Por: Wescley Rodrigues
Meus
nobres amigos e amigas
Saudações
cangaceiras!
Em
anexo encaminho a conferência proferida pelo
amigo Paulo Gastão, no dia 16 de
junho de 2013, por ocasião do Seminário Parahyba Cangaço, na cidade de
Nazarezinho - PB.
Boa
leitura!
Abraços,
Prof.
Wescley Rodrigues
Nazarezinho
Pela primeira
vez estamos a nos debruçar sobre momento delicado e significativo ocorrido
nesta região. Retornarmos no tempo significa interesse nas nossas origens. A
história que estamos a abraçar é singular. A primeira pergunta que muitas
pessoas fazem trata-se de uma interpelação ou curiosidade.
Que dimensão
se pode dar a família Pereira?
Ela no
Nordeste se fixou e tem se ampliado das margens do rio São Francisco, onde
mencionamos Piranhas; seguimos em direção ao Norte e abrigados os encontramos
às margens do rio Pajeú em Serra Talhada e na ribeira do Piancó, representada
por Nazarezinho. Como trazer os Pereira para com a presença dos cristãos novos
entre nós?
Necessário se
faz de estudo genealógico contundente, específico e esclarecedor para que
possamos nos aperceber da representatividade desta ilustre família.
Alguns
aspectos são determinantes para com o processo evolutivo desta região. A
presença dos dirigentes da Casa da Torre é determinante, no sentido da
implantação de novos currais. Com a caminhada dos vaqueiros até o Sul do estado
do Piauí em determinado momento verificamos o caminho de volta pelo gado gordo,
que transitava na chamada Estrada Real, que determina a espinha dorsal deste
estado, servindo até os dias atuais, para seu grande fluxo de riquezas e
materiais de vários matizes. Esta estrada é fundamental para levar a proteína
até as populações do litoral, que se dedicavam a glicose pela cana-de-açúcar e
seus derivados. Para que estes conceitos
sejam ampliados recomendamos a leitura da obra de Rosilda Cartaxo – Estrada das
Boiadas (roteiro para São João do Rio do Peixe).
A geografia
nos mostra de uma situação deveras interessante. Sendo Nazarezinho considerado
nosso centro, para o Norte temos o Rio Grande do Norte; para o Sul Pernambuco e
para oeste o Ceará. Conclui-se que o elemento – divisa – encontra-se bem
próximo. Se constitui erro designar como fronteira, pois, é entre países que a
denominação é correta. Que os futuros pesquisadores não cometam este erro. Os
deslocamentos para outros estados eram frequentes, desde que não era permitida
a presença de militares atuando fora do seu estado de origem. Depois de algum
tempo as divisas deixaram de ser problema para o trânsito das volantes.
O mando
regional era estabelecido pelo coronel. Desde o século XIX que as patentes eram
compradas. O imenso país, sem vias de acesso, buscou o governo na figura do
coronel o processo administrativo, de mando, das diretrizes políticas e do
conteúdo social. Era, portanto, o coronel, um potentado por excelência. Para
seu comando corria a riqueza da região, concentrando inclusive as peças de ouro
e deixando as localidades pobres ou de pouca representatividade. Dai a grande
concentração dos movimentos bélicos terem ocorrido na área do campo e de pouca
atuação nas comunidades que buscavam a todo custo se tornarem núcleos
denominados de cidade. Nos afirma Horácio de Almeida, na sua História da
Paraíba, que no Nordeste o aparecimento das
cidades ocorre a partir de 1850.
A região
recebe a Coluna Prestes oriunda do Norte, que tinha alcançado Flores, hoje
Timon, estado do Maranhão. O caso do padre Manoel Otaviano, que resolveu
defender seu rebanho tendo trágico fim, representa o mais significativo
episódio em terras paraibanas. Quando anos após eclode a Revolta de Princesa,
sob o comando do coronel Zé Pereira, chefe político e filho de tradicional
família da região oestana. Mais uma vez
temos o registro dos Pereira, fazendo história no seu torrão natal. Não
confundir este episódio isolado com a Revolução de 30, que atingiu a nação.
A implantação
de novos segmentos na região determinou a chegada do barracão. Este por sua vez
era controlado e mantido pelo coronel e servia como fonte de abastecimento aos
residentes na construção de açudes, estradas e outros segmentos. Desta feita
vamos nos deparar com grave situação, desde que, ocorre um assassinato
vitimando pessoa de representatividade na comunidade local. O barracão funciona
em São Gonçalo. É morto o sr. João Pereira e outros. O moribundo pediu por
várias vezes que não existisse vingança.
Acreditamos
que caso único no planeta, onde fica estabelecida a conduta em não haver
vingança. Gesto heroico e que deve ter sensibilizado a todos que tomaram
conhecimento da decisão. Com o passar do tempo aparece no caminho a saga histórica
de Chico Pereira.
Como nos
posicionarmos frente a epopeia vivida por este paraibano? No inicio do ano de
1959 de férias na minha cidade, Trinfo estado de Pernambuco, recebemos a visita
de um senhor que procurava pelo meu genitor. O nome do meu pai é Manoel Gastão
Cardoso que morou vários anos em Princesa e dela se afastando por recomendação
da própria família quando estourou a Revolta de Princesa. Foi ele ao chegar a
Triunfo funcionário da firma do coronel Carolino de Arruda Campos, também
conhecido pelo apelido de – Duduzinho. Tornou-se almocreve e consequentemente
conhecedor da região e seus habitantes. O período das suas andanças está
compreendido entre 1930 e 1940. Porém, o meu pai não se encontrava na cidade
naquele momento. Fizemos ver ao nobre pesquisador que desconhecíamos documentos
referentes ao assunto em questão, mas, na vizinha Princesa ao chegar ao
cartório, procurasse o senhor Zacarias Sitônio, meu padrinho de batismo. Com
ele tudo seria resolvido. E assim segue Pereira da Nóbrega em busca de
informes. Vez primeira que estivemos com
a ilustre figura do naquele tempo reverendo.
Não nos vimos nunca mais. Raras vezes trocávamos informações pelo
telefone. A última vez que tentamos trazer Chico Pereira foi para encenação da
peça Vingança, Não em teatro na cidade de Mossoró. Proposta a ser analisada, mas infelizmente
não se confirmou. Com algum tempo tomávamos conhecimento que Chico teria de nós
se despedido para ficar ao lado do pai.
Outro momento
que gostaríamos de aqui registrar ocorreu no nosso tempo de universitário na
cidade do Recife. Para bem caracterizar no bairro do Espinheiro. Em plena manhã de domingo encetamos visita a
nossa amiga Lília, por nós chamada de Lila, era ela nossa vizinha em Triunfo na
Rua da Caridade, hoje homenageada com o nome do homem que implantou as Casas de
Caridade, Rua Padre Ibiapina. Deveriam ter colocado - Rua Mestre Padre
Ibiapina. Pois bem, traquino e irrequieto sempre estávamos em cima do muro e
quando descíamos era para o lado da casa dela, recebendo bolo ou doces. Ela não
tinha filhos menores, e acreditamos ter a nós se dedicado pela nossa tenra
idade. Era seu marido o guarda-livros Sigismundo Pinto, oriundo do Vale do
Piancó e proprietário do Jornal ‘A Voz do Sertão’, que circulou por muito tempo
na cidade. Seus filhos Miranda, Vanice, Geraldo, Vanilda e Vanessa todos com
sobrenome Campos. A Vanessa é jornalista, trabalha como editora de assuntos do
sertão na empresa Jornal do Commércio em Recife e acaba de lançar livro sobre o
cangaço. Naquele domingo conhecemos uma grande figura, grande mulher. Seu nome
Jardelina que para a família era Jarda. Estatura mediana, magra, não esboçava
nenhum sorriso, pouco se comunicava, porém, demonstrava viver algum problema de
ordem familiar, pois, a roupa usada naquele momento era de cor preta,
significando o chamado luto fechado. Não procuramos saber em detalhes de quem
se tratava, nem por que aquele traje. Dias depois, tomamos conhecimento de quem
se tratava e por não termos ainda nos ligado a história por ela vivida houve
total desligamento e nunca mais nos vimos. Perdemos uma grande oportunidade em
nos aproximarmos daquela que se casou ainda de menor, com o homem que amava e a
ele continuou ligada até seu último suspiro e que trouxe ao mundo três crianças
que se tornaram o orgulho dela, da família e de nós outros que deles nos
aproximamos. Precisamos registrar com carinho seus nomes – Raimundo, Francisco
e Dagmar. Todos receberam o melhor que ela poderia dar – a educação. Raimundo
torna-se engenheiro; Francisco segue o caminho da religião sendo padre e
Dagmar, agora como Albano, se fixa na Ordem dos Franciscanos Menores.
Em busca de
ampliar nossos conhecimentos nos deparamos com Rosilda Cartaxo, a mulher que
ganhou título de baronesa de São João do Rio do Peixe que nasceu em Cajazeiras
e foi sua cabeça lavada na mesma pia onde o padre Rolim foi batizado. Para
nosso estudo recomenda-se a leitura de ‘Estradas das Boiadas’ e em particular
‘Mulheres do Oeste’. Dentre importantes e representativos nomes de mulheres da
região nos deparamos com Jardelina Pereira Nóbrega – Jarda. Relata a escritora:
“Se hoje eu falo de Mulheres do Oeste, o espaço devia ser todo seu – Jarda – a
medida do amor. Certa vez encontrei-a na igreja, ajoelhada, terço na mão,
soletrando mágoas e rimando solidão. As rosas deixadas no beiral da Casa Grande
de Nazarezinho se despetalaram. Só a saudade de Chico Pereira não passava.
Registramos que Dom Adelino Dantas dirige carta a escritora logo que recebe seu
livro. Mais adiante temos – Jarda não guardava mágoas pelo título de cangaceiro
dado a Chico Pereira. Aceitou. Feliz teria ficado se esta carta fazendo-o
Mártir tivesse lhe chegado às mãos. Se um dia Chico fora chamado de bandido, um
Bispo da Bahia Dom Adelino Dantas, chamou-o de Mártir, perdoado foi quando a
família criou a frase “VINGANÇA, NÃO”, maior atestado de humanismo. A
autora finaliza sua homenagem a esta grande mulher assim relatando:
Jarda tem neste espaço todo o carinho dos Dantas lá do Serrote, em São João do
Rio do Peixe, que fez a pousada de Chico!
Em determinado
momento as famílias de Sigismundo e Pereira se cruzam quando seus filhos
Raimundo e Vanice se casam e vão residir em Brasília nos seus primeiros anos de
existência, já tendo se tornado a jovem Capital Federal. Não sabemos as causas
durante passadas festas do Natal, Raimundo desapareceu e até hoje nenhuma
notícia do seu paradeiro. Chico foi para Roma, tornou-se escritor, professor e
jornalista. Consegue no final da vida transformar sua grande obra em peça de
teatro. E assim Vingança, Não teve inicio a sua grandiosa caminhada. Pelos
caminhos do radioamadorismo nos aproximamos de um colega que operava na cidade
de Aracaju. Era ele frei Lauro, frade da mesma ordem de Albano e que por nossa
solicitação, sem saber do que se tratava, quando nós queríamos conhecer mais um
filho de Chico Pereira. O tempo se passa e frei Lauro de descendência alemã,
passa a residir em Campina Grande, onde viemos a conhece-lo. Naquela
oportunidade para nós rara, lhe fizemos completo relato do por que da nossa solicitação.
Mas, frei Albano já havia sido transferido e não sabíamos do seu paradeiro.
Durante longo período não conseguimos saber do paradeiro do frei Albano. Mais
uma vez quem nos salva é frei Lauro, confirmando a presença desejada no
Santuário do Canindé no Ceará. Surge que recebemos convite do amigo de
caminhadas nas caatingas atrás de depoimentos do tempo de cangaço, Aderbal
Nogueira, que nos estende convite para colhermos algumas imagens na Serra
Grande ou Serra da Ibiapaba e assim chegamos até a gruta de Ubajara. Seguimos
em busca de Sete Cidades já em território piauiense e fina neblina nos roubou a
grande oportunidade de filmarmos as belezas construídas pela natureza. Seguindo viagem nos deparamos com Guaraciaba
do Norte e procuramos pelo bisneto de Antônio Conselheiro, porém, não se
encontrava na cidade naquele momento. Então nos dirigimos até a cidade de Ipú,
fotografamos e filmamos a bela cachoeira e procuramos nos aperceber da
brilhante figura de Leonardo Mota, também identificado de Leota, magistral
pesquisador, memorialista e folclorista cearense. Estará chegando uma grande
data, ou seja, o sesquicentenário do coronel Delmiro Gouveia o maior
empreendedor do Nordeste brasileiro e como a memória do homem de hoje é
pequenina por demais, não deveremos comemorar absolutamente nada. Uma vergonha
para o Nordeste e para o Brasil. E chegamos ao começo da noite, a cidade de
Canindé em festa, a igreja não cabia mais ninguém e teria sido momento de
abraçar frei Albano. Nunca pensamos que a cidade estivesse em festa e
terminamos indo dormir em Fortaleza.
Afinal Jarda
viu seus filhos encaminhados na vida do bem, a enaltecer a memória do pai.
Afinal o pai,
o homem, o cangaceiro, o cabra macho, ganha espaço no nosso relato. Com a morte
do seu genitor o que se tinha em casa era a não violência, era o perdão, o
afastamento da vingança que não lavaria a lugar algum. Do outro lado, o mundo
via as posições inversas, ou seja, deveria existir a vingança, que a família
não poderia ser desmoralizada e assim num crescendo difícil de mudança de
comportamento. Conselhos e pedidos foram feitos a Francisco Pereira, o Chico
Pereira para não estabelecer a vindita. Mas, o bicho homem depois de decidir o
que deseja torna-se impenetrável nas suas decisões, e assim, o filho que perdera
o pai vendo que a justiça nada resolvia, tomou do mosquetão e ganhou a caatinga
em busca do seu desafeto. Consegue trazê-lo e coloca-o na prisão. Algum tempo
depois está o criminoso na rua. Chico Pereira resolve ampliar sua capacidade de
luta e percorre terras vizinhas no próprio estado e viver muito além,
percorrendo trilhas nos estados do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Localidades
que fizeram parte do universo de Chico Pereira. Na Paraíba temos: a partir de
Nazarézinho, Sousa, São Gonçalo, Lastro, Antenor Navarro, Fazenda Jacú,
Cajazeiras, Condado, Malta, Sítio Pau Ferrado, Coremas, Patos, Santa Luzia,
Campina Grande, Guarabira. No Rio Grande do Norte anotamos Acarí, Serra da
Rajada, Currais Novos. Esta nomenclatura está estabelecida no livro Vingança,
Não, página 18, da Livraria Freitas Bastos, 1960.
Porém as
andanças de Chico Pereira se estenderam por um território bem mais amplo. Nas
suas andanças Chico Pereira passa a conhecer nomes pouco conhecidos até hoje,
como seja: Estrêla do Norte, Jandaia, Serra Negra, Maçarico, Caboré, Jordão,
Estrêla Dalva, Corró, Moitinha, Curió, Perigo e muitos outros. Sua mãe pedia
para acabar com aquelas andanças perigosas e Chico dizia que queria primeiro
casar. Casamento ocorrido por procuração no dia 25 de maio de 1925 na matriz de
Pombal. A noiva de 14 anos apenas de nome Jardelina Nóbrega. Depois tomaria o
rumo de Goiás para onde já teriam ido Luís Padre, Sinhô Pereira e Zé Inácio do
Barro. Era ele bem informado dos acontecimentos que ocorriam no atribulado
mundo. Permaneceu no seu torrão natal.
Patos de
Princesa, hoje Irerê, recebeu a visita de Chico Pereira sob os auspícios do
coronel Marcolino Diniz, seu amigo pessoal. Fora da vila residia na casa
grande, o major Floro, proprietário de terras, gado. Homem que implantou
energia elétrica em fins do século XIX, mesmo antes de Triunfo.
Quanto a sua
prisão a literatura oral menciona que os Presidentes (hoje governadores) dos
estados da Paraíba João Suassuna e do Rio Grande do Norte Juvenal Lamartine de
Faria entraram em acordo no sentido de exterminar a chaga do cangaço nos seus
territórios. Juvenal esteve a frente do governo potiguar desde 01 de janeiro de
1928 até 05 de outubro de 1930. Correu mundo a seguinte afirmativa: Juvenal
Lamartine caçava a cabeça de Chico Pereira em toda região nordestina desde o
dia que tomou conhecimento de que um sua parenta, moça bonita e prendada,
estava apaixonado por Chico Pereira e com ele queria casar. Juvenal encetou
caçada até que consegui prender Chico Pereira que numa trágica viagem os
policiais que o transportavam viraram o carro por cima do preso e para encobrir
o crime simularam o acidente. Seu mausoléu está fincado às margens da BR-427,
quilometro 177 e está a 18 km de Currais Novos do lado esquerdo de quem vem de
Natal para Acarí. Na noite tenebrosa da covardia, Chico Pereira encontrou a
morte.
Resumindo,
Chico Pereira passou a conhecer mundos dos estados de Pernambuco, Ceará e Rio
Grande do Norte, onde praticou assaltos, crimes, sozinho ou com seu pequeno
bando e foi na cidade de Acarí no estado do Rio Grande do Norte instaurado o
Processo Crime contra o paraibano, amor de Jarda.
Vejamos a força do relato
oferecido por P. Pereira Nóbrega, a pag. 126.
27 de julho de
1924.
As quatro da
madrugada, Sousa estava cercada. Os 84 homens formavam quatro pelotões sob a
chefia de Chico Pereira, Levino, Antônio Ferreira, Chico Lopes. Três grupos
algum tempo ficaram piquetando as principais entradas da cidade, para impedir
qualquer socorro de fora.
Chico Pereira
foi bater à porta da delegacia, acordando as autoridades.
- Tenente
Salgado, me desculpe. Não esperava que o senhor estivesse aqui. Se soubesse, não teria vindo, por atenção à
sua pessoa. Mas já é tarde para voltar a trás. Comunico à polícia que Sousa
está cercada. Vamos abrir fogo contra Otávio Mariz. Se quiserem podem reagir.
Se quiserem podem sair em paz.
O Tenente
Salgado sabia que estava só. Reagir era suicídio. Às sete horas da manhã batia
retirada. O resto da polícia cumpriu o que dissera às vésperas: passividade
absoluta ante os cangaceiros.
Êles também
foram gratos. A polícia não fizeram mal...
Arrolado num
processo de mais de 800 páginas está um memorandum do juiz de direito, dirigido
ao Presidente do Estado, em que depõe sobre militares:
É de lamentar
que a fôrça da polícia, composta de 10 a 12 praças, sob o comando do sargento
Apolônio, não tinha se movido a menor diligência de rebate aos assaltantes,
pois não disparara uma só arma, conservando-se indiferente no seu cômodo
aquartelamento na cadeia, de onde observava o trânsito constante e
desassombrado dos cangaceiros, ostensivamente senhores de tudo e de todos.
“O Tenente
Salgado que ali viera pronto e solícito a reunir-se ao destacamento local no
dia anterior à negregada tragédia, não encontrou infelizmente apoio e
solidariedade daquela fôrça para a resistência ao ataque que se pressentia,
tendo declarado o sargento que os soldados não atirariam se fosse realizado o
assalto à cidade pelos referidos bandidos.
A história de
Chico Pereira nos chega pelas mãos da querida escritora Raquel de Queirós, que
no seu prefácio intitulado ÊSTE LIVRO, diz: ”Êste livro, é um livro de padre,
mas é também um livro duro, que conta uma história imensamente dramática. Nêle
não se poupa ninguém – embora não se acuse ninguém. É um depoimento que
impressiona pela honestidade – e se às vezes como obra de arte que é, alça às
puras alturas da beleza, nunca perde a severa imparcialidade que representa a
marca principal”...
Procura Raquel
concluir sua apresentação com o brilhante depoimento: “Conheci este ano a moça
Jarda. A esposa-menina de Chico Pereira. Digo moça, porque realmente ainda está
muito jovem, embora marcada por tantas tragédias. É uma mulher bonita, de fala
mansa e gestos tranqüilos. Vive para os netos que lhe deu o filho engenheiro e
pelo amor dos dois outros filhos – um frade e um padre. Conversamos feito
amigas de muito tempo – e, curiosamente, Jarda não me deu a impressão da viúva
esmagada por um acúmulo de dramas; pareceu-me antes uma pessoa que lutou muito
e acabou triunfando. E os dois filhos, ministros de Deus, são a evidente razão
dêsse triunfo. Pois, ao encaminhá-los para o sacerdócio, ela não o fazia como
uma reparação, como um sacrifício propiciatório pelos pecados do pai. Parece ao
contrário que ela queria provar – e provou – que se o sangue de Chico Pereira
lhe deu tais filhos – quem tinha razão era ela em o amar quando vivo e lhe
venerar a memoria depois de morto. São os filhos de um guerreiro, que serviu
uma causa errada sim, mas a serviu com bravura e desprendimento e, por ela
morrendo, pagou todos os erros de que se culpara”.
Paulo Gastão
Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Wescley Rodrigues
http://blogdomendesemendes.blogspot.com