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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ADUTORA JERÔNIMO ROSADO – RIO ASSU PARA MOSSORÓ E SERRA DO MEL


Jerônimo Rosado teve 21 filhos de dois casamentos, sendo três do primeiro, com dona Maria Amélia Henrique Maia e 18 do segundo, com dona Isaura, irmã de dona Maria Amélia. Nascido em Pombal, na Paraíba, a 8 de dezembro de 1861, sendo filho legítimo do português Jerônimo Ribeiro Rosado e da paraibana Vicência Maria da Conceição. Órfão de pai aos 10 anos de idade, foi morar em Catolé do Rocha, também na Paraíba. Fez o curso de Humanidades na capital do Estado, ingressando em 1886 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se diplomou em Farmácia dois anos depois. Foi prefeito de Mossoró em 1917. Faleceu em Mossoró em 25 de novembro de 1930
Homem de temperamento calmo, tornava-se feroz quando o assunto era o abastecimento d'água de Mossoró. Era quase uma obsessão. Passou anos observando o horizonte, medindo as chuvas e tomando notas. Sabia da necessidade de água da cidade. Sua preocupação máxima era dotar Mossoró de um sistema eficiente de abastecimento d'água potável. O primeiro passo dessa luta foi à construção das barragens submersíveis no rio Mossoró. Mas não era suficiente para uma cidade que crescia a olhos vivos. Precisava de mais água. Idealizou então o Açude Taboleiro Grande, por entender que o abastecimento da cidade só poderia ter por fonte um grande reservatório. Não conseguiu ver seu sonho realizado, mas sua luta não foi em vão. Em maio 1999, o governo do Estado do Rio Grande do Norte, tendo à frente o governador Garibaldi Alves Filho, entrega a Mossoró uma adutora, que trazendo água do rio Assu, abastece finalmente Mossoró do precioso líquido, que custou a importância de 40 milhões, com uma extensão de 123.40 quilômetros, com uma vazão de 373 litros por segundo. E muito justamente homenageia o homem que mais lutou pela "Batalha da Água" de Mossoró, denominando a obra de "Adutora Jerônimo Rosado".

Extraído do blog: Sistema de Abastecimento de Água

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UM HOMEM MULTIFACETADO - 14 de Janeiro de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Jerônimo Rosado nasceu em Pombal/PB, a 8 de dezembro de 1861, sendo filho legítimo do português Jerônimo Ribeiro Rosado e da paraibana Vicência Maria da Conceição. Órfão de pai aos 10 anos de idade, foi morar em Catolé do Rocha/PB. Fez o curso de Humanidades na capital do Estado, ingressando em 1886 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se diplomou em Farmácia dois anos depois.
               
Em 1889 volta para Catolé do Rocha onde instalou sua farmácia. No ano seguinte, atendendo convite do Médico Francisco Pinheiro de Almeida Castro, vai para Mossoró estabelecendo-se com uma Farmácia e Drogaria na Rua do Graf. E nos quarenta anos que se seguiu, pouco ou nada se fez em Mossoró que não tivesse a participação de “Seu Rosado”.
     

Iniciou sua vida política em 1908 quando foi eleito para a Intendência, uma espécie de Câmara Municipal da época. No Governo do Dr. Alberto Maranhão foi nomeado 2º Juiz Distrital para o triênio 1911/1913. Ocupou a Presidência da Intendência no período de 1917/1919, cargo que corresponderia hoje ao de Prefeito. Foi eleito mais uma vez Intendente para o período de 1920/1922. Vários dos seus filhos foram contagiados pela política, sendo que três deles tiveram maior projeção: Dix-sept chegou a Governador do Estado, morrendo em um desastre de avião em 1951; Dix-huit foi Senador e prefeito de Mossoró por três vezes e Vingt Rosado foi Deputado federal por seis mandatos. Seu Rosado foi também professor. Lecionou Física e Química no Colégio Sete de Setembro, colégio que por seu intermédio veio a se instalar em Mossoró. Foi fundador da indústria de gipsita no Brasil. Exerceu o cargo de Coletor Federal, a partir de 1922 até o seu falecimento. Pertencia à Loja Maçônica “24 de junho”, que reunia os pedreiros livres de Mossoró.
               
Jerônimo Rosado faleceu em 25 de novembro de 1930, aos 69 anos de idade, na cidade de Mossoró, deixando como legado uma prole “numerosa e numerada”, como costumava dizer o último dos seus filhos, o agrônomo Vingt-un Rosado. 



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É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fonte:
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CNBB NE2 Falecimento de Dom José Freire de Oliveira Neto - Nota do Regional Nordeste 2 da CNBB



"Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado quando fizeste a tua bela profissão de fé diante de muitas testemunhas.” (1Tm 6,12)

O Regional Nordeste 2 da CNBB agradece a Deus o dom da vida, a vocação sacerdotal e o ministério episcopal de Dom José Freire de Oliveira Neto. Por muitos e proveitosos anos, exerceu o ofício de Bispo Diocesano de Mossoró, vivenciou a fraternidade e exercitou a colegialidade episcopal no Regional Nordeste 2, servindo-o, particularmente, como Bispo referencial da Pastoral da Catequese, com reconhecida competência e dedicação.Esgotada a face terrestre de sua existência, possa Dom José Freire “saborear a suavidade da presença do Senhor e contemplá-lo no seu templo.” (Sl 26,4).

Recife, 10 de janeiro de 2012
Dom Genival Saraiva de França 
Presidente do Regional NE 2


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Carismático, polêmico, querido: Christiano Câmara

Por: Aderbal Nogueira
 

 Ao longo do tempo, tive a oportunidade e a sorte de conhecer pessoas fantásticas, entre as quais a família SBEC , GECC e Cariri Cangaço. Tendo também outros agradáveis amigos, de trilhas, cinéfilos, de trabalho de Off Road, enfim, muita gente boa. Entre tantos amigos tem uma personalidade que muito me orgulha e do qual eu tenho a honra de ser amigo, que é o carismático, polêmico, querido e, muitas vezes, incompreendido CHRISTIANO CÂMARA. 

Sempre que posso levo os amigos a conhecer tão agradável figura, juntamente com sua querida e amável esposa , Dona Dovina. Na minha mais recente visita estavam comigo os confrades Pedro Luís, Afrânio 'Marmita' e Tomaz Cisne. Durante essa visita fiz o convite a Christiano Câmara para que ele nos brindasse com uma palestra, no que ele aceitou com um pouco de receio. Afinal de contas, lá só tem cabra da peste.  O tema sugerido por ele foi " A HISTÓRIA E A MÚSICA", no que acho que melhor não poderia ser.

Convidamos todos os amigos, desde os daqui até aqueles dos locais mais distantes do Brasil, a se fazerem presentes. Vai ser uma oportunidade como poucas. Garanto que ninguém vai se arrepender. Só posso garantir que vamos rir muito, aprender bastante e nos deliciar com uma pessoa simplesmente EXTRAORDINÁRIA. No vídeo acima uma 'palinha' do que nos espera. Quanto a data da Palestra vamos informar a todos através do blog do Cariri Cangaço.

Aderbal Nogueira
Diretor do GECC, Conselheiro Cariri Cangaço
Sócio da SBEC

Extraído do Cariri Cangaço
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Diário de um massacre -

Tenente Geminiano - 
Foto: Antonio Amaury e Luiz Ruben, in "Lampião e as Cabeças Cortadas, pg 87 .

Relatório do ten. Geminiano sobre o ataque de Lampião a Queimadas

Documento transcrito em grafia da época por Rubens Antonio (*).

Relatório do Capitão José Galdino de Souza, de Senhor do Bonfim sobre Relatório do tenente Geminiano José dos Santos, relativo ao Massacre de Queimadas, com transcrição daquele, encaminhando-o à Secretaria de Policia e Segurança Pública da Bahia. Peça importante para o entendimento deste evento referencial no Cangaço, relata, a partir do ponto-de-vista do tenente Geminiano, o massacre de Queimadas. Documento relevante, especialmente por o tenente Geminiano ter sido morto, mais tarde, em confronto com o bando do cangaceiro Lampeão. Conseguido por mim, em levantamento em arquivo de documentos da Polícia Militar da Bahia.

Capitão José galdino de Souza

Ao Exm° Sr. dr. Bernardino Madureira de Pinho
M.D. Secretario de Estado, Policia e Segurança Publica da Bahia

Divulgado o horrendo morticinio de 7 (sete) praças do destacamento da Villa de Queimadas, praticado pelo bando “Lampeão” em a tarde de 22 do expirante, ás 3,35 minutos da manhã de 23, em trem especial, fiz seguir áquella Villa, o 2° Tenente Geminiano José dos Santos para garantia e em uma incumbencia, tambem, de prestar informes sobre a chacina, cujo relatorio feito com o auxilio perspicas e intelligente do Sr. CPm. Médico Dr. Arthur Xavier da Costa, moço este, durante a minha acção nesta cidade muito vem concorrendo para a bôa ordem publica e incitamento de coragem aos camaradas cntra o banditismo que infelizmente vem demorar a sua extinção.

Na integra transcrevo a Vossa Excellencia o Relatorio que acima referi .

“relatorio apresentado ao capitão José Galdino de Souza, a rrepto da entrada de Lampeão em Queimadas, pelo tenente geminiano José dos Santos.
Illmo Sr. Capitão José Galdino de Souza, em conformidade com as vossas ordens afim de apurar as ocorrências da incursão de Lampeão em Queimadas no dia 22 de dezembro corrente tenho a dizer–vos que me transportei áquella Villa, trem especial ás 3,35 da manhã de 23, e lá chegando, procurei logo o Sr. Dr. Arlindo Simões que me historiou do facto e com o mesmo vos dei conhecimento pelo telegrapho do occorrido. Procurando em seguida o Dr. Manoel Hilario Nascimento, Juiz Preparador do Termo que me forneceu as informações seguintes: Em cerca de 3 horas e 40 minutos da tarde de domingo 22 treis individuos em trages de cangaceiro se dizendo mesmo caibras de Lampeão e que depois elle soube serem Marianno, Antonio de Engracia e Gavião invadiram a sua residencia exigindo pagamento em dinheiro; que á sua recusa elles responderam que nesse caso se considerasse preso e elle, reacção nenhuma podendo fazer, ficou á discrecção dos mesmos. Tempos depois entrou o proprio Lampeão com parte do seu grupo trazendo o sargento Commandante do Destacamento, que não foi logo por elle reconhecido pelo facto de se achar a paisana, o que elle fazia questão de accentuar pois era a primeira vez que via o sargento em trajes não militares.

Manoel Hilario Nascimento, Juiz.

A elle foi confiado, occasião, a guarda de todo o armamento do destacamento que ficou depositado em sua casa até a hora da saida, pela madrugada. Em seguinda o proprio Lampeão exigiu do Juiz preparador, mesmo de pyjama como se achava, a sahida á Rua afim de apresental–o as pessoas que podessem lhe fornecer dinheiro; que o Juiz reccusando sahir de pyjama por ser um autoridade e não lhe ficar isso bem o proprio Lampeão concordou em que fossem chamadas as pessoas em sua casa para ahi, determinar as quantias com que casa um devesse contribuir para o saque; que pelo proprio official de Justiça elle mandou chamar alguns negociantes cujos nomes eram tomados pelo proprio Lampeão sendo elle mesmo Lampeão quem prefixava a quantia. A proporção que cada negociante se apresentava, dava o nome e por sua vez o mesmo negociante ia indicando outros que podiam tambem entrar com dinheiro.

Obtidas essas informações do Juiz Preparador ouvi pessoas outras na localidade que me informaram, mais ou menos, o seguinte: Em as 15 horas de domingo 22 de dezembro foi visto um grupo atravessando o rio em canôa, grupo esse que pareceu a muita gente ser força Pernambucana; que dois ou treis delles se dirigiram logo a estação da estrada de ferro que foi fechada sendo preso o telegraphista; que Lampeão e mais cinco do seu grupo se dirigiram para o quartel onde surprehenderam o sargento e mais 5 praças sendo as duas restantes presas na rua e conduzidas ao quartel;... 

Sargento Evaristo Costa

Sargento Evaristo Costa 
Comandante do Destacamento de Queimadas, já em idade avançada.
Foto: Acervo de Rubens Antonio

...que o sargento Evaristo Carlos da Costa, commandante do destacamento lhe informou que só deu pela presença do grupo de Lampeão quando já habia galgado a escada que dá acesso para o Quartel estando os fuzis e a munição de reserva, em outro compartimento, não lhes foi possivel uma reacção dado o imprevisto da chegada. Informou mais, o sargento, com testemunho de outras pessoas da localidade que, Lampeão, recolhidos os soldados no mesmo xadrez, em que estavam os criminosos, os foram postos em liberdade, exigiu do sargento a entrega de armamento e da munição; que elle, mesmo sem poder fazer redução respondeu que não podia dar armamento e munição pois que estava sob guarda e delles era responsavel; que Lampeão respondeu que a responsabilidade delle tinha cessado, pois que naquelle dia, alli em Queimadas, elle Lampeão, era tudo – Chefe de Policia, Governadôr, tudo enfim; que em seguida perguntou–lhe se sabia onde era a casa do Juiz obrigando–o a ir com elle até lá, onde depoisitou o armamento já tendo sido a munição repartida entre os caibras, munição essa que era calculada em cerca de seiscentos cartuchos; que em casa do Juiz permaneceu longo tempo sempre guardado indo depois ao bar do Cirsio onde os caibras quizeram que elle bebesse; que á sua recusa lhe foi offerecida gazoza, que elle tomou por lhe ser impossivel reccusar; que nessa ocasião foi avisado de que a noite haveria um baile e que elle estava convidado para dansar; que, com a bebida, tambem recusou dizendo que nunca havia dansado ao que não insistiu; que em seguida levaram–no para a casa do sr. Amphiloquio Teixeira onde permaneceu longo tempo; que teve varias oportunidades dentre ellas se lembra da occasião em que estava na casa do Juiz, de fugir, mas não o fez por ser um ato de covardia embora estivesse certo de ir morrer sendo que uma das vezes pediu a um popular, seu conhecido, uma arma para suicidar–se idéa logo affastada pelo facto da difficil aquisição da arma; que viu varias pessoas confabulando em casa do dr. Amphilophio Teixeira com o bandido Marianno, seu principal guarda, sendo que uma daz vezes aquelle respondeu: – não, não sei. vou falar com o capitão mas acho difficil; que só depois veio a saber que esta confabulação tinha por fim a obtenção de sua liberdade, nem um pedido porem, tendo feito elle até então; que chegou Lampeão, cerca de 5 horas da tarde depois de conversar com pessoas da casa do dr. Amphilophio e com o proprio Marianno perguntou–lhe se elle sargento Evaristo não sabia que tudo que elle Lampeão prometia cumpria; que respondeu que já tinha ouvido fallar nisso; disse–lhe isto que tinha perdido um homem em Aboboras, a quem era tão grato que se matasse toda a Força Publica não lhe pagava o companheiro perdido e a quem lhe devia a vida. Em seguida Lampeão communicou–lhe que aberta para elle uma excepção coisa rara aliás, resolvendo não mais matal–o e que elle podia ficar á vontade que nada mais lhe aconteceria; que tendo Lampeão lhe communicado que ia fazer uma besteira no quartel e comprehendendo elle que isso significava a morte dos seus companheiros que estavam presos elle então disse a Lampeão: – vou lhe fazer o primeiro pedido, depois que eu estou preso; não desejo assistir a morte dos meus companheiros; ao que Lampeão lhe respondeu ser indifferente, que podia deixar de ir sendo–lhe exigida ainda a entrega de dois fardamentos kakis, que elle mesmo foi buscar em sua casa sendo esta mais uma das vezes em que não quiz fugir; que tão atordoado estava com os factos desta tarde que nem ouviu os estampidos dos varios tiros com que foram trucidados seus companheiros, só mais tarde, por occasião da saida do grupo foi que veio a saber da chacina havida. Pude apurar por informações da população e principalmente do Juiz Preparador que o sargento já havia dado provas de energia principalmente na occasiao da passagem de Curisco nas visinhanças de Queimadas quando queimou a Estação do Rio do Peixe e que com os proprios soldados era sempre energico mas não passava desapercebido á população o abandomno principalmente por parte das praças e que todos se admiram da facilidade do sargento nesse dia em que foi surprehendido por Lampeão.

Outras informações foram por mim colhidas e que embora não tenham grande ligação com a minha funcção não é de mais que as traga ao vosso conhecimento, antes porem digo devo informar–vos que os nossos companheiros ás cinco e treis quartos, mais ou menos, foram barbaramente trucidados por Lampeão e seu grupo tendo Lampeão da casa do Juiz, se feito acompanhar pelo carcereiro até ao Quartel; que lá chegou Lampeão e mais dois outros entraram acompanhados pelo carcereiro que recebeu ordens de abrir o xadrez; que o quartel, no tempo do occorrido entre a prisão e a chacina ficou sob a guarda de seis criminosos que foram soltos por Lampeão sendo dois delles praças comdemnadas, digo a espera do julgamento; que as praças no dia seguinte voltaram ao quartel mandando o Juiz já que ellas não quizeram fugir ficassem em liberdade e que os quatro criminosos evadiram–se; verdade dessas informações áquellas passadas no proprio officio do quarte, algumas dellas eu obtive dos proprios que foram testemunha de vista da chacina; que aberta a porta do xadrez pelo carcereiro Lampeão ordenou ao primeiro soldado que desceu a escada ... dois tiros na cabeça dados pelo bandido Antonio conhecido por Volta Secca em seguida sangrando o soldado quasi cadaver;...

"Volta Seca ", logo após a sua prisão.....Ainda, um menino

...que ao ouvir dois estampidos o carcereiro confessou não mais ter animo para abrir a porta do xadrez, sendo o proprio Lampeão quem, com um ferro levantou a lingueta da porta do xadrez deixando passar o segundo soldado que teve o mesmo castigo e assim todos os outros; que o proprio carcereiro foi empurrado por Marianno para ter a sorte que Lampeão não fez dizendo; que elle não era macaco e que tinha familia grande, que dahi se dirigiram á Pensão todos os dezoito do grupo, só o Ezequiel Ferreira, Ponto Fino, irmão de Lampeão não comeu se queixando de que tinha apanhado um resfriado havendo quem pense que elle esteja tuberculoso, pois confessou que estava muito doente e que precisava descançar; após o jantar que não pagaram e onde foram servidos por representantes de casas commerciaes da Bahia dirigiram–se para o Cinema onde forçaram o proprietario a dar uma secção cinematographica seguindo–se depois as dessas para o que convidaram varias familias da ocallidade; assim dançaram em a casa do Sr. Antonio Felix Baptista, na casa do Sr. Antonio Ferreira de Araujo, representante do Banco do Brasil e proprietario do Cinema e na Sociedade Recreio queimadense onde permaneceram até a hora de se movem cerca de duas e meia hora da manhã; que tanto durante a scção cinematographica e como durante as dansas, apenas tomaram parte 10 inclusive Lampeão, ficando os outros oito fiscalizando as immediações e até mesmo a Estação. em um quadro feito a lapis da Sociedade Recreio Queimadense, o proprio Lampeão traçou as seguintes palavras que transcrevo:

 “22 dezembro de 29,
Peço desculpe a o Governador Em eu Capm. Lampeão dar Este Paceio aqui em Queimada e asesti Em Um Senema lhe didio devera não Endoide Seu Governador Vitá Suór apois com Sua perseguição Estou engordando até penço que vou é mi cazar. 
Seu superior, Cap. Virgulino Ferreira Lampeão.”
– Convem accentuar, como homenagem á sua memoria para que sirva de estimulo que seus companheiros que o soldado Aristides Gabriel de Souza ao ser convidado por um dos bandidos para levantar o rosto porque ira morrer, Respondeu: – Vocês matem um homem, covardes, porque pegaram de surpreza seus descarados.–
deste ato de coragem que lhe valeu maior trucidamento do que seus companheiros, peço e indo communicar–vos que, por investigação pessoal do dr. Xavier Costa, que alli se achava no serviço de exhumação dos referidos cadaveres por ordem do Exm° Sr. dr. Secretario da Policia, fui informado que a p. da Pensão, Lampeão, em um momento do intima expansão disse ter assassinado Curisco porque estava se tornando muito altivo e ousado, o que parece ser uma verdade porque os seus companheiros de ataque á estação do Rio do Peixe estão todos com Lampeão não se fallando mais em Curisco.
Assim, cumprindo as vossas ordens declaro, ainda, como um preito de justiça, que para perfeito desempenho da minha missão contei com o auxilio valioso, em todas as investigações, como boa vontade do Sr. Capm. dr. Arthur Xavier da Costa, segundo vosso pedido a elle feito. 

Saudações
Cidade do Bonfim, 24 De Dezembro De 1929
(A) Tenente Geminiano José dos Santos.”
Respeitosas Saudações
Cidade do Bomfim, 25 de Dezembro de 1929
Capm. José Galdino de Souza

(*) Rubens Antonio - Mestre em Geologia, Artes Plásticas e História, entende-se como um Historiador Natural, com aspectos também de Filósofo Natural. Contato: historiageologica@gmail.com


Tem muito mais no Blog do Confrade Rubens
*A matéria foi enriquecida com foto


Bônus

Túmulos dos soldados Aristides e Justino no cemitério público de Queimadas.
Cortesia de Sérgio Dantas

Extraído do blog: Lampião Aceso
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VINTE E UM ANOS DE SAUDADES!

A última imagem, cheia de saúde, do rosto inesquecível do meu pai!

Acabara de comemorar seus 69 ano de idade, no dia 27 de dezembro daquele ano de 1990, e estava no quinto dia do Ano Novo que chegara, janeiro de 1991. Dentro do hospital fez uma festa para médicos, enfermeiros, funcionários, amigos que o visitavam, filhos e netos que o acompanharam na sua reclusão hospitalar. No dia 28, dia seguinte ao seu aniversário,  não pude comemorar o aniversário do meu filho Eduardo, não havia espírito para isso. O que temíamos estava prestes a se consumar.

Meu pai,  meu filho Eduardo (nos seus braços),
e Leonardo meu primeiro filho (1981)

Gostava dos netos, não soube o que era ser pai e o que era ser avô, separadamente. Só soube ser pai. Pai de todos. Preocupado com todos. Feliz por todos. Zangado com todos, quando era necessário, sem a menor cerimônia de não ser o pai. Para ele, eram todos filhos. O "cabresto" era dele, nem filho, nem netos ousavam desrespeitá-lo. Ele queria o certo, ele queria o bem, custasse o que custasse, não admitia uma família sem rumo, sem chefe, sem o cabeça. E o cabeça era ele. E gostava de dizer:

- Tenho muito medo do rumo que a família possa tomar depois que eu partir. Todo corpo precisa de uma cabeça. Não se dispersem, unidos serão mais fortes, a vida não é fácil!

Não fazia diferença entre netos. Os meus filhos, que moravam na capital, tinham dele a mesma atenção dada a filha de Leta minha irmã, a sua netinha Rosângela (Tinga), que ele criou como filha até certa idade.

Um pai- avô

Ah, o futuro sem ele! Foi demais admitir que ele existiria. Eu já imaginava como ia ser difícil manter de pé as promessas feitas, cumprir os desejos dele, não se afastar das suas recomendações, seguir os seus ensinamentos, atender aos seus apelos ...

Naquele 5 de janeiro de 1991, ao meio dia saímos da UNICORDIS, levando o seu corpo para se misturar ao pó da terra onde nasceu, mas não somente o corpo virou pó, também com ele foram sepultadas muitas esperanças, principalmente a sua esperança maior: A UNIÃO DA FAMÍLIA que, hoje, não passa de um corpo sem cabeça, o qual desgovernado segue, de Natal em Natal, de Ano Novo em Ano Novo, sofrendo desencontros - principalmente por se tratar de uma época em que, unidos ao redor do seu corpo enfermo, fizemos tantos juramentos em continuar levando a sério o que ele nos ensinou -  cometendo a falta de não desejar através de cinco palavras mágicas: FELIZ NATAL! FELIZ ANO NOVO! que, muitas vezes, são pronunciadas apenas para demonstrar civilidade e sociabilidade, mas nem por isso deixam de ter uma grande importância na vida de cada um de nós.

Inadmissível para ele: desunião, rejeição e indiferença entre os membros da família. Só me resta pedir desculpas, e pedir que, de onde estiver, e sei que está com Deus, rogue a Ele que lhe ajude a nos perdoar, dentro dos seus critérios de justiça, que tão bem soube usar quando viveu entre nós. 

Ajude-me, meu pai, a repassar os seus valores para a família que nasceu do meu casamento,  não permita que nenhum dos membros me desaponte. Daqui a 7 anos eu terei a mesma idade que o senhor tinha quando nos deixou, e seus bisnetos, Mariana, Gabriela e Antônio Carlos, (que o senhor não conheceu) estarão respectivamente com 16, 12 e 9 anos, quase a mesma idade que tinham seus netinhos, meus filhos, Leo, Dudu e Karlinha quando lhe perderam.



Nossa segunda geração, bisnetos seus e de Dona Anita, que também partiu junto com senhor para uma vigem sem volta.



Dona Anita (minha sogra, que faleceu no mesmo 5 de janeiro de 1991)
Eternas saudades dos seus filhos: Carlos e Lusa
e dos seus netinhos: Leo, Dudu e Karlinha

 Uma mensagem de Lusa Vilar ao seu saudoso pai.

ESTA POSTAGEM SE ENCONTRA NOS SEUS DOIS BLOGS:

RAÍZES E
21 ANOS DE SAUDADES

http://raizeslusavilar.blogspot.com/

http://faltadomeupai.blogspot.com/


VINTE E UM ANOS DE SAUDADES!


Obrigado a Lusa Vilar pela liberação do conteúdo, e ao escritor João de Sousa Lima por ter nos ajudado no envio do conteúdo através de e-mail.   


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No Cariri Cangaço tem - Missão Velha - a cachoeira e o torno de Lampião


Quem visita pela primeira vez o Cariri cearense se surpreende com o conjunto de belezas que ali se escondem. O município de Missão Velha; porta de entrada do cariri cearense; o mais novo anfitrião do CARIRI CANGAÇO; guarda verdadeiras pérolas, resultado da maravilhosa Providencia Divina; suas belezas naturais encantam a todos que por ali chegam. Os verdes canaviais, as inúmeras nascentes, as fontes de água límpida e as famosas Cachoeiras de Missão Velha.



Por essas bandas Virgulino passava boa parte do seu tempo de “descanso”, por aqui, dizem “que tinha amigos poderosos; 




Cel. Santana, Cel. Juvêncio, Cel. Isaias Arruda”.




Aqui também é a sede da Usina e Fundição Linard, com sua tecnologia de ponta em fundição e ferramentaria, tendo seu fundador Antônio Linard uma estória ou história, curiosa, em relação a Lampião e o primeiro torno que o referido empreendedor sertanejo adquiriu ainda nos idos da década de vinte para iniciar seus negócios. Venha conhecer as maravilhas de Missão Velha e a “história do Torno de Lampião” em setembro no CARIRI CANGAÇO, bem aqui no sul do Ceará.


I SEMINÁRIO CARIRI CANGAÇO
De 22 a 27 de Setembro de 2009
Crato, Juazeiro, Barbalha e Missão Velha.

Extraído do blog: "Lampião Aceso"
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O Terrível Ataque de Maranduba - Sergipe

Por: Paulo Moura
Paulo Moura, Cleonice, Ivanildo e Anildomá

Mais uma das refregas verificadas entre cangaceiros e volantes que figuram entre um dos maiores combates, no qual Lampião e seu bando foram os protagonistas, foi o de Maranduba/SE, ocorrido em Janeiro de 1932. 


Mais uma vez a estrela do cangaceiro e sua sagacidade brilharam mais alto e o bando de Virgulino destroçou física e moralmente as duas forças volantes, uma de Pernambuco, a de 


Mané Neto, outra, do Capitão Liberato de Carvalho, da Bahia. Este combate vitimou os cangaceiros: Sabonete, Quina Quina e Catingueira; e os soldados: Elias Marques, da volante baiana. Edelgicio Novais, Ercílio Novais, Sgt. Joao Cavalcanti, Antonio Benedito, Pedrinho e Manoel Ventura, estes da parte dos Nazarenos, do estado de Pernambuco, em 8 ou 9 de janeiro de 1932.

Visitamos a pia onde o tenente Mané Neto fez pouso e descobriu dali, onde estava o bando de cangaceiros, embaixo de alguns umbuzeiros, árvore frondosa e de bom fruto, que formava um semicírculo, envolvendo esta Pia. O que o tenente não contava era com a vasta experiência do rei do cangaço que havia espalhado seu grupo em torno dos sete umbuzeiros que fazem essa meia lua em torno da pia. Na refrega as forças se atrapalharam culminando com o azar de a força retardatária, a da Bahia, atirar contra a Pernambucana, que já estava no campo de luta. A volante estacionada se viu, então, envolvida entre dois fogos, o dos bandidos e o dos próprios companheiros. Esse combate, pelo menos em Sergipe, foi considerado o mais violento, tanto em nímero de mortos quanto em desgaste moral, inclusive para a volante Pernambucana, que era composta pelos Nazarenos e que, nessa luta perderam praticamente uma família inteira.

Paulo Moura
Recife- PE

Extraído do blog: "Cariri Cangaço"
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Matéria da revista de História da biblioteca nacional

 Por Adriano Belisário
Escritor João de Sousa Lima

Rosas do cangaço
João de Sousa Lima lança livro sobre Maria Bonita e critica o descaso com a preservação da memória deste episódio histórico.

 
Edição nº 53, Fevereiro 2010

Andarilho do sertão, João de Sousa Lima já colheu inúmeras histórias sobre o cangaço em seus 15 anos de pesquisa sobre o tema. Focando nos depoimentos orais, o historiador entrevistou moradores da região que conviveram de perto com personagens míticos do banditismo nordestino, como Lampião e Maria Bonita, tema de seu último livro.

Recém-lançada, a obra ‘Maria Bonita - Diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço’ reúne textos de João de Sousa e outros autores, que trazem fatos inéditos e análises sociológicas e linguísticas sobre o cangaço. Um dos objetivos é desfazer alguns dos equívocos que cercam a imagem de Virgulino Ferreira e sua esposa, como a história sobre um campo de futebol que teria sido construído por Lampião no Raso da Catarina (BA). “Foi um historiador que encontrou um campo de pouso feito pelo Petrobras nos anos 60 para exploração de petróleo e disse que Lampião jogava bola lá sem nenhum fundamento”, explica.


Apesar de Maria Bonita atrair os holofotes, João de Sousa também pesquisa sobre outras rosas do cangaço. Não foram poucas as mulheres que se entregaram à vida nômade no sertão e mostraram que nem só de bala, sangue e poeira foi feita esta história. É o caso de Durvinha, esposa de Virgínio, um dos mais belos cangaceiros.

“Depois que ele faleceu, ninguém sabia mais o que ela tinha feito. Saí em busca e a encontrei vivendo com Moreno em Minas Gerais. Ele era um companheiro leal de Virgínio e assumiu o bando de cangaceiros e a esposa do chefe após sua morte. Durvinha morreu apaixonada por Virgínio e Moreno não achava ruim, pois também o admirava”, relata João de Sousa.

Se Virgínio destacava-se por sua beleza entre os homens, o posto de Miss Cangaço poderia ir para Lídia Pereira de Souza, descrita como a mais bonita dentre as mulheres do sertão naquela época. Ao conhecer um irmão de Lídia, ainda vivo, João de Sousa chegou perto de revelar ao mundo o rosto da mais bela cangaceira. “Ele me deu um baú que poderia ter fotos dela, mas estava tudo carcomido por cupins. Chegamos tarde demais”, lamenta o historiador, que irá transferir todo acervo de sua pesquisa sobre o assunto para o Museu Regional do Sertão, a ser inaugurado por volta de 2012 na cidade de Paulo Afonso (BA).

Enquanto o Museu não sai, o historiador filma um curta-metragem acerca do assunto e organiza este ano o II Seminário Internacional sobre 

Esta imagem não consta na matéria original, foi gentilmente escaneada pelo reverendo Ivanildo Silveira para ilustrá-la.


Maria Bonita, uma espécie de preparativo para a terceira edição, que ocorre em 2011, centenário do nascimento de Maria Bonita. Porém, sem um grande reconhecimento público da importância de preservar a história do cangaço, esta conservação é feita através de iniciativas isoladas e limitadas, como se vê no caso da fotografia de Lídia Pereira. “Se tivessem mais pessoas envolvidas nisto, a história do Brasil ganharia muito mais”, aposta João de Sousa.

Extraído do Blog: Lampião Aceso

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A CAÇA E O CAÇADOR: UMA FÁBULA DA SOBREVIVÊNCIA

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

A CAÇA E O CAÇADOR: UMA FÁBULA DA SOBREVIVÊNCIA

Num tempo não muito distante, quando as matas já não escondiam dentro de si muitas espécies de animais e cada vez mais os que restavam eram ameaçados pelo progresso, pela exploração desenfreada, pela captura de aves e bichos em extinção para o comércio clandestino das espécies, aconteceu um fato deveras impressionante.
Eis que num sertão longínquo, mas nem por isso com a mataria menos afetada do que em outras regiões, vivia um povo empobrecido que tinha na caça e na pesca fontes essenciais de sobrevivência. Plantavam quando podiam, colhiam quando a chuva fazia brotar e verdejar, se alimentavam quando a safra permitia.
Contudo, muitas vezes não nascia nenhuma planta no chão, faltava o alimento, o de comer. Sem o milho, o feijão, a abóbora, a melancia, a fava, o feijão de corda, o maxixe e o quiabo não havia como alimentar a família numerosa. E quando isso acontecia – e fato muito freqüente de acontecer – o sertanejo não encontrava outra saída a não ser se embrenhar nas veredas em busca de beira de rio ou nas matas em busca de caça.
Mas rio era muito longe, e agora quase sem peixe diante de tantas represas que foram sendo construídas por todo o seu leito. Já a mata ficava adiante e além, porém também com um problema já conhecido e constantemente debatido por todos: também quase que não havia mais caça. Acabou a cotia, a nambu, a seriema, a codorna, o veado, o caititu, a galinha d’água, o camaleão, a lebre, o bicho, o bicho, tudo.
Coisa difícil de se resolver. O problema é que não havia saída, pois ou ia arriscar caçar qualquer coisa ou os barrigudinhos se danavam a chorar e até corriam o risco de adormecer de barriga vazia. Se adormecessem! Então juntou a espingarda, o cantil, o embornal e se danou por dentro da mataria já rala, espessa, empobrecida e feia. Dificilmente bicho achava lugar pra se esconder nela.
Andou de um lado a outro, léguas e léguas, cansou e não achou nem sombra de uma caça. Sentou numa pedra e entristecido começou a chorar porque voltaria pra casa sem levar nada pra matar a fome dos meninos. Mas de repente ouviu um farfalhar nas folhagens e o som de alguma coisa que logo imaginou ser uma caça. Levantou rapidamente, preparou a arma e assim que ia disparar cegamente em direção à moita ouviu uma voz:
“Calma, por que tanta pressa em me matar? Sou eu, a cotia silvestre, talvez a última, mas ainda estou por aqui e à mercê da sanha assassinada do caçador. Talvez não queira lembrar, mas você mesmo e outros amigos mataram os meus pais, os meus irmãos, os meus primos. E antes disso outros já haviam acabado com meus avôs e toda a linhagem. Restei para sofrer de saudade e esperar que esse momento chegasse. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde esse momento chegaria, pois quase não existem mais por aqui outras espécies e vocês continuam caçando cada vez mais...”.
E o caçador, baixando a arma por um instante, e como se realmente falasse com gente, afirmou: “Mas é que lá em casa não tem de comer nenhum, não tem um só grão na panela nem um taco de pão por cima da mesa e os meus meninos estão de barriga vazia. Sei que a mata tá difícil de caça mesmo, mas num tive jeito senão vim tentar derrubar qualquer bicho que sirva pra assar ou cozinhar...”.
“Mas que situação a de nós todos, amigo caçador. Olhe ao redor e veja essa mata esturricada de seca, os barreiros todos sem um pingo d’água, nada pra matar a sede nem alimentar. Igualmente à sua família, principalmente seus filhos, eu também estou com fome e sede. Seus filhos ainda tem um pai que se preocupa com eles, ainda que tentando matar a gente. E eu, que nem família tenho mais por causa de vocês que entraram aqui e deixaram a natureza de luto? Mas como eu já vivi muito, estou realmente um tanto envelhecida, e os seus filhinhos ainda pequeninos, então não vou achar ruim se apontar essa arma pra mim e atirar. Vou me aproximar mais pra você não errar o disparo. Tá certo?”.
E então a cotia saiu detrás da moita e se mostrou inteira diante do caçador. Era tão bonita, com um pelo tão sedoso, porém com uns olhos tão entristecidos que parecia chorar por dentro. O homem não teve coragem de apontar a arma e começou a chorar novamente. “Mas por que chora meu bom caçador? Estou somente esperando ser acertada para me tornar no prato do dia de sua família. Vamos, pense neles e atire...”.
De repente o caçador se virou e sem se despedir tomou o caminho de volta, de cabeça baixa, pensando no que fazer quando chegasse em casa. Empurrou a pequena cancela, mas quando se voltou para dar um nó na corda que servia de cadeado enxergou a cotia logo atrás. Espantado, nem teve tempo de dizer nada diante da pressa dela em falar:
“Já que você preservou a minha vida, tive uma ideia que talvez possa lhe ajudar, mas infelizmente não é coisa que possa arranjar comida ainda pra hoje. É o seguinte...”. E foi explicando tudo.
Durante o resto do dia, entretidos com a cotia falante, os meninos nem lembraram a barriga vazia nem de chorar pedindo comida. Mas no outro dia, logo cedinho, o homem saiu acompanhado com o animal para a feira da cidade. E juntou tanto dinheiro com a apresentação da cotia falante que deu pra fazer a feira do mês inteiro.
E ainda na boquinha da noite desse dia ela se despediu de todos e foi embora pra sua mata. O trato também havia sido esse. Porém, assim que entrou no mato, não demorou muito e se ouviu um disparo. Outro caçador havia alcançado a falante em cheio.


Rangel Alves da Costa*
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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Maria Bonita: a mulher e o nome Parte II

Por: Frederico Pernambucano de Mello
Getúlio Vargas

O Estado Novo, de Getúlio Vargas, estava determinado a eliminar todos os “estadualismos anacrônicos” ainda ativos na periferia do Brasil. Os focos derradeiros de insurgência coletiva ligados ao mágico e ao heroico popular, a que a ditadura Vargas satanizava por igual, sob as denominações oficiais de “fanatismo” e de “banditismo”. Um ano antes, o melhor jornal do Nordeste no período, o Diário de Pernambuco, deixava patente esse luxo fora da lei, publicando foto de Maria Bonita em composição digna de François Boucher, sentada elegantemente em clareira da caatinga, vestido de domingo em linho azul claro pincelado de riscas – um tenue de ville, como requintou o repórter - cabelos assentados em “pastinha”, presos por broches de ouro, várias voltas ao pescoço do mesmo metal, tendo ao pé os cachorros famosos do marido, Guarani e Ligeiro, tudo sob a manchete explosiva: “Maria do Capitão – a Madame Pompadour do Cangaço”.
Não teria ido além dos 27 anos de vida a mais famosa vivandeira do Brasil, a quem a história acendeu uma vela no dia 8 de março último, julgando assinalar os cem anos de seu nascimento. Acendeu por engano, ao que se constata no momento, a data festejada parecendo não ser a verdadeira. No vazio de registro escrito, que persistiu até meses atrás, esse 8 de março teria prosperado com base no testemunho de parentes, fonte reconhecidamente precária quando se trata de datas. Para não falar do caráter confuso e pouco explicado desse testemunho. Contra o qual se insurge agora o resultado de levantamento feito há pouco no arquivo da Diocese de Jeremoabo, Bahia, pelo sociólogo Voldi Ribeiro, auxiliado pelo padre Celso Anunciação, que deu como resultado a descoberta do batistério da cangaceira-mor. Documento que a torna mais velha em pouco mais de um ano, vez que nascida aos 17 de janeiro de 1910, ao que reza o papel da sacristia amarelecido pelo tempo. Teria morrido, assim, com 28 anos e seis meses de idade, naquele 28 de julho de 1938, para os que apreciam as exatidões. E conseguido negar um pouquinho de idade para o marido famoso, como toda mulher que se preza...

Sociólogo Voldi Ribeiro e a nova data de nascimento da Maria mais famosa do sertão.

O pouco que se sabe de Maria Gomes Oliveira está aí. Resta a pergunta: e o apelido Maria Bonita - que engoliu inteiramente o nome de batismo e apelidos anteriores  nos meses finais da existência truncada - de onde teria vindo? Quem responde, afinal, pela cunhagem do cognome gigantesco, cada vez mais divulgado tanto nas letras científicas quanto nos escritos de arte, além de encerrar apelo poético à flor da pele?
É certo que a sujeição completa do nome pelo apelido se dá ainda em vida da Rainha do Cangaço, de maneira a não haver lugar para o Maria Gomes Oliveira, ou mesmo para cognomes anteriores, como Maria de Dona Déa, ou Maria de Déa de Zé Felipe, ou Maria do Capitão,  quando sobrevém a morte desta em 1938. A imprensa em peso, os jornais da região e do Sudeste, as agências de notícias de maior influência sobre a opinião pública do período, a exemplo da Nacional, da Meridional e da Estado, ignoram, em coro, o nome real em benefício do apelido sonoro que se impusera como um raio em apenas poucos meses. Um fenômeno de comunicação a ser compreendido. Vamos examiná-lo.
Para que não reste dúvida sobre a absorção repentina das designações anteriores pelo novo apelido, oferecemos abaixo a transcrição literal do telegrama histórico do tenente João Bezerra da Silva, o vitorioso do combate do Angico, dirigido ao coronel Teodoreto Camargo do Nascimento, comandante-geral do Regimento Policial Militar do Estado de Alagoas, e passado no mesmo dia do acontecimento extraordinário, não custa repetir, 28 de julho de 1938, em que o apelido Maria Bonita brilha isolado, com a suficiência das denominações já consagradas:

Piranhas -  n.  31  –   Pls.  81  –  Data   28  –  Hora  14  

Cmte Teodoreto – Maceió
Rejubilado vitória nossa força vg cumpre-me cientificar vossoria que hoje vg  conjuntamente volantes aspirante Ferreira  sargento Aniceto  vg  cercamos  Lampeão  no ugar  Angico no Estado Sergipe  vg o  tiroteio resultou morte nove bandidos duas bandidas inclusive Lampeão vg  Angelo Roque  vg  Luiz Pedro  vg  Maria Bonita  vg os quais  foram reconhecidos pt  Da volante   aspirante Ferreira  houve  baixa um  soldado  saindo outro ferido pt Tambem  me  encontro ferido pt  Saudações  Tenente João Bezerra – comte volante.

Não é outro o emprego que vamos encontrar no folheto A morte de Lampeão, de João Martins de Athayde, escrito em cima do acontecimento e vendido às grosas para todo o Nordeste, segundo nos revelou o antropólogo Valdemar Valente, frequentador da oficinazinha acanhada do poeta, nos estreitos da Rua Velha. Vejamos dois dos versos com que Athayde faz a crônica, a bem dizer instantânea, da morte da companheira de Lampião:

A tal Maria Bonita,
Amante de Lampião,
Sua cabeça está inteira,
Mostrando grande inchação,
Mas assim mesmo se via,
Uns traços da simpatia
Da cabocla do sertão.

Morreu Maria Bonita:
Que Deus tenha compaixão,
Perdoando os grandes crimes
Que ela fez pelo sertão,
Nos livre de outra desdita,
Que outra Maria Bonita
Não surja mais neste chão.

Vamos finalmente à revelação sobre a origem do apelido, em que o mérito da descoberta fica todo para o acaso, ao historiador se reservando somente o exame rigoroso da informação oral recebida, segundo a praxe da disciplina. Conversando em 1983 com o jornalista Ivanildo Souto Cunha, muito relacionado no Recife da época e homem sempre disposto a ajudar os amigos, ouvimos dele que era sobrinho do também jornalista e escritor  Melchiades da Rocha, natural de Sertãozinho, hoje Major Isidoro, no Estado de Alagoas. E que este, bem acima dos oitenta anos de idade, morava no Rio de Janeiro,  pouco saindo do apartamento que tinha no Flamengo, por ter a esposa perdido a vista.

Jornalista Melchiades da Rocha ao lado de Noratinho, da volante do fatídico cerco a Angico

Ao longo dos anos 30, Melchiades tinha sido um dos bons repórteres investigativos do jornal A Noite e da excelente revista semanal conexa a este, A Noite Ilustrada, do Rio de Janeiro, veículos de uma empresa de prestígio em todo o continente, que se manteve pujante até ser encampada pela ditadura de Getúlio Vargas, o chamado Estado Novo, em 1940, sob a alegação cavilosa de que o governo precisava de um jornal na situação de guerra que se abria na Europa.
Cortando a história para o que nos interessa, esclarecemos que Melchiades foi o primeiro repórter da grande imprensa brasileira a chegar à grota do Angico naquele final de julho de 1938, poucos dias passados apenas da morte de Lampião. Cadáveres ainda insepultos no leito de pedras do riacho do Ouro Fino, enegrecidos por um tapete de urubus ocupadíssimos. A viagem aérea, feita no trimotor Tupã, do Condor Syndicat alemão, se cumprira em dezesseis horas, computadas as escalas entre o Rio de Janeiro e Maceió. Com o que juntou na aventura de 1938, e mais o fundo de recordações sertanejas que tinha tido o cuidado de manter vivas desde quando deixara a terra natal em anos verdes, Melchiades publicou um livro muito interessante dois anos depois, a que deu o título de Bandoleiros das caatingas, no gênero que Danton Jobim viria a batizar de “reportagem retrospectiva”.
Era esse homem baixinho, animado como um esquilo, que tínhamos diante de nós naquele começo de manhã da primavera carioca de 1983. Uma fonte de primeira ordem, a se confirmar pela meticulosidade do conhecimento especializado que despejou sem parar na primeira hora de conversa. De monólogo, para ser preciso, em que aprendemos muito.
Num dado momento, levanta-se depressa, vai ao quarto e volta com uma fotografia do que poderíamos chamar de salão da grota do Angico, onde ficava a barraca do chefe e de sua mulher, debaixo de uma craibeira que não existe mais. No meio da cena, caída de barriga no chão e já sem a cabeça, cortada antes mesmo de se extinguir inteiramente o combate, aparecia o cadáver de Maria Bonita, metido em vestido bem curto.

“Está vendo, Frederico, mandei fazer essa chapa para mostrar o quanto ela era bem-feita, mesmo tendo seios pequenos e nádega um pouco batida”, agitou-se o velho jornalista, devolvido à emoção de quase sessenta anos passados. Foi quando respirou fundo e lançou a pergunta: “Você sabe como apareceu esse apelido Maria Bonita?”. E emendou, diante do nosso queixo caído: “Não apareceu no sertão, não. Foi coisa de repórteres daqui do Rio de Janeiro, mesmo. Eu  estava entre eles”. Um romance de sucesso, do começo do século, requentado em filme de longa-metragem lançado poucos meses antes do desmantelamento do bando de Lampião, eis a origem de tudo, corria a explicar.

Começava a ser revelado o mistério de tantos anos. Esclarecido principalmente o fenômeno de comunicação que impusera o apelido aos meios jornalísticos de modo completo e em apenas poucos dias. Um conluio tácito entre jornalistas jovens, sem propósito definido, salvo o de simplificar a informação nas redações, a vincular algumas das cabeças mais ativas da imprensa brasileira do período, nucleada no Rio de Janeiro. De volta ao Recife, cuidamos de examinar as pistas deixadas por Melchiades.

Afrânio Peixoto

O romance Maria Bonita, aparecido em 1914, reforçara a fama repentina do baiano Júlio Afrânio Peixoto, tornando-o conhecido nacionalmente. Era de Lençóis, na região das Lavras Diamantinas, do ano de 1876, vindo a se criar em Canavieiras, às margens do rio Pardo. Em Salvador, muito cedo Afrânio Peixoto se fizera médico, romancista, dramaturgo,  ensaísta, historiador,  professor, crítico literário, chegando a deputado federal por seu Estado. Morava no Rio de Janeiro desde a virada do século XIX para o XX, onde a Academia Brasileira de Letras irá buscá-lo  para fazer dele nada menos que o sucessor de Euclides da Cunha na cadeira de número sete, no ano de 1910.
Homem requintado no que escreveu, para bem compor o romance de estreia, A Esfinge, lançado em 1911, sentira a necessidade de conhecer pessoalmente o Egito, demorando-se  ali por semanas, sem perder a oportunidade de um olhar de estudos sobre os altos e baixos da Grécia. Ao morrer, em 1947, deixando obra extensa nas letras artísticas e científicas, o romance que nos interessa aqui, o Maria Bonita, tinha merecido ao menos oito edições oficiais ao longo de quatro décadas. E Maria Bonita dera nome a muita mocinha registrada em cartório no começo do século passado.


Bornal  e vestido que pertenciam a Rainha do Cangaço, tomado por morte, em 1938 - da  coleção pessoal do autor.

Como produção simbolista, a história da matutinha emigrada com a família dos sertões secos de Condeúbas para os brejos de Canavieiras consegue chegar aos anos 30 e 40 com apelo de leitura, depois de sobreviver às bordoadas da crítica moderna do meado dos anos 20. Não surpreende. Para além dos elementos regionais plantados meticulosamente na trama, a essência do romance nos põe diante de alguma coisa muito maior, resultante da transposição para o interior do Nordeste do mito universal da Helena de Troia. A mulher pura de pensamento e de conduta, que padece pela vida afora o ônus de uma beleza que enlouquece os homens, sem conseguir evitar que as maiores desgraças se abatam sobre as pessoas que lhe são mais caras.
A povoação do Jacarandá, entregue à vida simples do trato do cacau, da piaçava e dos diamantes, sendo  arrastada pelo destino de tragédia da Maria Bonita de Afrânio Peixoto, e findando por ser destruída ao modo de uma Troia cabocla fiel ao destino da original, pintada por Homero em alguns dos cantos mais inspirados da  Ilíada.

Está aí a história de Maria Gonçalves, a Maria Bonita da ficção brasileira, que findaria por batizar a outra Maria, a Gomes Oliveira, a Maria real da tragédia do cangaço. Para o que há de ter conspirado o retorno do nome à evidência, na circunstância do lançamento ruidoso da versão cinematográfica do livro, ocorrida em agosto de 1937, no Cinema Palácio, na Cinelândia, coração artístico do Rio de Janeiro à época.

Desde o mês de janeiro, a imprensa alimentava a curiosidade do público com flashes sucessivos a respeito do longa-metragem. Ao longo do ano, a nossa melhor revista especializada, a Cinearte, do Rio de Janeiro, traria matérias em cada uma de suas edições mensais, cobrindo os acontecimentos de antes e depois do lançamento. Fechada a ficha técnica, apressara-se em trazê-la ao público, nomeando o produtor, André Guiomard; o diretor, o fotógrafo de cinema francês Julien Mandel, assistido pelo pernambucano José Carlos Burle; o sonorizador, Moacir Fenelon; os dois galãs, Vítor Macedo e Plínio Monteiro; os atores Henrique Batista, Lila Olive, Júlio Zauro, Marques Filho, Ricardino Farias, Mário Gomes, Sérgio Schnoor, dentre outros; os dois compositores e cantores, ambos nordestinos, Augusto Calheiros, o Patativa do Norte, e Manezinho Araújo, o Rei da Embolada, trazendo para a película o prestígio de que desfrutavam no rádio. Por fim, a atriz do papel-título, a Maria Bonita do cinema, Eliana Angel, pseudônimo de Suely Bello.

 

Resta dizer que o projeto do filme sobre o romance de Afrânio Peixoto fora registrado, ainda nos anos 20, por certa Brazilian Southern Cross Productions, de Hollywood, com quem os realizadores de 1937 se entenderam, e que as locações foram feitas em Barra Mansa, Rio de Janeiro.Está aí o modo como foi batizada para a história a mulher de guerra mais representada simbolicamente pelo povo brasileiro até hoje. Ao contrário do que se deu com o vulgo de seu companheiro, o Lampião gigantesco, que parte da cultura popular sertaneja para ganhar o mundo, o apelido Maria Bonita nasce da cultura urbana, erudita e consagrada das academias - se bem que do esforço incessante destas por sintonizar com o Brasil em estado puro das periferias regionais – para somente depois invadir o sertão, já ganha a batalha pela opinião pública do Sudeste. Uma engenhosa viagem de volta que se cumpre, além de tudo, ao feitio do paradoxo que tanto encantava Oscar Wilde: a vida imitando a arte

Frederico Pernambucano de Mello
Historiador, Academia Pernambucana de Letras
Palestra lida no Museu do Estado de Pernambuco, Recife, a 14 de dezembro de 2011

NOTA CARIRI CANGAÇO: Gostaríamos de dizer de nossa felicidade em contar com a presença do pesquisador e historiador Frederico Pernambucano de Mello, em nossa página do cariricangaco.com ; sua gentileza em nos encaminhar a presente matéria como também algumas das fotografias que a ilustram são motivo de satisfação à toda familia Cariri Cangaço.

Extraído do blog: Cariri Cangaço

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