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sábado, 20 de junho de 2015

O CARIRI CANGAÇO É O RESULTADO DE UM GRANDE SONHO.

Por Manoel Severo

O Cariri Cangaço é o resultado de um grande sonho. Desde menino me encantava com as histórias dos cangaceiros, suas sagas, aventuras, e notadamente o bando de Lampião; sem dúvidas o de maior destaque e de maior longevidade dentre todos. A motivação pelo fascínio daquele menino, ainda com seus oito anos de idade, pelo universo do cangaço, talvez se confunda com o fascínio que até hoje o cangaço desperta em todos os amantes e curiosos da temática: Em um primeiro momento, ainda nos tempos de menino; a valentia, aventuras, sagacidade, enfim. Com o tempo outras percepções: Senso de adaptação, criatividade, a extensa rede de interesses, a estética, a medicina, o vigor em ambiente tão hostil, a compreensão da importância da imagem, o primeiro "marketeiro das caatingas", enfim. Virgulino Ferreira da Silva, apesar dos muitos senões, acabava por se tornar um mito. 

Já homem feito, me vi reaproximar da literatura do cangaço e acabei por me apaixonar verdadeiramente pelo tema, daí me dedicando sempre a buscar novas fontes; participar dos primeiros seminários seria inevitável, e assim aconteceu. Serra Talhada, Mossoró, Paulo Afonso , e nesse "vai e vem" por entre as terras pisadas por Lampião, acabamos por nos aproximar dos "vaqueiros da história". A cada novo evento um novo companheiro, um compartilhador de aventuras, homens e mulheres que dedicaram e dedicam boa parte de suas vidas a seguir as pegadas desse que viria a ser intitulado o "rei do cangaço" ou o "governador do sertão", Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião.

Em março de 2009 quando retornávamos da primeira edição do Seminário de Maria Bonita em Paulo Afonso aflorou em minha cabeça a ideia de tentar realizar em nosso estado do Ceará, mais precisamente na região do Cariri, um seminário onde pudéssemos resgatar um pouco da historiografia cangaceira na região, tão pouco conhecida pela grande maioria das pessoas. Num primeiro momento ouvia muitas indagações e provocações: "Cangaço no cariri?" "Está ficando louco?" "Como realizar um negócio desses aqui, sem nenhuma tradição com o tema?" "Evento para endeusar bandido?" ... foi aí que alguns ingredientes acabaram se somando e o sonho acabou se tornando realidade: Determinação, perseverança, dedicação e amigos; muitos amigos, inúmeros amigos, de todos os lados e lugares, alguns antigos e outros novos, todos juntos começaram a acreditar que poderíamos fazer...e fizemos. Mas não poderíamos continuar nossa conversa sem fazer o devido e responsável esclarecimento; explico: Apesar do fascínio que o cangaço exercia no pequeno garoto e exerce até hoje no homem; o Cariri Cangaço, não nasceu com o sentimento de fazer apologia ao Cangaço, cangaceiros, violência, enfim; não "mitifica" e nem procura elementos para "endeusar" Virgulino Lampião nem nenhum outro personagem dessa saga sertaneja tão penosa e cheia de dor. O verdadeiro sentimento que moveu a todos nós foi o de proporcionar um ambiente ainda mais propício para o debate e aprofundamento dessa temática que é tão marcante em nossa terra e em nossa gente. O incrível acontece; Lampião e o Cangaço que tanto sofrimento trouxe para o ordeiro povo do sertão, hoje promove o encontro, a união e a harmonia na direção da busca da verdade histórica. A gratidão é uma das virtudes mais sublimes de um ser humano e são momentos como esse que temos a oportunidade de a materializarmos. Em princípio é notória a participação vital de Danielle Esmeraldo; na época Secretária de Cultura de Crato, compartilhando, incentivando e principalmente realizando. Aos vaqueiros da história; Napoleão Tavares Neves, o primaz, aquele que "deu as primeiras bênçãos" ao sonho; aos amigos João de Sousa Lima e Antônio Vilela, protagonistas desse nascimento; aos amigos e ex-presidentes da SBEC ; Paulo Gastão e Kydelmir Dantas que colocaram a Sociedade inteiramente à disposição de nosso sonho, sem nem ao menos nos conhecer mais de perto. Aos amigos irmãos; Aderbal Nogueira e Ângelo Osmiro, bússolas sempre presentes, a nos orientar e ensinar. Professor Pereira que como um andarilho da esperança se comprazia em sonhar conosco...a Antônio Amaury que coroou com sua confirmação o êxito da iniciativa; a esses se somaram tantos outros, que hoje formam essa grande confraria de amigos, essa família que acostumamos a chamar de família Cariri Cangaço.

O sentimento...

De início tínhamos o desafio de estabelecer o formato do evento, a data, os conferencistas, tudo por tudo. Minha primeira preocupação foi fortalecer o conceito verdadeiro do evento. Era nosso desejo criar um Seminário, mesmo que pequeno, onde pudéssemos de forma responsável, lucida e competente, trazer para nossos convidados e anfitriões, o resgate deste recorte da história do cangaço que poucos conheciam. O cariri cearense era sim um cenário privilegiado do cangaço, notadamente de Virgulino Ferreira. Como desconhecer a ação e episódios como a visita de Lampião a Juazeiro em 1926, a patente de capitão, sua suposta ligação com Padre Cícero; o fogo da Piçarra, a morte de Sabino, a amizade com Seu Tôim da Piçarra; como esquecer os marcantes momentos de Lampião em Aurora, Isaías Arruda, traição, fogo; e personagens como Major Zé Inácio, Sinhô Pereira, Chico Chicote, Irmãos Marcelinos, Coronel Santana, enfim. O cariri tinha sim, muito a contar e ser contado.

O Cariri Cangaço nasceu com esse sentimento; lúcido e responsável; em trazer para o sul do Ceará esse fórum qualificado que pudesse de forma clara; não fazendo apologia ao banditismos ou endeusando cangaceiros; num primeiro momento discutir esse fenômeno tão rico e intrigante que foi o cangaço, e que se tornasse uma ambiente plural e cheio de capilaridade para também discutir outras temáticas ligados ao nosso nordeste, às nossas raízes, à nossa história... e memória, e aí vamos encontrar o cordel, a música, a estética, os beatos, o messianismo, os coronéis, a culinária, a medicina, enfim.

O contagio e a construção...

Nada se constrói sozinho! Poucos do universo da pesquisa e estudo do cangaço nos conheciam; foi um "tiro no escuro" convidar os muitos confrades para virem ao cariri ver o que estávamos querendo fazer. A SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, foi de fundamental importância quando resolveu abraçar o evento. Já tínhamos um pequeno grupo de pesquisadores e escritores que haviam aceito o nosso convite para serem palestrantes. Agora precisava contagiar nossa casa; os municípios do cariri, os verdadeiros anfitriões.

Criamos um Empresa para realizar o evento, foi criada a Cariri do Brasil; que mais recentemente se tornou o Instituto Cariri do Brasil Daí, começamos pelo poder público, entidades e academias culturais, organizações não governamentais, entes de promoção cultural, imprensa e formadores de opinião; a semente estava plantada e no trabalho de formiguinha tivemos três meses para regá-la e ver os frutos nascerem. Neste momento amigos como Dihelson Mendonça e Antônio Vicelmo, foram fundamentais.

Primeiramente as prefeituras de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha, assumiram o desafio; a elas se somaram a URCA - Universidade Regional do Cariri, o ICC - Instituto Cultural do Cariri, o ICVC - Instituto Cultural do Vale Caririense, o Centro Pró Memória e ainda a Academia de Cordelistas do Crato, o Sebrae, o CCBNB e o apoio vital da Expresso Guanabara. Pronto! Tínhamos o respaldo de nossa casa para promover e receber nossos convidados. Neste momento amigos como Glória Tavares, Rui e Nívia; Dorivan Amaro, Soares Neto, Rodrigo Sampaio, Hugo Rodrigues, Celene, Oberdan, Joselio, Goreti; o maravilhoso pessoal do Atelier de Barbalha, Moreira Paz, Amélia Linard e Totonho; Arlene Pessoa, Anna Christina, Bola , Ocelio, Savio, Fernando, Bendimar, Alexandre Lucas, Manoel Patrício, Huberto Cabral, Carla Prata, Anastácio Braga, Dane de Jade, Caíca, Cacá, Bosco André, Kaika, Rodrigo Montalverne e os valorosos e queridos colaboradores da Secretaria de Cultura de Crato; Felipe Kariri, Edmar, Rosana, Adriano Modesto, Ingrid, Sara, Yarley, Aline, Mabell, Fátima, Françoi, Sâmia, Flavio, Arisla, Greice, Marilac, são tantos...

Agora era partir para o combate; o bom combate! Na noite de 22 de setembro de 2009, estávamos realizando a abertura do 1º Cariri Cangaço, na cidade de Crato, sob o cerimonial de meu filho, Gabriel Barbosa e Sawanna Feitosa; com mais de 70 pesquisadores convidados e um público de 376 pessoas, 19 conferências e debates e 22 visitas técnicas, em seus seis dias de realização reunimos mais de 1.500 pessoas no total, começava ali uma grande caminhada. Assim nasceu o Cariri Cangaço, um evento construído para todos aqueles que acreditam que nosso futuro tem estreitas ligações com nosso passado, nossas tradições e nossa história...

Hoje; às vésperas de completarmos seis anos de existência, rompemos as barreiras do Ceará e o Cariri Cangaço se consolida como o mais respeitado e qualificado fórum sobre a temática; presente em 5 estados da federação: Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, já realizou 83 Conferências, reuniu mais de 500 pesquisadores e mais de 12 mil pessoas em todas as suas edições; possui 16 sedes oficiais: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Porteiras, Barro, Lavras da Mangabeira, Brejo Santo, Piranhas, Poço Redondo, Sousa, Nazarezinho, Lastro, Princesa Isabel, São José de Princesa e Floresta; numa das mais autenticas Festas da Alma Verdadeiramente Nordestina.

Muito Obrigado a toda Nação Cariri Cangaço !


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ESTUDANTES CRIAM DESFILE INSPIRADO EM LAMPIÃO E MARIA BONITA

Por Tribuna do Ceará em Tribuna Bandnews FM - 20 de junho de 2015
Assim como Lampião, Maria Bonita seguia a moda dos chapéus, tudo com muito brilho (Foto: Reprodução)

O evento é resultado do projeto final do curso de Figurinista na unidade do Crato

No século XX, Lampião e Maria Bonita já faziam moda. Vestidos em roupa de couro para enfrentar os espinhos da caatinga, os reis do cangaço abusavam das cores cinza e marrom. O lenço era uma das marcas registradas dos cangaceiros.

Os chapéus em formato meia lua eram bordados com estrelas, sem falar nas joias que Lampião usava, adornadas com pedra preciosas. Toda essa vaidade dos cangaceiros servia para transmitir poder e para criar uma identidade visual que até hoje inspira a moda contemporânea.

Na cidade do Crato, na região Cariri do estado, os alunos do curso de figurinista do Sesc desenvolveram roupas e acessórios inspirados em Lampião e Maria Bonita. 

O gerente do Senac Crato, Cristiano Saraiva, diz que esse vai ser um desfile com muitas cores, artesanato e couro, bem a cara do nordestino.


Assim como Lampião, Maria Bonita seguia a moda dos chapéus, tudo com muito brilho. Já pensou em vestir no dia a dia as roupas e acessórios da Rainha do Cangaço? Cristiano Saraiva explica que as peças criadas para o desfile são tipicamente regionais.

O desfile aconteceu na última sexta-feira (19), às 19h30, na Praça da Sé, no Crato.

Confira mais informações na matéria de Letícia Lima, da Tribuna BandNews FM:

http://tribunadoceara.uol.com.br/audios/tribuna-band-news-fm/estudantes-criam-desfile-inspirado-em-lampiao-e-maria-bonita/

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O DIA EM QUE PEDRO SERTANEJO ENCANTOU MONTE SANTO

Por José Gonçalves

Nascido em Euclides da Cunha (BA), palco da guerra de Canudos, Pedro de Almeida e Silva ou Pedro Sertanejo saiu de sua terra ainda jovem, a fim de tentar a carreira artística em outras paragens. Em 1946, depois de 51 dias de viagem, aportou em São Paulo, onde tratou de popularizar o “forró pé de serra”, através da sanfona de oito baixos. Foi acordeonista, compositor, afinador de sanfonas e radialista.


Em 1956, realizou a primeira gravação pela Copacabana, interpretando o xote "Roseira do Norte" dele e Zé Gonzaga, assim como a polca "Zé Passinho na festa", de sua autoria. Já na Todamérica, gravou "Balaio do norte" e "Forró brejeiro". Em 1959, lançou a polca "Euclides da Cunha", em referência à sua terra natal.

Em 60, gravou "Forró de Aracaju" e "Rancho Velho". No ano seguinte, foi contratado pela gravadora Continental, que relançou antigos sucessos, anteriormente gravados na Todamérica. Entre eles, "Festa na fazenda" e "Arco-verde".

Em 1962, passou a integrar a gravadora Caboclo, onde lançou "Forró alagoano", "Azulão" e "Festa de São João", entre outras composições. No ano seguinte, gravou, de sua autoria, o forró "Sete punhá" e o chamego "Chuliado da vovó", de Milton José.

Em 64, fundou a Cantagalo, dirigindo a gravadora por toda a década de 1960. Nesse período, convidou Dominguinhos, então iniciante, a gravar um LP destinado ao público nordestino. Além de Dominguinhos, produziu também artistas de renome como Jackson do Pandeiro, Messias Holanda, Ary Lobo e muitos outros.

Nos anos 1970, gravou diversos LPs pela gravadora Continental, entre os quais "Forró brejeiro", "Visite o Nordeste" e "Sanfoneiro do Norte". Ao longo de sua carreira, lançou mais de 40 discos e compôs cerca de 700 músicas.

Em 1966, abriu o primeiro forró da capital paulista, o forró de "Pedro Sertanejo", na rua Catumbi, 183, no Braz, local que se tornou o ponto de encontro de nordestinos e forrozeiros. Era um local estratégico. Bairro fabril e operário, o Braz era habitado, predominantemente, por migrantes nordestinos. Em suas imediações localizavam-se as estações de trem Roosevelt (antiga “Estação do Norte”) e de ônibus Glicério, pontos importantes de chegada e de circulação de nordestinos.

A partir daí, inúmeros outros forrós foram fundados na cidade, disseminando-se a cultura nordestina entre os habitantes da pauliceia. A prática se perpetuou no tempo e, apesar da introdução de novos espaços de entretenimento, os forrós continuam a agitar a vida paulistana.

Na manhã do dia 20 de junho de 1996, acompanhado de Oswaldinho do Acordeon, seu filho, o velho músico esteve na cidade de Monte Santo (BA), onde foi homenageado pela gente do lugar. Em visita ao “Museu do Sertão”, ali deixou um exemplar de uma sanfona de oito baixos, de uso pessoal,enquanto Oswaldinho deixou um troféu recebido durante um festival realizado fora do Brasil. As peças integrariam o acervo da instituição.

Faleceu em 1996. Apesar de todo talento, Pedro Sertanejo não obteve por parte da mídia o merecido reconhecimento. Tico dos Oito Baixos, sanfoneiro e documentarista, participou da cerimônia de sepultamento do músico e se disse indignado com a indiferença com que a imprensa tratou o caso. Veja-se vídeo: https://youtu.be/9PEnk6rs2G4).

José Gonçalves do Nascimento
jotagoncalves_66@yahoo.com.br

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JESUÍNO BRILHANTE FILME COMPLETO


Leia um pouco sobre o cangaceiro romântico

Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro Romântico 
Por Ângelo Osmiro

Jesuíno Alves de Melo Calado ou simplesmente Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico. Nasceu no sítio Tuiuiú nas proximidades de Patu no Estado do Rio Grande do Norte. Agricultor e criador até os vinte e cinco anos, era um homem pacato. Segundo o grande folclorista potiguar Câmara Cascudo que por sua vez ouvira do padre Antônio Brilhante, Jesuíno era de estatura baixa, robusto, pele clara, arruivado e de olhos azuis, falava manso e tato; exímio atirador tinha grande pontaria sendo ainda ambidestro. Casou-se com uma prima, chamada Maria Carolina C. de Mello com quem teve cinco filhos. 

Um verdadeiro “Robin Hood” do sertão, roubava dos ricos para distribuir aos pobres, tendo como fato que durante a grande seca que assolou o sertão nordestino em 1877, uma das mais catastróficas da história, ele e seu bando saqueavam os comboios enviados pelo governo transportando alimentos. Distribuía aos flagelados a seu critério; era aquele que protegia as donzelas ultrajadas, fazendo casamentos, principalmente de filhos de poderosos que abusavam das filhas dos sertanejos humildes, achando que não seriam punidos ou obrigados a casar.

A entrada de Jesuíno Brilhante no cangaço deu-se em razão de uma desavença com uns vizinhos da família Limão, esses ligados ao partido Conservador, então dominante da política local, em contra partida a família de Jesuíno estava ligada ao partido Liberal, “em baixa” como se dizia na época. Este fato em especial viria causar a perseguição de Jesuíno por parte de um governo tendencioso. 

Após um roubo de cabras na fazenda dos Calados, praticados por membros da família Limão, a briga esquentou, tendo um irmão de Jesuíno de nome Lucas Alves, levado uma surra de Honorato Limão na “rua” de Patu. O fato revoltou Jesuíno Brilhante que se dirigiu à localidade em busca de vingança, tendo encontrado o agressor em um bar, zombando e mandando abrir uma garrafa de cachaça em “honra do morto”. Jesuíno invadiu o estabelecimento comercial e matou Honorato Limão a golpes de faca, fato ocorrido precisamente no dia 25 de dezembro de 1871, noite de natal.

Outra versão é que um menino da família Limão teria desrespeitado o patriarca da família, o major João Alves de Mello Calado. Zé Limão cumprindo ordens de seu patrão José Lobo, fora à fazenda Tuiuiú devolver uma junta de bois que João Alves havia emprestado a seu patrão. Desgostoso com a ordem, o moleque foi a contragosto e chegando a propriedade dos Calados, não tratara com o devido respeito ao velho fazendeiro. Naquele mesmo instante chegava à fazenda Jesuíno, filho de João Alves que presenciou toda a cena e pediu respeito para com seu pai, o menino atrevidamente respondeu ao filho de João Alves e puxou uma faca para agredi-lo, sendo desarmado e dominado por Jesuíno, acabou levando uma surra. A família Limão passou a jurar vingança pela sova levada pelo caçula. 

A partir do assassinato de Honorato Limão, Jesuíno Alves de Melo Calado passaria a ser Jesuíno Brilhante, o nome era uma homenagem a um tio, que havia abraçado a vida bandoleira anteriormente. Sua vida foi repleta de histórias extraordinárias, como a que uma vez, chegando à fazenda de um conhecido seu, pediu ao fazendeiro cavalos, viveres e dinheiro, tendo este negado, dizendo que dar não daria se quisesse que levasse, Jesuíno respondeu-lhe que era cangaceiro sim, ladrão não, montou em seu cavalo e saiu sem mais nada dizer ou fazer. Outro fato famoso de sua vida bandoleira deu-se no assalto a cadeia de Pombal na Paraíba, com o intuito de soltar seu irmão que estava preso naquela cidade. Assim como também o ataque à cadeia de Martins no Rio Grande do Norte, quando, enquanto tiroteava com seus inimigos ia furando buracos nas paredes das casas conjugadas, indo sair na última casa da rua, deixando seus adversários atônitos com sua astúcia. Nesta ocasião deu fuga a 43 presos conforme consta no processo aberto para apurar o caso. 

Jesuíno entrou na vida bandoleira aos vinte e cinco anos, passando cerca de dez anos vivendo em baixo do cangaço, porém jamais foi assalariado para cometer qualquer tipo de crime, tinha orgulho de dizer que nunca havia matado para roubar. Dentre as histórias heroicas da tradição oral atribuída a Jesuíno Brilhante, conta-se que certa vez pedindo pouso em uma fazenda, foi atendido pela mulher do fazendeiro, pois este estava viajando. Aflita, a mulher pede socorro, um valentão do lugar havia mandado avisar que ela se preparasse àquela noite, pois ele viria dormir com ela. Jesuíno orientou a mulher a sair de casa e tomou seu lugar no quarto. Brilhante esperou o valentão, que apareceu à noite e adentrou no quarto pensando encontrar a pobre mulher indefesa. Pouco tempo depois o homem saiu gravemente ferido e veio a falecer. Ao amanhecer a mulher voltou para casa, encontrou Jesuíno que a tranquilizou, dizendo ter resolvido o problema, o valentão não voltaria mais, pois havia viajado. 

Também no Ceará, o cangaceiro romântico fez das suas. Após sua esposa e seu pai sofrerem severas humilhações praticadas pelo Alferes Sá Leitão no Rio Grande do Norte, o militar agressor tentou refugiar-se nas redondezas da cidade de Russas, onde para seu azar, moravam vários familiares do cangaceiro. Não demorou muito para que Jesuíno Brilhante fosse avisado pelos parentes do paradeiro de seu inimigo. Deslocou-se para as terras jaguaribanas acompanhado somente do cabra conhecido por Pajeú. Sabendo de todos os passos do militar, Jesuíno preparou uma emboscada e feriu mortalmente seu opositor, após o ocorrido voltou oculto para o território potiguar.

Sua saga foi romantizada pelo grande escritor cearense Rodolfo Teófilo, através do livro “Os Brilhantes”. Escritor nascido na Bahia, entretanto dizia ser cearense por opção. Algumas histórias de gentil homem são atribuídas hoje em dia ao cangaceiro Lampião, o que cria de certa forma uma áurea de herói para o cangaceiro do Pajéu, o que na realidade Lampião não foi, algumas dessas atitudes foram mesmo protagonizadas pelo cangaceiro herói potiguar, esse sim um cangaceiro romântico. Outras histórias sequer existiram, sendo pura criação do imaginário popular.

A vida de Jesuíno Brilhante foi heroica, e sua morte não poderia ser diferente. Sendo atacado pela polícia comandada por um seu inimigo da família Limão, vendo-se acuado montou em seu cavalo e partiu célere em direção dos seus perseguidores disparando seu bacamarte, mas foi ferido mortalmente pelo inimigo. Jesuíno foi ainda carregado pelos companheiros, vindo a falecer no lugar Palha, no meio do mato, onde foi enterrado. Anos depois seu amigo o médico Francisco Pinheiro de Almeida Castro exumou o esqueleto, levando a caveira para Mossoró, daí para a cidade do Rio de Janeiro de onde não se sabe hoje seu paradeiro. Jesuíno Brilhante o verdadeiro Cangaceiro Romântico.

Ângelo Osmiro 

Fonte: lampiaoaceso.blogspot.com
*Ângelo Osmiro Barreto é Historiador e Pesquisador do Cangaço, sócio da SBEC - Sociedade brasileira de estudos do cangaço

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O RETRATO DA CULTURA DO PAÍS DE MOSSORÓ

Por Lúcia Rocha

O retrato da cultura no País de Mossoró. 

Sai de cena a Coleção Mossoroense para dar vez ao luxo da nova geração de ídolos da música sertaneja, bancados pelo poder público. Mas para quem não sabe ou ignora do que se trata, continue reclamando a ausência do Aviões do Forró no MCJ nas redes sociais. 


Num futuro muito próximo, quando quiser saber a história dos nossos dias, vá beber na fonte das letras românticas dessa gente que hoje você idolatra. Afinal de contas, estará poupando os leitores de saber as contribuições que os gestores estão fazendo para empobrecimento desse pedaço de chão. 

A ignorância é maior do que o conhecimento de quem se omite diante dessa tragédia.

Fonte: facebook
Página: Lúcia Rocha

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ADQUIRA LOGO O SEU

NOS CAMINHOS DE LAMPIÃO O REI DO CANGAÇO


Fonte: facebook

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LAMPIÃO EM ALAGOAS

Autores: Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto

O livro tem 468 páginas.

Preço R$ 55,00 (Cinquenta e cinco reais) com frete incluso, para todo o Brasil.

Onde comprar?
Com o revendedor
Professor Pereira
através do E-mail:
franpelima@bol.com.br
ou pelos telefones:

(83) 9911 8286 (TIM) - (83) 8706 2819 (OI)

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Dona Isaura, Nossa Senhora das Dores

Foto de 2010.

Saudades de dona Isaura, Nossa Senhora das Dores. Esta tem histórias do cangaço para contar e inclusive esteve no meio do fogo do cajueiro. Conheceu pessoalmente os cangaceiros e está citada em vários livros. 

Fonte: facebook

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O CANGACEIRO ÂNGELO ROQUE


Apesar de péssima qualidade da imagem, um momento referencial. Entrega de Ângelo Roque.
Permite vermos, por exemplo, algo da sua indumentária.

Fonte: facebook
Página: Rubens Antonio

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DO CANGAÇO PARA A PASSARELA


Espedito Seleiro, 74 anos, transformou as sandálias de Lampião e Maria Bonita em acessórios queridinhos da moda brasileira.

TALITA BEDINELLI Nova Olinda (CE) 10 MAY 2014

O artesão Espedito Velozo de Carvalho, 74 anos, cresceu ouvindo uma história curiosa do pai, um vaqueiro de Inhamuns, sertão cearense, conhecido pelas selas, chapéus e gibões de couro que costurava. Certa noite, ele trabalhava sob um alpendre iluminado por uma lamparina quando um “cabra” surgiu da escuridão e disse:

- Seu Raimundo, o senhor faz umas selas tão bonitas. Se eu trouxer o modelo de uma alpercata (sandália), o senhor faz?

- Rapaz, eu não sou bom nisso não, respondeu ele, tentando fugir do pedido.

O visitante misterioso insistiu um pouco mais. Tirou do bolso um papel todo “escangalhado” e mostrou. Era o modelo de uma sandália de solado quadrado, do tipo que quando a pegada fica no chão não dá pra saber para qual lado a pessoa vai. Pediu que fosse feito no número 39 e, diante da concordância um tanto atônita de seu Raimundo, disse que voltaria depois de 29 dias para buscar o calçado.

O pai de Espedito começou, então, a trabalhar. No prazo marcado, o visitante chegou e, contente com o resultado, encomendou novas mercadorias. Antes de ir embora, perguntou se seu Raimundo sabia para quem era a sandália:

- Rapaz, é pra você mesmo. Foi você quem me pediu.

- Pois não é não. É para o coronel Virgulino.

A descoberta de que a encomenda era para Lampião, o temido rei do cangaço, deixou seu Raimundo apavorado. Tão apavorado que ele nem cobrou pelo serviço. “Meu pai foi se tremendo todo. Ficou até com vontade de fechar as portas e correr. Naquele tempo, todo mundo tinha medo de encontrar com Lampião”, diverte-se Espedito.

A família, unida em uma associação com quase 30 pessoas, que formam o corpo de funcionários, produz, entre 200 e 300 pares de sandálias por mês.

Ele tinha apenas oito anos quando ouvia o pai contar o relato na oficina, agora na cidade de Nova Olinda, também no Ceará, onde a família vive até hoje. Muitos anos depois, o relato voltaria de sua lembrança, marcado pela chegada de uma mudança radical na vida de toda a família.

O artesão é herdeiro de uma longa linhagem de costureiros de selas de montar iniciada pelo bisavô, que pelo trabalho ficou conhecido como Antônio Seleiro, “sobrenome” que passaria adiante para o filho, Gonçalves Seleiro, e para o neto, Raimundo Seleiro, pai de Espedito Seleiro.

Seu Raimundo morreu em 1971 e, aos 31 anos, o primogênito se viu, de uma hora para outra, responsável pelo sustento dos irmãos, todos bem mais novos, e dos próprios filhos. Naquela época, a família só fabricava as peças para os vaqueiros e, a cada ano, as vendas diminuíam, afetadas pelo fim da tradição da profissão.

Até que um dia, no início da década de 1980, Alemberg Quindins, diretor da Fundação Casagrande, uma premiada organização educativa de Nova Olinda que capacita crianças da região, entrou na oficina com um desafio. Trazia nas mãos uma sandália que foi usada por Lampião e estava em exposição, ao lado de outras peças sobre o cangaço, na Fundação. Perguntou, então, se Espedito conseguia reproduzir o modelo, mas com detalhes, um tipo de rococónordestino que ele já fazia nos gibões e nas selas.

Detalhes dos trabalhos feitos pelo artesão, com uma espécie de "rococó nordestino". / TONI PIRES

O artesão se lembrou, então, da história contada pelo pai e, mesmo nunca tendo feito sandálias antes, topou. “Fiz uma bem mais bonita porque sou mais caprichoso”, brinca. O solado era normal, sem o formato quadrado que dificulta o andar. Alemberg gostou e Espedito viu a oportunidade de um novo negócio. Passou a produzir as sandálias de Lampião. A situação financeira melhorou, mas as vendas não decolaram porque sandálias de couro cru já existiam aos montes no mercado. “Eu chegava nas lojas e o povo dizia: ‘Já tenho. Só quero se for bem baratinha’. Eu me obrigava a vender porque precisava, mas não compensava nada, era uma mixaria. ”

Desgostoso com o trabalho, mas sem querer desistir, ele resolveu que não venderia mais peças iguais as dos outros. Foi dormir pensando. Levantou às 4h do dia seguinte, começou a desenhar e decidiu que dali em diante só faria sandálias coloridas. Costurou, então, um monte de sapatos e levou para uma “loja bonita, grande”, de Juazeiro do Norte, cidade vizinha a Nova Olinda. Chegou e disse:

- Seu Pedro, trouxe doze pares de sapato para você comprar.

O dono da loja nem abriu a caixa e recusou a oferta.

- Aqui tá tudo cheio de sapato. Não vou comprar, não.

Espedito insistiu:

- Mas, homem, tem um monte de sapato, mas nenhum é igual ao meu.

Seu Pedro olhou meio por cima e, com um certo descaso, disse para ele deixar a caixa num canto, que se vendesse alguma coisa daria o dinheiro para o seleiro. “Era um dia de segunda-feira. Deixei a caixa de sapato lá e peguei um, que estava no capricho mesmo, e botei na tampa. Combinei de voltar na outra segunda-feira para ver se tinha vendido e, se não, pegar os sapatos de volta. Fui embora desgostoso porque chegar em casa sem dinheiro é ruim, né?, lembra ele.

Durante a semana, continuou a produção dos pares coloridos com o que restou do couro que tinha. Até que na segunda-feira, voltou na loja.

- Pronto, seu Pedro, vim buscar meu sapato.

- Não, rapaz, pois eu vendi foi tudo. E quero mais 50 pares, respondeu o comerciante.

Com a pequena oficina, ele não conseguiu atender o pedido, mas foi vendendo para seu Pedro as que conseguia fazer. Foi nesse período que as sandálias multicoloridas de Lampião começaram a fazer sucesso. 

Alemberg também ajudou a promover o produto, calçando os sapatos em entrevistas para a televisão. Artistas começaram a procurar os calçados e Espedito resolveu diversificar: começou a produzir sandálias da Maria Bonita, um modelo mais delicado em homenagem à mulher do rei do cangaço, bolsas, carteiras, cintos, botas, cadeiras, molduras para espelhos e até luminárias, tudo no couro colorido vivo que virou a marca registrada do seleiro.

Eu quero ficar do jeito que eu comecei. A vida só é boa quando você se conforma com ela

A família, unida em uma associação com 22 pessoas que formam o corpo de funcionários, produz entre 200 e 300 pares de sandálias por mês.

Em 2006, ele foi convidado para fazer os calçados que a grife Cavalera usou no desfile de verão da São Paulo Fashion Week e causou burburinho no mundo da moda. Virou queridinho também entre os figurinistas de novelas e filmes, onde se tornou referência quando se retrata o cangaço. Às vezes, um ou outro artista famoso aparece de surpresa na oficina e a loja que ele abriu do outro lado da rua para organizar as vendas virou parada obrigatória dos guias turísticos da região, que trazem carros cheios, inclusive com estrangeiros.

O sucesso, no entanto, não o deslumbra. Apesar das reiteradas propostas que recebeu para montar uma fábrica de sapatos, ele não quer abandonar a manufatura. Muito menos Nova Olinda. No próximo mês de outubro, Espedito inaugurará em um anexo da oficina o Museu do Couro, que contará a história dos vaqueiros, da cultura nordestina e das peças usadas na região, incluindo a primeira sandália feita para Alemberg e a máquina de costura manual, que era do avó dele, onde o pai teria feito a peça para Lampião.

“O que eu acho bom na vida é isso aqui. É por isso que eu tenho 74 anos, mas só tenho mesmo é 18. Porque eu só faço o que eu gosto. Se der para eu ganhar 1.000 reais eu ganho. Se não der, eu ganho 100. Eu quero ficar do jeito que eu comecei. A vida só é boa quando você se conforma com ela.”

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