O CD Luas do
Gonzaga é mais um dos bons serviços prestados à música brasileira pelo
pesquisador, compositor, cantor e violonista baiano Gereba Barreto. Fã e amigo
do Rei do Baião, Gereba - que tem cinco discos lançados com seu grupo Bendegó e
várias de suas composições gravadas por grandes intérpretes da MPB, além de ter
produzido arranjos para mais de quarenta álbuns – dedicou-se a realizar um
sonho de seu ídolo. Em Luas do Gonzaga, o músico e, agora, produtor resolveu
deixar adormecido o legado do Mestre Lua enquanto forrozeiro e despertou outra
faceta do filho de Exu. Choros, serenatas, valsas e maracatus compostos e
gravados por Gonzagão, entre as décadas de 1940 e 1950, chegaram ao
conhecimento do público no final de 2012, ano em que foi comemorado o
centenário do Rei do Baião. As canções foram descobertas por Gereba em 1985,
durante a festa dos 73 anos de Gonzaga, na sua fazenda, em Exu.
Incomodado com o rótulo de ser apenas forrozeiro - sentimento compartilhado com
Gereba -, Gonzaga, certamente, estaria feliz de ver suas obras inéditas em
outros ritmos, feitas com qualidade e sentimento, ao alcance popular.
As músicas que
compõem o álbum - um total de 15 - faziam parte do acervo de gravações
instrumentais de Gonzaga, em discos de 78 rotações. Durante cinco anos, Gereba
pesquisou os compositores adequados para dar letras às melodias, além de ter
enfrentado dificuldades com os direitos autorais. “Decidi que estas valsas e os
choros tinham que sair do anonimato e resolvi passá-los para os nossos queridos
poetas Fernando Brant, Zeca Baleiro, Abel Silva, Carlos Pitta, J. Velloso,
Maciel Melo, Lirinha, Bené Fonteles, Xico Bezerra e Tuzé de Abreu”, escreveu no
texto que abre o encarte do disco.
Reprodução/Capa
Na vinheta de
22 segundos que principia o álbum, a voz de Luiz Gonzaga relata parte
de sua trajetória quando era soldado do exército em 1939 e “se arrumou” para
ir a São Paulo em busca de uma sanfona que comprara à prestação. A
audição pertence ao acervo de Gereba Barreto gravado em Exu, em 1985. Na mesma
faixa, a atriz Ingra Liberato narra o que seria a abertura de um programa de
rádio intitulado Treze de Dezembro, data em que Luiz Gonzaga nasceu, anunciando
Luas de Gonzaga como um capítulo da vida do Rei do Baião que será apresentado
aos ouvintes dali por diante.
O choro que
vem em seguida, Treze de Dezembro, na voz de Gilberto Gil, é uma evocação ao
nascimento da maior voz do sertão e foi composto na ocasião dos 73 anos de
Gonzaga, no sertão de Pernambuco. “Era já noitinha quando Gil chegou com seu
violão e um pedaço de papel de pão na mão escrito com a letra do belo choro que
“seu” Luiz fez em 1952. Gil cantou com aquele swing maravilhoso que só ele faz
em seu violão”, recorda Gereba no texto de apresentação do álbum.
Nada é mais
inusitado do que o maracatu intitulado Rei Bantu, com fragmentos de cantigas
tradicionais de Recife, recolhidas por Lenine, que gravou a faixa junto com
Margareth Menezes. Em Galope além do mar e Sete Luas do Gonzaga, Gereba assina
as melodias, que ganharam letras de Capinan e Ronaldo Bastos, respectivamente,
além da interpretação de Jussara Silveira nesta última.
Nota-se um fio
condutor feminino sobre parte das canções, a começar por Lygia, gravada por
Jorge Vercillo. Depois vem Mara, com letra e voz de Zeca Baleiro, Marieta,por
Jair Rodrigues, Verônica, no canto teatralizado de Lirinha e, por último, Wanda,
na voz de Flávio Venturini. Todas batizadas com nomes de mulheres que,
provavelmente, passaram pela vida de Gonzaga e serviram de fonte de inspiração
para o mestre.
Divulgação/Gereba
Barreto não descansou enquanto não trouxe à tona a versatilidae do Mestre LuaOutra
faixa que merece atenção é a valsa Passeando em Paris, interpretada com primor
por Elba Ramalho e agraciada com os assobios de Gereba. Pisa de mansinho vem
para amaciar ainda mais o conjunto da obra. “Pise de um jeito / que mais tarde
a saudade / me traga de volta / o chamego desse teu pisar”. Além da composição
de Xico Bezerra, que casou perfeitamente com as vozes de Adelmario Coelho e
Santanna, a melodia é um daqueles chorinhos que grudam na cabeça, conquistando
o ouvinte de imediato. Ná Ozzeti, Fagner, Dominguinhos e Maciel Melo também
cantam no disco.
Luas do
Gonzaga é dotado de atributos que o fazem, facilmente, entrar para a lista de
registros raros da música brasileira. Fundamentado nas memórias de quem
conviveu com o Mestre Lua e testemunhou episódios importantes de sua vida
artística, o disco ainda ressalta a musicalidade de Gonzaga antes mesmo deste
ser coroado como o Rei do Baião. “Primeiro fui fã, depois para minha completa
realização, tornei-me amigo e, melhor, tenho orgulho de ter possibilitado
grandes realizações em sua vida como, por exemplo, tocar pela primeira vez, em
1974, para uma plateia nobre de mais de cinco mil pessoas na Concha Acústica do
Teatro Castro Alves, em Salvador. É bom lembrar que antes disso ele só se
apresentava pela perifeira de Salvador”, diz o baiano de Monte Santo.
Gereba Barreto
ainda acertou em cheio na seleção de letristas e intérpretes, que, por sua vez,
se apropriaram de forma bastante rica e autêntica, cada um ao seu modo, das
canções compostas pelo Mestre Lua. “Percebo que essa intuição era uma espécie
de destino, para dar visibilidade a uma obra do 'seu' Luiz muito pouco
conhecida. Tenho ciência de que, ao abraçar este projeto e possibilitar essas
parcerias de tão ilustres autores da música brasileira com o nosso Gonzagão,
estou cumprindo mais uma sagrada tarefa para a cultura popular brasileira”, conclui
Gereba.
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Bethânia Lima
Assistente de Eventos
84. 3212-5553/3211.5304
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Quando chegou carta, abri
Quando ouvi Salif Keita, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei...
Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei...
Chico César
Enviado pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço: Kydelmir Dantas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com