Por Lucas Borges
Teixeira
Colaboração
para o UOL, em São Paulo
11/07/2018
04h01
Uma mensagem
que circula pelo WhatsApp promete avanço sobre um grande desafio da medicina
atualmente: a cura para o câncer. O feito estaria associado a uma vacina,
desenvolvida por pesquisadores brasileiros, que eliminaria cânceres de pele e
de rim.
A vacina “se
mostrou eficaz, tanto no estágio inicial como em fase mais avançada”, diz a
mensagem. “A vacina é fabricada em laboratório utilizando um pequeno pedaço do
tumor do próprio paciente. Em 30 dias está pronta, e é remetida para o médico
oncologista do paciente”, continua o texto.[
A mensagem
traz ainda uma série de nomes de pesquisadores, instituições relacionadas à
pesquisa e até um telefone 0800 para quem estiver interessado em saber mais
sobre a novidade. Ao telefonar, a operadora informa que "o número
discado não corresponde a um número de serviço ativo".
FALSO:
Brasileiros não encontraram a cura para o câncer
O Hospital
Sírio Libanês e o pesquisador José Alexandre Barbuto, citado na corrente como
responsável pela iniciativa, negaram que tenham encontrado a cura para cânceres
de pele e de rim.
“Esta notícia
vem circulando há anos: começou como um email, depois passou ao Facebook e
agora vem em ondas pelo Whatsapp”, afirmou Barbuto, imunologista do ICB-USP
(Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo).
“Ela permite
que se confunda um trabalho de pesquisa cuidadoso e que traz, sim, perspectivas
de resultados muito bons, com uma abordagem próxima ao charlatanismo”, afirma o
médico, autor de uma pesquisa relacionada ao tratamento do câncer. “Os
primeiros resultados clínicos [do seu trabalho] foram animadores, mas os
estudos continuam e ainda precisa de muito aperfeiçoamento antes de chegar a
algo que se possa aplicar amplamente.”
O Hospital
Sírio Libanês também negou que algum de seus laboratórios tenha criado a
vacina. “Nunca houve qualquer relacionamento comercial entre o HSL, ou qualquer
médico do Centro de Oncologia, e a empresa que está comercializando esta
vacina”, declarou a instituição, por meio de nota enviada ao UOL.
VERDADEIRO:
Brasileiros pesquisam combate ao câncer
Embora as
informações da corrente sejam falsas, há, sim, uma pesquisa em desenvolvimento
pelo ICB-USP desde 2004 que busca formas alternativas de tratar o câncer.
“O sistema
imune de pacientes com câncer tem, em potencial, a capacidade de reconhecer e
combater células tumorais”, explica o professor Barbuto. “Muitas vezes, no
entanto, o tumor enganou tão bem o sistema que não há resposta.” O objetivo
desse estudo, portanto, é usar um tipo de célula do sistema imune, chamada
dendrítica, para alertar sobre o tumor, que passará então a ser combatido.
“Como o que a
célula faz é iniciar a resposta, ao usá-la estamos ensinando o sistema imune e
dizendo a ele que o tumor é, sim, um problema ser combatido”, explica Barbuto.
A partir daí começa a reação.
De acordo com
o médico, a pesquisa tem sido desenvolvida tanto em laboratório quanto em
estudos clínicos “controlados e limitados a situações muito específicas”. Os
resultados têm sido animadores, mas, ele frisa, ainda estão longe de ser
considerados a cura para o câncer.
“Acredito que
um dos piores aspectos da corrente é criar falsas esperanças para pacientes,
familiares e amigos, que muitas vezes acabam chegando a mim pedindo um
tratamento que não está disponível, e, nem de longe, seria tudo o que o texto
promete”, conclui o imunologista.
https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2018/07/11/pesquisadores-brasileiros-nao-desenvolveram-vacina-que-cura-o-cancer.htm
http://blogdomendesemendes.blogspot.com