Por João Costa
Às mulheres do
cangaço pode-se atribuir a base do arquétipo da mulher sertaneja por terem sido
elas responsáveis pela mudança do paradigma feminino numa região de poucos
recursos naturais, assolada por estiagens duradouras, fanatismo religioso,
violência extrema, padrões medievais de moral; sem vitimização, lançadas à
própria sorte numa “guerra suja” tiveram fins violento, à exceção de Durvinha e
outras.
Comecemos pela
trajetória da famosa baiana Durvalina Gomes, a Durvinha, que se apaixonou e
fugiu de casa com Virgínio Fortunato, um cangaceiro bonitão e viúvo, cunhado de
Lampião. Após a morte do amado não deixou o cangaço, tornando-se companheira de
Moreno até o fim da vida, vivendo na mais absoluta clandestinidade – nem os
filhos sabiam do seu passado.
Virgínio foi
morto em um tiroteio provavelmente atingido por “fogo amigo”; pois
recentemente, uma filha de Durvinha atribuiu a seu pai, Moreno, a autoria do
disparo mortal no rival para ficar com a moça. Durvinha foi uma mulher de
muitos segredos!
No fim do cangaço
pós-Angico foi trágico para Delmira, de Calais, a segunda mulher do cangaceiro
João Calais. O casal caiu numa emboscada urdida pelo coiteiro Totonho Preá.
Calais levou um tiro na mão e se escafedeu, Delmira foi ferida no abdome,
recebeu socorro, mas não resistiu ao ferimento.
No massacre de
Angico em 38, estava por lá uma cangaceira chamada Dinda, que escapou,
desapareceu sem deixar rastro ou mandar notícia; Dinha foi outra mulher do
cangaceiro Delicado e Doninha, de Boa Vista, casal que se entregou e
sobreviveu.
Ninguém sabe
que fim levou Dória, de Arvoredo, assim como Dulce, de Criança, que também
esteve em Angico; Teve a jovem Maria do Santo, chamada de Dussanto, que viveu
com Alecrim, cangaceiro que gostava de banhar-se me perfume e que mereceu o apelido
de erva aromática
Chocante foi a
trajetória das irmãs Eleonora e Aristéia. A primeira casada com Serra Branca
encerrou sua vida fuzilada e decapitada; Aristéia sobreviveu para contar
história, falecendo aos 98 anos.
Um tribunal
formado por cangaceiros sob chefia de Lampião condenou à morte a cangaceira
Cristina, de Português, por adultério. Lídia, de Zé Baiano, teve a mesma
desventura.
Todos
cochichavam, mas não há registro sobre uma cangaceira, “amiga próxima” de
Virgulino Ferreira, chamada de Eneida. Ninguém sabe se gostou ou viveu com
alguém, mas sua amizade com Lampião ninguém esqueceu. Quem foi a cangaceira
Eneida? Ou não foi cangaceira?
O
cangaceiro Cobra Viva (seria Cobra Verde?) também tinha mulher e se chamava Estrelinha,
e Elétrico vivia com Eufrozina e Veado Branco casou com
Idalina; Jacaré que casou Joana Gomes, e esta, depois de ficar viúva
contraiu núpcias com o cangaceiro Antônio de Engrácia.
Uma sina
feminina: a moça era raptada ou saía de casa em busca de aventura, seguindo o
cangaceiro amado, ou o seu raptor, ficava viúva, mas não podia deixar o cangaço
nem voltar pra casa de mainha, pois isso significava morte certa. O melhor
mesmo era se arranjar com um novo amor.
O famoso
cangaceiro Sabonete, guardacosta de Maria Bonita, tinha uma companheira de
nome Josefina Maria, já o cangaceiro Relâmpago gostava e vivia com
uma tal Josefa Maria. Josefina escapou e ninguém sabe que destino tomou
O bando de
Lampião também teve uma Julinha, mulher de sangue quente e de ascendência
indígena da tribo Pankararé; não estava só e ingressou no cangaço ao lado das
irmãs Catarina, Joaquina, Joana, uma Chamada Rosa e a mais nova que se chamava
de Sabrina.
Dizem que
faziam o tipo “eram de todos e não pertenciam a ninguém”. Logo, não podiam
criar raízes porque não havia vaga para solteiras no bando.
Como eram
estas irmãs? Se amavam ou seguiam alguém, não há relatos, como também nada se
sabe sobre uma bela cangaceira chamada Luazinha, tratada assim no diminutivo
por ser mignon, biótipo de mulher pequena, bundinha empinada, seios modestos e
rosto angelical.
As Marias
foram muitas, mas para fechar, abrindo um destaque para Maria Doréa, ou Dora,
de Azulão.
Contam que
Azulão, ao ver o capitão Virgulino retornar ao bando depois de um percurso na
Malhada da Caiçara, trazendo uma mulher, já casada e apartada do marido,
chamada Maria de Déa e a apresentou como sua, Azulão não se fez de
rogado, imediatamente foi em busca de sua Maria e a incorporou no bando.
O casal teve
vida breve no cangaço. Azulão era chegado a fazer suas razias
liderando poucos cangaceiros, separados do bando de Lampião. E numa dessas
Azulão e seu bando deram de cara com o implacável Zé Rufino e sua volante.
Nesse tiroteio
escaparam Arvoredo, Calais e um mulher, mas os cangaceiros Cangica,
Zabelê, Azulão e sua Maria foram crivados de balas e suas cabeças levadas
pelo tenente Zé Rufino como prova e prêmio para Geremoabo.
Baseado nos
livros “Amantes Guerreiras”, de Geraldo Maia Nascimento, e “Lampião: As
mulheres e o cangaço”, de Antônio Amaury Correia.
Fotos de
Benjamim Abraão.
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