O cangaço é
uma forma de banditismo social típica, um fenômeno ocorrido no Nordeste
brasileiro no final do século XIX e XX e, que teve sua gênese em questões sociais e também
fundiárias, caracterizando-se por atitudes e acontecimentos violentos de grupos ou
mesmo de indivíduos isolados.
Originalmente
publicado na Inglaterra em 1969, com tradução no brasil em 1973, “Bandidos”, do
historiador britânico Eric Hobsbawn, delimitou um novo campo de estudo na
história: o banditismo social.
Essa forma de
protesto anterior à tomada de consciência dos métodos de propaganda e agitação
política se estabeleceu em diversas partes do mundo.
Reportando-se
aos cangaceiros brasileiros, Hobsbawn afirmou que seus feitos espetaculares
deram origem a mitos e lendas. Nesse sentido, cita Lampião que chegou a ser
mundialmente conhecido graças às canções, histórias e filmes que inspirou.
Sócio fundador
da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), o professor Severino
Vicente justifica a publicação de seu livro “Folclore e Cultura Popular nas Práticas Pedagógicas”,
ocorrida em 2010, como forma de atualizar os conhecimentos dessas áreas
frente ao mundo globalizado e assim, salvaguardar nosso pertencimento neste
importante campo de reconhecimento sociocultural. No capítulo “Cultura, Espetáculo e
Mídia”, o folclorista define espetáculo como tudo que chama a atenção, atrai, prende
o olhar, impressiona vivamente, ostentoso, muita vida, um show. São coisas dos
tempos modernos. O escritor faz referência ao evento “Mossoró Cidade Junina” (Onde
está inserido o espetáculo “Chuva de Bala”, que encena no palco real dos
acontecimentos a resistência dos mossoroenses ao bando de Lampião em 1927) para
exemplificar o novo momento das festas populares.
Após esta
breve introdução sobre a interface cangaço/cultura, passar-se-á às epopeias dos chefes de
bando cangaceiro no Rio Grande do Norte que inspiraram manifestações socioculturais.
Em solos
potiguares, pelo menos 4 grandes líderes cangaceiros protagonizaram façanhas,
sagas, marchas e tragédias.
Jesuíno
Brilhante, conhecido como “Robin Hood do Sertão”, atuou na grande seca de 1877,
“saqueando comboios de víveres para distribuí-los com retirantes flagelados”, sendo este um
dos cenários do filme “Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro”(1972), de William
Cobbett, o primeiro longa-metragem rodado integralmente no Rio Grande do Norte. Sob
influência do neorrealismo italiano, a obra foi produzida com poucos recursos e
contou com ator-atriz âncora nos papéis principais, entre elas, Vanja Orico (Musa do ciclo
do cangaço no cinema nacional) e atores amadores, recrutados nas locações, (no
semiárido). A direção de fotografia ficou a cargo do cineasta Carlos Tourinho.
Numa
iniciativa ousada e inovadora para diversificar os equipamentos de turismo histórico-cultural
no município, foi construído o pórtico “Patu-Terra de Jesuíno Brilhante”.
A Morte de
Jesuíno Brilhante, ocorrida no ano de 1879, em São José de Brejo do Cruz/PB foi
tema de documentário, produzido em 2004 e editado em 2005.
A atuação no
cangaço de Chico Pereira deu inspiração ao padre Pereira Nóbrega para publicar em
1961 a célebre obra “Vingança Não”, prefaciada por Raquel de Queirós.
Chico Pereira
foi barbaramente assassinado em Currais Novos e no local da morte familiares
ergueram um memorial alusivo a seu martírio.
A marcha de
Lampião que culminou com a expulsão imposta pela resistência dos mossoroenses
em 13 de junho de 1927 tem motivado a realização anual do espetáculo
teatral “Chuva de Bala no País de Mossoró”. Sem dúvidas, a maior manifestação
sociocultural inspirada pelo cangaço no Rio Grande do Norte.
Com menor
notoriedade, porém não menos relevante historicamente, o enfrentamento
ao bando do cangaceiro Antônio Silvino na invasão à zona rural de Ouro Branco
(em 1901, pertencente a Caicó) ficou imortalizado na tela “Cangaço no Seridó” e no
livro “O Fogo da Pedreira- Saga de Antônio Silvino em Caicó, lançado pelo escritor
Orlando Rodrigues em 2001.
Livros,
pinturas, filmes, monumentos, memoriais e espetáculos teatrais são manifestações
socioculturais inspiradas no cangaço potiguar que têm fomentado o turismo e o
desenvolvimento sustentável do Estado do Rio Grande do Norte.
Epitácio de Andrade Filho
Severino Vicente - Cultura, Espetáculo e Mídia (2)
Lampião - mapa do cangaço no RN
Retirante no filme Jesuíno Brilhante
Pórtico Patu Terra de Jesuíno Brilhante
O lugar da Morte de Jesuíno Brilhante - São José
Currais Novos Chico Pereira 2014
Vingança não
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