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domingo, 16 de setembro de 2012

As trincheiras de Rodolfo, em 1927: IX-Praça da Independência.

Imagem 01 - R. Cel. Gurgel com Pça. da Independência, 1950

A Praça da Independência, na zona central de Mossoró-RN, foi palco de três trincheiras menores em defesa ao assalto de Lampião, (1900-1938), àquela cidade, em 13/06/1927.


Destas trincheiras, a primeira, empreendida pela firma Colombo Ltda., sediada na rua Cel. Gurgel com Santos Dumont, em frente a Pça. da Independência, que corresponde à edificação, à esquerda, da imagem 01. Até 1978, data da edição da obra abaixo, segundo o autor, a edificação mencionada ainda guardava as mesmas características da época.

Neste sobrado, estavam de defesa, 8 pessoas armadas de rifles, e com pouca munição. São lembrados os trabalhadores Pedro Saraiva, Luiz Goela e o boêmio Pantico. Mas, durante o assalto, esta trincheira ficou desguarnecida. Luiz Colombo Ferreira Pinto, dono da firma, deixara a cidade com sua numerosa família, antes do assalto. Estas informações foram prestadas ao autor, em 14/12/1969,  por Alfredo de Albuquerque Pinto, filho de Luiz Colombo.

A segunda trincheira, com 8 homens armados de fuzil,  estava localizada no Mercado Municipal, nesta praça.

Imagem 02 - Grande Hotel, 1950.

A terceira trincheira estava localizada no prédio do Grande Hotel, local em que funcionava o Cine-Teatro Almeida Castro, de Francisco Ricarte de Freitas. Sobrado, situado na esquina da Av. Augusto Severo, imagem 02. Desta trincheira, são citadas apenas duas pessoas: o comerciante Ismael Siqueira e um soldado.

A próxima trincheira a ser postada é: Trincheira X

Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos. Télescope.Fontes: FERNANDES, Raul. ( 09/09/1908-14/08/1998). A Marcha de Lampião, Assalto a Mossoró. 7a. edição, Coleção Mossoroense, Volume 1550,  Fundação Vingt-un Rosado, outubro de 2009; Provável autor da fotografia 01: Fotos de Manuelito Pereira, (1910-1980).  Índice das Matérias Publicadas em Memória Fotográfica.

Escrito por Copyright@Télescope


ENCONTRO DO CORONEL E DO CANGACEIRO

Por: Rostand Medeiros

Lampião e seu bando, depois de vários anos atuando nos sertões dos estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, passaram a sofrer uma grande perseguição dos aparatos policiais destes estados.

Jornal recifense “A Província”, edição de sexta feira, 28 de agosto de 1928, 1ª página.

Ciente da perseguição que as volantes infligiam a seu debilitado grupo, Lampião precisava de repouso para repor as energias, recrutar novos homens e procurar novas áreas de atuação. Nesse sentido, em agosto de 1928, ele resolveu atravessar o grande Rio São Francisco e se internar nos sertões baianos.

Em um primeiro momento, buscando refúgio nas fazendas de novos amigos, Virgulino Ferreira da Silva, o nome real do “Rei do Cangaço”, encontrou nestas paragens a almejada paz para recompor suas forças.

Primeiramente a polícia da Bahia fez vista grossa em relação ao ilustre visitante. Lampião aproveitou para firmar contatos, compor alianças, ampliar sua rede de coiteiros que lhe dariam apoio e proteção.

Propalou que estava “em paz” no território baiano, utilizava a velha cantilena que “havia entrado no cangaço pelos sofrimentos sofridos pela sua família” e que se “houvesse condições”, ele largaria aquela vida em armas e buscaria ficar em paz.

Mesmo divulgando estas novas intenções, não deixou de coagir os fazendeiros baianos, pedindo para estes lhe “ajudar” no sustento do seu bando.

Lampião e seu equipamento – Fonte – http://www.joaodesousalima.com/2010/04/lampiao-rei-do-cangaco.html

E assim, ao seu modo, durante quase três meses, Lampião e seus cangaceiros viveram tranquilos junto ao povo do sertão da “Boa Terra”.

FOTO FAMOSA

Sua primeira aparição pública ocorreu na antiga vila do Cumbe, atual município de Euclides da Cunha, em um sábado, dia 15 de dezembro de 1928.

Ali não houve alterações. Mas o chefe não deixou de fazer uma arrecadação pecuniária com os abonados do lugar e chegou até mesmo a almoçar e beber cerveja com o delegado. A tranquilidade era tanta que deu até para alguns alfaiates do lugar confeccionar novos uniformes para seus homens.

Depois do Cumbe os cangaceiros seguiram para a cidade de Tucano, onde novamente nada de anormal ocorreu. Ali os bandoleiros das caatingas chamaram a atenção de todos, tratavam todos bem e foram bem acolhidos pelos moradores.

Mercado Público de Ribeira do Pombal na década de 1950.

Para Oleone Coelho Fontes, autor de “Lampião na Bahia” (4ª Edição), após a estada em Tucano, o chefe cangaceiro e seus homens, seguiram em direção nordeste, por cerca de 40 quilômetros, até a vila, atualmente município, de Ribeira de Pombal, já próximo a fronteira sergipana. Para este deslocamento consta que Lampião obrigou o padre de Tucano a ceder o seu carro e um motorista.

Segundo o pesquisador baiano, o chefe e mais sete cangaceiros chegaram ao lugarejo às seis da manhã do domingo, 16 de dezembro. Os moradores locais sabiam através da passagem de viajantes, que Lampião encontrava-se em Tucano e que certamente logo chegaria a Pombal.

O intendente local era Paulo Cardoso de Oliveira Brito, mais conhecido como Seu Cardoso, e foi ele quem recebeu Virgulino e seus homens.

Foi ofertado café a todos os bandoleiros e Lampião avisou que não queria brigar com os poucos policiais que estavam de serviço no lugarejo, comandados pelo cabo Esmeraldo. Com a boa hospitalidade oferecida, Lampião se sentiu a vontade e logo procurou saber se havia um fotógrafo no lugar.

A famosa foto de Lampião e seu bando, batida por Alcides Fraga em Ribeira do Pombal e divulgada na edição de quarta feira, 30 de janeiro de 1929, no jornal carioca “A Noite”. Coloquei a notícia na íntegra para que seja visto e analisado o cangaceiros ali nomeados.

Foi chamado Alcides Fraga, alfaiate e maestro da Filarmônica XV de outubro, que prontamente bateu uma chapa. Esta é uma das mais célebres fotografias do ciclo do cangaço, que inclusive circulou com destaque em jornais do Rio de Janeiro, em janeiro de 1929.

Por volta de oito horas da manhã o bando saiu da vila, acompanhados do cabo Esmeraldo, partindo em direção destino ao município de Bom Conselho, atual Cícero Dantas, 30 quilômetros em direção nordeste.

Bom Conselho, atual Cícero Dantas, na década de 1950.

A chegada dos cangaceiros ocorreu em um dia de feira, com o cabo baiano já rouco de tanto gritar: – Viva Lampião! – Viva o Capitão Virgulino!

Apesar deste detalhe, a única outra alteração praticada pelos cangaceiros, foi terem se apoderado dos fuzis dos quatro soldados da polícia baiana destacados no lugar.

Após saírem de Bom Conselho, ainda motorizados, o bando seguiu em direção mais ao norte, cerca de 40 quilômetros, para um pequeno aglomerado de casas denominado Sítio do Quinto.

A hora exata que os facínoras chegaram de caminhão a esta localidade não sabemos, mas lá onde procuraram a casa de José Hermenegildo.

Por volta da meia noite de 16 para 17 de dezembro de 1928, um pequeno automóvel modelo Ford, que transportava três homens, também chegou ao mesmo lugar.

AO ENCONTRO DO PERIGO

Enquanto Lampião e seus homens passavam por Pombal, Bom Conselho e chegavam a Sítio do Quinto, da cidade baiana de Jeremoabo, cerca de 50 quilômetros ao norte, partia um automóvel conduzindo três homens, entre estes estava um dos mais importantes coronéis do interior baiano.


Este era João Gonçalves de Sá, referência regional, prestigiado líder político e rico proprietário de muitas fazendas com grande extensão territorial, que englobava muitos dos municípios da região Nordeste da Bahia. Naquele dezembro de 1928 o coronel João Sá exercia os cargos de presidência da Intendência de Jeremoabo e, pela segunda vez, o mandato de deputado estadual pelo legislativo baiano.

Junto ao coronel João Sá seguia seu pai Jesuíno Martins de Sá e um dos secretários da Intendência de Jeremoabo, o jovem José da Costa Dórea. O destino de todos era Salvador, onde o trajeto naquele tempo exigia seguirem pelo território sergipano e depois todos continuariam o trajeto por via ferroviária, utilizando os trens da ferrovia conhecida como Leste Brasileira.

Segundo nos conta Oleone Coelho Fontes, no capítulo 5 do seu livro “Lampião na Bahia”, através de extenso relato descritivo feito por Dórea (e até hoje, aparentemente, inédito na sua íntegra), devido a um problema mecânico no automóvel, a viagem foi realizada a noite, tendo a saída ocorrido às seis horas.

Mesmo sabendo que o grupo de Lampião circulava pela região, o coronel Sá confiou que guiando durante grande parte da noite, seguindo pelas antigas estradas poeirentas da região, eles poderiam passar despercebidos pelo bando.

Ao realizarem uma parada para tomar café na fazenda Abobreira, o medo de um encontro com Lampião e seus cangaceiros se tornou mais real, pois o proprietário do lugar, José Saturnino de Carvalho Nilo, confirmou que eles estavam nas redondezas. Mesmo assim seguiram adiante, em direção ao lugarejo Sítio do Quinto.

Já na edição do dia 30 de dezembro de 1928 do jornal carioca “A Crítica” (cujo proprietário era o pernambucano Mário Rodrigues, pai do dramaturgo Nelson Rodrigues), na sua página 5, encontramos um relato inédito sobre o encontro do coronel João Sá com Lampião e seus homens.



Nas duas descrições desta aventura, consta que os viajantes de Jeremoabo, ao entrarem no pequeno arruado, viram diante de uma casa um veículo parado, com alguns homens ao seu redor.

A reportagem do jornal carioca informa que um deles estava com um candeeiro. O coronel João Sá imaginou que a casa onde o veículo e os homens estavam deveria oferecer algum tipo de apoio aos viajantes.

Após brecarem, os passageiros do Ford foram cercados por homens armados e intimados a informarem quem eram. Após isso o coronel João Sá descobriu que estava diante do cangaceiro Lampião. E como para confirmar, o homem armado aproximou o candeeiro de seu rosto, mostrando a característico defeito em seu olho.

MOMENTOS ENTRE O CORONEL E O CANGACEIRO

Em um primeiro momento o medo e o pavor com o que iria acontecer tomou conta dos viajantes, mas o chefe cangaceiro, prontamente lhes garantiu que nada de ruim lhe aconteceria.

Conduzidos por Lampião e seus homens, todos entraram na casa de José Hermenegildo e foram se acomodando em cima de sacos de algodão e de peles de animais, que na época era um produto mais fácil de encontrar no sertão e tinha mercado nas capitais.

O informante Dórea afirma que em certo momento Lampião chamou o coronel João Sá para uma conversa particular na parte de fora da casa, fato que o deixou assustado, imaginando que o chefe político de Jeremoabo seria fuzilado. Mas nada aconteceu.

Enquanto isso Dórea e Jesuíno Martins de Sá, então com 76 anos, entabulavam conversa com alguns cangaceiros, entre estes o irmão do chefe, Ezequiel, conhecido pela alcunha de Ponto Fino. Dórea afirmou que o coronel João Sá não transportava dinheiro vivo, apenas ordens bancárias, assim este lhe chamou fora da casa e lhe solicitou 200$000 réis para dar a Lampião. Este por sua vez deixou que os viajantes do Ford escrevessem cartas as suas famílias, que um portador levaria as missivas para Jeremoabo.


As duas versões apontam que em dado momento a tensão se desvaneceu e o clima ficou mais tranquilo.

Segundo o coronel João Sá observou, e assim ficou registrado no jornal carioca, os cabelos do chefe cangaceiro chegavam aos seus ombros, seu uniforme de mescla azul se mostrava já bastante gasto e Lampião trazia um semblante abatido.

Na sequência Lampião pediu a José Hermenegildo que colocasse três redes para acomodar a ele, ao coronel e a seu pai no mesmo quarto. Neste momento o líder político do Nordeste da Bahia pediu ao maior cangaceiro do Brasil que narrasse a epopeia de sua vida. Lampião descreveu as perseguições que sofreu ao longo da vida como bandoleiro das caatingas, mas que estava “a fim de descansar” no sertão baiano.

O coronel João Sá descreveu nas páginas de “A Crítica” que depois das narrativas feitas por Lampião, este foi dormir. Mesmo com a vida atribulada que levava, em meio a tantos combates e com tantas mortes nas costas, o coronel descreveu que o chefe cangaceiro dormiu um “sono profundo”. Mesmo estando em companhia de estranhos “adormeceu como um justo”. Logo todos os homens, “cavaleiros e salteadores”, como descreveu a reportagem, dormiram “confiantes e tranquilos”.

NO “TRANCO”

No capítulo 5 do livro de Oleone, o texto em que José da Costa Dórea conta este episódio sobre Lampião, este afirma que foi ele quem fez a solicitação para que o chefe cangaceiro narrasse a sua vida e que anotou tudo em um bloco escolar.

O livro de Oleone Coelho Fontes, “Lampião na Bahia”. Para mim esta é uma das obras mais inspiradoras e interessantes sobre o tema cangaço.

Segundo a opinião do autor de “Lampião na Bahia”, esta entrevista é seguramente a mais longa que o “Rei do Cangaço” fez em toda a sua vida e que seria parte integrante de um livro de Dórea intitulado “Vida e morte do cangaceiro Lampião”. Vale ressaltar que Oleone Coelho Fontes informou em seu livro possuir os originais deste material, mas que, salvo engano, até o momento continua inédito.

Nas páginas de “A Crítica”, nos primeiros albores da manhã, após o despertar, o coronel João Sá comenta a Lampião que na condição de deputado estadual teria de informar as autoridades sobre aquele encontro. Consta que Lampião não se alterou com as palavras do político baiano.

Quando o coronel deu na partida do seu automóvel, provavelmente devido ao frio noturno do sertão, a máquina não pegou. Na mesma hora, vários comandados de Lampião deram uma mãozinha ao coronel João Sá, empurrando o carro que pegou no “tranco” e estes seguiram viagem.

SIMPATIA OU NECESSIDADE?

Dali Lampião continuaria seu caminho pela Bahia e logo a sua lua de mel com os habitantes daquele estado estaria encerrada. O fato se deu com o combate ocorrido no lugar Curralinho, no dia 28 de dezembro de 1928, onde foram mortos o sargento José Joaquim de Miranda, apelidado “Bigode de Ouro” e os soldados Juvenal Olavo da Silva, e Francellino Gonçalves Filho. Depois destas primeiras mortes na Bahia, Lampião e seus homens, ainda no primeiro semestre de 1929, cobrariam um alto preço a polícia baiana. Logo veio o combate do Arraial de Abóbora, em Jaguarary, hoje povoado de Juazeiro, ocorrido no dia 7 de janeiro e que ocasionou a morte de dois soldados. Depois veio Novo Amparo, no dia 26 de fevereiro de 1929, com a morte de mais outros dois soldados. Ainda no primeiro semestre de 1929 temos o sangrento combate do Brejão da Caatinga, município de Campo Formoso, no dia 4 de junho, com a morte de um cabo e quatro soldados.

Quanto ao coronel Sá e sua família, segundo Oleone Coelho Fontes afirma em seu livro (Pág. 39), enquanto Lampião na Bahia jamais ocorreu nada com suas terras e seus protegidos. O pesquisador afirma que, fosse por simpatia, ou por necessidade de preservar seus bens, ou por ter vislumbrando vantagens outras nesta aliança com o grande cangaceiro, o coronel Sá se tornou um dos mais importantes protetores de Lampião na Bahia.

E tudo aparentemente começou naquele encontro divulgado até em jornais cariocas.

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 Extraído do blog "Tok de História" do historiógrafo e pesquisador do cangaço: Rostand Medeiros



1938 - Angico


Autor: Paulo Medeiros Gastão


E Lampião de "A a Z"

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AS ORDINÁRIAS (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

AS ORDINÁRIAS

Muita coisa na vida é costumeira demais, é usual, é vulgar, acontece sempre do mesmo jeito, não apresenta novidade alguma no seu modo de ser e fazer. Por isso mesmo que é ordinário, de baixa qualidade, algo que não mereça maior importância.

Muita gente na vida faz tudo para continuar no patamar da desimportância, ou quando aparece é para negativar ainda mais o seu nome. Não pratica nada de útil, diferenciado, que chame atenção pela qualidade positiva e possibilite uma boa reflexão. Por isso mesmo que é uma gente ordinária, reles, apenas estando sem ser.


Muito homem e muita mulher vivem como adeptos da mediocridade, sem jamais ter praticado nada que seja proveitoso. Quando olhares são lançados na sua direção é no sentido de avistar ali pessoas preguiçosas, mentirosas, falsas, desprezíveis na vida em sociedade. Por isso mesmo que tais homens e mulheres são tão ordinários, pois vivendo às margens de aceitáveis conceitos sociais.

Contudo, dificilmente serão encontradas pessoas que queiram ou aceitem ser vistas como ordinárias, ou mesmo que não reclamem ou se contraponham às insinuações pejorativas feitas a seu respeito. Não lutam para mudar sua situação, para serem vistas noutras condições, mas batem o pé quando se sentem inferiorizadas, mesmo que nenhuma valia tenha as insurgências.

Mas nem tudo acontece assim, pois existe uma classe de mulheres que parece até lutar para serem vistas como absolutamente ordinárias. Extraordinariamente ordinárias, melhor dizendo. Homens existem, e na mesma proporção, que também são assim, mas uso esse recorte do sexo porque no masculino não são geradas as mesmas consequências observáveis quando se trata do feminino.

Como afirmado, mulheres existem cujo caráter de ordinariedade parece ser usufruído como a bela roupa que se veste para os olhos dos outros. Revestem-se de tal forma da erotização, das inconveniências sociais, do despudoramento, da pecaminosidade e do afloramento sexual, que até a família – que sempre é a última a querer enxergar – não pode deixar de reconhecer e lamentar a perda da bela para o mundanismo.

De antemão, afirme-se que não se trata aqui de citar a ordinariedade feminina como sinônima de prostituição, putanismo, raparigagem. Ora, na maioria das vezes a prostituição é uma condição assumida, vivenciada no cotidiano das alcovas escondidas ou nos meretrícios, mas o mesmo não acontece com a outra classe aqui citada. E não acontece porque as ordinárias não fazem sexo por dinheiro, não fazem programas, não arrumam machos pelas esquinas por profissão.

Verdade é que as ordinárias possuem características muito próprias. São mocinhas bonitinhas, alegres, espevitadas, requebrosas, com olhares de incessantes flertes. Mas até aí tudo dentro da normalidade cotidiana. Contudo, não conseguem namorar firmemente com qualquer rapaz porque sua fama não é a de dama, senão a da cama. Assim, qualquer um que se aproxime já chega querendo tirar algum proveito sexual. Foi assim com um, que abriu a boca para o outro, e de repente a fama é a da lama.

Portanto, as ordinárias são daquelas que nem precisam saber do nome de quem lhe lança o olhar. Sem demora e já estarão pelos fundos, pelos quintais, pelas camas de capim, dentro dos automóveis, nas camas debaixo da lua. São festeiras, geralmente bebem e fumam, e não sentem qualquer dificuldade em beijar bocas estranhas, entregar-se às lascívias em todo canto, ser mais fácil do que o próprio homem imagina.


Passa toda perfumada, apertadinha, requebrando e usa uma tática já conhecida desde os tempos mais antigos, e que na sua pouca imaginação acha que dá resultado: não aceita que a chame de quenga, prostituta ou rapariga. Também não precisa, pois a maioria dos rapazinhos já conhece a frente e o verso daquele corpo deveras atraente e encantador. E assim vai levando os seus dias se potencializando na força atrativa que provoca, ficando com um e com outro, baixando de nível nas escolhas feitas, até chegar o dia do inadiável reconhecimento: a ordinária já é de qualquer um que lhe pague, já faz programa, já faz vida no cabaré.

E tudo acontecesse assim, num percurso de descuidado afloramento sexual, até o momento em que o corpo, já marcada de tantas batalhas sexuais, não quer mais fugir da luta, abandonar o campo de batalha. E a saga das ordinárias passa a se confundir com a mesma saga das prostitutas de beirais estradeiros.

(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com