In
Fundação Casa da cultura S. Talhada
Conheçam
a entrevista concedida pelo lendário chefe de Lampião ao Sr.
Luiz Lorena , em 1971
Seu nome na pia batismal deve-se ao fato de ter nascido no dia de São
Sebastião, 20 de Janeiro de 1896.
Sebastião Pereira da Silva "Sinhô Pereira" (Foto) nasceu em
Vila Bela, em meio à uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e
Carvalho. Foi chefe de cangaceiros e das suas mãosLampião recebeu o bando.
Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas
límpidas e saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio
visitar a família em Serra Talhada, PE.
Naquela ocasião Luiz Lorena e Sá, da família Pereira , travou o seguinte
diálogo com seu brioso parente, que fora no passado o braço armado do clã:
Lorena - Qual o momento que marcou sua vida de maneira indelével?
Sinhô - Foram
tantos os momentos dramáticos no meu trajeto que seria impossível escolher um.
Lorena - Qual
seu dia de maior alegria?
Sinhô - Chegar a Serra Talhada 50 anos depois e ser recebido por todos os
parentes com carinho que me dispensaram, foi na verdade motivo de muita
alegria.
Lorena - Qual
seu dia de maior tristeza?
Sinhô - Estando eu em Lagoa Grande, distrito de Presidente Olegário/MG,
recebi a noticia do falecimento de Luiz Padre, em Anápolis, Goiás. Nem ao
sepultamento compareci.
Lorena - Você
tem alguma grata satisfação do seu tempo de guerrilheiro?
Sinhô - Não. Nasci para ser cidadão, casar-se e constituir família. Fui
namorado da moça mais bonita do Pajeú.
Lorena - Por
que se envolveu nessa tragédia?
Sinhô - A impunidade em Vila Bella teve seu auge em minha juventude; do
assassinato de seu Né - meu irmão - nem inquérito policial foi aberto.
Lorena - Você
reconhece o que seus contemporâneos dizem sobre o seu espírito guerreiro e de
ser você o mais valente entre esses?
Sinhô - havia homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para
matar. Na hora de morrer, até fugiam do campo de luta. Naquelas circunstâncias
matar ou morrer para mim, seria a mesma coisa; daí a diferença.
Lorena - Desses
confrontos, qual o que você teve mais proveito?
Sinhô - A
família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era
imperativo mudar a face da história.
Lorena - Quais
os fatos que mais perturbavam você?
Sinhô -
Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo
tudo o que eu fazia certo dava errado.
Lorena - Entre
estes, você poderia destacar um?
Sinhô - Sim. A morte de João Bezerra, em Bom Nome. Na forma como eu procedi,
acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma
desajustada que já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.
Lorena - Em
que circunstância Lampião apareceu em sua vida?
Sinhô - Ele e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai,
dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum.Não tinham
condições financeiras nem experiências. Procuraram-me e participaram com muita
bravura de alguns combates.
Lorena - Por
que Virgolino Ferreira da Silva ganhou o apelido de Lampião?
Sinhô - Num combate, a noite, na fazenda Quixaba, o nosso companheiro Dê Araújo
comentou que a boca do rifle de Virgolino mais parecia um lampião. Eu reclamei,
dizendo que munição era adquirida a duras penas. Desse episódio resultou o
Lampião que aterrorizou o Nordeste.
Lorena - Você
não quis Lampião em sua viagem para Goiás?
Sinhô - Ao despedir-me dele na Fazenda Preá, no município de Serrita/PE, pedi
para não molestar ninguém da família Pereira. Ele prometeu e cumpriu. Não quis,
entretanto, seguir viagem comigo.
Lorena - Depois
de instalado em Goiás você convidou Lampião para ir morar naquela região?
Sinhô - Sim. Quintas (meu irmão) foi o portador da carta. Ele respondeu
verbalmente, dizendo que não aceitava o convite para não me criar embaraços.
Lorena - Você
recebeu o convite de alguém para atacar Antônio da Umburana em Queixada
(Mirandiba)?
Sinhô - Não. Tudo aconteceu por minha conta e risco.
Lorena - E
o seu problema com Isnero Ignácio, como aconteceu?
Sinhô - Naquele tempo chegou para se agrupar comigo o meu parente Luiz Pereira
Nunes (Luiz do Triângulo) acompanhado dos primos Chiquito e Teotônio do
Silveira, valente ao extremo. Depois de várias refregas, explicou-me que
estavam comigo por que foram escorraçados da sua propriedade na região de Santa
Rita pelo primo Isnero Ignácio. Estavam se preparando para desforra e esperava
o meu apoio.
Lorena - Qual
foi sua reação?
Sinhô - Ponderei que já bastavam as inimizades já existentes e que Sinharinha,
mãe de Isnero, era filha de tia Donana, figura considerada sagrada pela minha
mãe.
Lorena - E
Luiz do Triângulo, como reagiu?
Sinhô - Ficou contrariado, sem aceitar minhas ponderações. Entretanto,
concordou que eu fosse com Luiz Padre pedir a interferência de Antonio Inácio
de Medeiros também primo de Isnero, Sr. Sebastião Inácio de Oliveira,
concordou. Isnero e mãe Sinharinha foram radicais, não aceitaram qualquer forma
de reconciliação, inclusive proibiram o parente Luiz do Triângulo de voltar a
sua propriedade.
Lorena - E
daí, o que aconteceu?
Sinhô - Foi uma estupidez o que fizemos. Ateamos fogo na Fazenda Santa Rita,
deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da
fazenda.
Lorena - Dos
oficiais da policia militar que o combateram, qual o de maior respeito?
Sinhô - O capitão José Caetano era um bravo. Intrépido e leal no mais duro da
refrega.
Lorena - Qual
o combate mais dramático que você participou?
Sinhô - Foi na Serra da Forquilha, numa semana em que estávamos repousando.
Éramos doze homens, cercados num casebre, por cento e vinte policiais. Sem
outra alternativa bradamos para que segurassem as armas porque iríamos para a
luta de corpo-a-corpo e de corpo a punhal.
Lorena - O
que aconteceu?
Sinhô - O que aconteceu? Saltamos e fugimos ilesos.
Lorena - Por
que a idéia de avisar aos sitiantes, nessa e em outras oportunidades, que
continuariam a luta, mas, na verdade, abandonavam o refúgio?
Sinhô - Enquanto aqueles procuravam entrincheirar-se, nós fugíamos.
Lorena - Você
viajou para o Planalto Central desprovido de recursos financeiros?
Sinhô - Não. Isidoro Conrado e Né da Carnaúba financiaram a nossa viagem com
dinheiro que compraríamos duzentos bois.
Lorena - Em
Dianópolis, onde se instalaram, tudo correu bem?
Sinhô - Vivemos uma epopéia mais dramática do que aqui, expressar numa
entrevista nem vale a pena...
Lorena - Por
que essa expressão! "minhas navegações" quando sabemos que navegar é
próprio do oceano?
Sinhô - Ouvíamos dizer que o mar é uma imensidão de água, e como a extensão de
nossa desgraça não tinha limites, usávamos a expressão "nossas
navegações".
Lorena - É
verdade que você anteviu a genialidade de LAMPIÃO?
Sinhô - Dos homens que deixei em armas no Pajeú, só Virgolino podia chegar à
celebridade. Os demais eram formiga sem formigueiro. Minha profecia foi
cabalmente comprovada. Lampião nada aprendeu comigo. Já nasceu sabendo".
Sinhô Pereira faleceu numa manhã no final do ano 1979, em Lagoa Grande - Estado
de Minas Gerais -, deixando para trás uma vida e uma história marcadas de
angústia, dores e vontade de viver feliz com sua família e amigos.
"Sinhô
Pereira era uma baraúna"!
Créditos da nota de falecimento: Hildebrando Neto "Netinho".
Transcrição da
entrevista Ivanildo Silveira.
http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/02/entrevista-c-o-ex-cangaceiro-sinho.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com