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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

CANGAÇO E CORONELISMO NO RIO GRANDE DO NORTE: MEADOS DO SÉCULO XIX AO FIM DA REPÚBLICA VELHA (REVOLUÇÃO DE 30)

 * Honório de Medeiros


José Augusto Bezerra de Medeiros

Quem critica o Cangaço hostiliza a História e não entende o que é o Poder. 

O Cangaço lança luz sobre a História e o Poder, em intrincada trama com o Coronelismo e o Fanatismo (Misticismo);

São os seguintes os principais cangaceiros que escreveram parte de sua história no Estado do Rio Grande do Norte: José Brilhante de Alencar Souza (o “Cabé”), nascido em Pombal, na Paraíba, em 1824, e morto em Pão de Açúcar, Alagoas, em 1873; Jesuíno Alves de Mello Calado (o “Jesuíno Brilhante”), nascido em Martins, RN, em 1844, e morto em Belém de Brejo do Cruz, novembro/dezembro de 1879; Macilon Leite de Oliveira (o “Massilon”), nascido em Timbaúba dos Mocós, 1897, e morto em Caxias, Maranhão, em 1928; e Virgolino Ferreira da Silva (o “Lampião”), nascido em 4 de junho de 1898, em Serra Talhada, Pernambuco, e morto em 28 de julho de 1938, em Poço Redondo, Sergipe.

O único norte-rio-grandense era Jesuíno Brilhante, o primeiro dos cinco grandes da história do cangaço: Jesuíno, Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião e Corisco, eis a ordem cronológica. 

Existe a suspeita de que Virgínio Fortunato da Silva (o “Moderno”), viúvo de uma irmã de Lampião, Angélica Ferreira da Silva, era dos Fortunado de Alexandria, no Rio Grande do Norte, mas isso nunca foi comprovado. 

E são os seguintes os fatos na História do Rio Grande do Norte nos quais Coronelismo e Cangaço estão fortemente entrelaçados: a invasão de Martins por Jesuíno em 1876; a invasão de Apodi por Massilon em 1927; a invasão de Mossoró por Lampião e Massilon em 1927. 

Todos essas atividades cangaceiras estão conectadas com o coronelismo. 

Não houve Coronelismo no Sertão nordestino sem entrelaçamento com o Cangaço; não houve Cangaço sem Coronelismo. Acrescente-se a esses ingredientes o Fanatismo (Messianismo) e teremos um ponto-de-partida para a real história da época dos coronéis e cangaceiros.

Sempre tratamos esses fatos pelo COMO aconteceu, de forma folclórica, no sentido negativo do termo, mas precisamos nos indagar o PORQUÊ factual que os originou.

Tanto o coronelismo quanto o cangaço são expressões particulares do momento histórico específico que caracteriza o fim da República Velha no Sertão nordestino, muito embora seu padrão, enquanto disputa pelo Poder, seja recorrente na história das civilizações, sob outras formas, haja vista, por exemplo, o feudalismo europeu e japonês, e sua semelhança com esse objeto de estudo. 

As invasões de Apodi e Mossoró são indissociáveis, e se constituem em epicentro de um processo político que durou aproximadamente dez anos e dizem respeito a disputas políticas entre famílias senhoriais do Sertão paraibano e potiguar, tendo como fio-condutor, protagonista, o cangaceiro Massilon. 

 Rafael Fernandes Gurjão

Em 1924 José Augusto Bezerra de Medeiros, legítimo representante da fina flor da aristocracia rural algodoeira do Rio Grande do Norte, chegou ao poder. Seu intento, segundo cronistas da época, era construir uma oligarquia semelhante a dos Maranhão.


Em 1927 o Rio Grande do Norte, cujas principais regiões eram Natal, o Oeste e o Seridó, pareciam sob seu controle político, excetuando-se o crescimento político e econômico dos Fernandes cujas raízes estavam fincadas na Região que começava em Mossoró, passava por Pau dos Ferros, e terminava em Luis Gomes, fronteira com a Paraíva. 

Em 1928 Zé Augusto elegeu seu sucessor, o sobrinho-afim Juvenal Lamartine.

Mas em 1930 veio a Revolução que culminou com o golpe político que elevou Getúlio Vargas ao Poder. 

E Getúlio entregou o poder, após uma série de interventores, a Mário Câmara, aliado de Café Filho e dos adversários de Zé Augusto no Estado. 

Zé Augusto reagiu. Driblou as pendengas com os Fernandes, afinal faziam parte da mesma base econômico-política, a aristocracia rural algodoeira que dominava o Seridó e o Oeste, e juntos criaram o Partido Popular para lutar contra a candidatura de Mário Câmara em 1934.

E assim, na mais cruenta eleição que jamais houve no Rio Grande do Norte, o Partido Popular saiu vitorioso, e Rafael Fernandes, o líder da família Fernandes, foi eleito Governador do Estado.

Zé Augusto elegeu-se Deputado Federal.

Durante a campanha foram assassinados o Coronel Chico Pinto, em Apodi, e Otávio Lamartine, filho de Juvenal Lamartine. Espancamentos, ameaças, humilhações, depredações, foram incontáveis.

O Coronel Chico Pinto era ligado aos Fernandes; Otávio Lamartine a Zé Augusto.

À sombra de ambos, tramando contra, outros coronéis; à sombra desses coronéis, os cangaceiros...

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HISTÓRIA: A CASA GRANDE DA FAZENDA JOÃO GOMES, EM MARCELINO VEIRA

Por Honório de Medeiros

 

Cônego Bernardino José de Queirós e Sá (1820-1884)

Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)

Muitos anos depois ao recordar, com a leitura de As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, o relato do desaparecimento lento e inexorável da cultura celta na Bretanha do ciclo Arturiano, substituída pela opressiva aliança entre o cristianismo, tal qual o entendia a Igreja católica, e o poderio do Estado romano, associei o sentimento quanto a essa perda à minha própria amargura com a extinção, também impossível de ser detida, da antiga cultura sertaneja nordestina, iniciada no ciclo do gado. 

E recordei quando caminhava, garoto, pelas ruas da minha infância, tangido suavemente por meu pai, a cumprimentar, tímido, os vizinhos, dentre eles um seu colega de trabalho, Francisco Alves Cabral (Seu Chico Cabral), a quem eu conectava imediatamente, por ser filho de Pedro Alves Cabral, com a Casa Grande da Fazenda São João, uma das três ou quatro construídas no “início das eras” naquela Região, o Alto Oeste Potiguar, de onde os Fernandes, todos descendentes do casamento de Mathias Fernandes Ribeiro, filho de portugueses, com a filha de Francisco Martins Roriz, também oriundo da Pátria-Mãe e fundador da cidade de Martins, se espalharam pelo Brasil. 

Pedro Alves Cabral nascera lá, naquela lendária Casa Grande que Lampião recusou atacar, por artes de Massilon, quando invadiu o Rio Grande do Norte se dirigindo a Mossoró, escutara suas histórias e estórias nos serões familiares, testemunhara algumas e era, ele mesmo, o epicentro de uma história contada aos sussurros, entre os adultos Fernandes, mas escutados por meninos de ouvidos ávidos, que atribuía seu nascimento em 1879, no dia de São Pedro, às infidelidades do Capitão Childerico José Fernandes de Queirós e Sá, então proprietário do solar senhorial por casamento com Maria Amélia Fernandes, a Dona Marica do João Gomes, única herdeira de todo o patrimônio do Tenente Coronel Epiphanio José Fernandes de Queirós, conhecido como Major Epiphanio, falecido em 1884, e seu construtor. 

A história de Dona Marica é por si mesma uma lenda na família Fernandes. Consta que Antônio Fernandes da Silveira Queirós (o Major do Exu) teve vários filhos, dentre eles o Major Epiphanio e o Cônego Bernardino José de Queirós e Sá, que foi vigário de Pau dos Ferros de 1849 a 1884. O Major Epiphanio não teve filhos; o Padre, dez a doze, segundo alguns, dezesseis, dizem outros, de várias mulheres, dentre eles Dona Marica, a primogênita, adotada por seu irmão e dele futura e única herdeira. 

Ao assumir João Gomes o Capitão Childerico, ao que consta, segundo as lendas, manteve a tradição inaugurada pelo Cônego Bernardino de povoar os oitões, sótãos e porões da Casa Grande da Fazenda João Gomes, e dele nasceu Pedro Alves Cabral, pai de Seu Chico Cabral, a quem eu sempre associei ao lendário Solar da família e a proteção que recebeu, ao longo da vida, dos Fernandes descendentes do seu avô, bem como lembro, imediatamente, de outras tantas e preciosas histórias/estórias que o pó do tempo insiste em sepultar, e lentamente encaminhar toda uma cultura da qual, hoje, quase não há mais testemunhas vivas, para o desaparecimento.

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VEM-VEM

Clerisvaldo B. Chagas, 2/3 de janeiro de 2023

Escritor símbolo do sertão alagoano

Crônica:  2.823

Vivo sempre escutando/A cantiga de vem-vem/Quando ouço ele cantando/Penso ser você que vem.

Você já ouviu o canto do Vem-Vem? Já ouviu a música cantada por Luiz Gonzaga: Vem-Vem? É música saudosa, dessas tipo roedeira, que representa muito bem o sentimento sertanejo e a crença no pássaro incrível, também chamado em alguns lugares de Pitiguari. Sua presença ocorre em quase todo o Brasil, mas queremos apresentá-lo no folclore sertanejo e na saudosa música cantada por Gonzaga, imortalizando mais um personagem das caatingas. É chamado de Vem-Vem porque quando uma pessoa está pensando em outra, distante, às vezes na sua vida surge o passarinho cantando, cujo canto é interpretado como vem, vem. E não demora muito, a pessoa ausente chega à casa do ouvinte esperançoso do vem-vem.

VEM-VEM (CRÉDITO: WIKIPÉDIA)

Não bastasse as aves também imortalizadas por poetas, escritores e repentistas, chega o Pitiguari marcando presença. Existem as aves agourentas de morte (já expostas aqui), as que avisam sobre a proximidade da seca, os bichos que prenunciam chuvas de inverno e trovoadas, as que denunciam o inimigo humano e o Pitiguari avisando da chegada de um ausente. O Vem-Vem, Cyclarhis guianensis, mede, aproximadamente, 15 centímetros e pesa 28 gramas. Macho e fêmea são semelhantes e se alimentam de invertebrados, lagartixas e frutas. Tem domínio em todos os biomas brasileiros e a crença semelhante em todos eles.

Você já percorreu o “Reino Sertanejo” com todos seus mistérios do tempo da flora e da fauna?  Cada vez em que você palestra com um agricultor, com um benzedor, com um garrafeiro ou com um simples habitante da caatinga, descobre tanta coisa nova para você e que algumas delas, pode até mudar a sua vida para melhor. E sobre o Vem-Vem, conheci-o pela primeira vez como Pitiguari, no romance “Curral Novo”, do saudoso escritor palmeirense, Adalberon Cavalcanti Lins. Mas nem só de Vem-Vem vive a saudade sertaneja. E quanto o Sertão alagoano, continua cada vem mais bonito com esse tempo atípico, jamais visto pelos mais velhos.

Hoje está nublado, frio e úmido em pleno início de janeiro, pode?

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JOSÉ LEITE DE SANTANA, O CANGACEIRO JARARACA, PRESO EM MOSSORÓ, NA INVASÃO DE LAMPIÃO EM 13 DE JUNHO DE 1927.

 Por José Mendes Pereira

O cangaceiro Jararaca preso em uma das celas da Cadeia Pública de Mossoró

José Leite de Santana, era conhecido no mundo do crime por Jararaca, Nasceu na cidade de Buíque, no Estado de Pernambuco, no dia 5 de maio de 1901. Na invasão de Lampião à Mossoró, no dia 13 de junho de 1927, ele era um dos chefes de subgrupos do capitão, mas, por pouca sorte, foi baleado, no dia seguinte capturado pelos policiais, nas proximidades da ponte de trem da cidade, e no dia 18 de junho de 1927, o cangaceiro foi assassinado dentro do cemitério São Sebastião, cujo assassinato, até hoje, é considerado como um ato covarde dos policiais, já que o bandido estava preso e muito doente, causado pelas balas que estavam alojadas em seu corpo.

José Mendes Pereira e seu primo Júlio Batista Pereira na ponte de trem em Mossoró. Foto feita pelo saudoso Eraldo Xaxá.

Entre os anos de 1920 e 1926, o facínora serviu o exército brasileiro, tendo sido um dos participantes da "Revolta Paulista do ano de 1924", sob o comando de Isidoro Dias Lopes.

No ano de 1926, resolveu deixar a farda para entrar na famosa "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia", do afamado e sanguinário capitão Lampião, embora a sua participação no cangaço, foi bastante passageira, isto é, por pouco tempo, por ter caído nas mãos dos policiais da época. 

Eraldo Xaxá na ponte de trem. Ele faleceu de covid-19 e era nosso primo de 2º. grau. - Foto feita por mim. 

No fracassado ataque à cidade de Mossoró, em junho de 1927, foi preso e "justiçado" (morto sumariamente sem julgamento, após 4 dias de prisão) pelo soldado João Arcanjo.

Muitas pessoas da cidade de Mossoró, acreditam que o ex-cangaceiro obrava e continua obrando milagres, pois antes de morrer, teria se arrependido dos seus crimes praticados, e depois de morto, credita-se plenamente em algumas graças alcançadas.

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No dia de finados em Mossoró, a sua cova é a mais visitada pela população. Vem gente de toda região para conhecê-la, e talvez, receber algum milagre dele, ou até mesmo, pagar promessas. que possivelmente, tinha feito em nome do cangaceiro.

Após a coroa de flores que está sobre o túmulo, ao lado esquerdo, tem um outro túmulo. É o do cangaceiro Asa Branca, que faleceu naturalmente aos 80 anos. Aqui em Mossoró foram enterrados três cangaceiros: Colchete que foi assassinado no momento da peleja de Lampião contra os mossoroenses, e que não se sabe o local da sua cova, o Jararaca, que já foi esclarecido a sua morte, e o Asa Branca que morreu velhinho.

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MAPA DA GROTA DO ANGICO | O CANGAÇO NA LITERATURA #181

 Por O Cangaço na Literatura

https://www.youtube.com/watch?v=z4-qQoM-oXE&ab_channel=OCanga%C3%A7onaLiteratura

Conseguimos um mapa detalhado da grota e fomos lá desvendar todos os mistérios que envolvem o palco sangrento da morte de Lampião, maria Bonita, mais nove cangaceiros e um volante.

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A ÚNICA BAIXA ENTRE A VOLANTE HOMENAGEM AO SOLDADO ADRIÃO.

Por Paulo Britto

Adrião, é o primeiro a esquerda. 
A foto pertence ao acervo do professor, escritor e pesquisador do cangaço Antonio Vilela.

O texto, abaixo, está contida no livro “Como Dei Cabo de Lampião” de autoria do, há época, Capitão João Bezerra da Silva, intitulada como “Homenagem Póstuma do Autor”, logo no início da 1ª Edição do livro, em 1940 e mantida nas duas outras edições.

O soldado Adrião Pedro de Souza, componente da volante do Aspirante Francisco Ferreira de Melo, veio a ser morto, infelizmente, logo no início do combate de Angico. Com a subdivisão da tropa comandada pelo Tenente João Bezerra, para a execução do cerco ao acampamento de Lampião, o grupo liderado pelo Aspirante Ferreira, foi quem primeiro teve contato com os cangaceiros, ao ponto de se verem forçados a dar início a ofensiva.

Cessado o combate, constatou-se a morte do soldado Adrião, ferimento no braço do soldado Guilherme Francisco da Silva e ferimento transfixiante na mão e na coxa, com a bala se alojando no quadril do comandante da volante. Em seu livro, o comandante faz o seguinte comentário: “Sofrendo então muitas dores, baleado como estava na perna e na mão, perdendo muito sangue, cansado e sem dormir há mais de 24 horas, via-me em dificuldades para resolver vários problemas que necessitavam ser resolvidos com a máxima urgência.

Foi um momento de agonia aquele! Estávamos num local de difícil acesso à margem do rio São Francisco. Tudo se apresentava com inumeráveis dificuldades. Teríamos de remover enormes obstáculos para nos transportar carregando um soldado morto e outro ferido, e ainda, para maior desgraça, eu não podia andar, tendo de ser carregado pelos meus valentes companheiros. Troquei ideias com o aspirante Ferreira de Melo, assentando que o soldado morto de qualquer maneira não ficaria ali. Mesmo que isto nos custasse os maiores sacrifícios, ele seria transportado para receber as honras da sua dignidade de combatente viril tombado heroicamente na defesa da ordem jurídica, no cumprimento sagrado do dever militar.” Daí, segue-se uma série de procedimentos e de ações paralelas, em decorrência da dimensão do feito e euforia por parte de todo o contingente humano das mais diferentes áreas, sem se negligenciar os procedimentos devidos ao bravo militar morto, conforme citações abaixo:
BOLETIM DO II BATALHÃO, Nº 175, DE 30 DE JULHO DE 1938, III ITEM:
“EXCLUSÃO POR FALECIMENTO – Excluo do estado efetivo deste Btl. e 4ª Companhia, por falecimento, o soldado nº 665, Adrião Pedro de Souza, por ter quando em combate junto às forças volantes que extinguiram o celebre rei do cangaço o famigerado “Lampeão”, e mais dez comparsas, sido atingido pelas balas mortais dos facínoras bandoleiros, deixando gravado nos corações de todos os seus companheiros o inédito exemplo de heroísmo, de amor ao trabalho, perdendo a vida pela paz do sertão e engrandecimento de sua corporação, que tão sobejamente deixou gravada a sua recordação. “
DO DIÁRIO OFICIAL Nº 7.443, de 04 de Agosto de 1938:
 “I - ATO DO INTERVENTOR FEDERAL – O interventor federal do Estado, por atos de ontem, promoveu, por ato de bravura e na forma regulamentar, ao posto de 3º sargento o soldado do Regimento Policial Militar Adrião Pedro de Souza, morto na manhã do 28 de julho próximo findo, em combate contra o banditismo; ...”.
CONTINUAÇÃO DO BOLETIM REGIMENTAL Nº 179, DE 12 DE AGOSTO DE 1938
“Não se enganou, portanto, o Exmº. Sr. Interventor Osman Loureiro, nem tão pouco este comando. A perseguição se iniciou de forma tenaz e vigorosa, e não tardou a raiar a manhã do 28 de julho, onde um punhado de 45 bravos comandados pelos Capitão João Bezerra da Silva, 1º Tenente Francisco Ferreira de Melo e Aspirante a oficial Aniceto Rodrigues dos Santos, numa arrancada de heróis, atacaram de surpresa, na fazenda “Angicos”, município de Porto da Folha, no Estado de Sergipe, o grupo do famigerado “Lampeão”, composto de nada menos de 58 bandidos e com eles numa luta tremenda conseguiram abater onze sicários, inclusive o REI DO CANGAÇO, pondo os demais em debandada, sem que tivessem tempo, os restantes, de conduzir do campo de luta os seus apetrechos e material de guerra que abandonaram.
Infelizmente, não há vitoria sem luto e este luto é deveras lamentável, por que na refrega perdemos um bravo, o soldado Adrião Pedro de Souza, que, por isso, foi promovido, por áto de bravura e na forma regulamentar, ao posto de terceiro sargento; - para ele imorredouras saudades e um minuto de silencio, em sua memoria, pelos belos exemplos que nos legou e que servirão de lição aos que aqui militam e aos que nos sucederem. O Capitão Bezerra, comandante geral da tropa recebeu um ferimento, assim como o soldado Guilherme Francisco da Silva, e por pouco, aquele não ficou no campo da luta, estando ambos sob os cuidados médicos...
 Congratulando-me convosco e, muito especialmente com louvor, com os que tomaram parte na encarniçada luta acima relatada, mando que, nos livros do assentamentos de cada um, se façam constar os elogios a que fizeram jus, ao mesmo tempo que os concito a prosseguirem, com fé, na luta ingente de libertar, quanto antes, o sertão de Alagoas da horda remanescente de bandidos que ainda o infesta, convictos de que dias melhores nos esperam e de que a história Militar da Polícia de Alagoas será enriquecida com mais esse serviço à Sociedade Alagoana e, consequentemente, ao Brasil.
Camaradas! Para a frente, por que a vitória é nossa. Salve Alagoas!
Salve a Pátria redimida! SALVE!”.
O Coronel Francisco Ferreira de Melo se refere ao combate e ao soldado em entrevista ao Dr. Estácio de Lima, da seguinte forma: “ – A luta foi difícil Coronel?

"Não tanto, para quem estivesse habituado às guerrilhas sertanejas. Enfrentamos o adversário sem que ele nos esperasse. Levamos a vantagem da surpresa. E para tantos e tão importantes cangaceiros abatidos, onze ao todo, lastimamos a perda de meu excelente soldado ADRIÃO ou ADRIANO PEDRO DE SOUZA. Também foi baleado o nosso digno Comandante e mais um praça, que teve o braço partido”.

O soldado Adrião Pedro de Souza teve a sua morte reconhecida por bravura, pela sociedade civil, seus pares, instituição a qual pertencia e autoridades, no ambiente devido e apropriado. O palco do combate nos ermos das caatingas, que serviu de jazigo para os cangaceiros, não seria o local apropriado para o antagónico, justamente para aquele que dedicou sua vida a combater os que ali ficaram. Os registros na literatura e, sobejamente nos meios de comunicação já registraram na história os nomes dos que ali combateram, não existindo nenhum demérito, por não haver a materialidade do seu nome exposto no referido local.

O Coronel João Bezerra, reconhecendo a necessidade de haver um marco, a altura dos que ali combateram (volantes e cangaceiros) e ali ficaram (cangaceiros), teve a iniciativa de mandar confeccionar na oficina da Rede Ferroviária de Piranhas, um cruzeiro (foto abaixo) composto de onze cruzes, com os respectivos nomes, que Estácio de Lima registra em seu livro, como “Mausoléu modesto das onze cruzes”. 

  O homem que está segurando o chapéu, é Cel. João Bezerra. 
O que está em cima da pedra, é o Sr. Manoel Pereira, chefe da estação de trem de Piranhas. 
E ao centro o ferreiro da estação, que ajudou na construção da cruz.

Em Angico, o imponente cruzeiro foi colocado em 30/10/1961, afixado em uma grande pedra. Na placa de bronze, no centro deste cruzeiro, tem a seguinte inscrição:
  

  “Aqui jaz o Rei do Cangaço Capitão Lampeão com dez companheiros.
Combate em 28-7-1938. Lembrança do Capitão Bezerra. 
Colocação da Cruz em 30-10-1961".

 A cruz por inteiro. Hoje exposta em Aracaju no Memorial de Sergipe, 
numa sala dedicada ao Cangaço, mantida por Vera Ferreira.  

OBS. Estas duas imagens não compõem a matéria original, é um adendo do blog para enriquece-la. O registro fotográfico da aludida peça foi consentido por Vera Ferreira para Ivanildo Silveira.

À materialidade - o registro histórico dos fatos. Aos nossos corações a lembrança e o agradecimento indelével por aqueles que se sacrificaram em defesa do bem.
Abraço a todos, Paulo Britto!

Matéria pescada no sítio do Coroné Severo www.cariricangaco.com 

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2011/06/homenagem-ao-soldado-adriao.html

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