Seguidores

quarta-feira, 29 de maio de 2019

EDITAL DE CONVITE E CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA Nº 013/2019.

1481522002230_PastedImage

ASSOCIAÇÃO DOS ESCRITORES MOSSOROENSES-ASCRIM 
EDITAL DE CONVITE E CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA Nº 013/2019.
EDITAL ASCRIM AGE-013/2019, DE 25.04.2019
REENVIADO A PEDIDOS
I. O Presidente Executivo da ASSOCIAÇÃO DOS ESCRITORES MOSSOROENSES-ASCRIM, FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO, no cumprimento das atribuições que lhe conferem o Art. 36, Inciso I do Estatuto Social da ASCRIM, através deste EDITAL ASCRIM AGE-013/2019, de 25.04.2019, TENDO EM VISTA A ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA a se instalar, sob sua presidência, NO DIA 30 DE MAIO DE 2019, (QUINTA- FEIRA), ÀS 17h00min, em primeira chamada com a presença de metade de seus membros mais um e, em segunda chamada, após 15(quinze) minutos, com qualquer número de “ASSOCIADOS”, no Auditório da Biblioteca Municipal “Ney Pontes Duarte”, sito à Praça da Redenção Jornalista Dorian Jorge Freire, em Mossoró-RN:
1. convoca, HONRADAMENTE, com supedâneo no item I deste EDITAL, os*Associados Regulares Inscritos, os *Regularmente Inscritos, e os NEÓFITOS, para participarem, com suas Excelentíssimas Famílias, dos “ATOS SOLENES DA ASCRIM”nas ORDENS DO DIA contempladas neste EDITAL.
2. convIDa, HONRADAMENTE neste mesmo ATO, com supedâneo no item I deste EDITAL,  independentemente DO ENVIO PROTOCOLAR do convite físico, DIGNEM-SE FAZEREM PARTE DOS ANAIS DA ASCRIM, EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES, DIRIGENTES E AUTORIDADES DE ENTIDADES GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, MAÇONICAS E MILITARES, REVERENDÍSSIMO(A)S PRESIDENTES, DIRIGENTES E AUTORIDADES DE ENTIDADES RELIGIOSAS, MAGNÍFICOS REITORES E AUTORIDADES DE UNIVERSIDADES, EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES DE ENTIDADES E INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES DE ENTIDADES CULTURAIS E INSTITUIÇÕES CONGENERES, EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES DE ENTIDADES EDUCACIONAIS E INSTITUIÇÕES CONGENERES, EXCELENTÍSSIMOS SENHORES PRESIDENTES E DIRIGENTES DE ASSOCIAÇÕES CULTURAIS CONGÊNERES, EXCELENTÍSSIMOS PRESIDENTES E DIRIGENTES DE ACADEMIAS CULTURAIS E CIENTÍFICAS, ILUSTRÍSSIMO(A)S DIRIGENTES DE INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS E DE CIDADANIA, ILUSTRÍSSIMO(A)S JORNALISTAS E COMUNICADORES, DIGNOS ACADÊMICO(A)S DE ENTIDADES CULTURAIS E INSTITUIÇÕES CONGENERES, DIGNOS ACADÊMICO(A)S DA ASCRIM, DIGNOS ACADÊMICO(A)S DA ACADEM,  DIGNOS POTENCIAIS CANDIDATO(A)S A ACADÊMICO(A)S DA ASCRIM, juntamente com seus excelentíssimos familiares, a PARTICIPAREM dos “ATOS SOLENES DA ASCRIM”nas ORDENS DO DIA contempladas neste EDITAL.
II-ORDENS DO DIA:
1. SESSÃO INSTITUCIONAL ASCRIM: 17:OOHS
a) DAS LAUREADAS HOMENAGENS, “IN MEMORIAN”, AO NOSSO SAUDOSO E INSIGNE PRESIDENTE DE HONRA DA ASCRIM DR. MILTON MARQUES DE MEDEIROS
b) DO LANÇAMENTO “MEMORIAL DO CENTENÁRIO DOS IMORTAIS” PARA QUE JAMAIS SE APAGUE NA ATUALIDADE E NO FUTURO O LEGADO dos INTELECTUAIS DESTA TERRA: 1º TITULAR RAIMUNDO NONATO CAVALCANTI NUNES/GUARDIÃO DO TÍTULO, Pe. SÁTIRO CAVALCANTI DANTAS
c) DA PROGRAMAÇÃO DO 5º ANIVERSÁRIO DA ASCRIM, COM DISTRIBUIÇÃO DO CONVITE FÍSICO ÀS PERSONALIDADES E AUTORIDADES DO MUNDO INTELECTUAL E/OU INTERESSADAS, PRESENTES A AGE-013/2019(VAGAS LIMITADAS).
1.2. PUBLICAÇÃO OFICIAL DO EDITAL DE INSTALAÇÃO E FUNDAÇÃO DA ACADEMIA DOS ESCRITORES MOSSOROENSES-ACADEM, CHANCELADO NAS TÉLICAS RESOLUÇÕESQUE INSTRUI OS PROCEDIMENTOS E CRITÉRIOS DA:
a) CONSTITUIÇÃO, ELEIÇÃO E NOMEAÇÃO DOS ACADÊMICOS QUE COMPORÃO A DIRETORIA EXECUTIVA E O CONSELHO FISCAL DA ACADEMIA DOS ESCRITORES MOSSOROENSES-ACADEM
b) ABERTURA DE VAGAS PARA AS 30 CADEIRAS E OS SEUS PATRONOS DE TITULARES DA ACADEMIA DOS ESCRITORES MOSSOROENSES-ACADEM.
2.1. DIPLOMAÇÃO E POSSE DA DIRETORIA EXECUTIVA DA ASCRIM-BIÊNIO 2019/2020,(Art.28), ELEITOS POR ACLAMAÇÃO NAS ELEIÇÕES/2018 DA ASCRIM NOS CARGOS DE:
-PRESIDENTE EXECUTIVO: FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO.
-VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO: TANIAMÁ VIEIRA DA SILVA BARRETO.
-1ª SECRETÁRIA: MARIA GORETTI ALVES DE ARAÚJO.
-1º TESOUREIRO: EXPEDITO DE ASSIS SILVA.
-2º TESOUREIRO: (VAGO)
-DIRETOR DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS: ELDER HERONILDES DA SILVA
-DIRETOR DE ACERVOS: GERALDO MAIA DO NASCIMENTO.
-DIRETORA DE ASSUNTOS ARTÍSTICOS: MARTHA CRISTINA ELEUTÉRIO MAIA.
-DIRETORA DE CERIMONIAL E DE EVENTOS: SUSANA GORETTI LIMA LEITE.
-DIRETORA DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS: MARIA CONCEIÇÃO MACIEL FILGUEIRA.
-DIRETOR DE ASSUNTOS JURÍDICOS: LÚCIO NEY DE SOUZA
2.1.2 OS DIRETORES EXECUTIVOS ELEITOS QUE NÃO COMPARECEREM PARA A DIPLOMAÇÃO E POSSE, MESMO QUE APRESENTEM JUSTIFICATIVA DA AUSÊNCIA,DEVERÃO REQUERER NO PRAZO DE 30 DIAS, VIA EMAIL, NOVA DATA PARA SEREM CONVOCADOS, A INVESTIDURA NO CARGO CONFORME DISPÕE O REGEA.
2.2. DIPLOMAÇÃO E POSSE DO CONSELHO FISCAL DA ASCRIM-BIÊNIO 2019/2020,(disposto no Art.44), ELEITOS POR ACLAMAÇÃO NAS ELEIÇÕES/2018 DA ASCRIM NOSCARGOS DE:
-PRESIDENTE: WILSON BEZERRA DE MOURA.
-VICE-PRESIDENTE: MANOEL VIEIRA GUIMARÂES NETO.
-SECRETÁRIA: MARIA DO SOCORRO DE ALBUQUERQUE GURGEL  
-SUPLENTE: (VAGO)
2.2.1. OS CONSELHEIROS ELEITOS QUE NÃO COMPARECEREM PARA A DIPLOMAÇÃO E POSSE, MESMO QUE APRESENTEM JUSTIFICATIVA DA AUSÊNCIA, DEVERÃO REQUERER NO PRAZO DE 30 DIAS, VIA EMAIL, NOVA DATA PARA SEREM CONVOCADOS A INVESTIDURA NO CARGO, CONFORME DISPÕE O REGEA.
2.3. ENTRONIZAÇÃO E DIPLOMAÇÃO DOS NEÓFITOS, CONFORME RELAÇÃO A SER PUBLICADA EM RESOLUÇÃO ASCRIM, obedecido a ritualística dos atos obrigatórios da ASCRIM.
2.3.1. OS NEÓFITOS CONVOCADOS QUE NÃO COMPARECEREM PARA A ENTRONIZAÇÃO E DIPLOMAÇÃO, MESMO QUE APRESENTEM JUSTIFICATIVA DA AUSÊNCIA, DEVERÃO REQUERER NO PRAZO DE 30 DIAS, VIA EMAIL, NOVA DATA PARA SEREM CONVOCADOS A ENTRONIZAÇÃO NA CATEGORIA APROVADA.
3.1. OUTORGA, PELO PRESIDENTE EXECUTIVO DA ASCRIM, DE TÍTULOS HONORÍFICOS a PLÊIADE DOS HOMENAGEADOS, que confirmarem presença formal a III TEMPORADA DE INSCRIÇÃO AOS TÍTULOS HONORÍFICOS DA ASCRIM-III/TITHA, protocolados no“ASCRIM PROTOCOLO ENTREGA DE OBJETO-APEO, conforme RELAÇÃO A SER PUBLICADA EM RESOLUÇÃO ASCRIM.
3.2. OUTORGA, PELO PRESIDENTE EXECUTIVO DA ASCRIM, DE TÍTULOS HONORÍFICOS: COMENDA ESTRELA ASCRIM TRIBUTO PRESIDENCIÁVEL AOS PRESIDENTES E VICE-PRESIDENTES DE ACADEMIAS CULTURAIS E ENTIDADES CONGÊNERES QUE SE DESTACARAM, RECONHECIDAMENTE, EM 2 MANDATOS ININTERRUPTOS E CONSECUTIVOS.
III. A ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA-AGE-013/2019 ASCRIM, é aberta a todas as pessoas afinadas com a cultura, privados contudo, de voz e voto.
IV. As deliberações serão tomadas por maioria simples de votos dos associados presentes com direito de votar e só poderão tratar sobre os assuntos DAS ORDENS DO DIA DESTA AGE-013/2019.
V. O PRAZO DE CONFIRMAÇÃO PARA OS CONVIDADOS E PÚBLICO, INTERESSADOS EM PARTICIPAR DOS ATOS SOLENES DA ASCRIM, RESPEITADAS AS JUSTIFICATIVAS PRÉVIAS E EXTEMPORÂNEAS, EXPIRA 10 DIAS CORRIDOS ANTES DO DIA 30.05.2019, OBSERVADO O ESTABELECIDO NESTE PRESENTE EDITAL ASCRIM AGE-013/2019, TENDO EM VISTA ATENDER OS PROCEDIMENTOS OFICIAIS DE ORGANIZAÇÃO E CONTROLE DO CERIMONIAL.
VI. OS INTERESSADOS, (NÚMERO NUNCA SUPERIOR A 05), EM SUBIR À TRIBUNA DA ASCRIM-AGE-010/2018, PARA PRONUNCIAMENTO RELACIONADO COM O EVENTO SOBREDITO, DEVEM PROTOCOLAR O REQUERIMENTO, ENCAMINHANDO-O DIRETAMENTE AO PRESIDENTE DA ASCRIM, VIA EMAIL asescritm@hotmail.com , ATÉ 24 HORAS ANTES DO INÍCIO DOS “ATOS SOLENES”, SOB PENA DO PEDIDO SER VETADO.(tempo previsto: 03 MINUTOS P/ PRONUNCIAMENTO/CADA REQUERENTE).

VII. RECOMENDA-SE TRAJE ESPORTE E/OU FINO PARA OS CONVIDADOS E VESTES TALARES PARA ASSOCIADOS E ACADÊMICOS DE ENTIDADES CULTURAIS CONGÊNERES.
VIII. TERMOS EM QUE EXPEDE, REGISTRE-SE E CUMPRA-SE O PRESENTE EDITAL ASCRIM AGE-013/2019, REVOGADAS AS DISPOSIÇÕES CONTRÁRIAS, PODENDO SER RETRANSMITIDO, QUEM INTERESSAR POSSA, POR TODOS OS MEIOS DISPONÍVEIS AOS CONVOCADOS E CONVIDADOS INTERESSADOS.
MOSSORÓ (RN), 25 DE ABRIL DE 2019.
FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO
- PRESIDENTE DA ASCRIM –
*Associados Regulares Inscritos: DE ACORDO com normas do ESTATUTO da ASCRIM, Consideram-se “ASSOCIADOS REGULARES INSCRITOS”, na categoria que os identifica, os ASSOCIADOS FUNDADORES, ATIVOS E TITULARES.
*Associados Regularmente Inscritos: NA MESMA SINTONIA ESTATUTÁRIA SUPRAMENCIONADA, Consideram-se “ASSOCIADOS REGULARMENTE INSCRITOS”, os ASSOCIADOSBENEMÉRITOS, COLABORADORES VOLUNTÁRIOS, CORRESPONDENTES E EMÉRITOS EX-PRESIDENTES E VICE-PRESIDENTES.
Enviado pela ASCRIM

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

PADRE CÍCERO

De maldito a santo
A veneração popular padre foi rejeitada por mais de um século pela Igreja - mas não mais.

Por Lira Neto

Um padre que viveu sob o signo da controvérsia e morreu proscrito, condenado pelo Santo Ofício. Esse foi sacerdote brasileiro Cícero Romão Batista, acusado no fim do século 19 de proclamar falsos milagres, de incentivar o fanatismo popular e de se beneficiar financeiramente da devoção extremada de seus milhões de seguidores. 

Em decorrência das acusações de que era um rebelde, um desobediente à hierarquia católica e um semeador de fanatismos, ele foi alvo de um inquérito eclesiástico que terminou por proibi-lo de rezar missas, de confessar fiéis e de ministrar sacramentos como o batismo e o matrimônio. Tornou-se, então, um pária da fé. Apesar de idolatrado pelos cerca de 2,5 milhões de peregrinos que acorrem todos os anos à cidade cearense de Juazeiro do Norte para reverenciar sua memória, Cícero foi um padre maldito, renegado pela Igreja Católica.

Fazedor de milagres

Toda a história pessoal de Cícero Romão Batista está permeada de mistérios, ambiguidades e contradições. Amado e odiado em igual medida por seus contemporâneos, depois de morto - e talvez ainda mais a partir daí - ele continua a provocar sentimentos idênticos de adoração e repulsa.

Nascido na cidade cearense do Crato em 1844, ordenado padre em 1870, Cícero viveu e cresceu na confluência de dois mundos. De um lado, o universo mágico do misticismo sertanejo, no qual a crença em lobisomens, almas penadas e mulas-sem-cabeça convivia com a festiva devoção aos santos padroeiros e com as advertências apocalípticas dos profetas populares, que pregavam o fim dos tempos. Do outro lado, o mundo da fé ritualizada, da disciplina clerical e da submissão cristã com a qual foi educado e doutrinado no seminário. Com um pé no maravilhoso, outro na ascese, Cícero protagonizou uma biografia acidentada, recheada de episódios mirabolantes que mais parecem beirar a ficção.

Entretanto, até os 45 anos de idade, sua vida nada teve de extraordinária. Em 1889, Cícero era um simples padre de aldeia, rezando missa numa minúscula capelinha do então povoado do Juazeiro, a 600 quilômetros de Fortaleza, quando um fenômeno misterioso chamou a atenção dos sertanejos, da Igreja e da imprensa. Ao ministrar a comunhão a uma beata - a humilde costureira e doceira Maria de Araújo -, a hóstia consagrada teria se transformado em sangue. "Não posso duvidar, porque vi muitas vezes", escreveu Cícero a dom Joaquim José Vieira, bispo do Ceará.

Os jornais abriram manchetes para noticiar o fenômeno e os sertanejos caíram de joelhos diante do proclamado milagre. A Igreja, porém, acusou Cícero e a beata de fraude. "Se Maria de Araújo recebe realmente provas do céu, que as vá gozando só, sem perturbar a boa ordem da diocese", desdenhou o bispo Vieira.

Fato ou embuste, o caso é que o padre e seus adeptos evocaram em sua defesa uma série de fenômenos mais ou menos semelhantes, devidamente chancelados pelo Vaticano sob a classificação genérica de "milagres eucarísticos". Mas uma frase atribuída ao então reitor do Seminário da Prainha, o padre Pierre-Auguste Chevalier, revelaria a dificuldade do clero tradicional em aceitar as manifestações da fé popular: "Jesus Cristo não iria sair da Europa para fazer milagres no sertão do Brasil", teria tripudiado o francês.

Chefe político

O episódio da hóstia que diziam se transformar em sangue rendeu a Cícero a admiração dos milhares de peregrinos, que desde então não nunca pararam de chegar a Juazeiro para testemunhar a suposta maravilha. Mas também significou para o padre uma longa via-crúcis de indisposições perante as autoridades eclesiásticas da época.

Banido pelo clero, Cícero passou a ocupar a posição de mártir no imaginário coletivo, ao mesmo tempo que começou a desfrutar de uma enorme notoriedade e de um imenso poder junto ao povo mais simples do sertão, vítimas históricas da seca e do descaso governamental. Aquela gente, sem perspectivas, sem dinheiro e sem chão, cada vez mais se identificava com o sacerdote que nunca foi propriamente um grande orador, mas em compensação sabia falar a mesma língua deles, chamando-os de "amiguinhos", ouvindo-lhes as queixas, distribuindo prédicas e conselhos.

Moralista severo, Cícero pregava contra os amancebados, os festejos pagãos e o desregramento das famílias. Numa terra em que imperava a lei do punhal e do bacamarte, seu lema mais famoso conclamaria os pecadores ao arrependimento: "Quem bebeu não beba mais, quem roubou não roube mais, quem matou não mate mais", costumava dizer.
 Estátua no Juazeiro do Norte em homenagem ao Padre.
Wikimedia Commons

Quando não pôde mais celebrar batismos, ele próprio aceitou apadrinhar inúmeras crianças, vindo daí o título de "padrinho padre Cícero", que na corruptela da linguagem popular resultou Padim Pade Ciço.

"Em cada casa um oratório, em cada quintal uma oficina", pregava ele, atraindo trabalhadores, agricultores e artesãos de todo o Nordeste, que passaram a se fixar e aos poucos transformaram o arrabalde em um importante centro manufatureiro. O povoado virou cidade autônoma e, em 1911, Cícero foi nomeado o primeiro prefeito de Juazeiro. Líder religioso, tornou-se também chefe político, igualmente polêmico e contraditório. Ao mesmo tempo que pregava aos "náufragos da vida", como se referia aos menos favorecidos, estabeleceu alianças com as elites poderosas.

A Santa Sé delibera

Entre 2001 e 2006, uma comissão multidisciplinar de estudos se debruçou sobre a vasta documentação relativa ao padre, em arquivos do Brasil e do Vaticano. Coordenada pelo bispo do Crato, dom Fernando Panico, tal comissão foi composta por especialistas de várias áreas do conhecimento: antropologia, filosofia, história, psicologia, sociologia e teologia. A finalidade era trazer à luz novos documentos que servissem para tentar responder a uma questão que sempre acompanhou o nome de Cícero: quem afinal foi esse homem, acusado de espertalhão por muitos, aclamado como visionário por outros tantos?

O relatório final da comissão foi entregue em maio de 2006 na Santa Sé. Junto, uma coleção de 11 volumes reunia as transcrições das centenas de cartas trocadas entre os principais personagens da história do padre. Um volume à parte levava cerca de 150 mil assinaturas de populares em prol da reabilitação, às quais se somava um abaixo-assinado no qual se lia o nome de 253 bispos brasileiros favoráveis à causa. Em complemento à papelada, a carta de dom Fernando ao papa: "Venho com toda esperança e humildade suplicar a Vossa Santidade que se digne reabilitar canonicamente o padre Cícero Romão Batista, libertando-o de qualquer sombra e resquício das acusações por ele sofridas",

Em setembro de 2008, a igreja de Nossa Senhora das Dores - o templo que Cícero construiu em Juazeiro e no qual depois se viu impedido de rezar missa - foi elevado pelo Vaticano à categoria de basílica. Com isso, o brasão de Bento XVI foi sintomaticamente colocado à porta de entrada, bem à vista dos romeiros que chegam para louvar o Padim. No templo em que o padre está enterrado, a capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, também em Juazeiro, foi autorizada a instalação de um vitral multicolorido em que se destaca a imagem de Cícero, ao lado de outros santos oficiais.

Em 2015, finalmente, o perdão se tornou 100% oficial. O bispo Dom Fernando Pânico, declarou sua reabilitação em 13 de dezembro. Esse é o primeiro passo para uma posterior beatificação, ou seja, o reconhecimento canônico de que o homem Cícero Romão Batista teria vivido na plenitude das virtudes cristãs, sendo um "bem-aventurado", resultou na consequente autorização para o culto público a seu nome. Devido às milhares de graças que os romeiros dizem ter alcançado por intercessão do padre Cícero - cegos que teriam voltado a ver, aleijados que andaram novamente, loucos que teriam recuperado o juízo -, o caso, ainda pode evoluir da simples beatificação para a efetiva canonização, quando então ele seria elevado à honra dos altares de toda a Igreja. Esse processo burocrático, como ocorreu com Frei Galvão (1739-1822), o primeiro santo nascido no Brasil e durou vários anos. 

Santo sertanejo

A polêmica trajetória de Padre Cícero

➽1844: Cícero Romão Batista nasce na cidade do Crato (CE).

➽1870: Cícero é ordenado padre, apesar das reservas do reitor do seminário, que o julgava um aluno "teimoso" e "dono de ideias confusas".

➽1872: Sem ter recebido nenhuma paróquia, o jovem padre aceita o convite de moradores para rezar a missa de Natal no pequeno povoado de Juazeiro, vizinho ao Crato. Segundo ele, um sonho faz com que continue a morar ali para sempre. Jesus teria pedido a Cícero que "tomasse conta" dos pobres do local.

➽1889: 1 de março, sexta-feira da Quaresma, o padre Cícero oferece a comunhão à beata Maria de Araújo e a hóstia se transforma em sangue. O fenômeno teria ocorrido por semanas seguidas, até 15 de agosto, dia da Ascensão de Nossa Senhora. Os paninhos manchados de sangue são adorados como relíquias sagradas. O milagre vira notícia na imprensa de todo o país.

➽ 1891: O bispo do Ceará, dom Joaquim José Vieira, censura Cícero e o monsenhor Monteiro por proclamarem milagres ainda não investigados pela Santa Sé. Cria uma comissão de inquérito eclesiástico, formada pelos padres Francisco Antero e Clycério da Costa Lobo. A ordem é desmascarar um possível embuste.

➽1892: O padre Antero viaja ao Vaticano em defesa de Cícero. O Santo Ofício examina o caso. Em agosto, o bispo cearense proíbe Cícero de rezar missas, pregar aos fiéis, confessar e ministrar sacramentos.

➽ 1894: o Santo Ofício condena os fatos como "prodígios vãos e supersticiosos. Os padres adeptos do milagre se retratam. Menos Cícero.

➽1898: Cícero vai ao Vaticano se defender. É interrogado e depois recebido pelo papa Leão XIII. O Santo Ofício absolve Cícero das censuras, desde que ele guarde silêncio sobre o caso. O padre jura submissão, mas segue suspenso das ordens sacerdotais. Os paninhos sujos de sangue são roubados da matriz do Crato e desaparecem por vários anos.

➽1908: Atraído por notícias da existência de uma valiosa mina de cobre na região, chega a Juazeiro um baiano misterioso: Floro Bartolomeu. Médico, rábula e garimpeiro, ele passa a ser o principal braço político de Cícero.

➽1909: Começa a circular O Rebate, primeiro jornal de Juazeiro, fundado para defender a tese da emancipação do povoado em relação ao Crato. Floro Bartolomeu é um dos editores.

➽1910: Morre misteriosamente o professor José Marrocos, um ex-seminarista que exerce grande influência sobre Cícero. Floro é acusado de tê-lo envenenado, mas nunca se prova nada a esse respeito.

➽1911: Juazeiro se emancipa. Cícero, filiado ao Partido Republicano Conservador, é nomeado primeiro prefeito do novo município. Permanecerá quase duas décadas no cargo, sendo reeleito seguidamente. Na data da posse, sela um pacto de paz com os principais coronéis da região, no qual todos prometem parar as animosidades mútuas.

➽1913: Em acordo com o governo federal e com o aval de Cícero, Floro viaja ao Rio de Janeiro para tramar a queda do então presidente (cargo igual ao de governador) do Ceará, Franco Rabelo. De volta, Floro depõe as autoridades municipais e instala uma Assembleia estadual paralela para caracterizar a duplicidade de poderes e provocar uma intervenção federal.

➽1914: O governo estadual reage. Manda tropas para atacar Juazeiro. Cícero segue o conselho de um sobrevivente de Canudos e pede aos moradores que cavem um fosso gigantesco em torno da cidade: o "Círculo da Mãe de Deus". Com isso, o ataque fracassa. Juazeiro parte para a ofensiva. Comandado por Floro, um exército de jagunços e cangaceiros toma o Crato e várias outras cidades cearenses, cercando Fortaleza. O governo federal decreta a intervenção no Ceará. Cícero é nomeado vice-presidente do estado.

➽1916: A Santa Sé declara que Cícero, aos 72 anos, por ainda alimentar o "fanatismo", está excomungado. Mas ele jamais saberia disso. Temendo pela saúde do velho padre, o bispo do Crato, Quintino Rodrigues, evita aplicar a excomunhão e exige dele uma retratação pública. O Santo Ofício revê a pena, mas mantém suspensas as ordens sacerdotais.

➽1926: A Coluna Prestes entra no Ceará. Cícero escreve carta aberta a Prestes, conclamando-o à rendição. Floro tem a ideia de convocar Lampião para integrar o chamado "Batalhão Patriótico", organizado para dar combate à Coluna. É quando o cangaceiro recebe a patente de capitão e passa a assinar "Capitão Virgulino". No mesmo ano, Cícero é eleito deputado federal, mas não assume o cargo, por causa da idade avançada.

➽1930: Vitória da revolução que leva Getúlio Vargas à Presidência da República. Cícero escreve uma carta aberta ao povo, classificando os revolucionários de "mensageiros de Satanás".

➽1934: Morre Cícero Romão Batista. No testamento, ele deixa a maior parte dos bens para a Igreja. Após o falecimento do padre, os paninhos manchados de sangue reaparecem em poder de uma beata. Por ordens do novo bispo do Crato, de acordo com o que determinara o Santo Ofício, eles são destruídos e queimados.

➽2001: O cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, reabre o processo que culminou na suspensão de Cícero.

➽2005: Ratzinger é eleito papa. No ano seguinte, recebe a documentação de uma comissão interdisciplinar de estudos que sugere a anistia, post-mortem, do padre. 

➽2015: O padre Cícero é perdoado das punições impostas e reconciliado com a Igreja Católica. O processo de beatificação passa a ser possível.

Pescado em Aventuras na História


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LAMPIÃO NA SERRA VERMELHA

trágico e covarde assassinato de JoséNogueira

Por: Luiz Ferraz Filho


Os livros sobre a história brasileira sempre trouxeram no capitulo sobre a Coluna Prestes o simbolismo da liberdade. Porém, nada foi mais aterrorizante para a população do Sertão do Pajeú, no mês de fevereiro de 1926, do que esses revoltosos sulistas. Vinda da Paraíba em direção ao Pajeú sob o comando do general Isidoro Dias Lopes, a Coluna Prestes contou com o "reforço" da boataria que estava alinhada ao bando de Lampião, para assim aterrorizar ainda mais o sertanejo. 
 
General Isidoro Dias Lopes
 
E foi esse boato que fez muitos fazendeiros da região abandonarem suas casas para se embrenhar na caatinga como esconderijo. Somada a isso, tinha também um batalhão patriótico para combater os revoltosos e que confundia ainda mais a população. Ao passarem por Betânia (PE), onde esfomeados saquearam o comercio local, os revoltosos marcharam em direção ao povoado de São João do Barro Vermelho (Tauapiranga), distrito de Serra Talhada. De lá, desceram pelas margens do Riacho São Domingos em direção a lendária vila de São Francisco, também distrito de Serra Talhada. 

Serra Vermelha vista da Fazenda de Zé Nogueira

Entre essas duas localidades, os revoltosos encontraram a Fazenda Serra Vermelha, na época fonte rica para o abastecimento da tropa composta de seiscentos ou oitocentos soldados. Com a barriga cheia, precisavam eles de uma pessoa da região para servir como "guia dos revoltosos" e nada melhor que um homem conhecido e respeitado por todos para usarem como "escudo". E foi assim que o influente dono da fazenda, José Alves Nogueira, acabou "sequestrado" pelos revoltosos. Três dias sem nenhuma regalia, andando a pé sob olhares dos soldados até ser libertado próximo ao povoado de São João do Barro Vermelho (Tauapiranga). 

Cruz no terreiro da casa demarcando o local 
onde foi covardemente assassinado 
Zé Nogueira pelo cangaceiro Antônio Ferreira.

Aliviado, mal podia imaginar José Nogueira que voltando para sua Fazenda Serra Vermelha passaria por situação ainda pior. Ao chegar, José Nogueira pediu para um dos moradores ir avisar aos parentes e familiares que estava tudo bem com ele e que estava em casa. E nisso, aproveitou para ir na vazante (plantação no baixio) olhar uma cacimba que abastecia o lugar. Depois de algum tempo lá, José Nogueira recebeu um recado de Antônia Isabel da Conceição (Isabel de Luis Preto) que inocentemente disse que a força volante de Nazaré (comandada por Manoel Neto) estava no terreiro da casa esperando ele. Desconfiado, José Nogueira ainda perguntou: - Tem certeza que é a força ?. Tenho sim, respondeu Isabel. 

O fazendeiro João Nogueira (neto de Zé Nogueira 
e bisneto do major João Alves Nogueira), 
na calçada onde foi assassinado o avô em fevereiro de 1926.
 
 
Domingos Alves Nogueira 
(neto de José Nogueira) 

Ao subir da cacimba em direção ao terreiro da casa, José Nogueira avistou o bando de Lampião com 45 cangaceiros enfurecidos após saírem derrotados na tentativa de invasão ao povoado de Nazaré do Pico. Homem de firmeza, continuou José Nogueira o trajeto mesmo sabendo que dificilmente escaparia da morte. Nisso, o cangaceiro Antônio Ferreira, aproximou-se dele e falou: - É hoje José Nogueira. Ele ele respondeu: - Seja o que Deus quiser. 

Lampião mandou todos baixarem as armas e começou a conversar com o velho fazendeiro. Após a palestra, Lampião observou ele muito cansado, doente e asmático, liberando o fazendeiro. Deu voz de reunir e começou a seguir no destino da caatinga quando escutou um tiro. Tinha sido o cangaceiro Antônio Ferreira que havia covardemente atirado nas costas de José Nogueira. Vendo o ocorrido, Lampião reclamou dizendo que o velho estava doente e quase "morto". Então, Antônio Ferreira (que era irmão mais velho de Lampião) falou:

- Matei , tá morto e pronto. 

Era 26 de fevereiro de 1926. Calçou Antônio Ferreira as alpercatas (sandálias de couro) do falecido e seguiu junto ao bando caatinga a dentro. Segundo o fazendeiro João Nogueira Neto (neto de José Nogueira), durante anos o local onde o avô paterno foi assassinado ficou manchado com o sangue nas pedras. No local, os filhos do fazendeiro depois fincaram uma cruz para demarcar a tragédia. O corpo de José Nogueira foi enterrado no dia seguinte, do outro lado do riacho, no cemitério da Serra Vermelha. 
 
Deixou ele a viúva Francisca Nogueira de Barros (Dona Dozinha, tia dele) e sete filhos. 

Luiz Ferraz Filho, é pesquisador, Serra Talhada - Pernambuco
 
FONTE: (LIRA, João Gomes de - Memórias de Um Soldado de Volante) 
- (AMAURY, Antônio e FERREIRA, Vera - O Espinho de Quipá) - (FERRAZ, Marilourdes - O Canto do Acauã) - (SOBRINHO, José Alves - Zé Saturnino - Nas Pegadas de Um Sertanejo).  
 
FOTOS/ENTREVISTADOS: 
João Nogueira Neto e Domingos Alves Nogueira (netos de José Alves Nogueira).
 
Pescado no Cariri Cangaço