Por Alcino Alves Costa
Publicado em 23 de fevereiro de 2011 no blog lampiaoaceso
Olhem que
ainda não é 8 de Março, mas justamente neste 23 de fevereiro dedicamos dois
artigos a duas senhoritas, personagens da saga de Lampião.
A primeira foi
homenageada pela confrade Aninha e a seguir um artigo comemorativo pela razão
de um achado daqueles indeléveis para história do cangaço!
Quebrando
nosso ritmo atual, diria até um protocolo de uma no máximo duas postagens
diárias não podia adiar para que vocês assim como eu tivessem a oportunidade de
conhecer a figura de Enedina, na única fotografia existente.
Texto e foto:
Cortesia do "vaqueiro da história", mestre Alcino Costa
Há muitos anos, dominado pela minha obsessão em pesquisar as coisas do sertão,
em especial, as coisas do cangaço, eu vivo à procura de fatos quase que
impossíveis de serem encontrados dos tempos de Lampião.
Carrego em meu sentimento uma vontade louca de encontrar fotos daquelas
mocinhas que se bandearam para o cangaço. Será que fotografias não conhecidas
poderiam ainda ser encontradas? – assim eu imaginava.
Eu tinha quase a convicção que não. Você, meu querido vaqueiro da história,
você já imaginou encontrarmos uma foto de Lídia Pereira de Sousa, a famosa
Lídia de Zé Baiano, nascida no Raso da Catarina, no lugarejo Salgadinho, o
mesmo local do nascimento de Nenê de Luís Pedro e de Naninha de Gavião?
Como se sabe, dizem que Lídia era a mulher mais linda e mais atraente do
cangaço. A sua história foi triste e medonha. Em 1934 foi assassinada. O
assassino foi seu próprio companheiro, o desalmado “Carrasco de Chorrochó”, o
antigo pedreiro Aleixo, celebrado no cangaço com o nome de Zé Baiano. Uma
versão dá conta de que ela foi enterrada no Riacho do Quatarvo, nas terras da
antiga fazenda Paus Pretos, do coronel Antônio Caixeiro, em terras do município
de Poço Redondo.
Será que existem fotos da bela 'Maria de Juriti', nos tempos de sua juvenil
mocidade ao lado deste famoso cangaceiro? Quem é de nossos confrades que
conhece uma foto de Dinda, a mocinha filha de Poço Redondo que foi para a
companhia de seu noivo, João Mulatinho, irmão de Adília de Canário, alcunhado
no bando de Delicado?
Quem conhece uma foto de Rosinha, de Mariano e de Adelaide, de Criança,
caboclinhas irmãs, filhas que eram de Lé Soares?
Quem antes dessa postagem conhecia uma foto de Enedina, a única mulher casada
do bando de Lampião? Com certeza absoluta ninguém.
Pois bem! Meus amigos e companheiros no rastejar a história dos povos
sertanejos, em especial a história do cangaço e de Lampião, neste mês de
fevereiro de 2011, eu tive uma grandiosa surpresa. Surpresa que me deixou pleno
de felicidade. Emocionado mesmo. Conversando com Antônio Neto, um grande
artista de Poço Redondo, neto da falecida Maninha, que era irmã de Enedina, a
Enedina de Zé de Julião, a Enedina que morreu em Angico ao lado de Lampião, ele
me disse que sua mãe, dona Antonieta, tinha uma foto da esposa do cangaceiro
Cajazeira de pouco antes dela ter ido para o cangaço. Ainda mais. Que aquela
foto havia sido tirada no dia de seu casamento que aconteceu na igrejinha de
Poço Redondo, em 15 de Agosto de 1937.
Fiquei atarantado com aquela inesperada novidade. Ter esta foto em minhas mãos
era algo de um valor extraordinário. Tonho Neto se comprometeu em ir buscá-la
na Pia do Boi, fazendinha do município onde a sua mãe reside.
A minha expectativa era enorme. Eis que no dia 20 deste mês, este meu querido
amigo me entregou a foto, esta foto que tenho a felicidade de mostrá-la a todos
os que pesquisam e estudam o cangaço.
Enedina, a
esposa de Zé de Julião
Vejam meus companheiros o quanto Enedina era bela. Uma menina-moça que
carregava em seu corpo e em seu espírito uma lindeza incomparável. E saber que
uma jovem e linda mulher, como Enedina, no fulgor de sua mocidade, perdeu a
vida, com a sua cabeça esbagaçada por uma infeliz bala, na subida de uma das
serras de Angico, é um acontecimento que ainda hoje, após tantos anos, nos
deixa tristes e desconsolados.
Olhem devagar e com muito carinho esta foto. O que é que vocês acharam? Que
tal! Aí está a prova do quanto a mulher sertaneja era e é bela, linda,
maravilhosa.
A beleza da mulher cangaceira era realmente invulgar. Além de Lídia,
considerada a mais bela de todas, não podemos desconhecer a beleza de Maria
Bonita, de Maria de Pancada, de Dulce, a segunda companheira de Criança; de
Sila de Zé Sereno, o jeito trigueiro e belo de Dadá de Corisco e Inacinha de
Gato e tantas outras que com sua beleza e seu fascínio alucinavam os jovens
cangaceiros que tinham naquelas lindas flores campestres, flores em forma de
gente, a essência do amor e do desejo se derramando aos dengos em seus másculos
braços, alucinadas de desejos, dominadas por uma volúpia incontrolável, dando e
recebendo quase que divinais momentos de felicidade e prazer, mesmo que em um
ambiente quase que perene de sofrimento e gravíssimos perigos da própria vida.
A história tem sido injusta com a mulher cangaceira. Elas mudaram o viver do
cangaço. Foram verdadeiras heroínas que amenizavam a brutalidade dos
cangaceiros. Foram elas as sertanejas que ali estavam, naquele tão perigoso
meio, unicamente para estarem ao lado do homem amado, dando e recebendo
carinho, arriscando a vida em troca do prazer e da felicidade em acompanhar e
estar ao lado do homem de sua vida.
Elas eram lindas. Enedina era uma prova do que estou afirmando. Admirem esta
foto que é uma relíquia da história de Poço Redondo e da história do cangaço.
Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo
Ói o homem aí!
ói a cara dele
É como se eu estivesse presente vendo a satisfação do confrade em mais um
importante achado.
Parabéns e Obrigado, mestre!
Kiko Monteiro
http://blogdomendesemendes.blogspot.com