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sexta-feira, 17 de abril de 2015

E AÍ, QUAL A DEFESA DOS FERREIRAS NESSE CASO?

Por Aderbal Nogueira

Sempre se fala que Zé Saturnino foi o causador de tudo e que os Ferreiras eram inocentes, mas analisemos uma passagem. Antonio Ferreira encontrou José Caboclo morador de Saturnino em uma estrada e sacou da faca partindo para matar José Caboclo. 

Os 2 inimigos de Lampião, José Lucena e Zé Saturnino

Na luta Antonio perdeu a faca e José Caboclo mesmo com uma faca na cintura levantou-se montou e foi embora. Podia muito bem ter matado seu agressor. 

Lampião e o irmão Antonio Ferreira
http://blogdodrlima.blogspot.com

Não satisfeito é mesmo tendo sido poupado, Antonio juntou os irmãos e no outro dia cercou a casa de Zé Caboclo para matá-lo, por sorte Caboclo não apareceu. E aí, qual a defesa dos Ferreiras nesse caso?

O escritor e pesquisador do cangaço Archimedes Marques fez o seu comentário dizendo o seguinte:

Ademais caros amigos, há o velho ditado que diz: OS INCOMODADOS QUE SE RETIREM. E aí, quem foi que se retirou, quem foi que se mudou por duas vezes para evitar mais dissabores?... Briga de vizinhos é realmente muito complicado pois a cada momento surgem novos fatos. Dar razão a um ou a outro é muito difícil pois ambos se sentem os donos das razões. Nessa intriga dos Ferreira com os Saturnino, acho que tudo era farinha do mesmo saco.

Briga de vizinhos é realmente muito complicado, pois a cada momento surgem novos fatos. Dar razão a um ou a outro é muito difícil, pois ambos se sentem os donos das razões. Nessa intriga dos Ferreira com os Saturnino, acho que tudo era farinha do mesmo saco.

A pesquisadora Francimary Oliveira também deu seu parecer:

Nessa de se mudarem para evitar encrenca é ponto a favor dos Ferreira. Pois em todas essas mudanças houve perdas materiais. É como você mudar de emprego, com um salário menor para evitar problemas com um colega de trabalho. E então como fica?

O pesquisador Voltaseca Volta disse:

O estudo da contenda entre a família Ferreira x Zé Saturnino pode ser dividido em várias etapas.

1ª) Até a permanência da família Ferreira em sua pequena gleba "Passagem das Pedras", razão lhe assistia. Eram pessoas pacatas, honestas, trabalhadoras e, viviam do suor dos trabalhos realizados;

2º) Diversos incidentes, entre a família mais forte (Zé Saturnino), apoiado pelo Major Nogueira, e outros importantes da região, contra a humilde família Ferreira; Logo, sobrou para quem? Os Ferreiras que saíram às pressas, deixando o seu rancho e os seus animais, indo morar em Poço do Negro, a 3 km de Nazaré;

3º) As desavenças, ainda continuaram, mesmo a pequena família tendo deixado o seu torrão natal;

4º) Início das brigas com os NAZARENOS com os irmãos Ferreira + continuação do quebra pau, com os de Zé Saturnino (em face desse ter ido à Nazaré, quebrando o acordo);

5º) Até ai, a balança das injustiças praticadas, pesam em favor dos Ferreiras;

6º) Mais uma fuga da família Ferreira, desta feita para Alagoas, onde se juntam aos IRMÃOS PORCINOS E SEU TIO ANTONIO MATILDE, e passam a participar de assaltos (Pariconha). 


Aí, a balança da responsabilidade, já pesa contra os IRMÃOS FERREIRAS, cujos pais morreram, já em face das últimas ocorrências criminais praticados pelos mesmos, com a polícia do Ten. Lucena, já no encalço. O lema, "MATAR ATÉ MORRER" proferido por Virgolino e irmãos, já passa a ser, seu ESCUDO ÉTICO, para justificar suas futuras ações criminosas, que, com o tempo, o catingueiro desacreditou em tal premissa, mas, que de início era uma justificativa muito forte e plausível. O resto, depois eu conto...!! ZÉ SATURNINO foi casado com Mariquinha Nogueira. Ela era filha do Coronel João Nogueira, da Fazenda Serra Vermelha...contigua à do pai de Zé Saturnino… O Major era quem resolvia as contendas na região, autorizado por Teófhanes Torres, e, até mesmo, algumas prisões que não fossem muito complicadas. Nos embates, entre Zé Saturnino X Família Ferreira, a família NOGUEIRA ficou do lado do primeiro, e, também, tomou as dores....Daí, a família Nogueira ser considerada, também, inimigos de Lampião... euma das causas de ter sido assassinado ZÉ NOGUEIRA e outros dessa família.


E o que falou o pesquisador Jorge Remígio?

Amigo Aderbal Nogueira. 

Como você bem sabe, a importância maior do estudo do cangaço é a interpretação dos fatos. Quando me aprofundei um pouquinho mais na biografia dos irmãos Ferreira, passei a ter outra visão a respeito dos mesmos. É sabido que José Alves de Barros (Zé Saturnino) era impetuoso e tinha um poder econômico maior que os Ferreiras que eram remediados, cheguei à conclusão após leituras confrontadas, que o triunvirato (Antônio, Livino e Virgulino) foi estimulado por educação materna, a desenvolverem uma personalidade agressiva, provocativa e beligerante. Os caras eram encrenqueiros mesmo. Provocativos e insolentes. Agora, houve uma construção idealizada pela literatura, que transformou-os em vítimas, perseguidos e descriminados. Argumento muito fácil de ruir por terra.

Continua Jorge Remígio: Essa discussão está muito boa. Parabéns a todos. O grupo precisa desses comentários abalizados e questionamentos interessantes. Estou viajando, domingo entro nele. Vou deixar mais uma. O sobrenome FERREIRA foi inventado. Quando o avô materno de Virgulino chegou na ribeira do Pajeú, vindo provavelmente dos sertões dos Inhamuns cearense, juntamente com o filho José, adotaram esse sobrenome Ferreira.

Amigo José Mendes Pereira Mendes, Lampião era alto, pele morena (cabloco). magro seco. Antônio era branco, estatura mediana e tinha os olhos verdes.


Realmente não trocaria um pelo outro. Tanto Saturnino quanto Lampião e seus dois irmãos não eram "flores de cheiro" agradáveis. Porém o sentimento de injustiça existe até hoje pelo que o pai e o irmão João e suas irmãs passaram. Daí vem também o a questão da maioria sempre ficar do lado dos mais fracos.

O escritor José Sabino Bassetti não poderia ficar de fora deste debate. E palavreou o seguinte:

Vamos inverter os fatos. Se fosse José Caboclo que tivesse ficado sem a faca, sem dúvida Antonio Ferreira o teria matado. Mas existe aqueles que querem porque querem fazer dos irmãos Ferreiras eternas vítimas. Mas é só se aprofundar nas pesquisas, nos estudos do cangaço, vai se notar que os Ferreiras eram mesmo encrenqueiros e não perdoavam ninguém.

O pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho não quis ficar fora deste debate e resolveu dizer o seguinte:

Observo atentamente a explanação dos meus amigos, e aqui trago a minha opinião. Eu acho muito difícil dizer, de uma briga de vizinhos, o culpado, principalmente quando a desavença, como esta ocorrida há cem anos, entre os Ferreira e os Saturnino, que, como sabemos, não nasceu de um dia pro outro, mas aos poucos, para, gradualmente, chegar ao nível insustentável que chegou; mas, é importante que se diga, que nos chegou através de opiniões e depoimentos de pessoas, nem sempre isentas, mas que tem valor probante, sim, são provas, mas contestáveis, discutíveis, enfim. Na verdade, o que temos efetivamente sobre esta guerra familiar é o que disseram as duas famílias, formulações sempre díspares, confirmando o velho dito de que "o sucesso tem pai e o fracasso é órfão", e que os escritores com base nestes ditos e contraditos foram tirando as suas conclusões. Penso que seria fundamental, para chegarmos mais perto da verdade, se soubéssemos das motivações que levaram estes rapazes (rudes e violentos todos) a se entreverem tão cruentamente. Ah se chegássemos aos bastidores deste por um tempo velado conflito, cuja causa primeira não deve ter sido esta que nos apresentam: desaparecimento de animais dos Ferreira, criados que eram praticamente em terras contíguas de famílias até então bem relacionadas entre si, religiosas, etc e tal. Mas, concluo dizendo que, por mais que esposamos nossas opiniões a respeito de quem foi o culpado pela briga entre estas duas famílias, não chegaremos a um consenso, porque somos escravos de uma inclinação natural de pré-julgarmos tudo e a todos, independente de qualquer coisa; e disso ninguém está isento. Na verdade, nas coisas que mechem com o nosso espírito, nossos sentimentos, julgamos sempre a partir de um pré-julgamento que fazemos no nosso íntimo. Eu mesmo tenho uma propensão a achar que os Ferreira foram os menos culpados, e que só uma prova robusta e insofismável poderia me tirar deste meu modo de enxergar; mas sabendo que vou decidir em cima de algo que eu intimamente já julguei.

Aderbal Nogueira fecha dizendo o seguinte:

Cristiano Ferraz, tenho depoimento de Luiz de Cazuza falando sobre isso. Detalhe, ele falou sem ser perguntado. Estávamos falando sobre os irmãos Ferreira e ele falou sobre a diferença deles e do caso em questão. Qualquer hora posto. "se é verdade ou não ai já é outra história".

Fonte: facebook
Página: Aderbal Nogueira

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NARCISO DIAS PUBLICOU ESTAS FOTOS

Casa de Luiz Gonzaga Ferraz, a 4ª da esquerda para direita. São José de Belmonte-PE

É de fundamental importância ao pesquisador, estudioso, escritores curiosos etc. Sentir a atmosfera dos locais dos acontecimentos, a sensação é indescritível. 

O mesmo ambiente, as mesmas janelas, uma mesma história, uma só emoção!

Na ocasião em Passagem das Pedras Serra Talhada-PE com membros do Cariri Cangaço e em casa de Luiz Gonzaga Ferraz, influente comerciante da cidade de São José de Belmonte-PE. Assassinado por Virgulino Ferreira (Lampião), em 20.10.1922.

Manoel Severo e os amigo cangaceirólogos

Fonte: facebook
Página: Narciso Dias

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Rota do Cangaço Xingó


Em 1998 para impulsionar o Turismo aqui na região de Piranhas, Estado de Alagoas, foi criado o evento "Seminário do Cangaço" que depois virou "SEMANA DO CANGAÇO". Um dos pontos altos desse primeiro evento realizado em 1998 foi a "1ª Missa do Cangaço". 

Na foto o ex-cangaceiro Manoel Dantas Loiola (conhecido no mundo do crime com Candeeiro), e o ex-policial Sargento Elias Marques Alencar. numa animada conversa na Grota de Angico na verdadeira Rota do Cangaço. 

Em breve publicaremos mais fotos e algumas curiosidades desses 17 anos de evento.

Fonte: facebook
Página: Jairo Luiz Oliveira

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FORTE IDENTIDADE, AUTOESTIMA E PODER: A MODA DE LAMPIÃO E SEU BANDO DE CANGACEIROS


Em meio à paisagem árida do nordeste, no final do século XIX e começo do século XX, as injustiças sociais fizeram surgir – tal como hoje o crime organizado nas favelas das grandes cidades – bandos armados que, em correrias a cavalo pelo sertão, saqueavam e matavam, impondo sua vontade.

Tal como hoje, a reação do estado era insuficiente e os cangaceiros faziam alianças com os coronéis, oprimindo e outras vezes até beneficiando a população, diante da ausência do poder público.

Lampião e o seu bando foi o mais famoso, talvez porque criou uma forte identidade visual, verdadeira moda do cangaço. Vestidos em roupas de couro, para poder enfrentar os espinhos da caatinga, portavam um chapelão, dobrado em forma de meia-lua e todo contornado por moedas de ouro e prata, sustentado por uma tira de couro, na testa, também fulgurante desses metais, assim como outras tiras cruzadas no peito, para levar a munição, igualmente recobertas de brilhos, o que criava um conjunto impressionante, fulgurando ao sol, junto com os rifles.

Para a população do semiárido, que vivia mergulhada em cores pastel, cinzas e marrons, a visão cintilante do ouro e da prata brilhando ao sol era um impacto, que maravilhava e amedrontava. O próprio Lampião era muito vaidoso, usava perfume francês e um lenço no pescoço, preso por um anel de formatura em Direito.

Sem dúvida, muito da mística que se criou em torno do bando deve ter surgido daí, dessa aparência que transmitia poder, sedução e uma enorme autoestima. Como já existia na época a fotografia e o cinema, Lampião deixou-se filmar e fotografar junto com seu bando, preservando para o futuro essa imagem de forte identidade, tantas vezes reproduzida em filmes.

Há muitos anos, entrevistei o Sr. Ostiano, que foi capataz da fazenda de um coronel amigo de Lampião, onde uma gruta servia de abrigo perfeito para o bando, quando Lampião se feria e necessitava de recuperação.

Segundo o Sr. Ostiano, as ordens do Coronel eram para que Lampião escolhesse o boi que quisesse, para ser morto e preparado para seu alimento, até a perfeita recuperação, o que alimentava o mito de que o cangaceiro tinha o corpo fechado, pois ninguém o via doente ou ferido. Mas o que chamava a atenção era a admiração, o fascínio com que o velho Ostiano descrevia o bando, com os metais faiscando ao sol, como se fossem deuses…

Maria Bonita nasceu Maria Gomes de Oliveira, em 09.03.1911, na zona rural de Paulo Afonso, Bahia, (município onde existe a famosa cachoeira do mesmo nome), casou-se muito cedo com um sapateiro, com quem não vivia bem. Encantou-se por Lampião e, com a conivência da mãe, seguiu-o, tornando-se assim a primeira cangaceira.

Era faceira, bonita para os padrões da época, rechonchuda e vaidosa com o cabelo, mas tinha que usar roupas severas, conforme as regras de Lampião – tudo a ver com os talebans, no Afeganistão – seguindo a moda do chapéu e dos brilhos, característica do bando. Fotos suas transmitem a imagem de uma mulher forte e segura de si.

Durante mais de oito anos de cangaço, teve uma filha, Expedita, mas por certo a dureza daquela vida de correrias a fez sofrer três abortos.

Na hora da luta, era um rifle a mais, assim como participava da selvageria dos saques. Mas as músicas que o bando cantava, exprimiam sua condição de mulher, de quem se exigiam também as tarefas domésticas: “Acorda, Maria Bonita, levanta vai fazer o café…” Sua posição no cangaço transmitia a imagem de uma mulher que quebrou tabus e, depois dela, outras mulheres associaram-se ao bando de Lampião.

A casa onde nasceu, na área rural de Paulo Afonso, feita de taipa, que é uma armação de madeira, preenchida com barro, como era comum naquele tempo e lugar, ficou abandonada por muito tempo, mas agora foi restaurada, convertendo-se no Museu Casa de Maria Bonita, reproduzindo no barro amassado a construção original e no seu interior os cômodos e objetos, como eram no início do século XX. O filme que documenta esta restauração mostra muita coisa, inclusive as músicas dos cangaceiros.

O bando foi vencido em Poço Redondo, Sergipe, em 28.07.35, sendo Maria Bonita degolada ainda com vida. Sua cabeça, assim como a de Lampião e as de outros cangaceiros foram levadas para Salvador.

Também estrangeiros admiram Maria Bonita e seu nome batizou dois navios: um é japonês, com bandeira do Panamá e tripulação coreana, faz linha entre o Brasil e o Japão, passa pelo porto de Santos a cada três meses. Seu capitão, Sumio Matsumoto, fã de Maria Bonita, fez uma pesquisa minuciosa no Brasil e, no dia do batizado do cargueiro, expôs um breve histórico do significado do nome. O outro navio é um pesqueiro de 143 toneladas, registrado no Texas.

A História do Rei do Cangaço Lampião

http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/forte-identidade-autoestima-e-poder-a-moda-de-lampiao-e-seu-bando-de-cangaceiros/

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A INFLUÊNCIA DO CANGACEIRO LAMPIÃO NA ESTÉTICA E MODA

Postado por Textile Industry - escrito em 2012

A simples menção ao nome de Lampião fazia tremer o cabra mais macho do Nordeste. Virgulino Ferreira da Silva, seu nome de batismo, aterrorizou o sertão, entre 1916 e 1938, com seu bando que contava 200 homens. Nos sete Estados da Federação onde a lei parecia ausente e a polícia, chamada de Volante, cometia excessos, Lampião e sua gangue justificavam seus assassinatos, degolas, estupros e assaltos com supostas bandeiras sociais e, assim, conseguiam angariar alguma simpatia da população pobre. Mas, quando não estava praticando crimes, o cangaceiro se atracava com agulhas e linhas para costurar e bordar, lindamente, roupas, revestimentos para cantil, cinturões, bornais (espécie de bolsa) e os lenços que usava ao estilo Jacques Leclair, o protagonista costureiro da novela global “Ti-ti-ti”. Seu sanguinolento bando exibia uniformes bordados com flores, estrelas e símbolos místicos. Embora cause estranheza, este apuro estético tinha uma finalidade: servia para despertar admiração entre a população e, também, como patente hierárquica do bando. Lampião acreditava ainda que alguns símbolos blindavam seus homens contra maus espíritos.

Lampião em sua máquina de costura

O lado excêntrico e quase marqueteiro do famoso bandoleiro emerge pelas mãos de uma das maiores autoridades brasileiras em cangaceiros, o historiador Frederico Pernambucano de Mello, “o mestre dos mestres quando o assunto é cangaço”, como dizia o antropólogo Gilberto Freyre. Mello acaba de lançar o livro “Estrelas de Couro – A Estética do Cangaço” (Escrituras, 258 págs.), no qual mostra que, ao impor um estilo próprio de vestuário, Lampião incutia os valores do cangaço aos homens do seu bando e estabelecia a diferença entre a sua tropa e os “outros.”

Lampião, aliás, odiava ser confundido com cangaceiros comuns. A força da roupagem luxuosa que ele criara – e incluía metais e até ouro, além de moedas e espelhinhos –, chegou a influenciar as vestimentas dos policiais. Antes de costurar, ele pegava um papel pardo e desenhava, depois levava o papel para a máquina Singer e cobria o tecido. “Ele não era apenas o executor do bordado. Era também o estilista”, afirma Mello.

“No início, a moda era ofício masculino”, garante a professora de história da indumentária e antropologia da moda Silvia Helena Soares, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ela vê nas criações de Lampião um estilo de moda que remonta à época do Renascimento (século XVI), quando os homens bordavam as joias na própria roupa. “Era tudo grandão, pesado. Não tinha nada de delicadinho”, afirma. Para o historiador Luiz Bernardo Pericás, autor de “Os Cangaceiros: Ensaio de Interpretação Histórica”, os uniformes dos cangaceiros ficaram tão enfeitados que pareciam fantasias. 
“Era um dos aspectos da extrema vaidade daqueles bandoleiros”, diz Pericás. Lampião aprendeu a manejar a linha e a agulha muito antes de tomar gosto pelo rifle. Quando menino, quase adolescente, Virgulino fazia tecidos de couro muito bem ornamentados, resistentes e esteticamente valiosos para vender nas feiras. “Era famoso como alfaiate de couro”, afirma o historiador Mello. Ele foi parar no crime porque sua família se envolveu numa guerra com fazendeiros vizinhos. Dizem que era tão hábil com a espingarda que conseguia dar tiros consecutivos que clareavam a noite. Daí a alcunha de Lampião.

O Rei do Cangaço morreu aos 40 anos, em 1938, junto com a fiel companheira, Maria Bonita – que, igualmente, andava coberta de roupas, chapéus, cintos e bolsas bordadíssimas. O casal e nove homens do bando foram decapitados e as cabeças expostas como troféus pela polícia nas escadarias da igreja de Piranhas, em Alagoas. Ali, foram fotografadas ao lado de objetos preciosos do grupo, como espingardas e cartucheiras, além de outras armas de Lampião: duas máquinas de costura Singer, o sonho de todas a donas de casa da época. Se tivesse escolhido a profissão de costureiro, Lampião (até hoje cons­tantemente revisitado pela indústria fashion) certamente teria tido uma carreira brilhante.

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