Por Antonio
Corrêa Sobrinho
Não é de hoje
que leio, releio, reflito sobre o cangaço, compartilho ideias com os amigos do
face, até um livrinho sobre o tema já fiz, e não foram poucas as vezes que, no
sertão sergipano, andei, como ainda faço, embora sempre a trabalho, por
estradas, fazendas, cidades, lugares que guardam simbolismos, eis que visitados
pelo maior dos cangaceiros, o adverbial Virgulino Lampião, sem mencionar um Zé
Baiano, um Zé Sereno, o menino Volta Seca, o 'diabo louro' Corisco, e outros
famosos cangaceiros, seja em Canindé, Poço Redondo, Porto da Folha, Glória,
Aquidabã, Pinhão, Frei Paulo, Ribeirópolis, Capela, Dores.
Pois, apesar
de todo este meu envolvimento com o cangaço, este banditismo fenomenal que
imperou no sertão nordestino, e que tanto nos fascina pelas imagens e
representações, fatos e acontecidos por ele engendrado, nunca sonhei com
Lampião, nem com Maria Bonita, nem com qualquer outro dos famosos personagens
desta passada história.
Não é que o
pernambucano Ed Wanderley Fonseca, este que está comigo na foto, meu prezado
amigo e colega dos misteres da Fiscalização do Trabalho, apreciador também do
cangaço, ele mais ainda, porque traz consigo a genética cangaceira dos
Cacheados, me disse ontem, quando incursionávamos pelas terras de Itabaiana,
torrão dos caros Antônio Samarone e Robério Santos; com passagem pela Lagarto
de Kiko Monteiro e a Simão Dias dos Valadares, que sonhara com o rei do
cangaço, Virgulino Ferreira da Silva.
Contou-me que
eu e ele, numa das nossas constantes inspeções em empreendimentos rurais, na
zona sertaneja, fomos abordados pelos bandidos quando percorríamos, lentamente,
por causa dos buracos, uma estradinha que nos levava a uma fazenda a ser
fiscalizada. De logo, perguntei ao colega sobre a identidade dos demais
cangaceiros, um Moreno, um Luis Pedro, que disse, infelizmente, não ter
distinguido eles, salvo Lampião. Já pensou se ele tivesse visto Maria Bonita,
por exemplo.
Contou que, no
sonho, quando paramos, a viatura do Órgão foi logo cercada pelos cangaceiros,
que, apontando armas em nossa direção, mesmo surpreendidos com a novidade do
veículo, uma caminhonete Marok, plotada, 2014, e não um Ford de 29,
determinaram que descêssemos. Saímos do carro, curiosamente, sem ser afrontados
nem molestados por eles; e nos dirigimos à presença de Lampião, que vinha
chegando, ao qual cumprimentamos com um enfático - “Pois não, Capitão!”.
Lampião, cheio de paramentos, como os demais, antes de dizer coisa, olhou para
uns penduricalhos que compõem os nossos coletes, tocou-os, olhou para nós,
voltou o olhar para a viatura, fez um 'hum' e indagou quem éramos e o que
fazíamos naquelas quebradas; que respondemos ser agentes do governo federal e
que estávamos ali inspecionando fazendas, a fim de exigir dos fazendeiros o
cumprimento das normas de proteção, saúde e segurança no trabalho, além de
combatermos a exploração de mão de obra infantil na região, na cidade e no
campo. Que estávamos protegendo vaqueiros, a profissão que o capitão exerceu um
dia, foi dito a ele. Lampião, então, passou a mão no queixo, contemplou
novamente a caminhonete de cima a baixo, e disse: "Vocês vão ficar com a
gente".
Meu colega Ed
tem alma de cangaceiro; eu não. Num momento da sua narrativa, perguntei-lhe:
“Meu colega, como estávamos nós, psicológica e emocionalmente falando.
Tranquilo, confiantes, sem temores. Era um sonho, Antônio, não um pesadelo”.
Voltando ao
sonho, não demorou muito, estávamos trocando tiros com uma volante. Ed disse
que portava um fuzil, e que a cada tiro que disparava, olhava pra Lampião, que
estava posicionado lateralmente, a uma certa distância, o qual lhe sorria com
um sorriso de canto, leve. E que quando Ed acertou mortalmente um soldado,
voltou-se de novo pro comandante, como a dizê-lo: “Tá vendo, capitão, nós
estamos do seu lado!”. Lampião, desta vez, assentiu com a cabeça, para nos
dizer: “É, esses dois, realmente, estão do nosso lado”.
Intrigado com
tanta valentia, interrompi mais uma vez o colega pra lhe perguntar: “Ed,
sinceramente, na hora do tiroteio, do pega pra capar, eu estava como, rapaz,
fazendo o quê”? Ele disse: “Escondido de traz de uma pedra”.
Mesmo nos
sonhos dos outros, sou precavido.
Que sonho bom,
este de ED.
Quem dos
amigos já sonhou com Lampião?
Fonte: facebook
Página: Antônio
Corrêa Sobrinho
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