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terça-feira, 1 de janeiro de 2019

O BATALHÃO PATRIÓTICO



No ano de 1925, o Batalhão Patriótico foi montado pelo médico baiano Floro Bartolomeu da Costa, aliado do Padre Cícero Romão Batista, líder político do Juazeiro do Norte/CE. Para compor a dita milícia, Floro utilizou, além das tropas legais, homens ligados ao banditismo da época, isto é, cangaceiros e cabras. A intenção era barrar a entrada da chamada "A Grande Marcha" no Cariri. Esta, que mais tarde veio a ser conhecida por "A Coluna Prestes" ou "A Guerra dos Cavalos", havia sido formada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, tendo raízes na Revolta Tenentista, sendo que, entre seus ideais, desejava mudanças na política brasileira, opondo-se ao domínio das oligarquias. 



Ao tempo, a referida Coluna Prestes marchava pelo País dividida em quatro destacamentos, cada um com, mais ou menos, 800 homens, e, no ano de 1926, passou do Piauí para o Ceará. Acreditava-se que os "Revoltosos", apelido dado aos integrantes da Coluna, entrariam no Ceará pela cidade de Campos Sales. Por este motivo, Floro convocou o coronel Pedro Silvino de Alencar, líder da cidade do Araripe/CE, para comandar as tropas cangaceiras que resistiriam à invasão. Foi nesta ocasião que Floro Bartolomeu e o Padre Cícero convidaram Lampião para integrar a milícia cangaceira, com a patente de "Capitão Honorário das Forças Legais de Combate aos Revoltosos". Porém, quando Lampião chega ao Juazeiro, no dia 6 de março de 1926, Floro já havia partido para o Rio de Janeiro, doente de sífilis. 

O fato é que os Revoltosos deram um drible no Batalhão Patriótico, pois o Segundo Destacamento, comandado por João Alberto, marchando na vanguarda da Coluna, entrou no Ceará pela região Norte (entre Ipueiras e Guaraciaba do Norte), enquanto que os outros três Destacamentos passaram pela zona rural de Campos Sales, pela fazenda Alto Alegre, pertencente a Joaquim Solano, e foram todos se reunir na cidade de Arneiroz, sertão dos Inhamuns. Mas isto já é outra história. Na foto, estão alguns líderes do Batalhão Patriótico: 1- Capitão Tobias Medeiros, 2- Major José Almeida Cavalcante, 3- Capitão Mário Rosal, 4- José Parente (ex-prefeito de Piancó/PB), 5- João Evangelista, 6- Coronel Pedro Silvino de Alencar, 7- Loiola Alencar (contador), 8- Major farmacêutico Julio (?), 9- Capitão Antônio Souto. A foto foi tirada logo após a "Hecatombe do Piancó" e foi ofertada ao Museu Histórico, em 1936, pelo sr. Odílio de Figueiredo, residente no Juazeiro do Norte. (Foto: Instituto do Ceará; Texto: Heitor Feitosa Macêdo).

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FIQUE POR DENTRO - POSSE DE BOLSONARO: APOIADORES COMEÇAM A SE CONCENTRAR NA ESPLANADA

Por Manuela Albuquerque

Apoiadores do futuro presidente Jair Bolsonaro (PSL) já estão começando a se concentrar na Esplanada dos Ministérios, por onde o comboio do capitão reformado vai passar como parte da cerimônia de posse.

O trajeto do 38º presidente da nação começa na Catedral Metropolitana e, depois de uma série de protocolos no Congresso Nacional e Palácio do Planalto, termina com uma recepção, às 18h30, no Palácio do Itamaraty. A Polícia Militar estima que 500 mil pessoas passem pela área central da capital.

Dois grandes bonecos foram erguidos e bandeiras gigantes foram estendidas em frente à Torre de TV. É grande o número de ambulantes vendendo camisetas com as mais diversas estampas relacionadas ao político, bandeiras do Brasil e até mesmo imitações de faixas presidenciais.


MAIS SOBRE O ASSUNTO


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VIRGULINO, SEMPRE À FRENTE DE SEU TEMPO



Por Manoel Severo
Virgulino Ferreira sempre à frente de seu tempo...

Parece estranho falarmos de cangaço e termos que recorrer a conceitos próprios do ambiente empresarial moderno; mas, nos aprofundando um pouco mais na história intrigante de Virgulino, não nos parece exagero considerar que já naquela época o engenhoso bandido das caatingas conhecia muito bem o valor do Marketing Pessoal, a Política da Boa Vizinhança, Lobby e Tráfico de Influência, até mesmo noções de Logística Empresarial; na verdade não conseguimos conceber um reinado tão extenso de uma vida fora da lei em circunstâncias tão adversas, sem que boa parte desses conceitos não fizesse parte da mente prodigiosa de Lampião.

Desde cedo pela própria profissão da família, Virgulino e os irmãos passaram a conhecer toda a região e fazer um grande ciclo de relacionamentos, que mais tarde, unido a ingredientes como o medo e o favor, seriam de muita valia. Sem falar que essa espetacular rede de “apoiadores”, formada de gente miúda e graúda, foi fundamental para a sobrevivência por tanto tempo do famoso grupo.

As condições inóspitas e hostis da caatinga exigiam, além da extrema capacidade física, um exagerado instinto de sobrevivência. Comida, água, descanso, dormida, eram luxos muitas vezes esperados por dias a fio. Andanças intermináveis, muitas vezes em círculos, passando por vários estados em poucos dias carecia de um mínimo de organização e senso de direção.

Um líder sempre atento à seus próprios movimentos

Outro fator preponderante era o acesso à munição. Até os mais próximos do grande chefe do grupo, não sabiam de onde vinha tamanha carga de armamento, inclusive recebendo o que havia de mais moderno na época, exclusividade que nem as forças policiais recebiam.

Penso que o maior de todos os diferenciais entre Lampião e os outros grandes chefes do cangaço, como Jesuíno Brilhante, Antonio Silvino e mesmo Sinhô Pereira, sem dúvidas era o seu cérebro privilegiado. Mesmo compreendendo a posição de amigos pesquisadores quando defendem a desconstrução do mito de que Lampião não tinha nada de estrategista militar e que seu sucesso e longevidade na vida cangaceira se deveu a uma “mistura de incompetência e corrupção, por parte dos governos, e instinto de sobrevivência da parte dele, Lampião”; as espetaculares técnicas desenvolvidas para a “guerrilha” na caatinga, muitas vezes foram determinantes para salvar vidas e vencer batalhas, muitas delas beirando ao absurdo do desequilíbrio de forças, como a de Serra Grande onde uma força volante de perto de 400 homens não conseguiu dá cabo do grupo cangaceiro com pouco mais de 70 cabras, que se valiam desde o ousado enfrentamento em nítida desvantagem, à retirada estratégica quando lhe era conveniente, muitas vezes o bando simulava o abandono do embate e voltava pela retaguarda e encontrava a força volante totalmente desprevenida.

No cangaço de Virgulino, cada peça se encaixava em seu lugar...

Na verdade, o próprio estilo de vida cangaceira; uma espécie de nômade das caatingas, o profundo conhecimento da região e suas sólidas redes de apoio logístico, lhes conferiam um grande poder de mobilidade, como também maiores condições de escaparem da polícia.

Um dos maiores cuidados do grupo era evitar o movimento pelas estradas, e mesmo dentro da caatinga tomavam cuidados excessivos com relação aos rastros. O ato de andar em fila indiana, todos seguindo na mesma pegada, o fato de calçar alpercatas com o salto na frente e o último do grupo apagar as pegadas com galhos de plantas eram providências costumeiras para dificultar o trabalho dos rastreadores das volantes, o cuidado em acender o fogo para a comida e até mesmo em enterrar os restos de animais sacrificados e restos de comida eram costumais, além do uso de cães para a sentinela e um entrançado de fios e chocalhos ligados entre si pela catinga, para denunciar a presença indesejada. Ao invadir os lugarejos o primeiro alvo eram sempre os fios do telégrafo.

Um líder consciente do poder de sua própria imagem e mito...

Outra tática que visava confundir o trabalho das volantes era não deixar os corpos de seus companheiros abatidos em combate, quando era inevitável, cortavam as cabeças dos mesmos para evitar que fossem identificados. O grupo também possuía o hábito de para os novos membros adotar a alcunha ou apelido de outro companheiro morto, também na intensão de confundir a polícia, perpetuando o personagem abatido.

Dessa forma não seria exagero nenhum, declinar Virgulino Ferreira como um dos cérebros mais privilegiados de sua época, razão sem dúvidas que permitiu seu “reinado” por quase vinte anos; de sua simpática Vila Bela em 1918 até o fatídico julho de 1938, em Angico.

Manoel Severo - Cariri Cangaço

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ENTREVISTA;LABAREDA A ESTÁCIO DE LIMA

Por Alfredo Bonessi

"Depois da passagem por Curaçá, Lampião diterminô qui Luiz Pêdo, eu, Anjo Roque, i mais outro cabra, nóis deixasse a Incruzêra, pra si encontra nus Trêis Riacho. Ele siguiu prua istrada i nóis pru outra. Nóis siguimo pula istrada qui ia toca in casa di Benevide Preto, portigido di Lampião. 


Quano cheguemo na casa du Benevide Preto, êle preguntô:

- Quem são voceis ? São força ou são cangacêro ?

Cumpade Luiz Pêdo arrespondeu a êle:

- Nun lhe interessa, u qui interessa é você bota cumida pra gente cumê.

Êle disse:

-Nun dô cumida, nem a cangacêro, nem a macaco !

Déiz anu preso ! Eu, Anjo Roque da Costa, entrei na casa dele, i incontrei um home preso. Benevide tinha prindido u home, fazia uns 10 ano, pru causa da fia di um vaquêro, u rapáiz buliu cum ela. O rapáiz disse:

- To preso aqui, fáis 10 ano ! 

Tava dum lado da parede i a corrente, cum qui êle tava amarrado, furava a parede, indo prega num cepo du outro lado.
Cagava, mijava, drumia e cumia, amarrado. Era um fedo horrive. Mosca zunindo. I o home si acabano...
Eu disse:

-Levanta rapáiz !

Êle má si alevanto, torno a caí, apois tava cum as pernas sem pude mexe. Eu chamei Benevide Preto i disse:

- Você é marvado. Cumu é qui você prende um home, nua cundição dessa ? Lampião sabeno disso tu tava sangrado. Vamo, sorte u home...

Êle foi, distrancô u cadiado i sortô u home, a purso.
Um dus cabra qui tava mais eu, passo u cacete in Benevide Preto. Ele disse:

- Você nun pode dá in mim.

Quando percuremo Benevide na sala, êle já ia nu tabulêro, sem chapéu, correno, cumo um danado. Nóis aí, afroxemo as ispingarda in riba dele, atiremo nele, mas uns tiro nun pego pruque u peste tava sumido.Di noite, incontremo cumpade Lampião qui tinha sabido dus conticido. Pulo Benevide Preto. Recramô cum nóis:

- Pra qui vocêis buliro cum Benevide Preto ?

Cumpade Virgino disse:
-Pru quê êle miricia. Marvado ! Tinha prindido um home, déiz ano cunsicutivo, na casa dele. Foi perciso nóis dá nu home banho morno pra vê si sarvava u home. Mas u home nun vai guentá.

Siguimo, in siguida prô Rio Sá, mais um guia. Us “minino” mataro muita gente pulo caminho, di noite: morrero bem umas 10 pessôoa, sem percisão,pula fôrça da cachaça qui nois tava bebeno."

Depoimentos de Labareda a Estácio de Lima, em “ O mundo Estranho dos Cangaceiros” - pág 215-216-217 - Editora Itapoã Ltda – 1965

Alfredo Bonessi - Fortaleza
Sócio da SBEC

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TG 07-010 - 108 ANOS DO TIRO DE GUERRA DE MOSSORÓ

Por Geraldo Maia do Nascimento

Em 07 de novembro de 1909, num belo dia de domingo, era criado o Tiro de Guerra de Mossoró, como forma de prover a cidade de um grupo de atiradores treinados para defender a cidade quando necessário. Os Tiros de Guerra são uma experiência brasileira vigente desde o século XIX, quando Antônio Carlos Lopes (1870 – 1931), fundou na cidade de Rio Grande – RS, uma sociedade de tiro ao alvo com finalidades militares. Antônio Carlos, com cerca de 20 anos, foi testemunha dos sangrentos episódios em Rio Grande-RS, decorrentes da Guerra Civil de 1893-95, combinados com a Revolta da Armada (1893-94). Possuidor do curso de Farmacêutico Químico, realizado em Ouro Preto-MG, foi até a Suíça a fim de estagiar em seus famosos laboratórios. Lá teve a sua atenção despertada pelo sistema de defesa daquele país, onde cada cidadão recebia instrução de tiro e uma arma, que guardava em casa, ficando em condições de atender à convocação militar, quando fosse necessário. 


De volta à terra natal, onde se estabeleceu como comerciante, foi que concebeu sua idéia de defesa do Brasil com poucos recursos e com potencial de mobilizar em emergências grande número de reservistas atiradores, habilitados no uso das armas de fogo. Em Mossoró, tudo começou quando às 16h00min daquele domingo, no salão nobre do antigo Colégio Diocesano Santa Luzia, se reunia uma boa parcela da sociedade mossoroense, com o objetivo de organizar um clube com fins militares, que se denominaria “Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense”. Essa reunião era dirigida por uma alta patente da Guarda Nacional, que convidou, tão logo se concretizou o ato, a comparecer todos os cidadãos que dela desejassem fazer parte. Estava criado assim o Tiro de Guerra de Mossoró, tendo a data de 7 de novembro de 1909 como marco na história de sua criação. A idéia da criação do Tiro de Guerra de Mossoró foi bem aceita pela sociedade, tanto assim que os jornais da época se ocuparam de ressaltar a sua importância. “Na sua edição de 14 de novembro de 1909 o jornal “Comércio de Mossoró” trazia um artigo onde dizia: “Sob os melhores auspícios e com numerosa assistência foi fundada a Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense, que será instalada no dia 15 do corrente, sendo eleita e empossada a diretoria que tem de tem de geri-la no  primeiro ano social.”  A “Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense” começou com 81 sócios, sendo a sua primeira diretoria constituída, de acordo com a matéria publicada no jornal “Comércio de Mossoró” – edição de 21/11/1909, da seguinte forma: Presidente – Bento Praxedes; Vice Presidente – Tem Cel. Antônio Filgueira Filho; Tesoureira – Alfredo Fernandes; Secretário – Antônio Quintino; Diretor de Tiro – Major Romão Filgueira; Membros – João Capistrano, Major Vicente Couto (da Guarda Nacional), José Pedro do Monte, Tenente Vicente Ferreira Cunha da Mota e Genuíno Alves de Souza. Comissão de Contas: Francisco Borges de Andrade, João Nogueira da Costa e Raymundo Jovino de Oliveira. No dia 23 de novembro de 1910 houve a incorporação da Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense à Confederação do Tiro Brasileiro, sob o número 42, na terceira categoria, passando a ser conhecido como “Tiro de Guerra 42”. Com a promulgação da nova Lei do Serviço Militar em 1946 (Dec. Lei nº 9500, de 23 de julho de 1946), que implantou o recrutamento na forma de convocação geral por classe, os Tiros de Guerra passaram a ter uma posição de destaque na formação da reserva do Exército Brasileiro, pois situavam-se em cidades que possuíam um número de jovens aptos para o Serviço Militar. Houve renumeração nos TG’s, passando o antigo TG 42 a ter o nº 188 (TG-188), passando depois para TG-07-010, o que significa dizer que é o Tiro de Guerra 010 da 7ª Região Militar. A história do Tiro de Guerra de Mossoró foi contada por um de seus instrutores, o hoje tenente da reserva Rinaldo Difforene Schultz, que o comandou no período de 2001 a 2005, no livro “O Tiro de Guerra de Mossoró”, editado pela Coleção Mossoroense, com o patrocínio da Petrobras através da Lei de Incentivo à Cultura “Câmara Cascudo”.

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TIM MAIA

https://www.youtube.com/watch?v=JCKdzOHhzFU

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LAMPIÃO E SEUS PROTETORES NO AGRESTE PERNAMBUCANO

Por Antonio Vilela
Antonio Vilela e Gonzaga de Garanhuns

Antes de abraçar o mundo do crime, o jovem Virgulino Ferreira da Silva andava pelo agreste meridional de Pernambuco como almocreve, pois comprava vários produtos, em especial o café, para vender na ribeira do Pajeú. Após o assassinato de José Ferreira, Lampião encontrou um lugar seguro pra seus irmãos em Bom Conselho do Papa Caça. Mesmo inocentes, eram perseguidos pelos inimigos de Lampião. Em Bom Conselho a família Ferreira encontra a proteção do coronel José Abílio de Albuquerque Ávila, que por incrível que pareça era parente do tenente José Lucena Albuquerque Maranhão, o assassino de José Ferreira. A família Ferreira fixa residência na terra do Papa Caça até 1924, quando vão morar em Juazeiro do Norte-CE. Outro grande protetor de Lampião no agreste pernambucano era o coronel Audálio Tenório de Albuquerque, me Águas Belas. 

Em destaque Águas Belas ; agreste pernambucano

O seu refugio era a casa grande da fazenda nova, no riacho fundo. Ali, Lampião se refugiava por dias, protegido pelo coronel Audálio Tenório, um dos homens mais influentes na política do interior de Pernambuco. 

Na propriedade do coronel Audálio, os cangaceiros descansavam em um abrigo com cinco quartos, duas salas e uma grande cozinha, e que permitia uma visão total do seu entorno. Mas as volantes nunca passaram por aquelas bandas. O coronel foi considerado um dos grandes coiteiros de Lampião em Pernambuco, e responsável, segundo alguns pesquisadores, pelo contato de Lampião com o Sírio-Libanês Benjamin Abrahão que resultou nas imagens registradas em 1936 no Capiá da Igrejinha – AL, há poucas léguas de Águas Belas. 

Cel. Audálio Tenório de Águas Belas

Já o coronel Abílio tinha uma grande amizade com Lampião e era fornecedor de armas e munição. Em 1923, Lampião viajou com seus irmãos para Bom Conselho, ao povoado, nesse entremeio, chegou o coronel Abílio, procedente do Recife trazendo de automóvel muito armamento e munição envolvidos numa lona, destinados a Lampião, a quem entregou. 

O coronel era uma espécie de banco particular de Lampião, guardando parte da fortuna. Teve a ousadia de levar o Capitão cego para Recife para fazer o tratamento oftalmológico com o Dr. Isaque Salazar. Disfarçado de fazendeiro, cabelo e barba crescidos, óculos escuros, Lampião chegou à capital pernambucana em outubro de 1926. Andou de bonde, passeou pela Veneza brasileira e chegou até a assistir um filme. Esta viagem foi feita de trem, Garanhuns-Recife. 

Imagens de Bom Conselho, Pernambuco

O rei vesgo ainda tinha também a amizade e proteção do coronel Gerson Maranhão, em Itaiba. O que me chama a atenção nesses protetores era a ligação de parentesco com José Lucena de Albuquerque Maranhão. Acredito que Lampião, José Abílio, Audálio, Gerson Maranhão e José Lucena eram “farinha do mesmo saco”.

Antônio Vilela de Souza - Garanhuns
Sócio da SBEC

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O ATAQUE DE LAMPIÃO A UIRAUNA - PB

Por Sérgio Dantas
Alguns dos defensores de Uiraúna. Ao centro, de paletó escuro, Luiz Rodrigues. Na extrema direita, sentado, o Subdelegado Nelson Leite. 

Uma vitória da inteligência sobre a força

Há meses Lampião sumira dos noticiários dos jornais. O ano de 1926 encerra-se sem grandes novidades sobre a horda do famoso cangaceiro de Vila Bela. Bem instalado e seguro no ‘coito’ da Serra do Diamante, do poderoso Coronel Isaías Arruda, Lampião sai da aparente inatividade apenas em fins de abril de 1927. Naquele fim de mês, o bandoleiro deixa o refúgio e pratica assaltos em pequenos vilarejos situados na região noroeste da Paraíba, entre os municípios de Cajazeiras e São José de Piranhas. São ataques rápidos, com vistas apenas ao saque. A proximidade desta parte da Paraíba com o valhacouto do ‘dono’ de Missão Velha facilita sobremaneira a ação do bando.

De fato, no dia 15 de maio daquele ano, liderando uma falange de cerca de trinta e cinco homens, Lampião se prepara para tomar de assalto a Vila de Belém do Arrojado - atual cidade paraibana de Uiraúna. Há dias que ‘olheiros’ residentes em sítios da fronteira já haviam sondado o vilarejo e o cangaceiro – decerto bem ciente das condições do lugar – crê que tem plena chance de sucesso na empreitada que pretende levar avante. 

o Arruado de Belém situa-se junto à fronteira do Rio Grande do Norte e é então inexpressivo. Ali não há mais que cento e trinta casas e uma igreja singela. Comércio pobre ou quase inexistente. Também ali não está destacado sequer um contingente policial para manutenção da ordem ou para oferecimento de uma defesa – mesmo que acanhada – no caso de um eventual ataque de cangaceiros. A ‘ordem’ no povoado é garantida somente por um Subdelegado civil, o potiguar Nelson Leite. Apesar de reiteradas notícias sobre incursões de cangaceiros naquela parte da Paraíba nos últimos dias, o Governo do Estado parece ignorar os eventos propalados pelos jornais e pela boca do povo. Apesar de vários reclamos por parte de proeminentes de Belém, o Estado não enviara tropa regular para a localidade. 


o início da tarde daquele dia 15 de maio, no entanto, o sertanejo Leonardo Pinheiro percebe a marcha de cangaceiros em direção a Belém. Sem demora, espora o cavalo e entra no povoado em sonoro alarde:

-“Vem cangaceiro por aí! Vem cangaceiro por aí! Parece que é Lampião e não está a mais que umas duas léguas!” 

Enquanto a horda marcha em busca do vilarejo, Nelson Leite se apressa em organizar uma defesa. Sangue quente, cioso de suas obrigações, Leite parece disposto a sacrificar a própria vida na defesa da comunidade que lhe fora confiada. 

Abandonados à própria sorte, os habitantes de Belém – incentivados por Nelson Leite - tratam de se armar e garantir a resistência do lugar. Civis são convocados e há mesmo os que comparecem voluntariamente para pegar em armas. Ao final do rápido recrutamento, chega-se à desanimadora soma de onze homens apenas. Um contingente ínfimo que tentará rechaçar um bando com cerca de trinta e cinco cangaceiros. Uma luta desigual – se considerarmos a proporção de três bandoleiros para cada defensor e a falta de experiência de guerrilha dos citadinos. Por volta das dezessete horas, finalmente, Lampião avizinha-se da Vila. O frágil agrupamento de casas lhe parece excessivamente frágil e torna-se ainda mais amiudado pela sombra da serra de Luís Gomes, não muito distante dali. “Um alvo fácil”, provavelmente terá pensado o poderoso cangaceiro. O desenrolar dos fatos, porém, lhe revelará um grave erro de prognóstico. 

Em que pese a correria desenfreada que se seguiu ao alarma dado por Leonardo Pinheiro, os homens de Nelson Leite aprestam munição e armas. Tudo é feito com rapidez e disciplina.Ao mesmo tempo, mulheres, velhos e crianças – a seguir igualmente os apelos do Subdelegado – buscam refúgio na caatinga ou em sítios de familiares fincados nos arredores de Belém. Pequenos “tesouros” são previamente enterrados em lugares seguros. Potes de barro, caixas de papelão, latas de querosene: qualquer coisa serve como invólucro para as ‘economias’ adquiridas ao longo de anos de trabalho. 

Em pouco tempo, os defensores se organizam e estão posicionados em lugares previamente definidos pelo Subdelegado. Dedos nervosos aguardam o desfecho do ataque. Uma testemunha registra os momentos iniciais do entrave:

“O ‘delegado’ Nelson Leite distribuiu uns homens nos pontos mais altos da rua principal, dois outros guarnecendo as laterais e três instalados no teto da Igreja. Quando Lampião entrou com o bando, pela ‘rua velha’, começou a fuzilaria”. (Sinforosa Claudina de Galiza, entrevista). 

Nelson Leite, de fato, engendrara bom plano. Distribuíra os poucos rifles e fuzis disponíveis com os onze defensores. Repartiu com irrepreensível parcimônia a rala munição que tinha ao seu dispor. Os melhores atiradores foram destacados para pontos estratégicos. Na teto da igreja - prédio mais alto e com abrangente visão dos arredores - posicionaram-se Luís Rodrigues, Moisés Lauriano, José Teotônio e Joaquim Estevão. O tempo corre lento. Não há novidades. Até perto das oito horas nem sinal da sinistra patuléia de chapéu de couro. A espera alongada transforma as trincheiras em ninhos de ansiedade. 

Matriz Jesus, Maria e José, Uirauna atualmente.

De súbito, Luís Rodrigues dá o alarma. Alguém se aproxima. O luar denuncia vultos sorrateiros. Homens armados aproximam-se do povoado pela ‘rua da Proa’. É o início da invasão. De pronto, grande incêndio ilumina a noite na pequena Belém. Grossas labaredas passam a consumir a casa de um agricultor e espalham-se rapidamente para um antigo curral e plantação de milho já há dias quebrado. O incêndio. Método infalível para incutir terror aos sitiados. 

Josefa Augusta Fernandes, bem jovem à época do evento, anota a origem do fogaréu: 

"Lampião começou destruindo a propriedade do finado João Gabriel, tendo em seguida tocado fogo nos currais e nas plantações de feijão e milho. O fogo serviu para alertar os homens da cidade, sendo que eles já estavam em posição nos principais pontos daqui”. (Maria do Socorro Fernandes, entrevista).

Não havia mais o que esperar. Ao primeiro grito de comando de Nelson Leite, trava-se pesado tiroteio. Lampião, decerto, não esperava semelhante reação. A fantástica fuzilaria oriunda da Vila lhe faz recuar. De efeito, os tiros vindos da rua da Proa tornam inviável uma entrada por aqueles lados. 

Sem sucesso na primeira investida, o chefe de cangaço tenta confundir os defensores entrincheirados. Sob sua batuta, os bandoleiros passam a gritar, urrar como animais e a praguejar insultos e xingamentos aos defensores e suas famílias. A permear a gritaria, grossas baterias de tiros.

O rei-do-cangaço deseja tomar Belém. Tentará de todas as maneiras penetrar no vilarejo para vilipendiar suas casas e lhes extrair até o último ‘cobre’. Sem demora, ordena aos comandados a ‘abertura’ de uma linha de fogo pela lateral, com o fito de invadir a Vila pelo flanco oposto. 

Nada, entretanto, parece gerar resultado prático. A posição privilegiada dos atiradores locados no telhado da igreja permite que tiros sejam disparados em todas as direções. A resistência agiganta-se com estrondos de repercussão fantástica e de curiosa origem. Nelson Leite improvisara – no pouco tempo que dispôs antes da consecução do ataque - algumas “ronqueiras” e logo começou a fazer uso dos artefatos. Os estrondos causados pelas bombas caseiras são assustadores e surpreendentemente surtem efeito. Um simples improviso que, ao que tudo faz crer, parece realmente ser a chave para uma vitória. (1)

Em pouco, qualquer objeto metálico em formato cilíndrico - e vazado pelo menos em um dos lados - torna-se invólucro para manufatura dos pesados rojões. Joel Vieira, com dezoito anos à época do fato, registrou em depoimento:

“Os que estavam no alto da Igreja, começaram a atirar de ponto e também para dentro da igreja, causando um eco que parecia canhão. O Subdelegado também tinha improvisado umas ‘ronqueiras’, feitas com pólvora socada dentro de latas, e de quando em quando estourava uma. Já estava escuro, e aqueles tiros davam a impressão que havia um canhão com a gente”. 

No alto da igreja, Luis Rodrigues - artilheiro mais aguerrido – resolve acrescentar estrondos adicionais aos estampidos das ‘ronqueiras’ improvisadas pelo Subdelegado. Dessa forma, com o intuito de causar impacto ainda maior, começa a atirar quase em paralelo à lateral da nave do prédio sagrado. Estrondos fantásticos, causados pelo eco do salão quase vazio, dão ainda mais ânimo aos outros defensores entrincheirados no teto da igreja. Decide-se que alguns deles, alternadamente, passarão a atirar também para dentro da nave.

A estratégia funciona. Os estrondos se multiplicam. De fato, para quem está do lado de fora, resta a impressão de que algum tipo de canhão está sendo utilizado. Os cangaceiros, atarantados, mantém posição de cautela e não avançam. O escuro da noite enevoada pela fumaça dos disparos os impedem de enxergar, na verdade, o tipo de “arma” adicional que ora se usa na defesa do arruado. O engodo paulatinamente funciona. 

No calor da peleja, porém, passos apressados denunciam silhueta humana esgueirando-se próximo à igreja. A escuridão da noite não permite distingui-la com precisão. Da torre principal um defensor atira. O civil Antônio Correia é atingido. Confundiram-no com um cangaceiro. Correia morre pouco tempo depois em razão do profundo ferimento à altura do pulmão. É a única baixa durante o combate. 

Os cangaceiros não desistem e tornam a investir contra o território inimigo por uma ruela lateral à igreja. Lampião brada ordens aos seus homens. Todos, contudo, parecem hesitar em razão dos estrondos que continuam a reverberar entre as casas da pequena Belém. 

Do lado dos defensores, um voluntário prontifica-se para preparar novas ronqueiras, de forma ininterrupta, servindo-se como espécie de municiador.

Dominado pela ira, Lampião manda reacender o fogo que arde tênue na propriedade de João Gabriel. O vento rapidamente espalha as labaredas em espantosa velocidade. As chamas consomem vacas e bezerros cativos no cercado contíguo a casa. Urros de dor de animais engolidos pelas chamas desenham dantesco suplício. Poucos escapam ao bizarro holocausto.

A derradeira tentativa de conquista do povoado fracassa. Com pesar, os cangaceiros reconhecem que não conseguirão penetrar em Belém.

O desconhecimento dos pontos de defesa, o espocar das “ronqueiras”, o ribombar de tiros reverberados pelo salão da igreja, a configuração física da vila, o cansaço da longa marcha até ali. Tudo parece sugerir uma retirada. Lampião não demora em perceber o malogro da empreitada:
- Vamos sair para economizar munição! – grita furioso.

Ainda se ouvem tiros por mais um quarto de hora. Aos poucos os cangaceiros se retiram do campo de luta. Disparos tornam-se esparsos. Ao compasso da retirada, a fuzilaria regride até reinar o mais absoluto silêncio. Lampião e seus homens deixam Belém em definitivo. É ainda Joel Vieira quem destaca:

“Eles tentaram muito, mas não conseguiram entrar. Antes das sete horas da noite, já tinham ido embora. No dia seguinte, o festejo foi grande, pois todos pensavam que ia morrer muita gente, mas não. Apenas um rapaz morreu vítima de uma ‘bala doida’ e caiu ali perto da Igreja. Tirando o incêndio na propriedade de João Gabriel, o prejuízo aqui foi pouco. Com pouco recurso, a gente botou Lampião prá correr!”.

E Lampião, de fato, jamais voltou a Uiraúna. Nos dias seguintes, um telegrama é enviado para as principais cidades do sertão do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Anunciava-se a vitória de um povo contra o poderoso rei do cangaço. O Intendente local assinou o comunicado: 

“Fomos atacados dia 15 famigerado Lampião. Resistimos cerrado fogo, bandoleiros recuaram. Vítima tiroteio Antônio”. (a) José Caboclo.

É a vitória inconteste de um sumário grupo de cidadãos contra quase quarenta cangaceiros. Uma vitória nascida da confiança de homens do povo; sertanejos comuns. Não houve – como aconteceu em Mossoró – um grande lapso de tempo para a preparação de uma defesa. Não houve reuniões; não se teve tempo para comprar armas modernas. Não havia sequer uma torre na igrejinha da cidade. Existia, apenas, a vontade de preservar os próprios lares. 

Uiraúna se defendeu heroicamente, a exemplo da resistência mostrada pela pequena Nazaré, em Pernambuco, quatro anos antes. Uiraúna impediu a entrada dos cangaceiros de Lampião como faria a população sergipana de Capela, liderada pelo destemido Mano Rocha, três anos mais tarde. 

A vitória do povo de Uiraúna foi obtida sem recursos, sem alarde e sem exploração midiática posterior. Vitória conseguida sem um ‘notável planejamento prévio’ e sem colóquios barulhentos. Vitória de um pequeno grupo de homens pegos de surpresa pelo maioral do cangaço. Vitória, porém, recheada de atos do mais real e verdadeiro heroísmo. Vitória, enfim, da inteligência sobre a força.

Sérgio Dantas

Sérgio Augusto S. Dantas é autor dos livros “Lampião no Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada” (2005), “Antônio Silvino – O Cangaceiro, o Homem, o Mito” (2006) e “Lampião: Entre a Espada e a Lei” (2008).

NOTA:
(1) s.f. – Ronqueira: “Cano de ferro, preso a uma tora de madeira e cheio de pólvora, o qual produz grande detonação quando se lhe inflama a escorva”. (Aurélio). As ronqueiras já haviam sido largamente usadas em revoltas populares, como na guerra de Canudos. N do A. 

FONTES UTILIZADAS:
A União, edições de 17 e 18 de maio de 1927.
DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. LAMPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE – A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA. Editora Cartgraf, Natal/RN. 2005. 452 pgs.
SOUZA, Tânia Maria de. UIRAÚNA NO ROTEIRO DE LAMPIÃO, in Revista Polígono, 1997, 158 pgs.
Entrevistas concedidas ao autor por Maria do Socorro Fernandes (2003), Joel Vieira da Silva (2001), Josefa Augusta Fernandes (2000) e Sinforoza Claudina de Galiza (2000).

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O MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE MOSSORÓ


Por Geraldo Maia

Como pesquisador do tema “cangaço” tenho viajado, juntamente com outros companheiros da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, por quase todos os recantos do Nordeste que de alguma maneira tiveram participação nesse movimento. Nessas viagens conhecemos vários museus dedicados a esse tema, alguns bem interessantes, mas em nenhum deles encontrei uma seção sequer que mostrasse a luta das volantes (tropas móvel da polícia, constituídas para combater os cangaceiros). Em todos eles a figura principal é a de Virgulino Ferreira da Silva - Lampião, o mais famoso dos cangaceiros. 


Fachada do Memorial da Resistência em Mossoró


Mossoró teve o seu envolvimento com o cangaço em 1927, quando a 13 de junho a cidade era invadida por numeroso grupo de cangaceiros chefiados pelo próprio Lampião. Não contavam, os cangaceiros, com a fibra do povo de Mossoró. A cidade se preparou e expulsou a bala os facínoras. Esse evento constituiu-se num marco da história do cangaço. A audácia de Lampião em atacar uma cidade do tamanho de Mossoró, com mais de vinte mil habitantes, com várias fábricas de beneficiamento de algodão, agência do Banco do Brasil, estrada de ferro, etc., fez com que os governantes de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e até do Ceará se mobilizassem para perseguir esse grupo, de modo que com as volantes em seus encalços, Lampião foi obrigado a atravessar o rio São Francisco, o velho Chico, passando para a Bahia com o grupo bastante reduzido, esfarrapados e famintos. E aí começa outro capítulo da história do cangaço, ficando essa parte do Nordeste livre desse mal. 

Assaltar uma cidade do tamanho de Mossoró era algo que Lampião ou qualquer outro chefe de cangaço não imaginava. Toda a ação desses grupos era sobre pequenas cidades e povoados, muitos de uma rua só. Mas um fato ocorrido na região veio a alimentar a esperança de sucesso, por parte de Lampião. Isso ocorreu quando em 10 de maio daquele mesmo ano, a cidade de Apodi, distante apenas 76 Km de Mossoró, era atacada por um grupo de cangaceiros chefiados por Macilon, por encomenda do Cel. Isaias Arruda, do Ceará, que era coiteiro de Masilon e também de Lampião. 

Apodi não era tão pequena naquela época. E Massilon, com apenas cinco comparsas, arrasou a cidade. E foi ele e o Cel. Isaias Arruda que convenceram Lampião a atacar Mossoró. Alegavam que, se com um pequeno grupo Massilon tinha dominado Apodi, juntando o grupo dele com o de Lampião teriam êxito em Mossoró. 



Mas uma empreitada dessa monta precisava de muitos preparativos, como aquisição de munição, traçar rotas, etc., e Lampião não conhecia o Rio Grande do Norte. Não tinha nenhum coiteiro aqui que pudesse dar apoio aos seus planos. Tinha que contar com as informações passadas por Massilon, esse sim, conhecia bem a região, pois havia sido tropeiro em Mossoró. Mas enquanto preparavam o ataque, as notícias iam chegando a Mossoró. E o Cel. Rodolfo Fernandes (foto ao lado), então Prefeito da cidade, acreditou na possibilidade dessa invasão e preparou a cidade para a defesa. Providenciou armas, munição, traçou o plano de defesa, juntamente com os oficiais da polícia local, solicitou as pessoas indefesas que deixassem a cidade, para evitar mortes desnecessárias, de modo que naquela tarde de 13 de junho de 1927, quando os cangaceiros chegaram, tiveram que enfrentar uma verdadeira “chuva de balas”, resultando com a morte do cangaceiro Cochete e com ferimento de diversos outros cangaceiros, inclusive de Jararaca, que ferido no tórax e na parte superior da perna, foi preso no dia seguinte e justiçado uma semana depois. 

O Memorial da Resistência vem resgatar toda essa história, com ênfase para os “Heróis da Resistência”, aquele cidadão comum que, em não podendo contar com apoio de forças oficiais, se viu obrigado a pegar em armas e com risco da própria vida defender a cidade. Esse é o grande diferencial do que podemos chamar de museu do cangaço de Mossoró. Claro que para se falar da defesa, tinha que se falar do atacante. Por isso que o Memorial é constituído de vários prédios: Um dos prédios mostra o que foi o movimento cangaço e os principais cangaceiros. Em outro prédio conta a história da defesa da cidade com bastantes detalhes. Existe ainda um prédio que mostra como era Mossoró em 1927, para que o cidadão possa compreender os motivos que levaram Lampião a atacar a cidade. Todos o s painéis que compõem o acervo são auto-explicativos e sequenciais, de modo que não precisa de guia para se entender a história. Basta ter tempo disponível para circular entre os prédios e conhecer um dos capítulos mais emocionantes da história de Mossoró.
  
Geraldo Maia 
Mossoró RN 
Fonte: blogdogemaia.blogspot.com

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