quem está
certo é nosso compadre Anjo Roque quando diz que depois que entrou para o bando
cachorro e mulher, nada mais deu certo, só dá nisso mesmo" e Lampião
desistiu da intenção de matar o cão de Neném de Luiz Pedro.
Se a narrativa
acima, produzido por Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena não passa de mais um
causo do cangaço, não sei dizer, entretanto, as brigas de cachorros no bando
encontram eco, na fala do último coiteiro de Lampião e Corisco que tive a honra
de entrevistar, o Sr. Cadim Machado, juntamente com o escritor Sérgio Dantas,
no povoado Caboclo (AL) sertão de Alagoas e que nos contou episódio, vivenciado
por ele, com o famoso cachorro "Seu Colega" de Corisco, que passo a
compartilhar, a partir de sua própria narrativa, que gravei naquele noite
barulhenta de 2014.
P.S: Relevem
os ruídos/sons externos, produzidos durante a gravação.
Imagens:
Benjamin Abrahão Botto
Texto: Geziel Moura
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