José Ribamar
Alves
Histórias e
mais histórias surgem do seio inquietante da sociedade todos os dias. E numa
cidadezinha de apenas dez mil habitantes, mais ou menos, chamada Volta das
Cruzes, morava numa dessas casas sem número, um casal desfavorecido, conhecido
por João e Eva.
Ambos,
presenteados por Deus, com uma linda criança, luz e alegria para o casal e toda
vizinhança.
O presente de
Deus chama-se Núbia dos Santos Videla.
E ao
decorrer dos anos, Núbia fora ficando cada vez mais bela, mas tão bela ao ponto
de causar admiração nos moradores daquela pequena cidade.
E ao fazer
dezesseis anos, Núbia despertou num jovem que continha a mesma idade, uma
paixão tão forte que só não percebia quem não fosse capaz de amar alguém.
O jovem
chamava-se Wladimir Silva dos Reis, um lançador de olhares e apaixonantes,
capazes de desencadear em Nubia, sentimentos semelhantes, tórridos e
incontroláveis.
A jovem moça
sentindo não caber mais em seu âmago aquele sentimento avassalador, resolvera
escrever um bilhete ao jovem Wladimir, subestimando o seu querer e assim
dizendo:
Wladimir, em
três dias ou tu me roubas ou nunca mais me terás.
E no prazo
decretado pela dona da beldade admirada na cidade, Wladimir assim o fez.
Os pais
daquela encantadora jovem ficaram atônitos à procura de razões que os fizessem
compreenderem o acontecido.
Mas, após dois
meses, Wladimir usara da pior de todas as intenções para com sua apaixonada
Núbia, partindo para São Paulo, deixando-a grávida e desassistida.
Rejeitada
pelos próprios pais, Núbia passou a depender de favores, vivendo na casa de um
e de outro, até seu filho desocupar seu ventre e dá o ar da graça.
Porém, no dia
em que ela deu a luz ao seu filho, Deus enviou ao hospital, um casal
interessando no menino para criá-lo e, vendo-se aquela pobre mãe sem condições
de sustentá-lo, resolvera abrir mão do amado filho.
Júnior Babosa
Mesquita sargento renomado e Ana Dutra Mesquita, que estavam a
passeio pela cidade, acatando a doação, levaram o menino com eles para morar em
São Paulo, no intuito de criá-lo e educá-lo.
E, chegando
ambos em São Paulo, registraram o menino como sendo seu próprio filho, com o
nome de Mesquita Júnior.
Mesquita
Júnior ao fazer sete anos de idade começou a estudar em um colégio especial,
reservado para os filhos dos agentes federais.
O menino havia
nascido agraciado por Deus, com a divina vocação para o estudo e, sem repetir,
todo ano passava nas provas do colégio.
Aos dezesseis
anos, concluindo o segundo grau, sentia ainda maior a vontade de estudar e
vencer na vida.
Depois que
passou no vestibular, optou por estudar “direito” e não encontrando dificuldade
alguma, antes do esperado, formou-se juiz, chefe da 1ª vara criminal da grande
São Paulo.
Após quatro
anos no cargo, o juiz Mesquita Junior conhecera Bruna Salém, uma promotora
simpática, bonita e atraente, que prendera-se de imediato aos olhares do jovem
juiz e, casando-se ambos, depois,
tiveram necessidade de contratar alguém para cuidar dos afazeres
domésticos, por serem eles muito atarefados.
E, no mesmo
mês, Bruna telefonou para uma parenta que morava no Nordeste e,
durante as conversações a intermediadora informou para Bruna, que conhecia
alguém e, seria uma mulher separada do marido, disponível e de alta confiança
que poderia aceitar o trabalho.
Então, Bruna
solicitou que sua parenta se encarregasse de contratá-la
e de fazê-la
chegar à sua residência em São Paulo.
E de imediato,
Núbia ao receber a oferta de trabalho, não pensou duas vezes!
Talvez
pensando ela na possibilidade de conseguir encontrar seu filho por lá, já que
os pais adotivos nunca haviam te mandado notícias do seu filho.
E, carregando
nas costas suas quarenta e oito primaveras e várias arroubas de esperanças de
tudo dar certo, partiu dona Núbia com destino ao Sul do país.
Finalmente
chega à casa da promotora Bruna, a esperançosa, a mãe que doara seu filho por
necessidade.
Somente o
destino sabia da surpresa que havia preparado para todos.
Ao conquistar
a simpatia de Bruna Salém e Mesquita Júnior, Núbia deixava cair dos seus olhos
pela casa toda, pingos de alegria e de felicidades.
Ah, que ironia
do destino, o que ela não imaginaria é que estaria trabalhando na casa do
próprio filho e para sua própria nora.
Foram se
passando dias e mais dias, horas e mais horas, noites e mais noites, até que em
um determinado momento, Núbia vai com os patrões almoçar na casa dos pais de
Mesquita Júnior, e ao chegarem à mansão ela dá de cara com o sargento Júnior
Mesquita e dona Eva pais adotivos do juiz.
Dona Eva, ao
vê-la ficou pasmada, como se tivesse visto uma visagem e recobrando os ânimos,
pergunta?
- O que fazes aqui?
Núbia
responde:
- Estou trabalhando na residência de dona Bruna Salém!
E o sargento
Júnior Tabosa, sentiu-se como se estivesse num cadafalso sem sentir seus pés
tocarem o chão.
Mesquita
Júnior, nesta hora indagou?
O que houve, meus pais? Por que agiram de tal forma
quando viram dona Nubia?
Neste momento
o mistério já começava a pegar seus panos de “bunda” para ceder o lugar para a
verdade.
Dona Eva
ajoelha-se perante o filho e pede-lhe perdão, dizendo:
- Filho, esta
senhora que trabalha em sua casa é sua legítima mãe! Ela nos doou
você, porque seu pai verdadeiro a deixou antes de você nascer, sem nunca mais
dar-lhe sequer notícias. Eu e seu pai
te registramos como filho verdadeiro, na melhor das intenções possíveis, pelo
amor que sentimos por Ti, assim que te vimos naquele hospital.
O silêncio
neste instante apossa-se de tudo e de todos, mas uma voz afinada pela
intelectualidade e ritmada pelo senso da prudência e da sabedoria, fala:
- Mãe, minha
amada mãe, abraça-me com todos os direitos que te assistem, no entanto, mãe, de
agora em diante serás com igualdade tratada nesta casa e em minha residência
onde trabalhaste até hoje pela manhã.
Dias depois, Núbia escuta o filho dizer para a esposa Bruna:
- Amor, hoje condenei um senhor a
trinta anos de prisão; um homem chamado Wladimir Silva dos Reis, um nordestino
que matou seu próprio patrão.
Respirou bem
fundo, Núbia sua mãe e disse:
- Filho, o homem que condenaste é seu legítimo pai;
- Como assim? Pergunta o filho um pouco surpreso!
Afirma sua
mãe:
- Ele quando me abandonou veio para São Paulo e é exatamente Wladimir Silva
dos Reis, o nome dele.
Diz Mesquita:
- Sinto muito, mãe, eu não sabia e se soubesse não poderia ter deixado de cumprir
com o meu dever, pois foi para ser justamente juiz, que estudei para me manter
no cumprimento da lei.
E, certo dia
depois foram todos visitar o pai condenado pelo filho e, ao ficar frente a
frente com Wladimir, disse Núbia apontando para o juiz;
- Este é o filho que você
abandonou ainda no meu ventre, e foi ele que descreveu sua sentença, mas sem
saber que condenava o próprio pai.
Daí para
frente, Wladimir passou a ser visitado pela ex-mulher, pelo filho e pela nora
que ia vê-lo para não desapontar seu esposo, não fosse por
isso, ela não iria vê-lo nem para ganhar um trem carregado de diamantes
lapidados.
(Essa minha
história já fora publicada em cordel, por mim em 2001).
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
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