Por João de Sousa Lima
Dia 19 de abril de 2015, saí de Paulo Afonso na companhia dos amigos Josué
Santana e Leide Soares, para nos encontrarmos com o casal de amigos Marcos de
Carmelita e a professora Silvana, residentes na cidade de Floresta, Pernambuco,
onde iríamos realizar uma visita técnica para registrar mais um dos pontos
históricos que farão parte dos roteiros apresentados durante o evento Cariri
Cangaço, encabeçado por seu curador, Manoel Severo.
A pesquisa de
campo teve como objetivo o mapeamento geográfico e histórico de um dos mais
importantes fatos que marcam as histórias do cangaço na região pernambucana.
Um dos pontos mais visitados por Lampião e seus cangaceiros foi a fazenda Poço
do Ferro, de propriedade do coronel Ângelo da Gia. A fazenda, na época do
cangaço, pertencia a cidade de Floresta e hoje pertence a Ibimirim.
A fazenda não teria tanta importância para os pesquisadores do cangaço se lá
tivesse sido apenas mais um dos inúmeros coitos dos cangaceiros. Nessa fazenda
o Rei do Cangaço perdeu seu irmão Antônio Ferreira.
Dirigimos-nos para Poço do Ferro, sendo guiado por Marcos de Carmelita, porém
sem conhecermos ninguém da localidade, assim como parentes que ainda residem
por lá.
Quando
avistamos a pequena placa com o nome da fazenda, paramos em uma cancela,
abrimos e seguimos a estreita estrada. Mais a frente encontramos um casebre
onde reside o senhor João David da Silva, sua esposa Maria das Graças e os
filhos Joaquim e Graziela. O João David nos recepcionou, serviu água e nos
levou ao lugar onde foi enterrado o Antônio Ferreira.
Uma pequena
formação de pedras e uma cruz marca o local da sepultura.
Fizemos
algumas fotos e fomos até a casa grande da fazenda, onde estavam Neta,
bisnetos e trinetos de Ângelo Gomes de Lima, o Ângelo da Gia.
Na casa grande
fomos recebidos por Washington Gomes de Lima, bisneto do coronel. Um fato
interessante é que disseram que não seríamos bem recebidos pela família e
confesso que de todos esses anos de pesquisas e entrevistas, nunca tive uma
receptividade tão calorosa como a que recebemos da família.
Travamos um
diálogo em uma festiva roda de conversas, tendo por depoentes a neta do coronel
e matriarca da família, a senhora Eunice Gomes Lima e suas filhas Ruth
Gomes Lima Laranjeira e Maria do Socorro Gomes Lima Cordeiro e ainda, do
trineto João Vítor Gomes Lima.
As histórias
foram muitas mais sempre voltávamos ao episódio principal: a morte de Antônio
Ferreira e a perseguição sofrida pela família e imposta pelas volantes
policiais.
Uma das informações importantes nos forneceu Washington que contou que dois
dias depois da morte de Antônio, uma volante chegou na fazenda Poço do ferro,
descobriu o túmulo do cangaceiro morto, desenterrou-o e cortou a cabeça e
colocou em uma estaca da porteira do curral do casarão do coronel. Quando a
polícia saiu o coronel mandou enterrar a cabeça no antigo cemitério da família.
Antônio Ferreira tem, portanto dois túmulos, sendo um para o corpo e outro pra
cabeça.
A MORTE DE
ANTÔNIO FERREIRA
Em janeiro de 1927, Antônio Ferreira, Jurema e mais alguns cangaceiros estavam
jogando baralho na fazenda Poço do Ferro, enquanto Luiz Pedro descansava em uma
rede. Antonio pediu pra ficar um pouco na rede pois Luiz já fazia tempo que
estava deitado. Quando Luiz Pedro tentou levantar da rede apoiando a coronha do
mosquetão no chão, apoiou com força e na batida a arma disparou atingindo
mortalmente Antônio.
Lampião estava
na Serra Negra e quando foi avisado correu pra saber da verdadeira história. O
próprio coronel Ângelo da Gia contou que a morte havia sido de “SUCESSO” (termo
que servia para designar um acidente).
O cangaceiro
Jararaca queria matar Luiz Pedro e os outros que estavam no lugar, Lampião não
aceitou e por isso discutiram e Jararaca deixou a companhia de Lampião e seguiu
outro rumo.
Fala-se que
foi ai o juramento que Luiz Pedro fez dizendo que seguiria Lampião até sua
morte. Se verdade ou não a promessa, eles morreram juntos na fria manhã do dia
28 de julho de 1938.
Na fazenda
Poço do Ferro ainda restam as velhas pedras escuras que circundam covas das
pessoas de várias gerações da família e duas dessa simbolizam a passagem do
cangaço em suas terras.
No final da
conversa nos convidaram para um farto almoço regado a galinha cabidela, bode
assado, arroz e feijão de corda. Porém o que mais me marcou nessa visita foram
os sorrisos dos membros da família, que mesmo tendo sofrido os abusos e as
injustiças de uma época tão marcada pela violência, não perderam suas essências
de sertanejos valorosos e, sabem como poucos, receber calorosamente, aos que
buscam os filetes de suas memórias históricas...
Dona Eunice,
Washington, Ruth, Maria Socorro e João Vítor, Deus proteja sempre vocês.
João de Sousa
Lima
Historiador e
escritor
Membro da
ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso
Membro da
SBEC_ Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço
Paulo Afonso,
20 de abril de 2015
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