Por: Kydelmir Dantas(*)
Quando de uma
ida a cidade de Limoeiro do Norte - CE, em 26 de janeiro de 1994, conhecemos e
colhemos o depoimento de José Maia Guerreiro, então Diretor do Museu Histórico
Municipal, sobre a passagem do bando de Lampião após o ataque e a derrota de
seu bando em Mossoró no dia 13 de junho de 1927. Para nossa surpresa,
apareceram fatos inéditos com relação ao que encontramos relatados e/ou citados
na literatura lampionesca. Por exemplo: Na maioria dos livros relacionados ao
tema, ou que falam sobre o ataque de Lampião a Mossoró, as famosas fotos do
bando em Limoeiro são colocadas como de autoria de J. Octávio. Fotos estas
feitas ao lado de um prédio que faz esquina com a praça central daquela cidade.
Outra coisa é de que o bandido
O cangaceiro Massilon
Massilon Leite, ou Benevides, não está naquela
foto, como se vê grafado nos originais da mesma revelada pelo jornalista
citado. Portanto, vejamos o depoimento que a nós foi dado:
“- Massilon Leite se encontrava conversando num banco da Praça mais o seu amigo
Genésio Bezerra, quando foi convidado a participar do grupo que
estava se arrumando para sair nas fotografias, hoje conhecidas mundialmente, e
recusou-se. Disse que era muito conhecido no RN e que não queria sua cara em
fotografias para não ser perseguido pela Polícia ou por seus inimigos. Essas
palavras eu ouvi várias vezes da boca do próprio Genésio Bezerra.”
As fotos foram feitas, em 15 de junho de 1927, pelo fotógrafo Francisco Ribeiro
(Chico Ribeiro), que por não ter onde revelá-las levou a máquina até Mossoró,
onde o fotógrafo e jornalista José Octávio Pereira, que era dono do Laboratório
fotográfico, revelou-as; inclusive assinou nas mesmas.
O cangaceiro Jararaca
Qual a razão de Jararaca ter identificado Massilon nas fotos? Talvez por não
reconhecer, nele, algum de seus companheiros ou confundi-lo com alguém?
Há controvérsias a respeito desta afirmação.
Dr. Honório de Medeiros
Segundo o Dr. Francisco Honório de Medeiros Filho, que ora faz uma minuciosa
pesquisa sobre a Vida e Morte de Massilon Leite, em informação colhida junto à
Família deste, “Anésio, irmão mais novo, encontrou-se com Manoel Leite (o
Pinga-Fogo que esteve em Mossoró) em Imperatriz – MA, na década de 60, e, por
não ter conhecido o outro irmão, abordou-o com a famosa foto às mãos: ‘-
Manoel. Você pode identificar Massilon aqui?’ E este foi, de imediato, com o
dedo sobre a figura do irmão, o 5º ajoelhado, da esquerda para a direita, entre
Virgínio e Luiz Pedro, dizendo: - É este!”Para o Dr. Honório, com esta
afirmação, não há dúvidas sobre a presença de Massilon na foto.
Em Limoeiro Lampião e seu bando foram recebidos com festas, pelas maiores
autoridades locais, o prefeito, o padre e o juiz municipal. A Polícia se
ausentou, para evitar confronto. O jantar foi servido a
Lampião e seu bando no Hotel Lucas, hoje demolido para alargar uma das avenidas
da cidade, ao lado da Igreja Matriz.
Quem foi o fotógrafo responsável pelas fotos famosas, existentes no Museu
Histórico Lauro da Escóssia, em Mossoró? Ei-lo: Francisco Ribeiro de
Castro ou CHICO RIBEIRO, como era mais conhecido, foi quem fez as
duas fotos famosas do bando em Limoeiro do Norte, a 15 de junho de 1927. Sendo
apenas fotógrafo, trouxe os filmes para serem revelados em Mossoró; este
serviço foi feito no laboratório do Atelier Octávio. Como o laboratarista fez
anotações nos negativos revelados e os assinou, até hoje, em quase todos os
livros que estas fotos aparecem, dá-se crédito das mesmas ao jornalista José
Octávio.
E o jornalista que assinou as fotos?
José Octávio Pereira Lima – (1895 – 1958), poeta, fotógrafo,
diretor-proprietário do “Correio do Povo”, foi o responsável pelo trabalho
de revelação e reprodução do documentário fotográfico feito por Chico
Rodrigues, acima mencionado. Além das fotos que foram colhidas em Limoeiro, que
ele levou ao cangaceiro Jararaca (José Leite de Santana) para identificar seus
companheiros e grafou a data de 16 de junho daquele ano, J. Octávio foi também
o responsável pelas outras que fez de Jararaca e outros cangaceiros que por
aqui estiveram detidos. Deixou, assim, um preciosíssimo documentário
iconográfico do famigerado bando.
Graças ao seu trabalho, o Museu Histórico Lauro da Escóssia tem o mais fiel
acervo fotográfico do grupo de Lampião e das trincheiras da resistência, à
época da tentativa de assalto a nossa cidade. É o patrono da Cadeira nº 04 da
Academia Mossoroense de Letras – AMOL. Publicou entrevistas de cangaceiros e
escreveu longos artigos sobre banditismo. Escreveu em versos populares: “A
Derrota de Lampeão em Mossoró”, “A Vida e Morte de Jararaca”, e outros
episódios.
Agora , uns adendos:
- Já vimos várias publicações com aquelas fotos, que colocam-nas como se fosse
José Octávio o autor, e com uma parte rasgada. O que faz as pessoas colocarem
haver apenas 3 prisioneiros (José Moreira, Coronel Antonio Gurgel e D. Maria
José) no grupo em Limoeiro do Norte. A original, do acervo do Museu Histórico
Lauro da Escóssia, em Mossoró, está completa e aparece o nome do quarto
prisioneiro: Manoel Barreto Leite.
- No livro - Nas Garras de Lampião - de Antonio Gurgel & Raimundo Soares de
Brito, foi incluído, pela primeira vez, uma pequena biografia do autor das
fotos em Limoeiro do Norte, o fotógrafo FRANCISCO RIBEIRO (Chico Ribeiro), em
pesquisa realizada naquela cidade e citações de livros de autores cearenses.
- Algumas publicações, - revistas de história, revistas culturais e/ou livros -
principalmente nos últimos anos, que fazem e apresentam reportagens, e artigos
sobre Cangaço, colocam as fotos como pertencentes ao acervo da Família Nunes
Ferreira.
Menos a verdade! Que nos consta, estas fotos pertencem ao acervo da
Família do fotógrafo Francisco Ribeiro e, noutro caso, ao acervo do Museu
Histórico Lauro da Escóssia, de Mossoró e da Família do José Octávio Pereira
Lima. Esta é que é a nossa impressão e certeza.
(*) Pesquisador, escritor e poeta. E-presidente da SBEC -Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
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